Como posso dizer-lhe quem sou se ao mesmo tempo sou tantos?

Hoje posso dizer que sou poeta, que brinco com as palavras como se fossemos amigos de infância, e que nossas brincadeiras de roda são guiadas pela deliciosa calmaria da musica de minha poesia de criança.

Mas e se amanha uma tristeza me possui, as palavras me faltam e a poesia não mais me pertence? O que direi que sou? O que direi que fui? Direi que um dia fui poeta? Contarei apenas as glorias perdidas de um passado? Confessarei que no atual momento não me resta nada?

Assim, me sinto no dever de me manter anônimo, pois na beleza do desconhecido não fazemos projeções e não nos iludimos. A beleza dos estranhos é que com eles nós podemos começar de novo, podemos nos ver por seus novos olhos, olhos que não trazem aquela clássica opinião sobre nós, visão tão real que às vezes nos tornamos o que dizem e dizemos. Mas não creio que seja justo limitarmos uma vida a apenas uma compreensão, e é nessa vastidão de brilhosas oportunidades que baseio meu anonimato. 

Então aqui te escreve, meu caro amigo, entre poesias tortas e tristeza quebradas, o seu mais novo querido estranho.