O Caminho para a Terra do Nunca escrita por tenten_kino


Capítulo 2
1 – A inesperada visita


Notas iniciais do capítulo

Tentei fazer essa histórias nos moldes modernos, de acordo com o que vivemos atualmente. A personagem Camila Wendy foi inspirada na minha própria pessoa. Desejo agradá-los e uma boa leitura!



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1 – A inesperada visita

 

 

            - Wendy!

            Parei de escrever no meu diário assim que minha mãe me chamou. Se havia coisa que eu mais odiava além do meu aniversário, era o meu nome. Para meu pai, eu era Camila. Para minha mãe, Wendy. Para minha certidão de nascimento, Camila Wendy.

            E para mim, apenas Mila.

            - O que é, mãe? – perguntei sem ânimo.

            - Venha até aqui.

            Saí do meu quarto e dirigi-me para a sala através do pequeno corredor. Lá, estava minha mãe, terminando de se arrumar. Iria a uma festa com os amigos do trabalho e não sabia a que horas voltaria. Despedida das férias, segundo ela.

            - Não sei que horas volto. - repetiu

            - Eu já sei dessa. – falei.

            - Tranque tudo, entendido?

            - Sim senhora.

            - Não ligue aparelhos eletrodomésticos.

            - Não posso prometer.

            - E fique atenta. Vou levar a minha chave. Caso você durma, eu abro a porta por fora.

            - Ok, pode deixar. Vai me encontrar viva quando chegar em casa.

            E ela depositou-me um beijo na fronte.

            - Amo você. – disse, saindo.

            Olhei ao meu redor e nem consegui acreditar que estava sozinha em casa. Dei um pequeno sorriso maroto e fui em direção à cozinha, procurando o achocolatado e o leite condensado. Em pouco tempo, havia preparado uma imensa panela de brigadeiro somente para satisfazer minha gula. O relógio marcava oito e meia e eu tinha o resto da noite inteira para aproveitar. A liberdade era curta e deveria ser intensamente explorada.

            Até as nove horas, permaneci conectada à internet. Conversei com alguns amigos via MSN, vasculhei alguns blogs que possuíam conteúdo interessante e joguei um pouco no meu amado jogo – vício – Ragnarok. Enjoada, resolvi assistir o DVD de xXxHolic que um amigo havia me emprestado e que nunca saíra da caixa. Desliguei o computador, fui para a sala, deitei-me no sofá e coloquei o DVD.

            Não sei a que horas eu adormeci, não percebi a roupa desconfortável com a qual dormi – um short jeans e uma blusa preta de banda – e nem o episódio em que parei e, muito menos, não lembrava de ter fechado as janelas ou de ter colocado água na panela, agora vazia, do brigadeiro. Não percebi, principalmente, o alvoroço que se iniciava na minha casa.

 

            Acordei assustada pelo imenso barulho de queda. Não sabia exatamente o que havia caído, mas sabia que alguma coisa estava acontecendo. Olhei desconcertada para o relógio que agora marcava dez e meia da noite. Dormi por pouco tempo, pensei. No entanto, aquele não era o momento para pensar da duração do meu cochilo. Respirei fundo, liguei as luzes da sala e fui até o corredor, a fim de olhar o que estava ocorrendo. Silêncio. Senti medo de me aproximar, embora soubesse que era preciso. Caminhei até a dispensa e armei-me com uma vassoura – uma péssima arma, mas fora minha única idéia. Iria enfrentar meu medo e o que quer que estivesse ali.

            E se alguém tivesse entrado na minha casa? Gelei ao pensar nessa hipótese. Mesmo que eu morasse no sexto andar de um prédio que possuía vigias e cerca elétrica, não era impossível ter uma casa invadida por uma pessoa. Havia muitos meios, era só estudá-los. Rezei silenciosamente para que tivesse sido apenas o vento o causador do barulho. Caso contrário, eu estaria completamente ferrada.

            Olhei os dois quartos e nada vi. Senti minha respiração sair aliviada. Nem mesmo bagunça existia. Fechei as janelas de ambos aposentos, voltei para a sala e desliguei o aparelho de DVD e a TV. O anime ainda rolava e eu já não sabia mais qual era episódio apresentado. Estava com sono e cansada, não iria mais aproveitar a noite como planejara. Ajeitei uma almofada do sofá, recostei minha cabeça e fechei os olhos.

            Não demorou muito para eu escutar novamente o barulho. Então realmente ainda havia algo ali! Só poderia ser uma pessoa. Tremi. Peguei a vassoura mais uma vez e caminhei em direção aos quartos. Sem saber exatamente a ameaça que fazer, gritei:

            - Acho bom aparecer! Eu tenho uma vassoura e não tenho medo de usá-la!

            A ameaça não surtiu efeito, como imaginei. Liguei as luzes dos dois quartos, mas permaneci sem ver nada. Primeiro o da minha mãe, depois o meu. Resolvi desligar novamente e percebi um pequeno ponto brilhante por detrás da minha cortina. Liguei as luzes do meu quarto mais uma vez, demorei um pouco e desliguei. A minúscula luz brilhante e dourada ainda estava lá. Esfreguei os olhos, só poderia estar sonhando. Munida por uma estranha coragem, caminhei vagarosamente até lá. O ponto não se mexia, mas, a medida em que me aproximava, percebi que sua luz tremia. Sem pensar muito, puxei rapidamente a cortina e o ponto saiu voando pelo meu quarto, indo em direção a todos os outros aposentos da casa.

            - Espere! – gritei. Já não sabia mais o que estava fazendo – Eu não quero lhe fazer mal!

            Desconsiderei a idéia de que aquela luz poderia ser apenas um simples vaga-lume – ou melhor, um anormal vaga-lume, pois nenhum emitiria um brilho igual àquele. Continuei correndo atrás do pontinho brilhante, até esse escapar pela varanda. Entristeci. Era a primeira vez que via algo daquela maneira e era uma novidade. Estava para voltar ao meu sofá e dormir, quando, para meu imenso espanto, vi um menino correr em direção à minha varanda e dela pular, gritando:

            - Sininho!

            Caí dura no chão. Pensei por alguns minutos que iria morrer por parada cardiovascular, tamanho fora aquele susto. O que estava realmente acontecendo ali? E, para completar meu espanto, o menino não caiu, ele voou! Esfreguei os olhos mais uma vez e com bastante força, a ponto de lacrimejar. Eu deveria ainda estar dormindo, mas não. O menino ainda estava ali, voando atrás do ponto brilhante, numa corrida de vai e volta em frente a minha varanda. Eu já não sabia o que fazer. Correr, gritar, ligar para minha mãe ou continuar parada? Talvez a última opção, deveria ser um sonho. Aquilo não era real, não poderia ser real!

            Pelo menos assim pensei até o menino voltar a minha varanda com o ponto brilhante preso em sua mão.

            - Sua fada ingrata! – ele falou, em tom raivoso – É assim que faz com os amigos? Me deixou sozinho! Que coisa mais feia!

            Eu estava tão paralisada que nem conseguia falar. Não me movia, não tinha voz, não tinha a menor reação.

            - E nunca mais faça isso! – terminou o menino, soltando o ponto brilhante – Se fizer novamente, eu vou ficar muito chateado! A chamo para uma missão e você me trata assim. Feio, muito feio!

            Missão? Agora sim era demais!

            - Espera aí! – gritei, saindo da minha paralisação – Eu posso saber que baderna é essa na minha casa?

            Ambos olharam para mim – senti que o ponto também me olhava. Levantei-me em um impulso e coloquei o dedo no peito do menino, disparando tudo que deveria falar:

            - Você invade a minha casa, acaba com o meu sono, faz baderna e ainda sai voando por aí! Posso saber o que diabos é você e o que está querendo?

            Ele olhou espantado para mim, como se eu houvesse dito algo fora do comum.

            - Mas você me chamou. – disse.

            - Ah não, querido, não te chamei mesmo! Não posso chamar alguém que eu não conheço. E a propósito – enfiei novamente o dedo no peito do menino – mesmo que eu houvesse lhe chamado, isso é invasão de propriedade privada! Dá cadeia, sabia?

            - Não estou mentindo! – ele retrucou, jogando minha mão para longe – E não tenho culpa se você deixa as suas janelas abertas.  Eu apenas cumpri o seu pedido.

            - E quem é você, afinal? – perguntei. Aquele menino já estava me dando nos nervos – Não lembro de você para poder te chamar.

            O menino encheu o peito e, com um olhar desafiador, falou:

            - Sou Peter Pan.

            Silêncio. O que falar em uma hora como essas? Das duas uma: ou minha casa havia sido invadida por um garoto lunático ou havia alguma droga no chocolate que eu comi.

            - Não pode ser. – falei, inerte.

            - Claro que pode! – ele disse, sorrindo – Posso voar, vê? – e, como num passe de mágica, o menino saiu do chão e passou a flutuar no espaço entre o chão e o teto do meu apartamento, aproximando-se mais do teto.

            É, havia algum tipo de droga no meu chocolate.

            - Só posso estar sonhando. – disse, jogando-me, estupefata, no sofá.

            - E essa é Sininho, minha fada. – continuou Peter Pan, referindo-se ao brilho dourado que, agora, estava ao seu lado.

            Levantei-me do sofá e dirigi-me à cozinha, em silêncio. Peter e Sininho me acompanharam, mesmo sem entenderem muito bem qual era a minha intenção. Parei defronte à geladeira, abri-a e procurei o leite-condensado. Assim que peguei a latinha, comecei a ler seus ingredientes.

            - O que está fazendo? – perguntou Peter, sentado de pernas cruzadas no ar.

            - Acho que tem droga nesse troço. – falei – Só posso estar tendo uma alucinação muito doida.

            - Ei! Eu sou bem real, sabia? – ele reclamou.

            - Não é não! – eu falei – Eu estou sonhando e você faz parte do meu sonho. Eu preciso acordar antes que fique louca.

            - Quer ver como eu sou real?

            - Hãã... – eu já não lhe dava mais atenção.

            Enfurecido, Peter aproximou-se de mim e deu-me um enorme beslicão no braço. A dor fora tão forte que deixei a lata de leite condensado cair no chão.

            - Ai! – gritei – Isso foi golpe baixo!

            - Viu como eu sou real? – ele perguntou com um sorriso de satisfação.

            - Tá, tá, você venceu. – falei, desanimada – Você é real e eu não estou nem sonhando e nem drogada. Agora o que veio fazer aqui, Sr. Peter?

             - Atender ao seu pedido.

            - Eu não lhe pedi nada.

            - Tem certeza?

            Então, lembrei-me do meu diário. Sim, eu havia pedido algo de aniversário. Queria que Peter Pan me fizesse uma visita e levasse-me até a sua Terra do Nunca. Mas eu nunca imaginei que aquele desejo, tão sem lógica e tão infantil, fosse trazer o próprio Peter até mim. Afinal, quantas crianças já não desejaram que ele as visitasse e levasse-as para seu mundo mágico? Por que justamente eu teria de ter esse privilégio?

            E ainda não conseguia acreditar que Peter Pan realmente existia.

            - Escuta... – iniciei – Você é conhecido mundialmente, tem várias crianças que são fãs suas e que desejam veemente que você as veja. Mas... por que você veio me ver ao invés de toda essa gente que te admira? O que eu fiz para merecer isso?

            - Não está claro? – ele perguntou. Agora segurava uma pequena flauta, iria tocá-la a qualquer instante – Por que você é a Wendy, Wendy.

            Até meu nome aquela criatura sabia.

            - Como você sabe meu nome? – perguntei, espantada.

            - S-e-g-r-e-d-o! – ele riu.

            - De qualquer forma, isso não faz sentido! Tem várias Wendys espalhadas pelo mundo e acredito que, pelo menos uma, já tenha desejado ter lhe conhecido. Por que eu?

            - Por que nenhuma delas ainda acredita em mim aos treze anos de idade. – ele respondeu, despreocupado e já tocando sua flauta. – Você não compreende? Está no final da sua infância, deseja continuar criança, quer conhecer a Terra do Nunca e, ainda por cima, se chama Wendy! Há muito tempo isso não acontece, desde a última vez em que vi Wendy.

            - E seu eu não me chamasse Wendy? Se fosse só Camila? Ainda assim, veria me ver?

            Ele sorriu e, novamente, tocou os pés no chão. Agora estávamos frente a frente.

            - Eu venho ver aqueles que ainda sonham comigo e que desejam ir à Terra do Nunca. E não me refiro aos que ainda são crianças, mas aos que já estão para crescer. Você entende, Wendy?

            Calei-me. Se aquilo não era um sonho, também não era realidade.

            - E o que veio fazer aqui, além de me ver?-  perguntei, ainda incrédula.

            Ele esboçou outro sorriso.

            - Vim te levar à Terra do Nunca.


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Notas finais do capítulo

Gente, que complicado é escrever algo com Peter Pan! Meti-me numa fria, rsrsrs. Espero agradar com essa singela história e creio qeu demorarei a voltar por aqui ( colégio me chama ). Aproveito o tempo para relembrar um pouco da história desse personagem tão marcante e inspirar-me para continuar a fic.
Grandes beijos!



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