Socorro! Americano Louco À Vista! escrita por Labi


Capítulo 3
A desgraça de outrem é o teu divertimento


Notas iniciais do capítulo

Hoje deu-me para fazer updates de fics que estavam atrasadas e
Ficou extremamente idiota porque eu não controlo o Arthur-



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Não há coisa que me tranquilize mais a alma do que saber que a minha fase de hormonas aos saltos e música de modinha já passou e graças a Satanás que não volta.

Como se já não fosse suficientemente mau eu ter de aturar aquele ‘teenager’ melodramático que no lugar de estudar fica num canto a reclamar de si próprio, esse maldito ainda decide colocar música no máximo como forma de ‘protesto silencioso’ (e isto foi uma expressão dele e não minha porque nem sequer faz sentido).

E meus amigos, ou conhecidos, ou que raio vocês sejam que ficam aí a divertir-se com a minha desgraça, tenho apenas de afirmar que este americano torpe tem gostos musicais de meter medo ao susto.

Sei que já disse antes mas eu sou um demónio culto. Ao contrário da crença popular, não há wifi no Inferno e infelizmente também nunca encontrei nenhuma estrela rock mas por favor… Aquele idiota acha mesmo que aquilo era música?

O meu olhar de desgosto deve ter surtido algum efeito nele porque quando olhou pelo ombro fez uma expressão amuada, “Estás a olhar para onde?”

“Não sei. A tentar procurar uma fuga deste lugar antes que fique surdo.”

“Não tenho culpa!”, rodou para mim e colocou as mãos na cintura, “Um amiga emprestou-me este CD faz algum tempo e é o único que tenho aqui!”

Ah certo, então não era ele que tinha péssimo gosto… Era a amiga. Irónico. Ele nem parecia o tipo de pessoa que tinha amigos…

Esvoacei para o outro lado do quarto, “Amiga? E ela gosta dessa cantora americana?”

“Cantora? Er…”, pegou no CD e voltou-o para mim, “É um rapaz canadiano.”

Um rapaz. Aquilo era um rapaz? Ao que o mundo tinha chegado.

Decidi dar de ombros e voltar para a janela, era bem mais interessante do que ficar a encarar Alfred.

Uma mulher loira caminhava pelo quintal em passos apressados e gesticulava vigorosamente, conversando com a vizinha da frente, sendo que esta estava pendurada na sebe que separava os quintais das casas.

Até podia tentar ouvir o que elas diziam, se a maldita música não estivesse demasiado alta. Mas para minha sorte – se é que semelhante coisa existe- a ‘melodia’ terminou.

Aqueles devem ter sido os três minutos mais longos da minha vida.

Antes que pudesse ‘aproveitar o silêncio’* – e essa música começou a tocar mentalmente na minha cabeça para apagar a outra- Alfred comentou, “Tu és o meu demónio da guarda, certo?”

“Sim… Certo, infelizmente.”

Ele suspirou e sentou-se na cama, dobrando as pernas para as abraçar, “Por quê?”

Aquela era uma das perguntas às quais poderiam existir quinhentas respostas e nenhuma estar correcta.

“Porque me mandaram.”

“Mas eu fiz alguma coisa de errado para merecer isso?”

Quem suspirou desta vez fui eu, “Já disse que estou aqui para te corromper.”

Alfred levantou-se num pulo, “Como assim? Influenciar-me a fumar? Ou drogar-me?”

“Não exacta—“

“Eu sou um herói!”, apontou para si mesmo, “Não sou facilmente influenciável!”

O que o loiro não entendia –afinal era loiro, certo?- é que a sua inocência quase infantil tinha de ser quebrada. Ninguém assim sobrevive no ‘mundo real’! Ninguém que se autoproclame de herói aparenta ter um futuro brilhante…

Antes que eu lhe pudesse explicar isso, alguém bateu na porta mas não esperou autorização para entrar.

“Alfred?”

Era a mulher loira que estava no jardim antes.

“Que foi?”

“Vinha pedir-te desculpas. Estava furiosa com umas coisas que se passaram no trabalho e acabei por descarregar em ti. Perdoa-me.”

Para meu espanto, o americano sorriu um pouco e abanou com a cabeça, “Não tem mal Madrinha.”

Ela suspirou, “Tem mal sim. Eu não devia ter resmungado… Foi só uma negativa, certo? Tu recuperas no próximo teste.”

Como não fazia ideia do que estavam a falar, não dei importância e foi espreitar a secretária dele. Não foi difícil de descobrir que por debaixo de toda aquela desarrumação estavam revistas de banda-desenhada e também não foi difícil concluir que não… ele não ia melhorar negativa nenhuma enquanto não estudasse em condições.

“Vou fazer por isso, Madrinha.”

A senhora sorriu abertamente e piscou-lhe o olho, “Esse é o meu rapaz. Hey, vou fazer bolachas para o lanche. Por acaso sabes se o Matt vem mais cedo hoje?”

Deu-lhe uma resposta negativa, abanando novamente com a cabeça, “Não sei. Acho que hoje é o dia de ele fazer voluntariado no Zoo, não?”

“Tens razão, já me esquecia… Bem, vou para baixo.” , acenou com a mão e fechou a porta.

De curiosidade novamente atiçada, voei para o lado dele – e controlei-me para não rir quando o americano se tentou desviar de mim com medo-

“Quem é o Matt?”

Respondeu-me sem demoras, “É o filho da minha madrinha. Somos como irmãos.” , ficou a fitar-me por uns momentos e mal abriu a boca eu já sabia que vinha asneira, “Posso fazer-te uma pergunta?”

“Sim.” , suspirei – pela milésima vez- irritado.

“O teu cabelo é ruivo naturalmente ou pintaste-o?”

Rolei os olhos e respondi-lhe, tendo o meu sarcasmo quase de certeza ignorado, “Pintei para combinar com a roupa.”

“Ah…” , murmurou simplesmente e seguiu a minha cauda com o olhar, “O que acontece se eu fizer isto?”

Caros conhecidos (ou lá o que sejam)… Se algum dia conhecerem algum demónio – dos verdadeiros, aqueles vossos amigos que só se lembram de vocês quando vocês têm pastilhas elásticas não contam e sim, somos nós que alertamos para a existência de uma caixa delas- nunca, nunca, NUNCA, lhe puxem a cauda. Sobretudo nunca com aquela força que o meu ‘protegido’ usou , sobre pretexto algum nem mesmo uma emergência.

O berro que eu dei foi másculo. Não foi estridente nem histérico mas sim um berro de pura masculinidade.

Aquilo tinha doído.

Senti as minhas bochechas arderem – por causa da dor, claro. Não é como se tivesse corado- e afastei-me o mais depressa que podia.

“SEU GRANDE IDIOTA!”

“DESCULPA!” , também ele deu um berro e encolheu-se, “NÃO SABIA QUE DOÍA!”

Aquilo não ia ficar assim!

Procurei por todo o quarto por alguma forma de vingança e- Ah…  A sua secretária!

Peguei no primeiro caderno que encontrei e fi-lo desaparecer. Mal terminei, Alfred correu até mim, “ONDE ESTÁ O MEU CADERNO?”

“No inferno.”

“ERAM OS MEUS TRABALHOS DE CASA!”

“Fazes de novo!”

E a imagem mental dele a dizer ‘Desculpe professora, o meu demónio mandou os trabalhos para o inferno’ divertiu-me.

Sinceramente, não sabia o que esperar dele mas a reacção que ele teve deixou-me estupefacto.

“Ok, já chega. Eu já sei quem vou chamar!”

E quem seria? Os Ghostbusters?

Saiu a correr do quarto sem me dirigir nem mais uma explicação.

E com mais um suspiro, eu segui o idiota.


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Notas finais do capítulo

*- Referência à Enjoy the Silence dos Depeche Mode.

Tal como já expliquei umas 2342242 vezes, não vou poder responder a reviews mas obviamente que os vou ler no caso deixem e por isso, obrigada!!