Alguns minutos tinham se passado, mas a chuva forte não. Lia tentava distrair Fatinha mas sempre que olhava a amiga estava chorando, mesmo que silenciosamente. Lia lembrou que tinha de avisar Raquel que estava no hostel, mas se ela falasse que havia fugido a mãe ia com certeza telefonar para Lorenzo que estava no hospital.

— O que foi, Lia? - Fatinha perguntou e arrumou o cabelo que estava meio bagunçado, ela estava debruçada no balcão.

— Vou ficar mais uns 30 anos de castigo. - Lia disse, Fatinha riu baixinho.

— Vai pra casa, já tá tudo bem! - Ela mentiu, Lia negou, sabia que no momento Fatinha precisava de alguém e ela iria ficar ali, uma coisa que ninguém podia negar é que a roqueira sabia ser uma boa amiga, desde pequenininha quando Ju sofria com algumas brigas dos pais, ela não desistia tão fácil de arrancar um sorriso do rosto da amiga. Depois de algum tempo Lia resolveu ligar pra casa, quem atendeu foi Paulina.

— Alô?

— Vó... É a Lia... - Lia disse meio sem jeito.

— Onde você tá?!! O que aconteceu?! Porque não tá em casa?! - Paulina perguntou nervosa, Lia ficou meio confusa.

— Olha, eu tô bem... Tô aqui no hostel que é praticamente do outro lado da rua, a Fatinha me ligou... O pai dela tá na UTI, ela precisa de uma amiga agora.. Quebra essa pra mim? - Lia explicou, a avó da garota suspirou.

— Nunca mais faça isso, tem que avisar se for sair e telefonemas de madrugada são assustadores. Você está agindo como uma boa amiga e eu admiro isso, vou falar para seu pai que EU deixei você ir.. Mas nada de faltar a escola, mesmo se estiver com sono.. O que vai ser bem verossímil. - Paulina disse meio sonolenta, Lia comemorou mentalmente.

— Você é a melhor avó do muuuundo! Te amo! Beijos!! - A roqueira disse e desligou. Alguns minutos se passaram e a porta do hostel abriu dando entrada a um homem totalmente molhado.

— Me disseram que no Rio de Janeiro era calor. - Ele resmungou, tirando o excesso de água da roupa, provavelmente ele vinha de uma balada. Lia forçou a vista meio sonolenta e viu que era o mesmo menino que Dinho tinha batido, o tal de Fred. - Uau, você por aqui? 

— Não enche. - Lia resmungou, Fatinha arqueeou a sobrancelha.

— Ô loirinha, cê não tem aula daqui a pouco? - Ele perguntou para Fatinha se debruçando no balcão e ficando cara-a-cara com a mesma.

— Eita, mas você é intrometido mesmo. - Fatinha retrucou, Lia riu.

— Vocês costumam ser grossas com todo mundo? - Ele fez uma carinha manhosa, Fatinha soltou uma risada baixinha.

— Só com quem merece. -Lia respondeu. - Ô garoto, vai tirar essa roupa, vai pegar um resfriado! 

— Quer que eu tire aqui? - Ele provocou, a roqueira revirou os olhos. Os três ficaram conversando e até se distrairam por um tempo, até que o turista resolveu ir dormir. Lia tinha conhecido um pouco mais sobre ele, não era tão metido como ela pensava.

(...)

 Lia já tinha ido em casa e arrumado as coisas pra aula, Lorenzo ainda não havia chegado e Raquel não se importou muito pois Paulina havia deixado a neta sair. A chuva já tinha parado mas o tempo ainda estava meio nublado. A roqueira agora estava chegando no colégio quando esbarrou em Ju que estava no portão esperando alguém.

— Olha por onde anda garota. - Ju falou ríspida.

— Ih, desculpa aí.. - Lia disse e seguiu caminhando, Ju ficou totalmente irritada mas logo os seus amigos chegaram. A primeira aula era robótica, assim que o sinal bateu todos foram para a aula. 

— Bom dia, alunos!! - Leandro saudou, todos responderam sem animação. Dinho levantou e foi falar com o professor, deixando os amigos curiosos, eles ficaram falando por um tempo quando Dinho voltou ao seu lugar.

— O que você tava conversando com o professor esquisito? - Orelha perguntou, curioso.

— Olha quem tá falando de esquisitice, né? - Dinho riu, a aula proseguiu calmamente. Os alunos tinham que criar projetos de robôs para a aula. Assim que passaram algumas aulas e o intervalo Dinho foi falar com Lia que estava sentada perto da lanchonete conversando com Fatinha, as duas estavam quase dormindo.

— Oi senhoritas. - Ele disse e sentou-se ao lado das duas.

— E aí.. - Fatinha disse meio sonolenta, Lia fez o mesmo.

— Mas o que deu em vocês? 

— Sono! - As duas responderam em coro, Dinho riu. Logo chegaram o resto dos amigos para se juntar com eles, Mocotó notou que Fera estava com Lia mas resolveu deixá-los, não queria ser um chato e ele gostava dos alunos.

— E aí Dinho, não vai contar o quê tava falando com o professor hoje não? - Orelha voltou ao assunto, Dinho negou.

— Ué, mas pra quê tanto mistério? - Fatinha indagou, Lia ficou curiosa.

— É, cara, conta pra gente!! - Pilha disse, Dinho riu da curiosidade dos amigos.

— Ô Lia, dá pra você ir na varanda da sua casa hoje às dez da noite?? - Dinho indagou, Lia ficou bem curiosa mas assentiu, os amigos também ficaram curiosos, principalmente Orelha.

(...)

Já era de noite, 09:55. Lia não conseguia conter a ansiedade para ir a varanda, mas tinha que se manter pontual e só chegar no local no horário correto. Dinho já estava esperando do telhado de casa e Orelha e Pilha estavam bancando os curiosos lá de baixo, Fatinha logo se juntou a turma assim que saiu do hostel.

Quando finalmente chegou a hora Lia apareceu na varanda, no mesmo instante que Ju, Bruno e Rita estavam saindo do prédio, Bruno estava tentando andar o máximo perto da irmã para se aproximar da amiga dela. Eles viram a galera toda olhando a cena e ficaram curiosos, Ju ficou mais irritada quando viu que era Lia e Dinho.

Dinho pegou uma caixinha do chão enquanto Lia observava tudo, o garoto deu uma olhada pra menina que fitava tudo muito curiosa e sorriu. Ele pegou um objeto da caixa que no começo não podia ser identificado e logo depois apanhou um pequeno controle.

— Espero que não me decepcione. - Ele murmurou ao robôzinho e logo apoiou-o na grade, o menino apertou os botões do controle e o objeto voou perfeitamente, de uma maneira incrível, Lia ficou surpresa quando o bonequinho caiu no chão da varanda dela. A roqueira se abaixou para pegar o brinquedo e sorriu, nele tinha uma fitinha amarrada, quando Lia desamarrou leu o que tinha escrito.

"Marrentinha, eu te amo",

e assim terminou de desenrolar caiu um pequeno bilhete. 

"Me perdoa por tudo, eu te amo. Aceita namorar comigo.. de novo?"

Ela leu em voz baixa, ela não podia acreditar no que Dinho tinha feito, era incrível. Ju lá de baixo olhava tudo inconformada e Orelha filmou exatamente tudo.

— Uau, que fofo! Mas o que será que tinha no papel, hein? - Fatinha perguntou, Orelha deu ombros e continuou filmando. Dinho fitava Lia esperançoso quando a roqueira entrou correndo pra casa, ele ficou triste. Lia foi direto ao seu celular, sem hesitar ela discou o número do menino e ele atendeu na primeira chamada.

— Desce ali embaixo, eu também vou. Tá? - Disse numa voz sexy, Dinho desligou na mesma hora e desceu, Lia fez o mesmo deixando todos da família meio confusos com a correria. Em poucos minutos os dois estavam na calçada perto dos amigos do Quadrante, Ju ainda assistia tudo, Bruno e Rita já haviam tentado tirá-la dali, mas ela insistia em se torturar. Assim que Lia e Dinho se olharam correram um ao encontro do outro, Lia puxou Dinho para mais perto de si.

— Eu te amo. - Ela sussurou ao pé do ouvido do garoto, fazendo-o se arrepiar. - Mais que qualquer coisa. - Completou, Dinho sentiu-se a pessoa mais feliz do mundo.

— Isso significa?...

— É óbvio que eu aceito, seu bobo. - Afirmou a loira, os dois se entregaram a um beijo apaixonado e cheio de desejo, Orelha e Pilha começaram a assoviar, provocando, mas o casal ao menos se importou, continuaram se beijando apaixonadamente.

— Eu quero sair daqui. - Ju disse entre lágrimas, Bruno tratou de levar a irmã pro apartamento o quanto antes, Rita foi junto. Assim que Ju chegou lá em cima se encerrou no quarto, não tinha jeito dela abrir a porta.

— Juliana, abre essa porta! - Bruno gritou, a irmã não queria abrir de maneira alguma.

— Deixa ela, ela tá magoada... É normal querer se fechar pro mundo... ou fechar a porta pra ele. - Rita disse, sorrindo. Bruno suspirou.

— Aquele idiota tinha que fazer aquilo na frente da minha irmã? - Bruno indagou, meio chateado. Rita e ele sentaram no sofá.

— É... eles erraram mesmo, mas eles se amam.. A Ju tem que partir pra outra, ela tá mal, mas assim só tá se torturando mais. - Rita falou convicta, o garoto sorriu e se aproximou dela, a menina ficou confusa mas logo percebeu o ato futuro do universitário, sem dar tempo para pensamentos eles se beijaram, parecia ser um beijo ensaiado de tão perfeito, eles aprofundaram um pouco quando Rita se afastou.

— O que foi? - Perguntou ele, sorrindo. Ela ficou um pouco envergonhada.

— Eu vou ir embora.. Se a Juliana precisar de mim pode me ligar... Ehhhh... Tchau. - Disse e saiu meio afobada, deixando um Bruno totalmente encantado e feliz pra trás, podiam estar acontecendo mil coisas ruins, mas aquele beijo tinha sido um dos melhores. Enquanto isso Fatinha observava a porta do prédio,até que viu Rita sair de lá, toda feliz.

— Hum.. - Murmurou para si mesma, meio desconfiada. Lia e Dinho caminharam até os amigos, meio sem jeito.

— Uaaaaaaaau, o casal mais "fofo" do momento!! - Orelha provocou e fez uma carinha engraçada quando pronunciou a palavra "fofo". Os dois riram, mas Fatinha continuava observando o outro lado da rua, meio pensativa.

— Heyyyyyyyyyy! - Lia chamou atenção da loira, dando um tapinha na cabeça da mesma, que reclamou de dor.

— Como você é grossa. - Fatinha resmungou passando a mão pela cabeça, onde Lia havia acertado o tapa nem tão forte. A roqueira revirou os olhos.

— Então os curiosos fizeram reunião aqui? - Dinho perguntou e puxou a namorada por trás, abraçando-a.

— Qual é, todo aquele segredinho e os dias em casa pra criar um robô!? - Pilha zombou, Dinho sorriu de lado, meio envergonhado.

— Foi a coisa mais linda que eu já vi!! - Lia disse toda apaixonada, Dinho sorriu e beijou a bochecha da namorada.

— Ah, você diz que é a mais linda porque você nunca se olhou no espelho quando tava de bíquini né? - Orelha provocou e foi fuzilado por Dinho com um olhar reprovador, o garoto notou a irritação do amigo e parou com as brincadeiras.

— É, gente eu vou ir pro hostel... - Fatinha disse meio sem jeito, Lia lembrou do que tinha acontecido com a amiga. 

— Fatinha, tá tudo bem? - Lia perguntou, curiosa.

— Ahn, sim.. - Disse a menina, meio indecisa.