A Salvadora. escrita por CahillOnFire


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

ooooooooi gente, espero que gostem :3



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-Perséfone! – gritou Deméter– Já lhe disse para não se afastar!

A menina corria, explorando os campos vastos. Ela adorava ver flores crescerem por onde passava, e ver pétalas voando ao vento. Sentia o cheiro magnífico de suas flores, o vento bater em seus cabelos, sentia-se livre. Olhava os pégasos pastarem, muitas vezes montara sem mesmo ter permissão. Amava voar com eles, criava rédeas com cipós e os fazia galopar e correr por entre as nuvens de seu pai naquele céu tão azul. Tudo tão bonito e colorido.

- Ora, mamãe deixe disso, estou só me divertindo! – era a mesma resposta sempre.

Perséfone, com quinze anos encantava quem quer que fosse. Seus cabelos cor de caramelo, os olhos verdes e intensos, os vestidos que desabrochavam, o charme e a travessura da menina chamavam atenção para os homens do olimpo.

A garota tinha um carinho especial pela deusa do amor, Afrodite.

-Eu lhe abençoei, meu amor. Dei-lhe carisma, beleza. – dizia-lhe a deusa, acariciando seus cabelos enquanto conversavam. – Você mais tarde confundirá um amor inegável com uma maldição, culpará a mim. Mas tudo dá certo um dia. Tudo.

Era sempre a mesma coisa. Perséfone não tinha nem ideia do que a deusa queria dizer, mas a adorava. Era tão magnífico ver casais enamorarem-se apenas com o passar da deusa. Os animais a ela veneravam, apaixonavam-se por ela inquestionavelmente. Queria ser assim também, queria que se apaixonassem por ela.

Mais tarde naquele dia, havia encontrado um gambá.

-Venha – disse a ele – venere-me como faz com Afrodite! Apaixona-te por mim! Segue meus passos.

O gambá havia apenas fugido, assustado. Perséfone suspirou e sentou em uma pedra, debaixo de um grade carvalho que fazia sombra.

-E tu, pedra? Também queria te enamorares? – perguntou – Também achas tão mágico quanto eu?

-Com certeza, é bem mágico. – disse uma voz.

Perséfone se levantou, assustada.

-Quem está aí? Apareça, ó energúmeno.

Da sombra um corpo foi feito. Ele tinha a pele pálida e magníficos olhos dourados. Cabelos negros e sedosos, usava uma capa feita de sombras, os desenhos na capa deixaram Perséfone com receio, mas não com medo. Ele não parecia ter muito mais que a idade dela, e não era lá muito alto. Ela poderia dar conta do recado, assim como seu irmão Hércules, era forte.

-Cuidado com o que fala garota. Alguém menos acostumado com insultos pode se ofender.

-Quem é você? – grunhiu a menina com os punhos cerrados.

-É perigoso saber meu nome, mas não deixarei uma dama confusa. Me chamo Hades.

-Ora, então por que não se apresentou logo? Eu sou...

-Perséfone – completou o deus.

-Como sabes?

O garoto pareceu aborrecido.

-Você me conhece. Conheço você. Não é possível que você não tenha visto o mesmo que eu naquele dia. Nós compartilhamos...

-Como? – perguntou a menina.

Ele demorou a responder, pareceu pensativo depois disse:

-Um dia talvez eu lhe conte.

A garota não pareceu satisfeita.

-Posso saber o que veio fazer aqui?

-Vim porque me apaixonei.

-Se apaixonou – repetiu a garota, baixinho.

-É. Tu não estivera falando em paixão?

-Sim... Eu gostaria de me apaixonar.

-Se quiser lhe conto como é.

-Você faria isso?

-E por que não?

Ela tinha que cuidar com as palavras.

-Bem, o que você quer em troca?

-Eu lhe pedi algo em troca?

-Não, mas eu insisto.

O garoto pensou e pensou.

-Quero uma lembrança. – disse Hades.

-Uma lembrança – repetiu a menina – Sim, uma lembrança. Pensarei no que lhe dar.

O menino assentiu.

-Bem, vamos andando então.

A garota se levantou, eles andaram alguns passos até que Perséfone ficou impaciente.

-Vamos, fala.

Hades fitou-a intensamente com seus olhos dourados.

-Bom, é bonito apaixonar-se. Tu pensas apenas em uma pessoa, naquela que roubou teu coração. Acredito que Afrodite já lhe deve ter contado como é.

-Sim mas... Ela é a deusa do amor. Gostaria de saber por alguém que não se apaixona tão facilmente.

-Não sei explicar. Não sei nem se há explicação. Sei que é incrível. Já me apaixonei, no entanto nunca amei.

Perséfone sentiu-se confusa, como assim se apaixonou e nunca amou? Não seria a mesma coisa?

-Disseram-me que não é a mesma coisa – continuou o garoto – Dizem que amar é mais complexo.

-C-como?

-Complexo – Hades abriu um sorriso, ela percebeu que era a primeira vez que o via sorrir – é a mesma coisa que complicado.

Os olhos da menina brilharam, entusiasmada como uma criança por aprender uma nova palavra.

-Ah, então... Você é complexo.

O sorriso se desfez.

-Acertou em cheio – murmurou.

-O que disse?

-Não disse nada, princesa.

-Você é estranho.

-Eu sei.

Perséfone fechou a cara.

-Como assim “eu sei”? Vamos, briga comigo. Cadê seu espírito competidor? Diz-me que sou sem educação e que devo ir para casa.

Ele suspirou depois sorriu, bom não era bem um sorriso, estava mais para “levantar os cantinhos dos lábios”. Ela reparou que os lábios dele eram carnudos e bonitos.

-Você é sem educação, mas não quero que vá para casa.

Ela riu.

-Você definitivamente é estranho. Vá, conte-me mais sobre apaixonar-se. Qual a melhor parte?

-O beijo.

-Beijo?

-É. Você não sabe o que é um beijo?

A garota cruzou os braços e franziu a testa.

-É claro que eu sei o que é um beijo.

-Você nunca beijou, não foi?

-Claro que já beijei.

-Ora, não minta.

-Se contar para alguém eu lhe mato.

-Como pretende me matar? –retrucou o menino, melancólico.

-Acho um jeito.

-Certo. Fique procurando. – resmungou.

-Por que você está tão ranzinza?

Ele não respondeu.

-Eu lhe disse como era apaixonar-se. Eu preciso ir e você me deve uma lembrança.

A menina mordeu o lábio, pensativa.

-Que tal uma flor? Uma rosa para lembrar-te de mim.

-Isso não dá certo comigo. Veja.

O menino apontou para onde estava pisando, a grama estava morta. Se ela se assustou ou ficou receosa não demonstrou.

-Pra onde está me levando? –ela perguntou.

-Pro lugar onde venho quando visito o olimpo.

O silêncio se estendeu longo. Eles caminharam até um riacho de águas cristalinas. Perséfone nunca tinha visitado o lugar.  Era lindo, havia flores aqui e ali, o riacho parecia tão fresco... O sol a estava incomodando fazia tempo. Ela ficou contemplando a paisagem por tanto tempo que até esqueceu que Hades estava ali.

O sol ficava cada vez mais forte e o vento roçava-lhe os cabelos e acariciava seu rosto. Ela despiu a túnica e enrolou os cabelos nos ombros. Então entrou no lago, refrescando-se.

Alguém pigarreou. O garoto! Ele ainda estava ali.

Abaixou os olhos e encolheu os ombros, envergonhada. Olhou por cima do ombro, ele estava encostado no tronco de uma arvore, e a olhava com desejo.

-Posso pedir-lhe uma coisa então? Acho que vale como lembrança. – perguntou a garota.

-Diga – ele respondeu, impaciente.

-Beija-me.

Ele ficou calado.

Ela olhou para frente novamente tomando coragem pra falar.

-Olha, eu só quero saber como é beijar alguém. Você é atraente e... Eu sei que não sou grande coisa mas por favor. Quero só saber como é. Por favor.

-Não posso. –respondeu ele. Sabia que se a beijasse estaria entregando sua alma a Zeus, ele sabia de tudo. Mais do que tudo a queria com ele, no entanto a amava demais para fazê-la sofrer. Desde que a conheceu já sabia que a amava, mas não podia. Não podia roubar a alma dela pra si só, ela tinha uma imortalidade feliz não se apaixonando. Só não sabia disso. Mesmo assim, a vontade de tê-la era maior e mais forte.

-Tenho de ir agora. – disse, começando a caminhar até ele.

-Espera.

Ele parou.

-Você voltará?

-Talvez.

-Diga que voltará.

Ele não respondeu. Segurou o rosto da menina entre as mãos e deu-lhe um longo e suave beijo. Suas mãos formigavam, parecia que havia saído do chão. Ele a queria com todas as suas forças. Mas não podia. Afastou-se dela e evaporou, com o vento. Perséfone ficou desnorteada por um instante.

-Volte – pediu. – Por favor.


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Notas finais do capítulo

*-*



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