Acordei, meu segundo dia na Capital, não poderia estar menos exausto. Me levantei e andei em direção ao meu banheiro, lavei o rosto, meu cabelo estava mais bonito que o normal, digo, não estava desgrenhado, meus olhos negros pareciam de um zumbi que dormiu mal. Fui para a cozinha onde estava Connie com seus louros cabelos e seus olhos escuros como o céu da madrugada, nossa mentora Arduine com os cabelos ruivos , parecia uma fogueira ambulante, e a mulher de voz esganiçada com o cabelo colorido, típico da Capital , era como um arco-íris perdido na terra.

– Bom dia! – Disse Connie ao me avistar perto da porta

–Bom dia. – Respondi com um tom menos feliz

– Aqui, se aprontem, daqui mais ou menos uma hora será o passeio na carruagem onde vocês terão que se vestir devidamente com as roupas típicas de seu distrito– Disse a mulher com a voz esganiçada. – Suas devidas roupas foram escolhidas pela minha pessoa, e estão em cima de vossa cama. –

–Vamos vestir roupas com cheiro de peixe? – Perguntei ironicamente.

Connie riu.

– Não, vocês se vestirão como pescadores, com arpões e redes em volta do corpo. – Disse ela

– E por acaso você já viu alguém vestido assim no Distrito 4, Connie? – Perguntei

–Eu, nunca! E você Petro?­– Connie respondeu com um tom brincalhão

–Também não. – Respondi enquanto encarava a mulher de voz esganiçada

–VÃO PRO QUARTO E VISTAM-SE, JÁ! – Gritou ela.

Fui correndo para o quarto enquanto ria fortemente. Olhei para aquelas roupas e pensei: O que diabos é isso, o que ela pensa que é o Distrito 4? A roupa era praticamente feita de rede e com um arpão nas costas. Eu vesti, e realmente, não ficou bom, a rede apertava os lugares mais inadequados e o arpão era praticamente maior que eu, eu mal conseguia andar, as calças eram apertadas e ridículas. Ao voltar para a sala, vi que Connie não estava em uma situação melhor que a minha ela estava com uma saia de rede, uma calça tosca e um arpão nas costas como o meu. A mulher com a voz esganiçada estava com um olhar satisfeito e com um enorme sorriso no rosto.

–É isso, vamos logo, estamos atrasados. – Disse ela enquanto nos empurrava para porta.

Pude notar que Arduine não estava mais na casa, achei que ela estaria nos esperando no carro, mas não estava. Fomos direto para um prédio enorme, onde todos os tributos estavam em cima de uma carruagem devidamente caracterizada com a especialidade de seu distrito. Em nossa carruagem haviam esqueletos de peixes redes e arpões. Subimos na carruagem e esperamos nossa vez. Vi a carruagem do distrito 1, 2 e 3 partindo para dentro do prédio e a cada vez que um entrava, nós andávamos mais para a frente.

– É agora– Disse Connie com um tom frustrado.

–É agora, o quê? – Respondi confuso

– Que mostramos nossa cara para o mundo– Disse ela enquanto entrávamos para o prédio.

Pessoas gritavam nosso nome, e íamos em direção das outras carruagens que estavam paradas ao lado de uma porta bem grande. Esperei até que os outros oito distritos chegassem com suas carruagens, para poder ver o que viria depois. Os tributos do Distrito 1 não paravam de conversar. Me esforcei para ouvir a conversa deles e pude ouvir alguns nomes, a garota se chamava Schiivia e o garoto Lucke. Não tinha muita certeza disso, mas estava quase certo. A garota tinha cabelos castanhos claros e olhos esverdeados, esboçava um grande sorriso irônico no rosto, parecia poder arrasar com o coração de qualquer garoto, pois ela era realmente linda. O garoto era parrudo e parecia militar, cabelos castanhos escuros e olhos sedentos de sangue, eu já havia prestado atenção nele antes, acho que foi naquele salão. Bom, eu não quero carreiristas como inimigos então tentarei me aproximar o máximo possível deles– Pensei. –

– Não sei como, mas eles parecem estar animados para os jogos. – Comentou Connie.

– Não quero esses dois como inimigos na arena. – Respondi.

–Nem eu – Disse ela.

Quando saímos da carruagem, vimos que Arduine estava à nossa espera, ela queria dizer a programação de hoje e dar dicas para o treinamento.

– Aqui estão vocês, bom, daqui alguns minutos será o treinamento, vocês peguem a arma que vocês se identificam e, treinem, treinem bastante, pois, na hora da apresentação, não será nada fácil agradar os jurados. – Disse Arduine olhando diretamente para os olhos de Connie. – Vão, lá, e façam o melhor de vocês. –

Ela disse para nós pegarmos a arma que nos identificamos, eu não me identifico com nenhuma arma, irei pegar qualquer coisa e balançar um pouco e vejo no que vai dar. Pensei

Uns homens levaram eu, Connie e o resto dos tributos para um salão cheio de armas e coisas parecidas. Após eles nos darem umas roupas adequadas para o treinamento, eles uniram todos, disseram algumas palavras em que eu não prestei a mínima atenção e disseram que nós podíamos começar a treinar. Vi Connie correndo para pegar uma espada longa, e os outros tributos pareciam decididos com que arma iria treinar. Achei estranho, uma garota pequena com dois enormes machados na mão, mas fazia sentido, ela era do distrito 7, aposto que ela saberia manejar um machado ou uma serra muito bem. Eu peguei uma lança, que era bem maior que eu e comecei a fazer alguns movimentos com ela, achava que não estava indo tão mal, estava até me empolgando até que eu quase furei o olho de um garoto do Distrito 5.

– Cara, você tá maluco? – Gritou ele

– Desculpa. – Respondi.

–Tá, tudo bem, mas tenha mais cuidado ao manejar uma lança de grande porte. – Disse ele com um sorriso simpático no rosto. – Sou Broonu, e você?

–Petro. – Respondi ainda desconfiado da simpatia do garoto.

– Se você quiser eu posso te dar umas dicas de como usar a lança, não que eu seja bom com elas, mas acho que alguma coisa sei fazer. – Exclamou Broonu

–Claro. – Respondi um pouco aliviado, pois, agora tenho um professor.

Ele manejava a lança muito bem, e após algumas horas de treino eu peguei o jeito, digamos que eu poderia conseguir uma nota 07 ou 08, pois estava realmente conseguindo usar a lança de um modo correto. Eu até venci alguns duelos contra o Broonu e a Connie, acho que estou indo bem, acho que vou sobreviver nos jogos.

Após duas ou três horas de treinamento consegui avistar um homem chegando, ele tinha cabelos grisalhos e olhos cinzentos e brilhantes.

– Atenção– Exclamou ele. – Agora vocês irão apresentar o que vocês fazem de melhor com as armas para os patrocinadores, pois, todos querem ter uma chance na arena, não é? Bom, deve ser. Se dividam rapidamente por distritos e façam de tudo para impressionar os jurados.

Primeiro foi Ray, uma garota do Distrito 12, acho que eles estavam fazendo pela ordem inversa, eu vi ela e Connie conversando, Connie disse que ela era bem legal. Bom após todos os outros distrito, finalmente chegou a vez da Connie, ela ficou cerca de 15 minutos lá dentro, ela voltou com uma cara satisfeita.

Eles chamaram meu nome, eu entrei, estavam cerca de vinte pessoas com olhares rudes pra cima de mim

– Petro Hernande, Distrito 4– Disse

Fiquei olhando para a cara deles, esperando que eles dissessem algo, após trinta segundo encarando eles, um deles disse:

–E aí??

Eu percebi que era para eu fazer algo rápido, peguei uma lança e comecei a fazer movimentos e a bater nos bonecos de pano. Eles continuavam olhando para mim sem dizer nenhuma palavra, e eu continuava fazendo movimentos diferentes com a lança, e cada vez eu estava mais nervoso e fazia movimentos mais fortes até que estourei a cabeça do boneco de couro, com seu cérebro de palha voando para os lados, os patrocinadores aplaudiram, e disseram que eu podia sair.

Me encontrei com Connie e esperamos até que acabassem as apresentações, nos mandaram para o nosso hotel, onde esperamos ansiosamente para ver nossa nota. E começou a passar.

–Lucke do Distrito 1, 9 pontos, Schiivia do Distrito 1, 7 pontos, Ressay, do Distrito 2, 10 pontos, Vickey do Distrito 2, 8 pontos, Brennol do Distrito 3, 6 pontos, Aurar do Distrito 3, 7 pontos, Petro do Distrito 4... 9 pontos, Constance do Distrito 4, 8 pontos...

Eu e Connie nos abraçamos e começamos a festejar, pois, não é sempre que alguém do nosso distrito consegue notas tão altas. Olhei de relance para tela e pude notar que Broonu havia conseguido 10 pontos, ele com certeza, seria um ótimo aliado para os jogos. Arduine nos abraçou tão forte que pude sentir minhas costelas estalando.

– Estou orgulhosa de vocês– Exclamou ela com uma felicidade imensa no tom de voz. – Mas agora, tomem banho e se troquem, pois, daqui há algumas horas será a entrevista. –

Fui para o quarto onde tinha um terno separado para mim, eu tomei banho, e me vesti, esperei um tempo treinando meu discurso, mas não consegui pensar em nada bom.

Encontrei Connie e Arduine sentadas, Connie já estava com seu vestido, ela estava linda, o vestido era branco com detalhes de azul, ela estava fantástica. Seguimos para o local onde seria a entrevista.

–Entrem será aqui. – Disse o motorista.

Entramos e lá estavam todos os tributos em fila por ordem de distrito. Disseram que iria começar as entrevistas em 15 minutos. Passado o tempo, foram sendo chamados cada tributo por vez, até que chegou a vez da Connie, ela parecia nervosa, mas no fundo estava confiante. Após vinte minutos ela voltou aliviada, e agora, é minha vez. Ao entrar no palco por trás veio uma luz forte em meu rosto e a multidão gritava meu nome, me sentei ao lado da entrevistadora, e ela me perguntou:

– Petro, você por aqui? –

– Acho que sim. – Respondi

E a plateia riu. Eu fiquei confuso e me perguntei por que eles riram, mas simplesmente foi isso.

– O que o senhor está achando da Capital? – Ela perguntou

– Bom, não cheira à peixe como o Distrito 4 – Respondi

A plateia riu novamente.

– O que você pretende fazer para não morrer nos jogos?

– Sobreviver.

– Há! Há! Há! Há! Há! Você é realmente engraçado!

– Sou? – Perguntei confusamente

Ela fez mais algumas perguntas idiotas, e eu respondi normalmente, e a plateia ria, toda vez que eu abria a boca para dizer algo.

– Esse foi Petro Hernande, pessoal, tributo do Distrito 4! – Disse ela

Eu voltei confuso para onde os tributos estavam e esperei algumas horas até que as entrevistas acabassem, após isso eu voltei para o hotel, eu não conseguia dormir, pois havia uma gritaria na porta de nosso hotel. Fui até a sala e fiquei andando por lá para ver se o tempo passava, olhei para o relógio, eram 1:00am ou seja, em apenas 7hs eu entrarei para os jogos, a cada vez que eu pensava nisso eu ficava mais nervoso. Deitei no sofá, e mais ou menos quando eram 3:30am eu consegui dormir. Acordei já de manha com um grito agudo de Connie. Fui correndo para o quarto dela para ver o que tinha acontecido.

– Tive um pesadelo com os jogos – Disse ela, enquanto se levantava

– Tudo bem, vamos ficar bem, Connie, tenho certeza. – Disse à ela

– VAMOS, VAMOS, ESTAMOS ATRASADOS, VISTAM ISSO E CORRAM PARA A PORTARIA! – Disse Arduine enquanto jogava roupas em nossas caras.

Após me trocar eu e Connie descemos as escadas para a portaria, onde Arduine estava nos esperando.

– Consegui três ou quatro patrocinadores para vocês, e boa sorte, tentem achar aliados, mas à medida do tempo, vão se afastando deles, pois, uma hora terão que se matar. – Disse Arduine quando estávamos à caminho da arena.

Saímos do carro e uns caras conduziram agente para uma sala onde estavam todos os tributos, eles injetaram algo em nossa veia, um tipo de chip localizador, acho. Eles conduziram cada um para uma espécie de elevador individual onde cada um teria que entrar e esperar para subir para a arena. O elevador começou a subir, e eu sabia que agora era cada um por si. Eu estava na arena, tinha um cabana no meio, cheia de armas, chamada cornucópia, e o lugar era como se fosse uma floresta tropical, bem úmida. Se eu ficasse um pouco quieto conseguiria ouvir o som da água das cachoeiras. A contagem regressiva começou.

60... Eu não vou morrer... 50... Não aqui, não agora... 40... 30...20...10, 09, 08, 07, 06, 05, 04, 03, 02, 01

Que comecem os Jogos Vorazes.