A partida embora muito mais dolorosa do que imaginei, me fez abrir horizontes. Assim que sai de Vancouver, eu não sabia exatamente para onde ir, mas isso não conseguiu me impedir. Entre meus pertences recém-descobertos na recepção, encontrei minha bolsa e meu cartão de crédito que milagrosamente estava funcionando ainda. Comprei minhas passagens para New York no primeiro momento que consegui e parti. Eu não havia visto Dimitri desde a hora em que me entregou os presentes e em minha opinião, era melhor assim. Eu não queria ter que me despedir dele denovo. Já estava sendo o doloroso o suficiente.  

A chuva  ritmada tornava as cores e as luzes de New York ainda mais embaçadas a vista, através da janela do taxi. Encostei minha cabeça no vidro buscando apoio e conforto, para meus sentimentos conflituosos. Eu finalmente havia dado um passo importante na minha vida e agora, estava rumo a conseguir um segundo. Eu precisava redescobrir minha felicidade em minha antiga vida, ter minha casa de volta e posteriormente, voltar para a faculdade.

-Um passo de cada vez – Eu repetia para mim mesma

-Srta, chegamos – A voz do taxista me fez endireitar no lugar e pegar o dinheiro já amassado entre meus dedos trêmulos pela ansiedade.

-Muito obrigada – Respondi rapidamente, enquanto lhe entregava o dinheiro. Sai do taxi levando minha pequena bolsa e meus poucos pertences. Respirei profundamente, enquanto observava a casa de minha amiga e torcia, para que ela ainda morasse ali. As luzes acessas da sala, denunciavam possivelmente a presença de pessoas. Uma breve nota mental me fez lembrar nossa infância, quando eu vinha quase toda a semana aqui, para brincarmos com a casa de bonecas que Lissa havia ganhado em certo Natal. A chuva já havia cessado um pouco, mas mesmo assim, era o suficiente para me molhar rapidamente dos pés a cabeça em poucos segundos.

Assim que consegui me mover, bati na porta e aguardei.

-Chris eu atendo a piz... – Lissa parou no meio de sua frase quando meu viu. Seus grandes olhos jade se abriram primeiramente em pânico, mas logo, se se tornaram esperançosos, seguidos por um grande sorriso. – Rose! – Eu não consegui me esquivar de seu abraço apertado. – Woch você está uma sopa! – Lisa se distanciou de mim e torceu o nariz. – Entre! Vamos trocar essa roupa.

Eu a segui para dentro da casa, apenas observando, já incapaz de falar alguma coisa.

-Hey me da isso – Lissa pegou minhas bolsas – Christian venha me ajudar agora! – Ela gritou. Instintivamente tapei meus ouvidos. –Ow me desculpa – Ela se desculpou me tocando. – Eu acho que não está mais acostumada com meus modos.

-Estou bem – Forcei um sorriso. Logo um homem de aproximadamente vinte e poucos anos e bastante alto e magro, entrou na sala. Seu cabelo era de um preto azeviche e seus olhos tão claros, quanto o oceano. Ele era bastante bonito e parecia ainda mais pálido, debaixo das luzes do lustre da sala.

-Eu perdi alguma coisa? – Ele perguntou me observando um pouco assustado.

-Chris essa é Rose! Lembra-se que te falei dela? – Lissa me segurou pelos ombros sorridente.

-Aquela sua amiga que estava no hospício? – A forma inocente, porém inocente com que ele mencionava, fez Lissa congelar suas mãos em meus ombros.

-Christian! – Ela o repreendeu irritada!

-Me desculpe – Ele tentou se justificar. Suas bochechas recebendo um leve tom escarlate.

-Está tudo bem – Respondi calmamente.

-Depois converso com você – Lissa não se dando por vencida, lançou a Christian um olhar e logo, me puxou para que a seguisse.

Ela me levou para seu quarto, me passando algumas trocas de roupas e apontando seu banheiro.

-Vá tomar um banho quente e coloque esse pijama – Lissa sorriu

-Lissa eu.... – Comecei a falar, mas ela me interrompeu.

-Na verdade não me importa bem como está aqui agora, mas fico feliz que esteja. Teremos muito tempo para conversarmos depois. Hoje apenas quero que relaxe e por favor, não tenha má impressão do meu namorado – Ela fez uma careta, me fazendo rir.

-É seu namorado? – Perguntei mesmo suspeitando.

-É sim. Chama-se Christian – Ela respondeu. – Vou te deixar em paz aqui, enquanto ligo para reclamar da pizza. – Ela voltou a fazer uma careta, me forçando a rir dessa vez.

Assim que terminei o banho e me troquei, segui para a sala em busca de Lissa. Ela estava arrumando a mesa de jantar com Christian. Quando ambos me viram, ambos pararam seus afazeres, para me encarar.

-Rose me desculpa por mais cedo – Christian tocou seu cabelo nervosamente.

-Está tudo bem mesmo Christian – O assegurei sentando junto dele na mesa. Lissa ainda estava de pé, arrumando os copos. A pizza já havia chegado.

-Se vocês não se importam, eu estou faminta – Lissa tocou seu estomago, nos fazendo rir com ela.

O jantar foi bastante tranquilo. Em momento algum, tocamos no assunto Santa Maria ou minha família conturbada. Lissa comentou que ela havia finalmente se formado e estava muito feliz, por ter conseguido um emprego como advogada em uma agência bastante conhecida em New York. Christian seu namorado era advogado também e foi assim, que ambos acabaram se conhecendo, pelo que eu havia entendido. Eles ainda não moravam juntos, mas Christian parecia passar grande parte de seu tempo livre com ela. Isso estranhamente me fez lembrar Dimitri. Havíamos passado bons momentos juntos também. Embora tecnicamente como médico e paciente, ambos sabíamos que éramos bem mais que isso. Dimitri havia sido um amigo muito presente e me ajudou com pequenas conquistas, até que sua promessa se cumpriu e hoje, eu estava livre de Santa Maria.

-Rose? – Lissa me chamou.

-Sim? – Perguntei antes de beber um pouco do meu refrigerante.

-Você nem tocou na sua pizza ainda – Lissa lançou um olhar desaprovador para meu prato e foi ai que notei que eu apenas estava participando da conversa e não comendo.

-Eu estou sem fome – Tentei parecer convincente, mas o olhar que ela me lançou, não restou dúvidas que ela não acreditava necessariamente em mim.

-Quem é ele? – Ela perguntou me empurrando outro pedaço no prato recém-tocado. Eu apenas a encarei sem conseguir dizer nada.

-Bom amor, acho que é minha deixa. – Christian rapidamente limpou seus lábios com o guardanapo, antes de levantar. Ele selou rapidamente os lábios de Lissa com os seus, pegou suas chaves do carro e prometeu vir visitar ela no dia seguinte.

-Pois bem – Lissa voltou a mim quando Christian saiu. – Me conte enquanto come, quem é o felizardo – Ela então cruzou seus braços por cima da mesa, colocando seu prato já vazio de lado.

-Você me faz lembrar ele, me pedindo para comer – Comentei ironicamente, enquanto cortava um pedaço de pizza e colocava na boca.

-Quer dizer então que o felizardo é do hospital? – Lissa pareceu confusa por um momento.

-Ele é médico do hospital – A corrigi rapidamente, antes que pensasse que eu estaria interessada em algum homem louco.

-Você transou com o médico? – Ela agora parecia mais surpresa ainda, enquanto ria.

-Claro que não – A repreendi, lhe apontando o garfo. – Éramos amigos. Alias... – Bufei. – Nem sei direito o que éramos – Me senti confusa por um momento.

-Se você está aqui pensando nele, alguma coisa aconteceu – Ela então piscou e se levantou da mesa. – Vou buscar a sobremesa e quando eu voltar quero que me conte tudo!

Lissa não demorou q voltar com um pote de sorvete de chocolate e duas taças. Enquanto comíamos, ela se mostrou paciente com minha pequena confissão. Contei a ela como havia conhecido Dimitri e tudo o que havíamos passado juntos. Das minhas aulas de culinária até a surpresa do meu aniversário. Lissa suspirava sem parar, principalmente, quando lhe contei sobre nosso quase primeiro beijo. Ela se postava inconformada com minha falta de atitudes, mesmo eu repetindo que ele tinha uma noiva linda que o amava.

-Eu já te disse que desaprovo o que você fez – Ela comentou, colocando mais sorvete em sua taça. – Deveria ter se declarado para ele.

-Declarado? Ele era meu médico – Foi minha vez de me levantar e levar as coisas para a cozinha. Lissa me seguiu de perto com sua taça em mãos.

-Está na cara que se sente atraído por você – Ela comentou

-E o que quer exatamente que eu faça com isso? – Me virei para encara-la, apoiando minhas costas na pia de mármore.

-Você comentou que ele mora aqui não é?

-Eu acredito que sim – Fiz uma careta, tentando me lembrar de quando exatamente Dimitri iria partir.

-Pois bem, vá atrás dele  e impeça que ele case com essa tal noiva dele – Embora eu contasse toda a história para ela, tentei não citar nomes. Eu apenas mencionei o de Dimitri.

-Não é assim tão simples – Voltei a dar as costas, abrindo a torneira da pia e pegando a bucha para lavar os pratos.

-Você que complica Rose. Se ele não estivesse realmente interessado em você, não teria feito metade das coisas que fez. Pense nisso – Lissa então colocou sua taça dentro da pia e piscou para mim. – Vou  me deitar por que estou com muitas dores nas costas. Pode ficar com o quarto de hospedes. A cama é bem confortável – Ela então me abraçou – Estou muito feliz que esteja de volta.

-Eu também  - A abracei meio sem jeito pela posição. – Eu também. – Repeti me sentindo confortável pelo menos, por aquela noite.