O relógio está marcando 4h. E meus olhos ardem por culpa de todas as lágrimas que acabei derramando. É sempre assim. Mas agora eu escuto movimentos estranhos vindos do lado de fora de minha casa. Alguém parece me chamar, se lamentar, tudo ao mesmo tempo. Então eu acho que isso quer dizer que você está arrependido, afinal você está parado na minha porta.

                Não sei se deveria abrir. Eu realmente gostaria isso tivesse um fim, mas já estou descendo as escadas, e estou parada escutando os múrmuros sem sentido quem veem de você. Dou um suspiro.

                — Acho que isso quer dizer que você retira tudo o que você disse antes. – digo ainda com a porta fechada. Minha voz sai fraca, devido todas as horas em silencio em que fiquei trancada em meu quarto.

                Estou com meu rosto encostado na madeira fria. Eu realmente gostaria de ouvir sua voz mais nitidamente, e gostaria de olhar em seus olhos. Eles provavelmente estão como os meus. Vermelhos. Arrasados.

                — Me perdoa... Eu... – Sei que você também está encostado na porta.

                Nós dois deslizamos. Mesmo separados é como se o calor de um e do outro transpasse toda a tinta e madeiras que nos bloqueiam. Eu me lembro de suas palavras. De como disse o quanto queria qualquer uma, menos eu.

— Você disse que você nunca voltaria... Mas aqui está você novamente. – falo com a voz um pouco mais forte. E estou novamente chorando. Pelo menos ele não pode me ver.

— Eu sempre vou voltar. – Me pergunto se você está dizendo a verdade, então você simplesmente continua a falar sem me dar o tempo necessário para me tornar fria, dura, insensível. – Porque nós pertencemos um ao outro agora, e estaremos para sempre unidos  de alguma forma...

Sinto sai respiração ficando mais pesada, e sei que ele está implorando. Ele está realmente arrependido. Ele está realmente fazendo o possível para falar tais coisas. Jamais conseguiria dizer palavras desse tipo se não estivesse realmente arrependido. Ele nunca fala de sentimentos, é um legume insensível.

Sou pega de surpresa. Não entendi muito bem o que ele disse por ultimo. Mas algo sobre sua vida.

— O que? – pergunto me levantando do chão e ficando ainda mais próxima a porta.

— Você tem um pedaço de mim, e honestamente minha vida seria uma droga sem você! – sua voz está acima de mim e isso indica que ele também se levantou.

Estamos frente a frente sem nos ver, e meu coração está batendo tão forte e isso me deixa tão fraca, tão facilmente quebrável.

E agora eu estou pensando que talvez eu tenha sido estúpida em dizer adeus. Talvez eu estivesse errada ao tentar começar uma briga. Mas tudo aconteceu tão rápido e tão de repente. Sempre foi assim. Sempre é assim. Eu sei que tenho problemas, mas você também é muito confuso, e de qualquer forma, eu descobri que não sou nada sem você. Me lembro de cada uma de nossas brigas, a primeira ha alguns anos atrás e dessa ultima.  Nós somos assim. Sempre fomos. Talvez sempre sejamos. Mas você está certo. Nós pertencemos um ao outro agora, e estaremos para sempre unidos de alguma forma, você tem um pedaço de mim, e honestamente minha vida seria uma droga sem você!

O silencio é daqueles ensurdecedores. Que te envolvem em um medo, em uma solidão. Um silêncio que te faz tomar decisões, que te faz criar coragem. Sei que estar com você é tão disfuncional e eu realmente não deveria sentir sua falta, mas eu não posso deixar você ir.

Escuto seus passos. Você está se afastando pensando que eu realmente não quero voltar a vê-lo. Tendo a certeza que me perdeu de vez, e que nem mesmo as palavras arrancadas de sua alma não foram suficientes. Só que foram.

Abro a porta a tempo de te ver se aproximando da calçada.

Eu corro. E vejo você se virando em uma ultima tentativa.

Nossos olhos se encontram. Eu estava certa, eles estão igualmente vermelhos, igualmente tristes. Nós combinamos até mesmo nisso. E ainda existem aqueles que não acreditam nesse amor, que o julgam sem graça. Mas é o nosso jeito de amar.

— Ron... – minha voz falha, então enquanto ele me olha eu engulo em seco e falo – Você não pode ir...

— Por quê? – sinto seus dedos em meu rosto. Você está retirando minhas mechas do olhar. Suspira.

— Porque nós pertencemos um ao outro agora, e estaremos para sempre unidos  de alguma forma... Você me tem inteira, e honestamente minha vida seria uma droga sem você!

Seu sorriso se junta ao meu.

E ele me beija. Exatamente como no nosso primeiro beijo. Me tirando do chão. Quando nossos lábios se soltam eu escuto as palavras certas.

— Hermione, eu te amo em cada briga.

— Eu te amo em cada reconciliação.

Porque de qualquer maneira, nós pertencemos um ao outro.