James me pedia desculpa, eu desculpava. Mas ele queria voltar, e isso eu não posso.

Não confio nele. Ele quebrou minha confiança. Se ele eu voltasse com ele, ia ficar muito pior. E ele sabe.

Todos os finais de semanas, eu ia ao parque com Lili, o novo apelido que eu coloquei na princesinha, na minha princesa. Agora eu estou trabalhando, e adivinha? Na casa do James.

Sim, acredita, é a verdade nua e crua. Ganhava mais ou menos cinquenta reais a cada dia. Apesar de que é um inferno lá, com James insistindo, eu precisava de dinheiro. Quero comprar um iphone. Nessa época é muito difícil de achar emprego, já que estamos em dezembro. Quase chegando o natal, faltava apenas três semanas.

Hoje é o coral da Lilian, pela primeira vez, os pais –Lana e George– desligaram o celular, e vão ver o coral. Por completo. Eu já estava arrumada, usava uma saia longa preta e uma regata cor aparecido com verde guerra. Só estava esperando minha mãe, para podermos ir.

–Vamos? –Pergunta minha mãe, me tirando dos meus pensamentos. Assenti e ela estava linda. Simplesmente linda. Usava uma calça apertada e uma blusa tomara-que-caia e seus cabelos estavam soltos, que eram ondulados, de tom chocolate. Eu estava apenas de coque.

Minha mãe comprou um carro há poucas semanas, um astra, tom azul, azul escuro. Dei última olhada no espelho e fomos para estacionamento.

[...]

James me esperava na porta do coral. Ele ainda insiste.

–Devia parar de insistir, você não vai conseguir.

–Vou te reconquistar. Você vai ver.

–Ok. –Não queria brigar. Entrei e vários lugares estavam ocupados, só restava nos fundos. James fez um gesto para que passasse primeiro. Assim começou o coral, com James tentando pegar minha mão, e eu tirando.

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–Você estava linda Lili.

–Obrigada. –Agradeceu.

–É princesa, estava lindona. Você é a segunda que estava mais linda do coral.

–James!!! –Reprendi –o.

–Que foi? Estou falando a verdade.

–Ele está brincando viu bebê. –Disse tentando consertar o erro.

–Não está não. Você não tem curiosidade de saber quem é a primeira? –Pergunta ela. É com quatro anos, e ela já está bem inteligente, esperta.

–Não. –Realmente não queria saber. –É a Lana, certo.

–Não, ela é a terceira.

–Quem é a primeira?

–Você Barbara. –James disse interrompendo a Lili. Até ela é mais inteligente que eu. Corei e agradeci com um sorriso. Ele sabe como me deixar igual a um pimentão.

Depois do coral, Pais de Lilian resolveu comemorar. Comemorar o quê? O coral, claro! Fomos para uma pizzaria que tinha perto, e pedimos duas pizzas meia a meia: moda, calabresa, portuguesa e frango c/ catupiry e um refrigerante de dois litros. Enquanto esperávamos as pizzas chegarem, ficamos conversando. Falavam sobre o casamento de Lana e George, sobre Lilian, sobre minha mãe e meu pai e outras coisas.

Sabe aquela dorzinha que sentimos no coração que alguma coisa vai dar errado? Estou sentindo isso. E sabe o que mais? Essa dor está relacionada á Lilian. Eu sentia. O que pode dar errado? Ainda por cima, com ela?

Alguém me cutucava, saí dos meus pensamentos ruins e virei para pessoa que estava me cutucando. Era Lilian.

–Babi, não vai comer? –Olhei para mesa e todos olhavam para mim.

–Claro, só estava lembrando uma cena engraçada. –Sorri e peguei o prato e me servi. Dei uma olhada nada discreta para o James e ele me encarava. Seus olhos diziam que ele sabia que tinha alguma coisa errada comigo. Ignorei e comecei a comer e prestar atenção nas conversas dos senhores.

[...]

Todos foram ao banheiro. Menos eu. A dor foi aumentando, aumentando e aumentando. Pressentimento ruim, muito ruim.

–Barbara você viu a Lilian? –pergunto a Lana preocupada.

–Não. Ela sumiu?

–Não sei. Não sei. –Entrei no banheiro masculino e comecei a chamar o James. Os homens olhavam assustados para mim.

–Barbara?-disse ele saindo.

–James cadê a Lilian?

–Não sei, ela estava com a minha mãe.

–Ah meu Deus. –Disse saindo e perguntando as pessoas se viram uma menina loira de olhos azuis. Vasculhava e vasculhava e nada. E fui para fora da pizzaria. Todos fizeram o mesmo.

–Lilian!!! –Gritou George. Ela estava no meio da rua e vinha um caminhão em alta velocidade. Corri até ela com todas as forças, eu gritava o nome dela, mas ela não ouvia, ela estava concentrada em alguma coisa que estava na sua mão. E ela estava sorrindo e eu estava chorando.

O caminhão estava tão perto e eu tão longe, eu acho. Tudo foi por impulso. Eu peguei o seu corpo e eu sabia. Era eu ou ela. Não dava para salvarmos nós duas, ou era uma ou era nós duas mortas. O caminhão estava centímetros á nós. Eu escolhi ela. Joguei Lili para longe.

Uma força atua sobre o meu corpo. Uma pancada me leva para longe. Meu coração doía mais que o meu corpo. Era a minha hora, a hora da minha morte. Nunca desejei isso, apesar de que eu tive vários pesadelos. E o meu pesadelo virou realidade. Por um momento, no meu cérebro passava um filme. Um filme da minha vida. As melhores cenas passavam na mente.

Quando a Lilian me chamava de mamãe. Quando ela sorria pra mim, dizendo que eu sou muito legal. Meu beijo com James. Quando ele disse os meus 8 sorrisos. E no telefone? Não contei á vocês, mas James me ligava de madrugada e conversava comigo sobre o nosso futuro, sobre os nossos filhos, sobre o casamento. É ele me pediu em casamento e eu levei tudo á brincadeira. E quando tínhamos que desligar telefone, nenhum de nós dois queríamos desligar.

–Desliga você amor. –Disse eu rindo no telefone

–Não mô, eu não tenho coragem.

–Mô eu preciso dormir.

–Então desliga.

–Eu não, você que ligou.

–E você que disse que tinha que dormir.

(silêncio)

–Mor, está aí?

–Sim, minha princesa.

–Vamos contar até 3 e desligamos.

–Tudo bem, vamos lá.

–um, dois, três.

E assim terminava a nossa ligação.

E a nossa primeira discussão, o nosso primeiro mês de namoro. Ele me deu um urso GIGANTE e eu dei á ele um ingresso do show do Slipknot. Quer dizer dois. Um pra mim e um pra ele. Foi tão perfeito. Sabe qual é a nossa música? Snuff. Não tinha nada ver com nós, mas escolhemos essa. Sabe por quê? Porque eu e ele dissemos, te amo ao mesmo tempo.

Tantos momentos. E da minha mãe? Quando cantávamos a música Lithium de Nirvana?

Era de noite e estávamos voltando para a nossa casa – antiga – passava a música Lithium e cantávamos bem alto e os vizinhos mandavam nós calar a boca e a gente cantava mais alto ainda, só para irritar eles.

E tinha vários momentos com meu pai também. Quando víamos o jogo de Hóquei. Era tão engraçado, ele nem ligava quando eu falava palavrão. E também quando fazíamos compras, ele me empurrava no carrinho e eu tinha 14 anos. As pessoas nos olhavam felizes. Devem ser porque eles não tenham esses momentos. E tinha uns meninos e meninas que nos olhavam com tristezas, acho que é porque eles não se divertiam dessa maneira. Eu e meu pai o pegávamos e colocávamos no carrinho e empurrava.

E a July? E quando íamos para shopping e compramos várias coisas. E quando nós víamos comédia e ríamos que nem retardadas. Lembrei também do Alex, aquele chato. Da Luana, Bruce, Blenda, da Rafaela.

James e minha mãe choravam. Lilian nem sabia o que estava acontecendo. Me olhava assustada. Sorri com muita dificuldade e a mesma sorriu.

–Amor! Está me ouvindo? Vai ficar tudo bem, viu? A ambulância está vindo. –Meu amor disse chorando.

–Filha! Está tudo bem. –Minha rainha disse chorando.

–V-vem. –Eles chegaram perto, olhei para James. –J-James, e-eu te –a-amo. Cuida da L-Lili. Ouviu? Eu amo muito, como minha filha. –Ele assentiu.

–Também te amo meu amor, vai ficar tudo bem, nós dois vamos cuidar.

–Mãe eu também te amo muito. P-papai e v-você são perfeitos. Chegou minha h-hora. Lá no céu eu providenciar um castelo para você tá m-minha –r-rainha? James, fala para July que eu a amo muito e mamãe fala para o papai que ele é o meu tesouro. –Falei com dificuldades.

Chegou minha hora. Espero que não esqueçam de mim. E James, espero que você encontre a garota da sua vida. Talvez a Giulia é a garota ‘’certa’’. E cuida da Lili, ela é sempre será minha filha de coração. E você sempre será meu príncipe. E eu sempre serei sua princesa. E sempre vai ser eu e ele.

Um som de sirene aumentava cada vez mais, os meus olhos pesavam, e vista ficou embaçada, e ficando cada vez preto.

Apenas eu e ele.

                                                                       FIM