My Happy Pill escrita por Gabby


Capítulo 37
Dia de Verão I


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, galera! Sorry pela demora; já tinha terminado o capítulo faz uns três dias, mas como estava em minha casa de praia e lá não tem net, não pude postá-lo. Aliás, moro em Santa Catarina e minha casa de praia é lá em Imbituba. Desde, sei lá, 2012, sempre teve muito turistas (antes aqui era esquecidinho), mas esse ano se superou. Muitos gaúchos e paulistas estão vindo para cá passar as férias, ficar na praia (nosso estado é o que tem mais praias do Brasil, e boa parte delas são lindas). E, claro, muitos argentinos! (até carro tinha, no ano novo, rodando música latina). Acho incrível a diversidade que o nosso estado conseguiu reunir (até mesmo franceses!)
Agradecimentos aos queridíssimos: Kevyn, Ingyd, Lord das Sombras e Silvan.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/275779/chapter/37

Orihime enrolou um cacho do cabelo ruivo. Falava com Rangiku há quase uma hora, como quando eram menores. As duas haviam feito as pazes quase instantaneamente —Orihime nunca foi boa em guardar rancor. Falavam de tudo um pouco, contando as novidades. Já haviam falado de Gin, de Tókio, de Tatsuki e até mesmo de Ichigo —Rangiku abriu os olhos de Inoue, fazendo-a perceber que não amava Ichigo, e sim sentia empatia por ele. Ele estava lá quando Sora morreu e também perdera um ente querido.

—Mas, então, estou um pouco tristonha por Ulquiorra. —falou a Inoue. —Você sabia que ele, a Nell e o pessoal são órfãos?

Uma leve pausa para ajeitar o celular do outro lado da linha.

—Ah, sim, na verdade eu sabia. Halibel já tinha comentado comigo um dia desses. Muito triste, com certeza. Halibel vivia com a vó, mas ela acabou morrendo, pois era muito velhinha. —Rangiku suavizou a voz, como fazia para tratar de um assunto sério com Orihime. —A Halibel tinha 17 anos. Não ficou por muito tempo no orfanato, ainda bem.

—Ulquiorra está desde bebê. —contou Orihime, triste. —Às vezes, eu fico imaginando... Perdi Sora quando pequena, mas pelo menos o tive, entende? Ulquiorra, não. Não consigo imaginar viver sem ninguém, sem nunca ter uma família...

—Mas Ulquiorra tem Nell. Ele não está sozinho, Orihime.

Um tenro sorriso iluminou a face da ruiva.

—Tem razão, Rangiku-san.

Rangiku fez uma pausa e depois emitiu um barulho engraçado. A conversa séria estava finalizada.

—Mas, então, você não acha que está passando muito tempo com ele, não? —Rangiku indagou, em tom malicioso. —Quando uma menina e um menino se encontram de madrugada...

Orihime ficou vermelha.

—Fique quieta, Rangiku-san! Não é nada disso que você está pensando!

Rangiku riu ruidosamente.

—Então o que é, Orihime?

Ela ficou quieta por alguns segundos, pensando no assunto.

—Amizade? —arriscou.

Rangiku riu ainda mais.

— Você se encontra com seus amigos de madrugada?

Orihime riu, ficando ainda mais vermelha. Estava sentada no sofá, olhando para a televisão no mudo. Passava uma reprise de um dorama que já havia visto. Era de noite, perto das nove horas. A casa parecia vazia demais sem Rangiku, muito embora Orihime já estivesse acostumada. A televisão, mesmo no mudo, a servia como companhia, e a voz de Rangiku pelo telefone dava a ilusão de ela estar do lado de Inoue.

Matsumoto ainda falou sobre o trabalho, onde tentava ensinar um homem como administrar a filial de Karakura. Inoue reprimiu a vontade de pedir a Rangiku que viesse ela mesma administrar, para ficar bem pertinho de Orihime. Mas não seria justo, pois Matsumoto tinha uma vida em Tókio —amigos, namorado, casa e um emprego estável. Seria roubá-la, priva-la de sua vida, por puro capricho seu.

Ela observou a televisão, onde o casal declarava seu amor um para o outro. Não era necessário som para entender o que diziam.

—Rangiku-san, como você sabe se está apaixonada?

Matsumoto fez uma pausa enorme para pensar; tanto que Inoue pensou que ela não ouvira a pergunta. Orihime já iria repetir, quando Rangiku enfim respondeu.

—Bom, Orihime. —Rangiku limpou a garganta. —Você sabe que está apaixonada quando você anseia ficar com a pessoa. E, quando você está com a pessoa, não fica nem um pouco nervosa. Se sente natural. Sente-se mais viva do que nunca.

—Sente-se infinita. —concluiu Orihime, pensando na primeira vez que Ulquiorra e ela saíram de madrugada, quando leram e brincaram no parque.

“Nós somos infinitos.”

Uma súbita compreensão a iluminou. Todos os momentos juntos dela e de Ulquiorra, todos os encontros noturnos, banhos de mar, jantares, palavras e gestos trocados. Ela estava a fim de Ulquiorra, e ele provavelmente estava a fim dela.

—Obrigada, Rangiku-san.

—De nada, Orihime. —ela hesitou, mas não mencionou mais nada sobre a tão desconfiança, e nem o tom estranho que Orihime usou ao agradecê-la: tom de suavidade, esperança e auto-descoberta.

Não demorou muito mais tempo para as duas se despedirem e desligarem o telefone. Orihime mudou de canal e aumentou o volume, ouvindo as risadas do auditório em um programa.

Desta vez, agiria com maturidade. Não faria com Ulquiorra o que fizera com Ichigo. Não guardaria aquilo para si e não seria tola. Seria totalmente sincera com Ulquiorra e, independente da resposta dele, seria melhor do que nenhuma resposta.

Pegou novamente o celular e escolheu um nome na agenda. Dessa vez não era Rangiku, Tatsuki ou Neliel: estava ligando para Ulquiorra. E marcaria um almoço na sexta.

///

Ulquiorra pegou um sushi com os hashis e mergulhou no molho shoyu, engolindo em seguida. Orihime observou o movimento dos lábios do menino conforme mastigava.

—Fico feliz que tenha me convidado para vir até esse restaurante hoje.

—Ah, é? —Orihime tentava encontrar qualquer pista que confirmasse que Ulquiorra sentisse o mesmo que ela.

—Sim. —Ulquiorra pegou outro sushi. —Loly e Neliel saíram, então eu ia ter que comer alguma gororoba com o Grimmjow.

Orihime riu, sendo acompanhada também por Ulquiorra, mesmo que a menção à Loly ter deixado-a tensa. Suspeitava que Ulquiorra não gostasse daquele jeito da Airvine, porém Loly era apaixonada por Ulquiorra. E, pelo jeito, era isso que importava.

Orihime mergulhou o sushi no molho shoyu também e o engoliu. Por um momento, os dois só comeram em silêncio. Barulho de pratos e conversas alheias inundavam os ouvidos dos dois, provenientes do restaurante.

Não poderia acontecer algo romântico em meio há tanto barulho e em volta de tantas pessoas.

Orihime decidiu não lhe contar nessa ocasião.

///

Quando os dois estavam de saída e a conta estava paga, a voz rouca de Ulquiorra foi ouvida.

—Orihime, antes de ir para a casa, preciso ir até a livraria. —uma proposta, um convite, estava feito nas entrelinhas.

Inoue não tardou a perceber a intenção do moreno.

—Claro, Ulquiorra. Eu o acompanho, então.

///

A livraria estava cheia. Em cada corredor, pelo menos três pessoas folheavam mangás, livros ou revistas. Era um local grande, e graças a isso ninguém se esbarrava. Tinha dois andares, o primeiro —e maior— reservado para livros e mangás, e no segundo andar destacavam-se as revistas, livros didáticos, dvd’s e alguns jogos.

Organizavam, em certa parte da livraria, um espaço para um autor discursar e autografar alguns livros. Orihime, de fato, não o conhecia, mas interessou-se pelo espaço.

Ulquiorra já sabia que livro ia levar, mas resolveu seguir Inoue, fascinado por ela e seu cabelo ruivo ardente, comprido e balançando. A garota observava o transporte de cadeiras e mexia em um folheto do autor. Usava um short jeans e uma regata de seda com vários babados floridos. No pulso, uma pulseira de elástico.

—Conhece o autor? —ele perguntou.

—Não faço nem ideia de quem seja. —ela riu, sendo acompanhada por Ulquiorra. —Mas curti o espaço; gosto de ver gente organizando espaços, decorando, esse tipo de coisas.

—Então ou vai ser decoradora ou organizadora de casamentos.

—Organizadora de festas de aniversário infantis é mais a minha cara, eu acho. —ela sorriu.

—É, é, tem razão. —Ulquiorra concordou. —É fácil te imaginar com nariz de palhaço e cara pintada.

Orihime gargalhou, dando um tapa no braço de Ulquiorra como bronca.

—Ai! —ele exclamou, muito embora tenha sido de mentirinha. Orihime via isso em seus olhos verde esmeralda, apaixonantes, e agora alegres e risonhos.

—Então, já sabe que livro vai escolher? —ela perguntou, depois de um tempo.

—Sei, sim. Só preciso encontrá-lo.

—Ah, eu o procuro com você. —ela se ofereceu.

Ulquiorra estava feliz com tamanha atenção de Orihime. Nunca pensou que uma garota bonita como ela poderia se interessar por alguém como ele. (Na verdade, nunca esperou ter a atenção de ninguém. Quando cresce-se sem pais, não ganhar atenção é comum). Mas felizmente Inoue era diferente, irreverente, divertida. Não era uma típica “garota popular” ou, como no ocidente fala-se, “garota malvada”. Era doce, gentil, incapaz de ser má com qualquer criaturinha viva. Tinha uma bondade e um bom-humor jamais vistos.

Eles se esgueiraram pelas estantes de livros, Ulquiorra na frente, guiando Orihime. Ele precisava parar para olhar para trás de vez em quando, pois frequentemente a ruiva parava e pegava um livro das estantes que havia achado interessante. Ele não achava incômodo faze-lo, pois sempre admirara a voracidade por livros.

Finalmente encontraram o livro que Ulquiorra queria comprar, em um lugar de destaque mais atrás da loja. Era um livro nacional, que criticava a obsessão dos japoneses por uma carreira bem-sucedida. Algo sobre um jovem promissor e ambicioso, que conquistara o tão desejado sucesso, mas continuara vazio.

—Você vai comprar este livro? —Orihime perguntou, franzindo a testa.

—Isso mesmo. —Ulquiorra respondeu. —Por quê? Algum problema com ele?

—Minha prima Rangiku leu. E recentemente viu o filme. Ele está em cartaz.

—Está? —Ulquiorra indagou. —Pois se está, eu quero ir ver no cinema. Matsumoto-san mencionou algo sobre a fidelidade dele ao livro?

—Não, não mencionou nada. —ela respondeu. —Mas, ah, por que você se importa se o filme é fiel ou não? Há de ser diferente, afinal de contas é cinema e não literatura! Os dois são artes completamente diferentes, e algo que funcionou em livro pode não funcionar em filme. Esta é a graça: se surpreender com a adaptação!

Ulquiorra observou Orihime, surpreso pelas palavras da moça, que acabou o convencendo do dito. Um sorriso iluminou sua face —muito menos bonito do que o de Inoue, mas mesmo assim verdadeiro.

—Nós podíamos ver o filme. —ele sugeriu, por impulso. Controlou o rubor no rosto, que, por menor que fosse, aparecia na pele branca. —Você sabe: juntos.

—Podemos ir agora mesmo. —ela sugeriu. —Só pague pelo livro, e pegamos o ônibus até o cinema.

Ulquiorra lutou para conter o sorriso bobo que insistia em aparecer em sua face. Seu sorriso nunca fora tão fácil e abundante como naquele dia, como quando estava com ela. Neliel era a única, desde os catorze anos de idade, que era presenteada com seus sorrisos.

—O.k.

///

—Grimmjow, vou me atrasar. —Ulquiorra avisou por meio do celular. Estavam no ônibus, ele e Orihime, sentados um do lado do outro. Como era de tarde, e a maioria das pessoas estava trabalhando, o ônibus não estava muito cheio. Muitos usavam o metrô, mas Orihime achava que não valia a pena ir até a estação.

—Você já está atrasado, babaca. —retrucou Grimmjow.

Ulquiorra franziu a testa, em um gesto incomodado por ter que dividir mais informações do que o necessário com Grimmjow.

—Passei na livraria para comprar um livro...

—Ah, é ‘mermo? Que surpresa...

Ulquiorra revirou os olhos.

—...Vou ao cinema agora.

—E a Inoue? Ainda está com você?

—Está. Vamos ao cinema juntos. —Ulquiorra se arrependeu imediatamente de ter falado, o ruído malicioso de Grimmjow já ecoando pelo telefone.

—Boa sorte, então, garanhão...

Ulquiorra desligou antes que Grimmjow falasse mais alguma besteira. Orihime olhava para ele preocupada, enquanto ele martelava o telefone até o fundo do bolso, que vibrava com mensagens do whattsapp, sem dúvida de Grimmjow.

—Tudo bem? —ela indagou, o tom da voz alternando entre as sílabas.

—Perfeitamente bem. —ele mentiu, com os olhos arregalados quando o celular vibrou mais uma vez. —Estou ansioso pelo filme.

///

Quando chegaram ao cinema, a fila para comprar ingressos estava pequena. A maioria da fila era composta por jovens ou funcionários públicos que já estavam de férias. Ulquiorra torceu para não encontrar nenhum colega de classe nem professor, e seu pedido foi atendido. A fila, de mais ou menos cinco pessoas, só continha desconhecidos.

Não demorou muito para chegar a vez dos dois, que pediram duas meias —eram estudantes, afinal de contas —para o filme que queriam ver. A próxima sessão era daqui a trinta e cinco minutos.

Animados, os dois jovens saíram do cinema para vislumbrar um pouquinho a rua. O movimento esta satisfatório —umas pessoas andavam pelas ruas como eles e poucos carros passavam—, e por isso foi fácil para eles atravessarem a rua.

Foram para uma loja de produtos artesanais e ficaram observando os objetos, apenas para matar um pouco de tempo. A loja tinha um estilo rústico, e era lotada de objetos de várias culturas, como as máscaras tribais africanas. Também continha grande parte de antiguidades japonesas, pergaminhos e adornos usados até hoje para dar sorte. A loja estava lotada de Buda’s e dragões chineses, entalhados em madeira.

Quando tempo suficiente mataram, voltaram para o cinema e compraram a comida: uma pipoca grande meio doce e meio salgada, e dois refrigerantes médios. Conversaram mais um pouquinho antes de ir para a sala de cinema e sentar-se nas poltronas.

Ulquiorra desligou o celular, já farto de Grimmjow o incomodando, mandando imagens e piadas pouco decentes. Deveria dedicar seu tempo à Orihime, e somente a ela.

///

Saíram do cinema juntos com todo mundo, comentando sobre o filme. Ulquiorra não imaginara que Inoue iria gostar, já que um drama de cunho complicado como aquele não parecia ser o seu gênero, mas ela não parava de falar sobre o filme.

—Pois quando você terminar esse seu livro —e ai de você se não terminar rápido— precisa empresta-lo para mim.

—Tudo bem. —Ulquiorra respondeu. —Farei o possível.

—E o impossível, espero. —ela brincou.

—Aonde vamos agora? —Ulquiorra indagou, quando eles saíram de fato do cinema —Para casa?

—Não tem ônibus agora; podíamos passear. Para aquele lado, rumo ao supermercado.

Ulquiorra levantou uma sobrancelha.

—Você está com fome agora, não é?

Orihime ficou vermelha e apertou com força a barriga. Com uma voz comedida, falou:

—Talvez... Oh, ufa, minha barriga não roncou bem na hora! —ela comemorou.

—Como é?

—É que sempre quando a gente tá com fome e diz que não está, a nossa barriga ronca só para nos contrariar e fazer passarmos vergonha. —Inoue explicou. Ulquiorra teve que fazer uma pausa e prestar muita atenção para entender o que ela estava dizendo.

—Orihime, você acabou de admitir que está com fome.

Ela fez uma cara cômica, como que flagrada fazendo uma coisa errada.

—Droga.

///

Inoue e Ulquiorra entraram na loja de conveniência, agradados pelo ar condicionado. Lá fora estava demasiado calor, principalmente para Ulquiorra, que usava uma calça jeans comprida e uma blusa preta que apenas absorvia o calor do sol.

O mercado era pequeno, mas mesmo assim oferecia uma grande diversidade de produtos úteis. O único funcionário da loja era um senhor de meia-idade, que jogava, entediado, paciência no computador da loja.

Orihime pegou dois salgadinhos de queijo, enquanto Ulquiorra pegava duas latinhas de refrigerante. Os dois se dirigiram ao caixa, depositando os produtos em cima. O homem que operava o caixa não reagiu por um bom tempo, e deixou os dois desconfortáveis e impacientes.

Ulquiorra limpou a garganta.

—Não queria incomodar o seu jogo, mas...

O homem virou-se, sério.

—Pois não?

Ulquiorra dirigiu o olhar aos salgadinhos e refrigerantes, sem querer ser indelicado com o homem na frente de Orihime —embora sua vontade fosse grande.

O vendedor, de forma rápida, passou todos os produtos e os ensacolou. Inoue até se surpreendeu, já que não previa tamanha rapidez de um homem que aparentava ser tão mole.

Depois de pagarem, Ulquiorra e Orihime saíram do mercado e foram se sentar em uma escadaria que havia lá perto, proveniente de um teatro fechado no momento. Queriam apenas comer e conversar, mas por causa do calor não tiveram essa sorte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Cortei o capítulo na melhor parte porque, entre outros motivos (como irritar vocês kkkkkkk #brincadeira), ia ficar enorme e cansativo demais para leitura. Aguardem o próximo capítulo, que reservará muitas surpresas (e boas, porque aqui não é "O Sol Negro e a Lua Branca") e comentem para inspirar-me!