Finalmente um dia de calor. Algo um pouco difícil em Aichi-Ken.

Eu e Mello tiramos alguns dias de férias no lugar aconchegante e calmo. Estávamos sentados debaixo de uma árvore qualquer. Aproveitávamos o silêncio e o vento calmo que tocava nossa pele. Apesar disso eu estava apenas vidrado em meu PSP, sem aparentar interesse algum pelo momento, até que as palavras de Mello me despertaram do vício.:

– Você realmente é um grande idiota. - Mello sussurrou.

Por que ele estaria me insultando? Eu apenas estava quieto aproveitando o momento para usar meu PSP.

– Por que eu sou idiota? - Perguntei sem expressar reação alguma.

– Ah, eu estou falando sozinho. Não se preocupe, é normal isso.

– Você falar sozinho? Eu sei, você sempre faz isso. Sempre.

Mello bufou, exasperado.

– Poderia apenas ter ficado em silêncio! Não tem graça zombar de alguém que fala sozinho! - Fez bico. As vezes o menino parecia uma criança pelos seus atos infantis e... Fofos.

– Mas você acabou de comentar que faz isso, por que eu não poderia falar tamb...

– Cala a boca! Eu sei que eu falo sozinho, mas não precisa jogar na cara!! Seu ruivinho idiota mesquinho! - O garoto se virou para o outro lado, cruzando os braços.

Uma veia saltou em minha testa. Por que Mello estaria tão nervoso? Foi apenas um comentário, algo banal que ele nunca se importaria caso estivesse reagindo normalmente. Durante os cinco dias passados em Aichi-Ken, Mello havia mudado bastante seu jeito de me tratar, não parecia mais ser aquele rapaz estressado e agressivo de semp... Não, pera. Ele estava mais estressado e agressivo que o normal. Será que Mello poderia estar com algum problema?

Sem pensar duas vezes, apenas perguntei:

– Mello, você está com algum problema?

– Por que você quer sab... NÃO! Eu não tenho nada de errado! Sou perfeito e não ligo para nada, só para o meu chocolate!

Pausei meu jogo, praticamente jogando meu PSP no gramado.

– Sério, tem algo de errado com você. Muito errado.

– NÃO TEM NADA DE ERRADO COMIGO!– Falou rosnando, se deitando no gramado com raiva.

– Tem sim... Você parece até que está...

– Eu não estou apaixonado por nada nem ninguém! Pare de me pressionar!!!– Mello parecia ter ficado um pouco aliviado por ter gritado tudo aquilo.

– Ah, que interessante. Embora eu nem tenha dito nada sobre você estar apaixonado... - Superficialmente me deitei ao lado do loiro, apoiando meu corpo em meus cotovelos, direcionando meu olhar para o mesmo. - Agora entendo porque você fugiu tanto de todos os meus assuntos.

O rosto de Mello enrubesceu.

– E-Eu já disse que não estou apaixonado!

– ... E quem seria a pessoa que você quer... Namorar?– Virei o corpo totalmente para o garoto, fitando com um sorriso bastardo no rosto. Eu adorava provocar o Mello... A loirinha irritadiça.

O rapaz corou ainda mais devido à proximidade de nossos rostos.

– D-Deixe de ser idiota! Eu já falei que não quero namorar e que eu não estou apaixonado!

Expirei o ar lentamente, insatisfeito com o ato do rapaz.

– Você não cansa de esconder as coisas? - Murmurei, um pouco irritado.

Mesmo que ele não me dissesse nada sobre o que sente, eu já tinha uma noção de que ele sentia algo... Diferente por mim. Seus gestos denunciavam isso. Os olhares desviados, o jeito que o rapaz me tratava as vezes... Eu sabia. Mas as vezes irritava esse seu jeito tão "conservador"... E apesar de criticá-lo assim, sei que não sou nada aceitável também. Seu medo de ser rejeitado superava o meu, mas mesmo assim se um dia você me perguntasse eu responderia, hesitante, o que sintiria por você. Esse seu jeito estressado, bagunceiro, irritante e arrogante faz com que eu me sinta diferente, por alguma razão, feliz até demais. Feliz por saber que não sou tão diferente assim. Quando estou ao seu lado, não consigo me afastar... Apenas quero mais e mais ficar com você.
De todas as pessoas que eu conheci, você foi o único que me fez sentir esse friozinho na barriga. Só por saber que você estava sempre junto comigo, não consiguia me sentir triste. Embora eu me cale nos momentos mais felizes. Não pense que estava triste ou magoado, eu estava apenas relembrando nossos momentos de felicidade. Desculpa se eu te magoei por ser tão silencioso, é que eu apenas não tinha coragem alguma de te contar sobre meus sentimentos.

– ... E-Ei, Matt? Maaatt? Maaaaaaaaaatt? - Mello estava me cutucando, curioso. - Por que você não me responde? Eu estou falando!

– Hã? Responder o quê? Você nem me perguntou nada...

– Como não?! Eu estou perguntando a quase meio século sobre o "Você não cansa de esconder as coisas?", e você não me responde!

– D-Desculpa. Eu não tinha ouvido... Acabei me perdendo em meus pensamentos. - Pude sentir meu rosto aquecendo por ter comentado.

– Que pensamentos? E me responda logo, por que você tinha dito aquilo?!

O rapaz estava tão inquieto que dava até nervoso. Não esperava nem um segundo sequer para que eu formulasse alguma frase.

– Em, em, em, em? Vai me responder...? Eeeei, eu existo! Responde?

Veias saltavam em minha testa. Ele não me deixava responder, e muito menos calava a boca!

– Aaah, você vai me ignorar? Faaala! Ei, fal...

Aproximei meu rosto do seu, fazendo Mello se calar. Fechei meus olhos lentamente e então rocei minha boca em seu lábio inferior.

– Daisuki, Mello. - E então, selei nossos lábios.

O loiro não parecia muito bem como lidar com isso. Foi uma situação completamente imprevisível da minha parte. Calmamente Mello se acostumou com o beijo roubado, assim então correspondendo. De forma devagar e compassada abriu sua boca permitindo a entrada de minha língua. Com minha mão livre, entrelacei nossos dedos, deixando sua mão deitada no chão, assim como o próprio.

E lá estáva eu, de quatro sobre Mello, num parque onde pessoas caminhavam, e provavelmente nos olhavam... Mas eu nem ao menos me importei, tudo o que eu queria no momento era aproveitar ao máximo o prazer e a felicidade que eu estava sentindo.

– Nhhhhnnnn... - Mello estava tentando falar algo.

Interrompi o beijo, olhando para o rosto do mesmo, corado.

– O... O que foi...? - Falei arfando um pouco. Naqueles segundos demorados, acabei-me esquecendo que o ar era necessário, e então presumi que fosse isso que o loiro queria dizer.

– A-Ar... C-Como você é bem-vindo! - O rapaz também estava ofegante.

Ri um pouco, concordando.

O outro olhou para os lados, percebendo que havia um pequeno povoamento em nossa volta, em torno de 10 crianças, e algumas meninas nos olhando.

– Matt-Kun!

– O que foi, Mel?

Ele apontou para trás.

Me virei um pouco, percebendo então que tinhamos "Espectadores". Três meninas que estavam coradas, talvez se sentindo envergonhadas (?) e um grupo de crianças que estavam gritando feito loucos para nós. Corei instantâneamente, assim como Mello, e então nos levantamos e saímos correndo.

Nós corriamos rindo, corados e de mãos dadas, olhando um para o outro com felicidade. E então, pude ouvir as palavras que em tanto tempo eu sempre esperei do rapaz:

– E-Eu também amo você.