–Você tem certeza disso? - a velha me perguntou, seus olhos escuros ganhando um brilho escarlate.

Olhei para minha pequena figura refletida num espelho afastado do aposento. Abandonar este corpo, deixar de ser uma garota para enfim encontrá-lo. Sorri, eu sempre soube a resposta... Para ter o amor dele, eu era capaz de fazer qualquer coisa.

–Sim - encarei a senhora, as rugas em volta dos lábios dela formando um sorriso estranho.

–Pois bem, minha querida... - ela começou, enquanto remexia numa pequena bolsa encardida caída a seus pés - Mas você sabe que isso vai ter um preço, não é?

Pisquei, confusa. Ela havia me esquecido dessa parte.

–E qual é o preço? - perguntei, engolindo em seco.

A velha soltou uma gargalhada sinistra, um arrepio varrendo meu corpo no mesmo instante.

–Pequena Crystal... - abri a boca, incapaz de descobrir como ela sabia meu nome - Seu pedido não é tão comum assim, e o preço, bem... também não será o tão comum assim.

–Q-quanto preciso te pagar para que você me transforme em um garoto? - a interrompi, me arrependendo de dizer essas palavras um segundo depois.

–Não quero seu dinheiro! - a velha exclamou de repente, seu corpo se curvando para frente e seus olhos caindo frios sobre mim.

Desviei os olhos, incapaz de dizer nada. E diante do silêncio que se estendeu entre nós, como se eu buscasse por uma fuga milagrosa, com o canto dos olhos fitei a janela quebrada, a lua já brilhando com força num céu escuro e sem nuvens.

–Crystal - a mulher interrompeu subitamente meus devaneios, o som de meu nome sendo jogado com força ao vento. Ainda sentada, ela me estendeu a bolsa suja, mas meus olhos não conseguiram enxergar o que havia ali dentro - Feche os olhos e jogue um de seus pertences mais preciosos aqui, assim seu desejo será realizado.

Sem pensar duas vezes, fiz o que ela disse, meus dedos tremendo quando jogavam meu precioso anel prateado dentro daquela bolsa. Fechei os olhos e fiz o meu pedido.

–Em breve você saberá o que eu quero em troca, Crystal...

Essa frase da misteriosa senhora foi a última coisa que ouvi antes do meu mundo escurecer e mudar para sempre.

Eu pedi para ser lançada à escuridão,

mas porque, então,

tive medo de abrir os olhos?