Katherine fechou o notebook e pressionou as mãos no rosto. Estava cansada de tentar escrever e não sair nada produtivo, era tão frustrante para ela que sempre sentia as palavras fluírem de sua mente de forma límpida e naturalmente resumida. Sua cabeça doía e ela sabia bem o porque. Desde que conhecera Audrey não conseguia parar de pensar na loira. Seu jeito tímido, a forma que mordia a boca quando estava nervosa e até mesmo os momentos em que estava perdida em seus pensamentos eram extremamente fascinantes para Kath que sem conseguir explicar sentia-se completamente atraída por ela.
 Um sentimento ruim apoderou-se de Katherine que respirou fundo na tentativa de não chorar. A ultima vez que havia se sentido assim por uma garota havia acabado em uma briga horrível com a mãe que até hoje não conseguia olhar em sua cara. Talvez, ela acreditava, aquela fosse a razão por ter começado a ficar com tantos garotos mesmo odiando esse tipo de coisa, ela queria provar para sua mãe que aquilo havia sido apenas uma fase, coisa passageira e que havia "voltado ao normal", porém nada adiantou. Mesmo sabendo que nunca admitiria isso Katherine havia feito uma promessa para si mesma que jamais se deixaria atrair por outra mulher em sua vida. Até pouco tempo isso parecia uma promessa fácil de se cumprir, mas então ela conheceu Audrey e sua cabeça virou ao avesso.
 Sentindo-se culpada e querendo esquecer da loira, pegou o telefone e ligou para Henry. Mesmo tendo terminado com ele ainda eram bons amigos, mas Kath tinha a sensação de que se desse a oportunidade ele voltaria correndo para ela como se nada houvesse ocorrido. No terceiro toque a voz gentil de Henry soou do outro lado da linha.
  - Olá, Kath.
  - Oi, querido. Ocupado?
  - Não. - Kath pode ouvir a animação crescente em sua voz e sentiu-se ainda mais culpada. - Quer sair?
  - Não, mas queria te ver. Podemos pedir comida chinesa, assistir a um filme, tomar um vinho... Apenas passar o tempo.
  - Ok. - Depois de um silêncio que ela não conseguiu entender ele finalmente falou. - Um programa bem de amigos.
  - Henry... - Katherine sentiu um embrulho no estomago ao perceber o que estava fazendo a ele, mas antes que pudesse cancelar ou até mesmo falar algo a risada vivida e adorável dele a fez calar.
  - Estarei ai em meia hora, ok? E eu levarei um vinho, você definitivamente não tem bom gosto para eles.
 Dito isso, ele desligou e ela levantou-se rapidamente para tomar um banho. Sabia que estava com uma aparência horrível e gostaria de parecer ao menos apresentável para Henry. Abriu o chuveiro e sentiu a água morna em suas costas. Era incrível como isso a relaxava e fazia parecer que todos os problemas do mundo haviam desaparecido. Passou pouco mais de vinte minutos sentindo aquela sensação maravilhosa e então saiu do banheiro com um suspiro pesado. Vestiu um vestido leve e deixou o cabelo solto de forma bagunçada. Ao se olhar no espelho suspirou alto. Vestir-se dessa forma era a prova definitiva de que não estava bem, seu ultimo pensamento antes da campainha tocar foi que se Sofia a visse vestida daquela forma certamente acabaria morta. Correu ate a sala e abriu a porta dando de cara com um Henry de cabelo arrumado, jaqueta de couro e calças escuras.
  - Uau. - Deixou escapar e o loiro deu uma risada.
  - Eu sei, eu sei. Como não se apaixonar? - Apontou para seu próprio corpo e Kath sorriu revirando os olhos.
  - Pare de me humilhar e entre de uma vez. - Falou pegando a garrafa de vinho de sua mão e indo até a cozinha.
  - Você esta linda, Katherine. Deixe disso. - Ele bateu a porta e se jogou no sofá como sempre. Ela ergueu uma sobrancelha.
  - Folgado você, hem?
  - Por favor, essa é minha segunda casa. Já perdi as contas de quantas vezes dormi aqui.
 O comentário de Henry fez um arrepio percorrer a espinha de Kath. Ele estava certo, havia passado muitas noites ali, muitas noites onde os dois se entregaram de uma forma que Katherine pensou que nunca se entregaria a um homem. Não costumava ser só sexo, era algo maior que isso. Sabia que não amava Henry, não da forma que uma mulher ama um homem, mas quando os dois estavam juntos era quase como se fizessem amor, na verdade foi o mais próximo de algo assim que ela havia chegado. Mesmo de cabeça baixa podia sentir o olhar de Henry sobre ela e podia postar seu diploma que ele estava pensando o mesmo. Tentando ignorar o que acontecia no meio de suas pernas naquele momento pegou o puxador de rolha da gaveta e tratou de abrir o vinho.
  - E então. - Katherine pigarreou ao perceber que sua voz estava presa e torceu pra Henry não ter percebido. - Como vai o novo livro?
  - Estou passando por um bloqueio, sabe como é. - Ele soltou uma risadinha baixa e um novo arrepio passou pela espinha dela. - Na verdade você não sabe. Esqueci que Katherine Williams não tem bloqueios.
  - Na verdade ela tem. – Respondeu sorrindo tristemente. – Faz dias que não consigo escrever algo concreto. Essa foi ate uma das razões pela qual te liguei. Só outro escritor para entender a depressão de um escritor.
 Kath pegou duas de suas melhores taças de cristais e a garrafa de vinho tomando caminho para a sala. Enquanto Henry servia o vinho ela o observou atentamente. Depois que ele tirou a jaqueta pode perceber que seus músculos aumentaram e que havia algo mais de diferente nele. Ela também percebeu que ele estava muito arrumado para apenas passar na casa dela, algo que não era do costume de Henry. Como em um estalo ela entendeu.
  - Você ia em um encontro! – Ele que estava com o braço estendido para lhe entregar a taça piscou confuso.
  - O que?
  - Quando eu te liguei você ia para um encontro! Por isso esta todo arrumado desse jeito. – Ele nada disso, apenas tomou um gole de vinho e deu de ombros. – Henry!!!
  - O que você quer que eu diga? Sim, eu ia em um encontro, mas não era nada demais.
  - Porque não me disse? Não precisava vir se você tinha algo melhor pra fazer. – Ele a encarou por um segundo e em seguida balançou a cabeça negativamente dando outro gole.
  - Não importa, estava querendo te ver.
  - Ela é bonita? – A pergunta que Kath se fez mentalmente saiu em voz alta e ele sorriu. Embaraçada, ela deu um grande gole no vinho.
  - É sim, mas não importa.
  - Você devia ter ido... – Sussurrou com o orgulho ferido por saber que Henry havia seguido em frente.
  - Pelo amor de Deus, Katherine! – Ele colocou a taça na mesinha de centro e segurou o rosto de Kath com as duas mãos. – Eu poderia ter mil encontros hoje, você me ligando, mandando um e-mail, um sinal de fumaça ou qualquer outra coisa eu viria.
  - Por quê? – Ela queria fechar os olhos, mas os manteve aberto encarando os lindos olhos verdes dele.
  - Porque mesmo depois de você ter me traído eu ainda penso em você a cada segundo. Sinto como se nunca pudesse esquecer você. Meus amigos dizem que devo seguir em frente, mas basta um sinal de que você esta por perto para voltar atrás na hora. Nunca pensei que diria isso a uma mulher, e ainda mais a você, mas realmente acho que te amo.
 Katherine ficou paralisada. Ele a amava? Como assim? Esperou alguns minutos achando que essa era mais uma das brincadeiras de Henry, que a qualquer segundo ele iria cair na gargalhada e chama-la de boba por acreditar, mas depois de algum tempo percebeu que ele falava sério.  Com um suspiro pesado Henry soltou seu rosto e baixou o olhar para suas mãos, coisa que só fazia quando tinha certeza que havia feito besteira. A mulher continuou paralisada o encarando e ao perceber o olhar aflito dele, e em um momento de impulso, o beijou.
 Não fora como seus beijos anteriores. Eles costuamavam se beijar de forma extrema, ou com carinho e respeito ou desejo e selvageria, mas de alguma forma esse conseguia ser apenas melancólico. Era como se um flashback de tudo que já passaram estivesse..