O cheiro de massa fresca, denunciava a segunda fornada de pães doces. Tirei meu avental e o pendurei atrás da porta, para verificar o balcão. Max estava deitado em sua almofada de costume, ao lado oposto ao balcão de doces. Alguns clientes ainda mantinham o preconceito sobre um animal estar em uma rotisserie. Isso na verdade era uma grande bobeira. Max era sempre mantido limpo e quase nunca era visto pelos clientes. A não ser é claro, quando seu osso se reduzia a farelos, o obrigando a ter um novo passatempo. Quando ia acontecia, eu era obrigada a abandonar meu posto na cozinha, para ir comprar algum brinquedo para ele.

–Seu osso está acabando – Comentei agachando ao seu lado, para afagar sua cabeça peluda. Como se entendendo o que eu dizia, ele parou de morder e latiu uma vez. – Hey mocinho, é melhor parar de latir. – Comentei rindo baixinho, para não assustar os clientes.

Hoje particularmente, nossa loja estava cheia. Eu não via lugares disponíveis nas mesas redondas espalhadas pelo salão e mesmo assim, as pessoas entravam e saiam em um intenso fluxo, com pedidos nos balcões. Era uma tarde fria e com chuva constante, atraindo as pessoas com o cheiro de pães frescos e chocolate quente. A temporada de inverno estava de volta e dessa vez, havia vindo com grande força para New York.

–Maria eu preciso ir comprar um brinquedo para o Max. Fique olhando tudo por favor. – Gesticulei rapidamente ao redor, enquanto puxava meu pesado casaco de chuva do armário. A mulher apenas gesticulou com a cabeça, enquanto eu seguia pela porta.

A chuva era ritmada, cobrindo cada parte da minha capa. Segui em passos largos e rápidos até a loja de animais. Assim que passei pela porta, cumprimentei a dona da loja.

–Boa tarde – Disse alegremente, passando meus olhos ao redor, em busca de algo para Max.

–Max destruiu mais um brinquedo? – Ela parecia divertida.

–Destruiu – Virei os olhos, me fingindo de brava. – Tem alguma coisa nova? Uma galinha de xadrez talvez? – Arrisquei, me lembrando de um brinquedo que havia visto uma vez na loja.

–Aquela galinha eu ainda tenho uma peça – Ela saiu de trás do balcão, apontando para um ponto não muito distante. – Vou lá pegar para você.

–Obrigada – Mal tive tempo de responder, quando senti alguém cutucando de leve meu braço.

–Rose?

–Andrew? – Perguntei sem jeito, observando o rosto de Andrew. Ele estava levemente corado e seus olhos azuis brilhavam. –Como me encontrou?

–Estava passando para comprar comida para meu gato e acabei vendo você. – Seu sorriso aumentou ainda mais, notando minha surpresa. Traços de nossa noite anterior, voltaram como flash em minha mente. Ele havia passado sua primeira noite em minha casa.

–Eu não esperava te ver aqui – Disfarcei, torcendo para que a dona da loja, voltasse logo com minha galinha. A única coisa que não precisava agora, era que o cara que eu estava saindo, me encontrasse em uma loja de animais e no meio do expediente.

Para contentar Lissa, eu havia novamente cedido a um encontro e desta vez, eu acreditava que talvez fosse dar certo, como uma forma de passatempo. Estávamos juntos há um pouco mais de três semanas. Andrew era muito bonito e extremamente atencioso, mas mesmo assim, eu não me sentia totalmente entregue a relação, como ele parecia estar. Havíamos concordado então, que deixaríamos dessa forma por enquanto.

–Está aqui – A mulher logo voltou com minha galinha, a depositando na bancada, enquanto olhava inquietamente para mim. Provavelmente, notando meu desconforto.

–Obrigada! – Peguei rapidamente a galinha e segui para o caixa. Andrew atrás de mim com um pacote de ração para gatos.

–Nos vemos hoje? – Ele parecia decidido.

–Hoje farei um jantar em casa para Lissa. Pode aparecer se quiser – Respondi após guardar meu cartão de crédito.

–Christian irá aparecer? – Ele parecia quase encabulado.

–Não, mas se você aparecer eu o libero – Pisquei, tentando dissipar a tensão em meus músculos. Ao todo foram cinco encontros com Andrew, mas eu não me sentia tão à vontade quanto deveria. Eu devia isso a ele. Enquanto minha cabeça girava em uma velocidade louca por causa de Dimitri, Andrew estava sendo paciente e atencioso o tempo todo.

–Então eu aceito, desde que não atrapalhe seus planos. – Ele então pegou minha mão na sua, me fazendo suar um pouco, enquanto ele entrelaçava seus dedos nos meus.

–Está combinado – Puxei minha sacola de balcão um pouco rápido demais com a mão livre. –Preciso voltar agora para a loja, mas te vejo mais tarde. – Antes que ele tomasse a iniciativa, selei rapidamente nossos lábios. Ele voltou a sorrir.

Assim que voltei a rotisserie, o movimento havia diminuído um pouco nos balcões. Assim que Maria me viu, soltou um suspiro em alívio.

–Até que enfim a Srta voltou. – Ela passou perto de mim, enquanto tirava o pesado casaco coberto de água.

–Como estamos? – Perguntei ansiosa, tentando tirar a figura de Andrew de minha cabeça. Eu ainda não sabia muito bem como me sentia em relação a ele. Por que no final das contas, as coisas não poderiam ser mais fáceis? Por que Andrew não poderia fazer meu coração martelar em meu peito como Dimitri fazia? Simples. Por que ele não era Dimitri.

Fechei e abri meus olhos, puxando meu avental de trás da porta da cozinha e indo em direção à prateleira de pães, para levar uma nova remessa para os balcões. Os clientes sorriam prazerosamente e isso me fez respirar aliviada. Parecia que mesmo às pressas, meu pequeno investimento estava agradando as pessoas.

Meu celular então vibrou no meu bolso. O peguei com a mão livre, passando a forma para um dos atendentes. Olhei no visor e notei que era Lissa.

–Alô? – Perguntei já sentada em frente à mesa do caixa.

–Hey Liz – Comentei alegremente, tocando minha testa suada pelo vapor. Passei meus olhos rapidamente pelo salão, enquanto o sino na porta da entrada soou. Mais um cliente estava atravessando a porta. Abri a boca para responder uma pergunta que ela havia feito, quando minha fala cessou por completo, assim como minha respiração. Meus olhos abriram como pratos e meu coração acelerou de tal forma, fazendo o faltar ar nos pulmões. O homem entrando com um pesado casaco de couro marrom era Dimitri Belikov.