Nunca sei por que escrevo, cada vez que abro essa merda de caderno penso ter um bom motivo para cansar minha mão e acabar com a tinta de alguma caneta perdida no fundo da minha bolsa, mas sempre noto que meus motivos não são o suficiente e acabo por nem escrever. Hoje me toquei que faz alguns muitos meses que estou nesse jogo de suficiência, que penso que estou para explodir e preciso escrever algo antes que esse incidente aconteça, mas no fim é somente uma agonia passageira que foge quando vejo as folhas em branco desse caderno com capa preta. Covarde.

Hoje as coisas parecem ter sido diferentes, agora com a caneta na minha mão a agonia não fugiu, pelo contrário, ficou mais forte. E nem as folhas brancas demais desse caderno com capa preta demais a assustaram. Ela tem tomado força por meses para enfrentar isso e agora penso que eu deveria ter me preparado também. Estou perdendo. É tão estupido escrever sobre uma guerra contra um sentimento que acabo por rir involuntariamente. Mais estupido ainda é perder essa guerra.

Mas estou perdendo. A guerra, as forças, os sentidos. Todos os meus órgãos doem como se estivessem em chamas. Tentei acender um cigarro a pouco, apaguei-o em seguida. Já estou semimorta o suficiente.

Eu tenho vontade de gritar, com tudo o que me resta de força. De gritar, de chorar, de quebrar tudo o que vejo pela minha frente. Mas contentei-me em sentar na minha cama, sequer fiz o esforço de arrumá-la quando levantei mais cedo, e escrever. Não consigo gritar. Não consigo chorar. Nem me levantar daqui ou desviar os olhos do caderno a menos que seja para tentar novamente aquele cigarro.

Eu sinto muito... É só que... Doía muito e você não estava lá... Você não estava lá e eu precisava de um escape, precisava fazer parar de doer... Mas você não estava lá... E agora é só sangue que eu vejo.