A Menina Que Cantava Numa Nota Só escrita por Hyori


Capítulo 1
Sinfonia de Gotas


Notas iniciais do capítulo

Gabi, essa é pra vc ;u;
~~~~~~3~~~~~~

[ Editado - 21/12/2015]



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Lá estava ela, mais uma vez, olhando atentamente a área externa de sua casa através de uma janela azulada da sala de estar. O céu estava escuro, coberto por nuvens foscas com tom de chumbo. Aguardava uma música, uma sinfonia única e celestial para fechar aquele fim de tarde insípido sem nem um rastro da luz do sol. Seu coração estava apertado, assim como a gola de sua camisa, jaz amassada por suas pequenas mãos. Solitária em sua própria habitação, se dirigiu ao sofá que ficava à frente daquela janela, onde era possível ouvir a sinfonia de uma maneira exclusiva.

Colocou-se em posição. Ageitou a cabeça na pequena almofada enquanto cobria seu corpo com um cobertor imenso. Após acomodar-se, tentou se proteger daquele fim de tarde que, aos poucos, era tomado pela escuridão noturna. Lembrou-se de algo que viu durante o trageto da escola para sua casa... Ah sim. Um carro forte, daqueles onde o dinheiro de um banco era protegido por um automóvel blindado. Assimilando com sua situação atual, sorriu. Se sentiu valorizada, protegida por aquela manta que, aos poucos, fazia sua confiança crescer, juntamente com a ansiedade pela sinfonia.

Até que então, de repente, o momento tão aguardado começou. Algumas gotas de chuva tocaram o vidro da janela azulada, o que fez um sorriso desleixado surgir no canto dos lábios da menina. Mas não por muito tempo. A tão esperada tempestade não veio, era apenas um borriço disfarçado de pé d'água, logo transformando-se em um leve chuvisco que humedecia a ventana.

Uma ilusão. Não foi possível saciar seu desejo de ouvir a tal sinfonia acompranhada pelos flashs dos relâmpagos e o som grave dos trovões. Lentamente, percebeu que a proteção de seu cobertor estava reduzindo, e um sentimento sombrio surgiu em seu peito. As lembranças tenebrosas que tanto reprimia sutilmente invadiram sua mente. As imagens mais tristes de seu passado surgiram como flashbacks, e seu coração vagarosamente foi quebrantado por aquele presságio, que só a chuva aliviaria. Era como se a escuridão daquelas nuvens devorassem seu pequeno coração. Não havia nenhum bálsamo que pudesse aliviar o peso em sua alma, nem mesmo as lágrimas que fluíam de seus olhos acastanhados.

Subitamente, nesse momento melindrado, sua mente clareou. Arrebatada pelo branco repentino, se viu com uma paleta, um pincel e uma tela sustentada pelo cavalete. Na paleta, havia apenas uma cor: o preto. Era como se toda a escuridão dentro de si havia se dissipado, convertendo-se em tinta. Não sabia o que fazer, apenas segurava ambos objetos, com cuidado para que não caíssem.

Como um raio, recordou de algo que tanto anseiava: O som da chuva.

Depressa, tocou o pincel na paleta e começou a desenhar na tela à sua frente. Fez linhas, algumas curvas e outras figuras que conhecia. Quando terminou sua arte, parou para analisá-la. Produziu um perfeito pentagrama em clave de sol, que por sinal estava bem desenhado. Algumas notas musicais estavam em tempos diferentes, entre dois, três ou quatro. A curiosidade estava exatamente nas notas: Elas estavam em tom de "lá". Não havia "sol", "si" ou "dó", era somente "lá".

Ela se afastou, ainda estudando sua produção, e concluindo o que tinha feito se surpreendeu. Logo, quase como um sussurro, cantou bem baixinho tais notas naquele mesmo tom. Ao invés de "lá-lá-lá", cantou em "shi-shi-shi", quiçá na tentativa de imitar o som da chuva.

Idiota. Foi o que ela pensou sobre si mesma. Mas era o que tinha naquele momento, e novamente se deparou cantando a mesma sinfonia, dessa vez mais alta e frequente. Assim que a música acabava, ela repetia a excêntrica canção com mais força e confiança. Em um momento a pequena cantou a sons de gritos, mas não se importava se alguém a achasse insana. Seus tons desafinados e grotescos a aliviavam, como se cantar "shi" em tom de "lá" a fizesse se sentir numa tempestade que vinha refrescar um dia quente de verão. Porém não era aquela tempestade, criada pela força da natureza, da qual ela tanto almejava. Eram suas proprias lágrimas, frescas e frias que desciam pelo seu rosto enquanto ela cantava repetidamente sua triste canção, pausando apenas para respirar.

De olhos fechados, inspirou o máximo de oxigênio que podia, e segundos depois soltou lentamente todo o ar numa respiração pesada e cansada. Tudo aquilo não passava de um belo sonho que ela teve naquele fim de tarde tenebroso, agora convertido em uma bela noite de luar decorada por inúmeras estrelas, com poucas nuvens circulando pelo ar. Levantou-se e dirigiu-se à janela para ver a paisagem externa. No chão, haviam pequenos fragmentos de granizo, enquanto o asfalto acusava que uma espécie de dilúvio havia passado por ali. Então se recordou: "Lá". Lá era o lugar que ela queria estar. Esse lugar, nada mais era que "fora", onde a chuva tocara sem interrupções, em um encontro direto com o asfalto. Ah, era lá, e com um sorriso no rosto, quebrando o silêncio da casa, produziu um "shi".

Perdida em seus pensamentos, apenas abriu a janela e saltou, mesmo que descalça, cantando e dançando ao som de sua mais rica música, a sinfonia de gotas. Seu desejo de ver a chuva e de alcançar o alívio foi concedido. E o mais importante, agora ela poderia ir, sem medo ou receio, lá fora, enfrentar as tempestades que vierem. Afinal, a chuva obtem a única função de descarregar tudo aquilo que está armazenado em si, e essa garota... É como esta nuvem, que liberou todo seu medo em sons e lágrimas fabricadas por si mesma depois da chuva. E mesmo em preto e branco, conseguiu colorir sua vida como um lindo arco íris de uma nota só.

É, quem disse que isso é impossível não conhece essa garota, ou a menina que cantava em uma nota só.


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Notas finais do capítulo

Se ficou um pouco confuso, peço perdão. É que foi a única maneira q encontrei de escrever, então, gomen qualquer coisa XD Gabi, espero que vc cante muito *---*



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