Socorro! Americano Louco À Vista! escrita por Labi


Capítulo 2
Adolescente problemático


Notas iniciais do capítulo

Não tenho nada para dizer portanto vou agradecer os reviews ♥ Não pensei que fossem seguir uma coisa tão idiota como esta e....



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"Como tenho a certeza que não me vais morder ou comer um braço?", perguntou pela milésima vez enquanto devorava, literalmente, assim como um animal, uma panqueca.

Franzi o sobrolho e resisti ao impulso de comentar a falta de maneiras à mesa.

"Absoluta."

"Então pára de olhar para mim e serve-te."

"Eu não estou a olhar para ti." resmunguei e mexi a cauda em irritação. Ou talvez ela se mexesse sozinha. Nunca entendi realmente, "Não quero, obrigado."

"De certeza?"

E quando eu já pensava que todas as regras de etiqueta que podiam existir à mesa tinham sido quebradas, aquele idiota comete a proeza de falar de boca cheia.

"Sim, eu não como. "

Ele quase que se engasgou e encarou-me desconfiado, "Como assim? Não ingeres alimentos? Como sobrevives então?"

"Eu posso comer desse tipo de comida mas... O que me alimenta são almas humanas." brinquei e ri com a expressão de choque que ele fez.  Realmente aquele americano superava todos os níveis de idiotice possíveis e impossíveis.

Ele encarou-me chocado e por momentos ponderei se ele sabia minimamente o que eram demónios. Muito possivelmente não mas também… Quanto menos soubesse sobre mim, melhor.

Mas saiu-me o tiro pela culatra e quando eu pensava que ele se ia calar por um momento, a criatura começa a fazer um turbilhão de perguntas sobre a minha ‘espécie’. Algumas delas eram bastante… Inconvenientes. Portanto, tive de o ameaçar para ele acabar de tomar o pequeno almoço e se despachar.

Sou curioso por natureza e conhecimento é algo que nunca se tem a mais e por isso decidi acompanha-lo  até à escola.

Pelo que ele disse , andava no último ano do Secundário. Explicou-me  entretanto que queria seguir Matemática ou Física na universidade.

Até é crime alguém gostar dessas duas disciplinas. Se o meu chefe fosse uma disciplina, com certeza  que seria uma dessas duas.  E nem olhem para mim assim! Inglês sempre será mais fácil que essas…coisas.

Adiante, o americano idiota foi a resmungar comigo até lá chegar, recebendo alguns olhares de lado das pessoas que achavam que ele estava a falar sozinho. Muito para meu divertimento, claro. Ele achava mesmo que se ia conseguir livrar de mim?

A escola dele não tinha nada de especial. Era um edifício branco e largo com janelas grandes. Os alunos andavam em grupos pelo jardim exterior, e um desses grupos levantou a mão para Alfred, que retribuiu o gesto mas continuou a caminhar para a entrada.

Achei estranho quando ao entrar no corredor principal Alfred ficou muito calado e encolhido.

Franzi o sobrolho e pisquei, "Tens medo de alguma coisa?" .  Voei para o outro lado e fiquei a planar no seu lado direito.

O loiro resmungou mas continuou a andar cabisbaixo.  Coisa que atiçou ainda mais a minha curiosidade.

Ia justamente perguntar qual era o problema quando um grupo de rapazes, todos vestidos com o equipamento da equipa de futebol da escola, avistou Alfred.

"Hey Gorducho! Havia TPC de Matemática para hoje?" um deles perguntou, sorrindo de lado.

Voltei a franzir o sobrolho e olhei pelo meu ombro, apenas para constatar que Alfred tinha ganido baixo e ajeitado os óculos.

"Então? Para além de espaçoso e vesgo também és surdo?"  os outros riram e aquele alto, igualmente loiro e com uns olhos castanhos claros, pegou nas golas de Alfred, "Responde-me!"

Olhei para o meu 'protectorado' e vi que ele mordia  os lábios, tremendo um pouco com medo. Ao sentir-se observado, olhou pelo canto do olho e encarou-me directamente, suplicante.

Agora digam-me se conseguiam resistir a um olhar daqueles. Eu também já andei numa escola… Demoníaca mas… Escola ainda assim e… Eu sei o que custa passar por aquilo e então…  Não que eu seja uma pessoa simpática mas… Eu não o podia deixar assim. Onde estaria a piada de o corromper se outrem o faria?

Ponderei por uns momentos o que era melhor fazer mas ao ver o resto do grupo se aproximar, agi por instinto e dei uma chapada na nuca do sujeito. Forte. Tão forte que aquele animal sibilou e encolheu a nuca.

Ri imenso com a expressão chocada que ele fez, afinal, eu sou invisível.

Começou aos berros e largou Alfred, correndo até aos seus amigos, "Qual de vocês me bateu?!" , encarou-os furioso e começaram todos a discutir. Amo espírito de união.

Sorri satisfeito e aterrei ao lado do americano, "Foi merecido~"

Ele encarou-me, também chocado e assustou-se ao ouvir a campainha para entrar.

"Não te escapas de nós, gorducho!" , o outro idiota berrou, fazendo toda a gente olhar para eles.

Alfred fez outro ganido baixo, ajeitando as golas do seu casaco. Vi pelo canto do olho que eles estavam a ir-se embora.

"Quem são eles?"

Fui ignorado, pois Alfred rodou nos calcanhares e começou a andar em passos rápidos para longe.

Esse foi o maior erro de todos.

Ninguem, repito, ninguém ignora Arthur Kirkland e sai impune.

Tomei então a decisão de seguir Alfred para as suas aulas e sinceramente as únicas que me conseguiam entreter minimamente eram as de História e Inglês.Tinha-me sentado ao seu lado, o lugar estava vazio, e quase o matava sempre que dava um erro em inglês.

E não foi como se lhe estivesse a dizer as datas todas erradas sempre que o professor de História perguntava alguma coisa. O pobrezinho estava na lua e então eu ‘respondia’ por ele.

Se não me tivesse ignorado anteriormente, até podia ser que eu lhe tivesse dado as respostas certas. Mas que fazer… Ninguém o mandou confiar num demónio.

 Nas outras aulas, divertia-me a roubar tampas de canetas que caiam ao chão ou a prender folhas por baixo das pernas das cadeiras. E ria como um louco ao ver as pessoas procurarem por uma borracha que nunca mais iria aparecer.

Ao final do dia, pude perceber que ele arrumou as suas coisas o mais rápido possível e basicamente correu dali para fora. Voei ao seu lado, ainda em silêncio.

"Não te vais embora?" ele murmurou, alto o suficiente para eu ouvir.

Cruzei os braços atrás do pescoço e espreguicei as pernas, "Porque o faria? Já disse qual é o meu objectivo."

Notei que ele estremeceu e suspirou, “Não preciso de mais ninguém para me fazer a vida num inferno.”

“Mas eu não te vou fazer a vida num inferno. Além disso, não compares a tua vida a um. Há gente em pior situação que tu.”

“Eu sei.”

“Então se sabes-“

“Não me chateies.” , entrou em casa e bateu com a porta. Na minha cara.

Resmunguei algo e entrei pela janela do quarto dele, no piso de cima. Ainda mal me tinha acabado de sentar e ouvi uma mulher a discutir alto com alguém.  Mais uma porta bateu e passado uns minutos Alfred entrou pelo quarto, aterrando de barriga para baixo na cama.

“Odeio a minha vida.”


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