The Red Room escrita por Constantin Rousseau
Gwen Witting olhou desanimadamente para as paredes cor-de-rosa de seu pequeno quarto. As íris azuis, que se destacavam no rosto cheio de sardas, mostravam-se tristonhas. Os cabelos ruivos estavam espalhados ao seu redor como uma nuvem de fogo, enquanto a mão delicada brincava com uma mecha rebelde. Desanimada como estava, não seria difícil esperar que seu irmão mais velho logo fosse perturbá-la, mas ela não possuía disposição nem mesmo para brigar com o rapaz. Queria permanecer ali, inerte, até o pai dar o ar de sua graça.
Mas sabia que ele não iria. Joe Carter era um velho bêbado que não servia para nada, e comumente passava as noites fora de casa, embebedando-se em algum bar da cidade. Ou, pelo menos, era isso que os vizinhos cochichavam quando o homem não estava por perto. Ela não se importava. Para Gwen, sempre seria seu pai. Sempre seria seu herói.
Começara a se perder em pensamentos, quando o barulho de algo se quebrando lhe trouxe de volta à realidade com a força de uma bofetada. Witting sentou sobre o carpete, surpresa com o som, e os olhos claros perscrutaram o ambiente com atenção. Ela se levantou, percebendo que o quarto era o único aposento da casa que se mantinha iluminado, e acabou por estranhar o fato.
Os passos que deu pelo corredor eram silenciosos, e a ruiva sentiu um leve nervosismo ao se dar conta de que poderia estar sozinha. Mas Mike lhe dissera que passaria a noite no sofá, o que tornava provável a hipótese de ele estar assistindo algum programa na televisão. Então o que poderia ser?
Um pouco cambaleante, se esgueirou pelas paredes no local escuro, sentindo o coração bater forte no peito enquanto as mãos começavam a suar. O vaso de tulipas vermelhas que Joe dera à sua mãe estava caído no chão, com terra remexida espalhada ao redor. Gwen poderia jurar por tudo que lhe era mais sagrado, havia algo a observando. Alguma coisa maligna que espreitava pela escuridão.
Mas talvez tudo não passasse de uma ilusão criada pelo medo. Era nessa teoria reconfortante que a menina se focava, quando viu uma sombra se mover, próxima ao quarto de seu pai. Imediatamente, toda aquela hesitação desapareceu, e a ruiva perguntou com voz falha:
— Papai?
E, não recebendo uma resposta, correu de encontro à imagem, sentindo braços fortes a envolverem com delicadeza. Sorriu, pressionando o rosto contra o peito do homem, sentindo algumas lágrimas teimosas embaçando sua visão enquanto soluçava aliviada.
“Eu sabia!” era o que pensava. “Sabia que ele voltaria para casa!”
— Você sabe que eu te amo muito, não sabe? — Joe a apertou contra si, saudoso, e a voz soava estranha aos ouvidos de Gwen. — Não é, minha pequena?
— Claro que sim, papai! — ela ergueu os olhos azuis para encará-lo, mas não conseguia enxergar as feições de Carter.
A julgar pelos pequenos movimentos que fazia com os ombros, ele estava rindo. Witting não conseguiu controlar o sorriso, sentindo que Joe lhe tocava a região sensível entre as costelas, enquanto a erguia delicadamente do chão. Estava animada em brincar com os fios desgrenhados da barba já crescida do pai, quando a luz da lua iluminou o aposento, e pôde ver com clareza o rosto do homem.
Pele doentiamente pálida, esticada até tornar os ossos visíveis, lábios secos e rachados. E os olhos... Deus, o que acontecera com os olhos de seu pai? Estavam brancos, opacos e sem vida. Era nítido o esforço que fazia para levantá-la, e apenas naquele momento Gwen notou o quanto os braços do homem tremiam descontroladamente.
E então, a ruiva finalmente notou o que havia de errado, mas sua boca foi tapada antes que pudesse protestar, e ela se debateu, tentando se livrar das mãos ossudas que a prendiam. O homem, que com toda a certeza não era seu pai, aproximou-se. A voz era rouca, antiga e trêmula.
Todavia, havia uma inconfundível nota de crueldade, que se unia ao estranho e sincero pedido de desculpas que pareceu ecoar pelo corredor escuro.
— Sinto muito.
xxx
Naquela noite, Michael Witting acordou com os gritos de sua irmã mais nova.
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Meu primeiro Canon!
Beta: AngelSPN