O Caminho para a Terra do Nunca escrita por tenten_kino
Notas iniciais do capítulo
Tentei fazer essa histórias nos moldes modernos, de acordo com o que vivemos atualmente. A personagem Camila Wendy foi inspirada na minha própria pessoa. Desejo agradá-los e uma boa leitura!
1 – A inesperada visita
- Wendy!
Parei de escrever no meu diário assim que minha mãe me chamou. Se havia coisa que eu mais odiava além do meu aniversário, era o meu nome. Para meu pai, eu era Camila. Para minha mãe, Wendy. Para minha certidão de nascimento, Camila Wendy.
E para mim, apenas Mila.
- O que é, mãe? – perguntei sem ânimo.
- Venha até aqui.
Saí do meu quarto e dirigi-me para a sala através do pequeno corredor. Lá, estava minha mãe, terminando de se arrumar. Iria a uma festa com os amigos do trabalho e não sabia a que horas voltaria. Despedida das férias, segundo ela.
- Não sei que horas volto. - repetiu
- Eu já sei dessa. – falei.
- Tranque tudo, entendido?
- Sim senhora.
- Não ligue aparelhos eletrodomésticos.
- Não posso prometer.
- E fique atenta. Vou levar a minha chave. Caso você durma, eu abro a porta por fora.
- Ok, pode deixar. Vai me encontrar viva quando chegar em casa.
E ela depositou-me um beijo na fronte.
- Amo você. – disse, saindo.
Olhei ao meu redor e nem consegui acreditar que estava sozinha em casa. Dei um pequeno sorriso maroto e fui em direção à cozinha, procurando o achocolatado e o leite condensado. Em pouco tempo, havia preparado uma imensa panela de brigadeiro somente para satisfazer minha gula. O relógio marcava oito e meia e eu tinha o resto da noite inteira para aproveitar. A liberdade era curta e deveria ser intensamente explorada.
Até as nove horas, permaneci conectada à internet. Conversei com alguns amigos via MSN, vasculhei alguns blogs que possuíam conteúdo interessante e joguei um pouco no meu amado jogo – vício – Ragnarok. Enjoada, resolvi assistir o DVD de xXxHolic que um amigo havia me emprestado e que nunca saíra da caixa. Desliguei o computador, fui para a sala, deitei-me no sofá e coloquei o DVD.
Não sei a que horas eu adormeci, não percebi a roupa desconfortável com a qual dormi – um short jeans e uma blusa preta de banda – e nem o episódio em que parei e, muito menos, não lembrava de ter fechado as janelas ou de ter colocado água na panela, agora vazia, do brigadeiro. Não percebi, principalmente, o alvoroço que se iniciava na minha casa.
Acordei assustada pelo imenso barulho de queda. Não sabia exatamente o que havia caído, mas sabia que alguma coisa estava acontecendo. Olhei desconcertada para o relógio que agora marcava dez e meia da noite. Dormi por pouco tempo, pensei. No entanto, aquele não era o momento para pensar da duração do meu cochilo. Respirei fundo, liguei as luzes da sala e fui até o corredor, a fim de olhar o que estava ocorrendo. Silêncio. Senti medo de me aproximar, embora soubesse que era preciso. Caminhei até a dispensa e armei-me com uma vassoura – uma péssima arma, mas fora minha única idéia. Iria enfrentar meu medo e o que quer que estivesse ali.
E se alguém tivesse entrado na minha casa? Gelei ao pensar nessa hipótese. Mesmo que eu morasse no sexto andar de um prédio que possuía vigias e cerca elétrica, não era impossível ter uma casa invadida por uma pessoa. Havia muitos meios, era só estudá-los. Rezei silenciosamente para que tivesse sido apenas o vento o causador do barulho. Caso contrário, eu estaria completamente ferrada.
Olhei os dois quartos e nada vi. Senti minha respiração sair aliviada. Nem mesmo bagunça existia. Fechei as janelas de ambos aposentos, voltei para a sala e desliguei o aparelho de DVD e a TV. O anime ainda rolava e eu já não sabia mais qual era episódio apresentado. Estava com sono e cansada, não iria mais aproveitar a noite como planejara. Ajeitei uma almofada do sofá, recostei minha cabeça e fechei os olhos.
Não demorou muito para eu escutar novamente o barulho. Então realmente ainda havia algo ali! Só poderia ser uma pessoa. Tremi. Peguei a vassoura mais uma vez e caminhei em direção aos quartos. Sem saber exatamente a ameaça que fazer, gritei:
- Acho bom aparecer! Eu tenho uma vassoura e não tenho medo de usá-la!
A ameaça não surtiu efeito, como imaginei. Liguei as luzes dos dois quartos, mas permaneci sem ver nada. Primeiro o da minha mãe, depois o meu. Resolvi desligar novamente e percebi um pequeno ponto brilhante por detrás da minha cortina. Liguei as luzes do meu quarto mais uma vez, demorei um pouco e desliguei. A minúscula luz brilhante e dourada ainda estava lá. Esfreguei os olhos, só poderia estar sonhando. Munida por uma estranha coragem, caminhei vagarosamente até lá. O ponto não se mexia, mas, a medida em que me aproximava, percebi que sua luz tremia. Sem pensar muito, puxei rapidamente a cortina e o ponto saiu voando pelo meu quarto, indo em direção a todos os outros aposentos da casa.
- Espere! – gritei. Já não sabia mais o que estava fazendo – Eu não quero lhe fazer mal!
Desconsiderei a idéia de que aquela luz poderia ser apenas um simples vaga-lume – ou melhor, um anormal vaga-lume, pois nenhum emitiria um brilho igual àquele. Continuei correndo atrás do pontinho brilhante, até esse escapar pela varanda. Entristeci. Era a primeira vez que via algo daquela maneira e era uma novidade. Estava para voltar ao meu sofá e dormir, quando, para meu imenso espanto, vi um menino correr em direção à minha varanda e dela pular, gritando:
- Sininho!
Caí dura no chão. Pensei por alguns minutos que iria morrer por parada cardiovascular, tamanho fora aquele susto. O que estava realmente acontecendo ali? E, para completar meu espanto, o menino não caiu, ele voou! Esfreguei os olhos mais uma vez e com bastante força, a ponto de lacrimejar. Eu deveria ainda estar dormindo, mas não. O menino ainda estava ali, voando atrás do ponto brilhante, numa corrida de vai e volta em frente a minha varanda. Eu já não sabia o que fazer. Correr, gritar, ligar para minha mãe ou continuar parada? Talvez a última opção, deveria ser um sonho. Aquilo não era real, não poderia ser real!
Pelo menos assim pensei até o menino voltar a minha varanda com o ponto brilhante preso em sua mão.
- Sua fada ingrata! – ele falou, em tom raivoso – É assim que faz com os amigos? Me deixou sozinho! Que coisa mais feia!
Eu estava tão paralisada que nem conseguia falar. Não me movia, não tinha voz, não tinha a menor reação.
- E nunca mais faça isso! – terminou o menino, soltando o ponto brilhante – Se fizer novamente, eu vou ficar muito chateado! A chamo para uma missão e você me trata assim. Feio, muito feio!
Missão? Agora sim era demais!
- Espera aí! – gritei, saindo da minha paralisação – Eu posso saber que baderna é essa na minha casa?
Ambos olharam para mim – senti que o ponto também me olhava. Levantei-me em um impulso e coloquei o dedo no peito do menino, disparando tudo que deveria falar:
- Você invade a minha casa, acaba com o meu sono, faz baderna e ainda sai voando por aí! Posso saber o que diabos é você e o que está querendo?
Ele olhou espantado para mim, como se eu houvesse dito algo fora do comum.
- Mas você me chamou. – disse.
- Ah não, querido, não te chamei mesmo! Não posso chamar alguém que eu não conheço. E a propósito – enfiei novamente o dedo no peito do menino – mesmo que eu houvesse lhe chamado, isso é invasão de propriedade privada! Dá cadeia, sabia?
- Não estou mentindo! – ele retrucou, jogando minha mão para longe – E não tenho culpa se você deixa as suas janelas abertas. Eu apenas cumpri o seu pedido.
- E quem é você, afinal? – perguntei. Aquele menino já estava me dando nos nervos – Não lembro de você para poder te chamar.
O menino encheu o peito e, com um olhar desafiador, falou:
- Sou Peter Pan.
Silêncio. O que falar em uma hora como essas? Das duas uma: ou minha casa havia sido invadida por um garoto lunático ou havia alguma droga no chocolate que eu comi.
- Não pode ser. – falei, inerte.
- Claro que pode! – ele disse, sorrindo – Posso voar, vê? – e, como num passe de mágica, o menino saiu do chão e passou a flutuar no espaço entre o chão e o teto do meu apartamento, aproximando-se mais do teto.
É, havia algum tipo de droga no meu chocolate.
- Só posso estar sonhando. – disse, jogando-me, estupefata, no sofá.
- E essa é Sininho, minha fada. – continuou Peter Pan, referindo-se ao brilho dourado que, agora, estava ao seu lado.
Levantei-me do sofá e dirigi-me à cozinha, em silêncio. Peter e Sininho me acompanharam, mesmo sem entenderem muito bem qual era a minha intenção. Parei defronte à geladeira, abri-a e procurei o leite-condensado. Assim que peguei a latinha, comecei a ler seus ingredientes.
- O que está fazendo? – perguntou Peter, sentado de pernas cruzadas no ar.
- Acho que tem droga nesse troço. – falei – Só posso estar tendo uma alucinação muito doida.
- Ei! Eu sou bem real, sabia? – ele reclamou.
- Não é não! – eu falei – Eu estou sonhando e você faz parte do meu sonho. Eu preciso acordar antes que fique louca.
- Quer ver como eu sou real?
- Hãã... – eu já não lhe dava mais atenção.
Enfurecido, Peter aproximou-se de mim e deu-me um enorme beslicão no braço. A dor fora tão forte que deixei a lata de leite condensado cair no chão.
- Ai! – gritei – Isso foi golpe baixo!
- Viu como eu sou real? – ele perguntou com um sorriso de satisfação.
- Tá, tá, você venceu. – falei, desanimada – Você é real e eu não estou nem sonhando e nem drogada. Agora o que veio fazer aqui, Sr. Peter?
- Atender ao seu pedido.
- Eu não lhe pedi nada.
- Tem certeza?
Então, lembrei-me do meu diário. Sim, eu havia pedido algo de aniversário. Queria que Peter Pan me fizesse uma visita e levasse-me até a sua Terra do Nunca. Mas eu nunca imaginei que aquele desejo, tão sem lógica e tão infantil, fosse trazer o próprio Peter até mim. Afinal, quantas crianças já não desejaram que ele as visitasse e levasse-as para seu mundo mágico? Por que justamente eu teria de ter esse privilégio?
E ainda não conseguia acreditar que Peter Pan realmente existia.
- Escuta... – iniciei – Você é conhecido mundialmente, tem várias crianças que são fãs suas e que desejam veemente que você as veja. Mas... por que você veio me ver ao invés de toda essa gente que te admira? O que eu fiz para merecer isso?
- Não está claro? – ele perguntou. Agora segurava uma pequena flauta, iria tocá-la a qualquer instante – Por que você é a Wendy, Wendy.
Até meu nome aquela criatura sabia.
- Como você sabe meu nome? – perguntei, espantada.
- S-e-g-r-e-d-o! – ele riu.
- De qualquer forma, isso não faz sentido! Tem várias Wendys espalhadas pelo mundo e acredito que, pelo menos uma, já tenha desejado ter lhe conhecido. Por que eu?
- Por que nenhuma delas ainda acredita em mim aos treze anos de idade. – ele respondeu, despreocupado e já tocando sua flauta. – Você não compreende? Está no final da sua infância, deseja continuar criança, quer conhecer a Terra do Nunca e, ainda por cima, se chama Wendy! Há muito tempo isso não acontece, desde a última vez em que vi Wendy.
- E seu eu não me chamasse Wendy? Se fosse só Camila? Ainda assim, veria me ver?
Ele sorriu e, novamente, tocou os pés no chão. Agora estávamos frente a frente.
- Eu venho ver aqueles que ainda sonham comigo e que desejam ir à Terra do Nunca. E não me refiro aos que ainda são crianças, mas aos que já estão para crescer. Você entende, Wendy?
Calei-me. Se aquilo não era um sonho, também não era realidade.
- E o que veio fazer aqui, além de me ver?- perguntei, ainda incrédula.
Ele esboçou outro sorriso.
- Vim te levar à Terra do Nunca.
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Gente, que complicado é escrever algo com Peter Pan! Meti-me numa fria, rsrsrs. Espero agradar com essa singela história e creio qeu demorarei a voltar por aqui ( colégio me chama ). Aproveito o tempo para relembrar um pouco da história desse personagem tão marcante e inspirar-me para continuar a fic.
Grandes beijos!