Entre Deuses E Mortais escrita por Taisa Alcantara, Isabel Oliveira


Capítulo 3
Capítulo 3 - Tenho um sonho estranho.


Notas iniciais do capítulo

Hoooy pessoinhas glamourosas que leem a minha fic *o*
Eu só queria dizer eu amo muito vocês ;3
Boa leitura ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/277025/chapter/3

Geralmente, meus sonhos são coisas realmente muito esquisitas. Às vezes são totalmente sem sentido (alguém explica para o meu cérebro que gatos não voam?), às vezes são tão reais que eu tenho que pensar duas vezes pra ter certeza que não aconteceu de verdade (foi triste quando acordei depois de sonhar que tinha milhares de bombons no meu armário).

Mas esse sonho foi excepcional. Eu senti como se eu realmente estivesse lá, quase como se minha alma tivesse se desprendido do meu corpo.

Caminhava por um lugar escuro. Minha respiração estava pesada. Olhei em volta, tentando identificar o local. Primeiro percebi grades. Então paredes surgiram a minha volta. E quando a ficha caiu, e senti minha garganta se fechar. Eu estava presa.

Meu coração começou a bater muito rápido. Mal conseguia respirar. Andei até as barras e segurei-as, tentando gritar por ajudar, só que a voz não saía. Comecei a ficar desesperada. Larguei as grades e me afastei, para ter uma melhor noção de espaço. A cela parecia ficar menor a cada minuto. Eu me senti tão estranha. Havia algo de errado. Olhei para baixo e reprimi um grito. Minhas mãos, meu tórax, minha pernas... Todo o meu corpo estava transparente e leve, como se eu fosse um fantasma.

Fui em direção às barras novamente, e quando tentei atravessá-las, passei como se fosse feita de massinha. Fiquei aliviada e senti o nó da minha garganta se soltar. Mas meu alívio não durou muito. Ainda me encontrava num corredor escuro e não sabia como sair dali. Depois de conferir que estava sozinha, continuei meu caminho até me deparar com uma curta escada. Subi os seus poucos degraus e fui parar em um corredor idêntico ao anterior.

Conforme caminhava, eu ouvia alguns poucos sons: Uma goteira em algum lugar distante. Passos a cima de mim. Chiados de ratos. Zumbido de alguns insetos. Alguém chorando... Ei. Choro? Parei para ouvir melhor. Sim, tinha alguém chorando. Aproximei-me com cuidado, os soluços aumentando conforme eu chegava ao fim do corredor. Então uma criatura surgiu das sombras e me deixou sem fala.

Bem ela não era exatamente humana. Tinha, da cintura para cima, um corpo feminino. O que a deixaria normal, se não fosse pelo fato do seu cabelo ser feito de cobras. Ela tinha um gigantesco dragão negro no lugar das pernas, que eram envolvidas por cobras venosas. Usava um cinto bem esquisito, que ficava borbulhando cabeças de animais selvagens. Seu visual todo era impressionante e maligno.

O monstro murmurava alguma coisa numa língua antiga e assustadora. Sua voz era rouca, como se ela estivasse ficado muito tempo sem falar. Estava discutindo com alguém dentro da cela, que parecia muito amedrontado. Ela continuou falando, até que se aborreceu e foi embora, pulando do passadiço e abrindo suas enormes asas de dragão.

Comecei a me afastar, as pernas bambas de medo, quando ouvi alguém atrás de mim falando:

– O pior pesadelo dos ciclopes. Campe

Congelei. Com a respiração presa para não fazer barulho, me virei bem devagar, procurando quem quer que tenha dito aquilo. Então eu vi. Agachados nas sombras havia um grupo de jovens murmurando alguma coisa entre sim. Olhei atentamente para cada um deles, conferindo se não eram monstros também. Todos usavam uma camisa laranja, que tinha algo escrito. Três meninos e uma menina. Ela devia ter a minha idade. Tinha cabelos loiros e cacheados, presos num rabo de cavalo. O menino ao seu lado parecia ter a mesma idade. Tinha cabelos pretos e curtos, e notáveis olhos verdes. Estava sujo e suado, mas parecia bonito mesmo assim. Senti uma coisa estranha quando o vi. Como se o conhecesse.

O terceiro menino parecia mais velho. Estava com um boné rastafári na cabeça, que escondia um pouco o seu rosto. Usava calças bem maiores que ele e sapatos gigantescos.

Mas o quarto menino foi o que mais prendeu a minha atenção. A princípio, eu pensei que fosse só um menino normal, grandão e com medo daquela mulher-dragão. Então eu vi. Ele não era nem um pouco normal. No meio do seu rosto só havia um grande e castanho olho. Ela era... Um ciclope? Como nos filmes. Um monstro perigoso e assustador. Mas não podia ser. Quer dizer, ela não parecia mal.

Eles começaram a conversar calmamente, como se todas aquelas coisas não os assustassem. Falaram que a mulher dragão se chamava Campe, e que era a carcereira dos ciclopes e dos "Hecatônquiros" na época dos Titãs. Pelo que a menina loira disse, eram seres gigantes e que tinham cem mãos. Campe os mantinha aprisionados no Tártaro, até que Zeus chegou, a matou e libertou todos para que eles o ajudassem numa Grande Guerra. Eu não fazia ideia do que ela estava falando. Nada daquilo fazia sentido para mim.

O ciclope pareceu empolgado em relação ao cara que estava chorando na cela, que descobri que se chamava Briareu. A menina sugeriu que fossem dar uma olhada na cela antes que Campe voltasse. Quando se levantaram, eu me encolhi, esperando por um encontro com eles. Mas não foi isso que aconteceu. Passaram por mim direto, como se não existisse. Aí eu me lembrei da minha aparência de fantasma e concluí que eles não iam me ver e nem ouvir.

Conforme nos aproximávamos, o barulho de choro ia ficando mais alto. Quando finalmente cheguei, fiquei tão perplexa que nem sabia como reagir. O tal prisioneiro era a coisa mais anormal que já havia visto.

Sua pele era branca feito leite e seus olhos eram castanhos - quero dizer completamente castanhos, pupila, íris, tudo –, usava apenas uma tanga, parecida com a do Tarzan, e que em outra situação teria feito-me rir. Tinha pés gigantes e desproporcionais, com unhas sujas e rachadas e mais dedos que o normal. Mas isso nem era a pior parte. Seu tórax era coberto por tantas mãos que eu nem conseguia contar, todos emaranhados em fileiras. Poderia passar facilmente a figura de um ser malvado, se não estivesse chorando e soluçando como uma criança.

– Briareu! – o ciclope chamou. O Hecatônquiro olhou para cima e parou de soluçar. – Grandioso de cem mãos! Ajude-nos!

Briareu não pareceu animado. Disse que não podia ajudar a ninguém, nem a si mesmo. O ciclope, que descobri se chamar Tyson, ficou bastante decepcionado. Achei que o tal Briareu era o seu herói, mas não era tão corajoso como aparentava. Na verdade parecia apavorado.

Tyson e os outros tentaram tirar o “Cem Mãos” dali a todo custo, mas ele se negava. Tinha muito medo de Campe. Então o menino de olhos verdes teve uma ideia que eu não julguei muito inteligente.

– Um jogo de pedra, papel, tesoura. Se eu ganhar, você vem conosco. Se eu perder, nós vamos deixar você na cela.

O rosto de Briareu pareceu duvidoso.

– Eu sempre ganho pedra, papel, tesoura.

– Então vamos lá! – disse o menino.

Eles apostaram. Briareu usou todas as suas mãos para fazer pedra, papel e tesoura. O garoto não se abalou. Então eu olhei sua mão compreendi o plano.

– Uma arma. Uma arma bate qualquer coisa.

– Isso não é justo – fungou o “Cem Mãos” – Semideuses são trapaceiros.

Mesmo contra a vontade, Briareu se levantou e começou a sair da cela. Todos se viraram para a direção das escadas, mas antes que pudéssemos descê-las, Campe surgiu. Ele estava com as suas raivosas presas à mostra, sibilando alguma coisa naquela língua estranha. Não parecia nada feliz em nos ver. Segurando duas espadas de bronze medonhas que estavam cercadas por uma aura esverdeada, o monstro veio em nossa direção com intenção de matar. Fiquei congelada, e ela aproveitou para me atacar. Só vislumbrei o grupo correndo para se salvar quando suas espadas me atingiram. Então eu acordei.

Estava deitada na cama, muito assustada e com o rosto molhado de suor. Minha cabeça estava doendo, como se eu estivesse feito um grande esforço. Sentei na cama e percebi que estava ligeiramente trêmula. Respirei fundo várias vezes, até ter retomar a calma. “Por que estou nervosa assim?”, eu pensei, “Foi só um pesadelo”.

Olhei para o relógio-despertador em cima do criado mudo. Oito e treze. Eu tinha dormido bastante. Sentei na cama e tentei me lembrar do pesadelo. E, surpreendentemente, eu conseguir rever tudo, tudo mesmo. As sensações, as vozes, a angústia, o medo. Aquilo nunca tinha acontecido antes. E o mais estranho é que eu nunca vi aquelas pessoas. Não me lembro de já ter sonhado com gente desconhecida. Tinham muitos mistérios em torno daquele sonho que eu teria que pensar depois.

Saí do quarto e para a cozinha beber um copo da água. Naná estava lá, preparando o jantar. Ele olhou para mim e falou:

– Ah, acordou a Bela Adormecida.

Sorri, um pouco sonolenta.

– Estavam me esperando para jantar?

– Na verdade não. É que o seu avô costuma jantar mais ou menos nesse horário.

– Ah tá... E a comida já esta pronta?

– Daqui a pouquinho. Gosta de frango?

– Frango é a melhor coisa do mundo.

Depois de ter bebido minha água fui para a sala. Vovó estava assistindo uma novela brasileira e o meu avô estava ensinando Lea a falar português. Sentei-me ao lado da vovó e perguntei:

– Onde meus pais estão?

– Ah, a última vez que eu os vi estavam no quarto. Ah, e eles estavam discutindo.

Fiquei séria. Meus pais não costumavam discutir, muito menos perto da gente.

– Bem, eu vou lá. Naná pediu que eu os chamasse para jantar.

Levantei-me e fui à direção do quarto dos meus pais, que ficava no fim do corredor. Ia abrir a porta, até que ouvi a voz de Steve:

– Será que você não percebe que está colocando a vida de todo mundo em perigo por causa desse seu egoísmo?! Melissa não vai deixar de te amar se você contar a verdade pra ela!

Gelei. Nunca vi Steve gritando assim com a minha mãe.

– Egoísmo? É egoísmo uma mãe querer ficar perto da sua filha?

A voz da minha mãe estava embargada. Ela tinha chorado.

– Anne, me ouça: O poder do pingente está começando a ficar mais fraco. Ficar fugindo pelo resto da vida não vai adiantar. Ela é uma semideusa, e mais cedo ou mais tarde vai ficar sabendo disso. Você precisa mandá-la para o acampamento.

– Eu vou, mas... – sua voz vacilou. – Ela ainda não está pronta. E nem eu.

Estava encostada perto da porta, com a mão sobre a maçaneta. Tentei me aproximar para ouvi melhor, no entanto, me desequilibrei e cai, fazendo a porta abrir e ficar que nem uma pateta na frente dos meus pais. O rosto de ambos ficou pálido com o susto.

– Mas o que... – minha mãe começou.

– Melissa? Você estava ouvindo atrás da porta?! – Steve completou visivelmente aborrecido.

– O que? Eu? Claro que não! – me fiz de ofendida – Eu só estava vindo aqui, chamar vocês para jantar... Daí eu... Eu tropecei e caí.

Dei uma risada nervosa e me levantei. Meus pais não pareceram acreditar, e eu aposto que a minha cara de culpada não ajudou muito. Sai do quarto e fui apressada para sala de jantar. “Parabéns Melissa, você acaba de receber o Prêmio Idiota do Ano!”

Sentei-me a mesa, ao lado de Lea, e tentei fingir que nada aconteceu. Meu pais viram atrás, tensos. Comemos todos em silêncio, e eu notei que os meus avós estranharam. Assim que terminei, falei que estava cansada e voei para o meu quarto. Ainda estava confusa com aquela discussão. Como eu posso causar perigo? E de que acampamento eles estavam falando? Será que estavam querendo se livrar de mim? Tentei fazer alguma coisa para ocupar meu tempo, mas não conseguia. Era muita confusão para um dia só, e eu estava prestes a ter um colapso. Tomei um banho, pus o meu pijama, me deitei e dormi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então pessoinhas? Mereço reviews? :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Deuses E Mortais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.