- Ta pronta ?

- Na verdade , não – abracei Eduardo já com os olhos cheios d’agua

- Se quiser , não precisa ir Anna. Na verdade , nem sei o porque de você querer ir ao enterro dele

- Fui a ultima pessoa que ele viu antes de morrer e apesar de tudo , era amigos

Pedro tinha ido embora. Isso era uma coisa que eu jamais me acostumaria. Queria ele fora da minha vida , mas não dessa maneira , nunca desejei isso . Hoje seria a ultima vez que o veria , deitado em uma caixa , descansando ? Talvez , ele comentou muitas besteiras, mas era uma boa pessoa e me fez feliz durante o tempo que passamos juntos , com suas caretas e piadas idiotas que me faziam esquecer as coisas e apenas lembrar de sorrir , mas tudo se foi com ele.

Eu achava que enterros fosse como nos filmes , onde pessoas de preto e com seus guarda-chuva andasse pelo cemitério chorando em silencio , enquanto a chuva caia. Mas não , a realidade era bem diferente.

Quando chegamos lá , dona Raquel estava atirada em cima do filho que não respirava mais , aos prantos enquanto todos ali apenas observava chorando em silencio pelo sofrimento de uma mãe e pela perda. Amigos , família , conhecidos , estavam todos ali para se despedirem de um menino que conseguiu destruir minha vida , ate a própria destruída esta lá para dá o ultimo adeus.

- Anna ? – Eduardo me sacudiu – Você está pálida

- Eu nunca pensei que fosse ver uma cena tão triste como essa – falei baixo e ele me abraçou novamente

- Eu to aqui ,não se preocupe – ele sussurrou

Caminhamos ate o caixão enquanto olhares dos nossos amigos nos acompanhava , com certeza comentando o que eu estava fazendo no enterro logo do Pedro, mas eu não liguei. Dona Raquel viu-me aproximar e rapidamente me abraçou forte , mas pude senti-la fraca por dentro , sabia o que estava sentindo , perder um filho é a pior coisa do mundo. Que irônico , estava no enterro do menino que trouxe e ao mesmo tempo tirou minha filha , realmente eu não sabia o que estava fazendo ali.

- Perdoe meu filho Anna – ela soluçou – ele era do bem

- Eu sei dona Raquel – a abracei novamente e uma menina se aproximou

- Então você que é a Anna ? – ela perguntou irônica – Pelo visto , venho contemplar a morte do meu primo né ?

- Lógico que não , eu ... eu ... gostava dele – falei cabisbaixa e percebi que Eduardo fizera o mesmo

- Mas o matou

-O que ? Eu não matei ninguém , eu o ajudei , tentei , mas o ajudei 

- Não , você não fez – ela me olhava com ódio – Sabe aonde Pedro estava indo quando sofreu o acidente ? Indo a trás da querida e amada Anna dele , para tentar arrumar tudo e olha só – ela apontou para ele – Essa foi a recompensa

Fiquei sem reação quando ela falou aquelas palavras , me senti culpada e percebi que não tinha Eduardo para que eu pudesse abraçar , pois ele havia se retirado dali depois do que escutou.

- Não foi culpa minha – falei exaltada – Se ele não tivesse estragado , não teria indo atrás arrumar.

- Você não merece esta aqui –  ela falou e então Carlos a puxou , fazendo a própria se afastar

- Eu não fiz dona Raquel , não fiz – chorava abraçando sua mãe

- Ninguém tem culpa Anna  , Marina não sabe  que fala , apenas amava o primo demais

- Desculpa, eu não consigo –  sai e sentei na calçada apoiando a cabeça nos joelhos – Cadê você idiota , preciso do seu abraço – falava sozinha em meio a soluços

- Obrigado pela consideração – Eduardo sentou-se ao meu lado e me abraçou

- Não me abandona , por favor – minha voz saiu um pouco abafada pelo seu abraço – Eu não o matei  , não fiz

- Anna , não foi culpa sua ok ? – ele levantou minha cabeça e enxugou minhas lagrimas – Ele que foi um idiota em tentar recuperar uma coisa que já tem dono – ele brincou e sorriu sem graça

- Idiota – me afundei em seus braços e ficamos assim ate a hora de Pedro ser enterrado , o que não demorou muito , afinal chegamos já no fim do velório , seria muita tortura pra mim está desde o começo .

Andamos pelo cemitério , sem guarda-chuva , os mais íntimos foram na frente enquanto Eduardo e eu andavamos atrás , eu pedi pra ser assim. Dona Raquel caminhava questionando o porquê daquilo e os outros apenas choravam enquanto cantavam a musica preferida de Pedro . Seu caixão estava coberta pela a bandeira do seu time de coração e havia uma foto dele também estampada nela.

- Vai com Deus meu filho – dona Raquel jogou uma rosa enquanto o caixão descia e os outros fizeram o mesmo. Quando começaram a jogar terra em cima , tampando a cova , minha ficha realmente caiu. Pedro estava morto e enterrado. Todos haviam jogado suas flores antes de fechar a cova completamente, menos eu. Permaneci com a minha , apenas não consegui ir lá na frente e me despedir.

- Vamos Anna ? – Eduardo segurou minha mão quando tudo já havia acabado , mas eu não poderia ir embora sem fazer o que devia fazer

- Você espera cinco minutos ? – falei olhando para a rosa que ainda estava em minhas mãos – Preciso fazer isso

- To no carro – ele beijou minha testa e eu caminhei ate o tumulo

- Quem diria em Pedro ? Logo você que se julgava invencível , agora esta debaixo da terra – ironizei e me agachei – Sabe o que é engraçado ? Eu apenas me lembrar das coisas boas , mesmo você tirando a coisa mais importante pra mim , mesmo você destruído minha vida de um jeito cruel , não consigo odiar-te , se é que um dia ti odeie de verdade. Agora você esta ai e eu aqui. O que me resta é seguir em frente né ?  - me levantei novamente – Eu gostei de você , eu chorei por você , eu sorri com você , eu vivi com você , mas agora eu vou ser feliz sem você . Descanse em paz

Coloquei a rosa que estava em minhas mãos em cima de seu tumulo e senti um vento diferente batendo em meu rosto o que me fez sorrir e ao mesmo fazendo uma lagrima percorrer meu rosto.