Talking Dead escrita por Pat Black


Capítulo 1
Talking Dead




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Talking Dead

 

“Sinceramente eu não entendo você”

A figura de camisa xadrez, onde uma grande mancha de sangue ainda gotejava, desabafou encarando o amigo de infortúnio, enquanto se aproximava do corpo caído a alguns passos.

“O que você quer que eu diga?”

O amigo respondeu começando a caminhar ao seu lado naquele seu passo lento em virtude do pé quebrado.

“Um obrigado seria bom.”

O primeiro respondeu se abaixando lentamente e apalpando o sujeito no chão.

“Obrigado pelo quê?“

O segundo rosnou sem realmente entender o porquê de agradecer quando os dois estiveram em perigo ali.

“Obrigado colega por me ajudar a derrubar essa coisa e salvar minha vida.”

O da camisa xadrez respondeu se erguendo lentamente e sacudindo os braços em todas as direções possíveis.

“Ai você já está indo longe demais. Eu podia ter acabado com ele em um piscar de olhos.”

O outro respondeu se aproximando do corpo caído.

“Essa eu queria ver. Você é mais lerdo que sua mãe e avó juntas.”

O primeiro retrucou se aproximando um pouco mais do amigo.

“Detesto quando você começa a colocar a família no meio da história.”

O do pé quebrado bufou agarrando o braço do indivíduo no chão que ainda dava mostras de ser um perigo.

“Essa coisa ia matar você colega. E se eu não tivesse chegado a tempo você não estaria ai se lamentando por que eu te comparei a sua vozinha.”

“Se não fosse por essa merda de pé fraturado eu teria conseguido me livrar dele e não precisaria da porra da sua ajuda. Sabe, o inferno é melhor do que ficar aqui ouvindo você se vangloriar de ter dado cabo dele e me ajudado.”

Diante do olhar triste do amigo, o de camisa xadrez se sentiu envergonhado de sempre estar jogando na cara maltratada do outro o que fazia por ele. Mas não podia deixar de se sentir orgulhoso de ser o mais forte dos dois.

Já havia perdido as contas das vezes em que eles haviam usado o elemento surpresa para sobreviver naquele mundo caótico. E, geralmente, era o outro que se fazia de isca para que ele fosse esse elemento surpresa.

Adorava lembrar o modo como aquelas coisas idiotas caiam direitinho no truque do cara desprotegido e partiam para cima, sem nem imaginar que ele estaria por perto para acabar com suas vidas miseráveis.

Como aquele imbecil lá em Tupelo que partira para cima do seu colega-isca-lerdo-de-uma-figa como um cão farejando um pedaço suculento de carne. Nossa, o babaca nem percebeu o que o atingiu.

Mas agora eles foram pegos simplesmente desprevenidos. Tinham brigado feito mais cedo, o que acabara resultando no pé quebrado do outro, e aquele pedaço de carne andante e inútil tentara simplesmente atacar seu amigo desprotegido, seu chapa de estrada, colega de matança indiscriminada, saindo sabe-se lá de onde e quase dando cabo da existência miserável do coitado.

O de camisa xadrez encarou seu colega de andanças por um instante, e, sorrindo tristemente, balançou sua cabeça se perguntando o que faria se ele aquele imbecil não estivesse mais ali para lhe fazer companhia, para desfrutar junto com ele de cada dia em que vagavam sem rumo pelas estradas daquele mundo maluco.

No que é que você está pensando aí seu idiota?”

O do pé quebrado perguntou, enquanto apalpava o braço do corpo no chão afastando a manga da camisa.

“Em nada."

"Como sempre.”

"Idiota!"

O amigo respondeu crispando a cara sem nariz ao perceber que o outro afastava a roupa do babaca estendido no chão.

“Por que você sempre faz isso? Abocanha logo essa merda e pronto.”

O outro levantou seu rosto onde um pedaço da bochecha e do lábio superior faltavam, respondendo no mesmo tom dos ruídos animalescos que o amigo zumbi havia usado, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo, nos lábios um arremedo de sorriso.

“Por que eu detesto fiapos de lã entre meus dentes depois do almoço, porra.”




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