Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 25
Capítulo 24




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Quando a vida está calma demais, você deve começar a desconfiar. Algo está errado.

Meu pai sempre pensou assim e acho que herdei isso dele. Minha mãe discordava. Ela acreditava em dias de pura felicidade e que o errado é pensar que sempre existe algo errado. Para ela era certo viver bem, e sempre se irritava quando eu e meu pai nos juntávamos contra ela. Eu apenas ria enquanto ela argumentava. No fim dessas noites, nós sentávamos no sofá, rindo pela discussão e deixávamos o antigo toca disco tocando o favorito de meu pai.

Ele sempre amou coisas antigas. Carros antigos. Moveis antigos. Filmes antigos. Então era normal se entrássemos em casa e víssemos algo como uma máquina de escrever antiga. Ninguém a usaria, mas ele comprava apenas por achá-la bonita e dizia que era uma relíquia, chegaria um dia que poucas pessoas teriam uma daquelas.

Minha tia não gostava daqueles objetos, então os mantivemos guardados no sótão em caixas que agora cheiravam a mofo, junto com o pinheiro de Natal que eu tinha ido buscar para montar. Ela também não gostava da árvore de verdade. Eu amava, mas cedi, decidindo colocar a de plástico mesmo.

– Acho que deveríamos fazer um amigo secreto. – comentei, rindo.

– Claro, seria emocionante com duas pessoas. - ela olhou para mim e sorriu. – Talvez eu ficasse até um pouco desconfiada em quem teria me pegado.

Tia Rose havia chegado cedo do trabalho e me ajudou a colocar o pisca-pisca. E enfim estava pronto. Observamos o pinheiro decorado com bolas vermelhas e douradas por alguns segundos.

– Você fez um bom trabalho. – falou.

– Obrigada. – abri um sorriso para ela.

A campainha tocou. Era Sarah.

– Pronta para seu primeiro treinamento? – ela disse.

– Claro. Vou pegar minha bolsa.

Subi as escadas de dois em dois degraus, coloquei o que precisaria dentro da bolsa, vesti o casaco vermelho das líderes e fomos ao colégio novamente.

O treinamento não era nada difícil. Demorei com alguns movimentos, mas a grande maioria eu já conhecia, o que facilitou muito para mim. O verdadeiro problema era Kate. Minha posição era ao lado dela, e sempre arranjava um jeito de tentar me fazer tropeçar ou criticar qualquer coisa que eu fazia certa. Ignorei.

– Você se saiu muito bem, Lissa. – disse a treinadora quando estávamos saindo. – Vejo que os anos não te fizeram imune a sua habilidade.

– Obrigada, treinadora. – abri um pequeno sorriso tentando não parecer convencida.

Ashley iria sair com os pais dela, então apenas eu e Sarah fomos a pé. Passamos na escola de seu irmão de seis anos para pegá-lo assim como sua mãe havia pedido. Ele era baixo para a idade. Seus cabelos eram castanhos, mais claros que os de Sarah, assim como folhas secas de outono. Os olhos âmbar olhavam inquietos para todos os lados. Eddie caminhava a nossa frente cantarolando, enquanto eu e Sarah apenas o observávamos e conversávamos sobre qualquer coisa.

Os dias estavam escurecendo mais rápido. Eu podia sentir o ar cada vez mais gélido entrando nos meus pulmões e pensei em como sentiria frio com aquela saia até chegar em casa. Já estávamos perto de nos separar, Eddie andava a alguns metros a nossa frente quando parou abruptamente e virou-se em direção ao um armazém abandonado. Ele acenou e sorriu.

– Oi moço. – sua voz saiu baixa, devido a nossa distância.

– Ei Eddie, quem é? – perguntei.

Sem dizer nada, ele correu em direção do armazém, saindo de nosso campo de visão.

– Eddie! – Sarah gritou e saiu correndo. – Onde você está indo?

Corri atrás dela e ao chegarmos à frente do galpão, Eddie havia sumido. Estava tudo quieto demais e quando Sarah gritou mais uma vez seu nome, me assustei.

– Eddie!

Ela virou-se para mim, o olhar desesperado, esperando que eu dissesse alguma coisa.

– Vamos entrar.

As palavras escaparam da minha boca, sem que eu pudesse pensar no que aquilo significasse.

Andamos devagar até a lateral do galpão e paramos quando vimos um portão de correr grande e cinza, poucos centímetros abertos. O barulho pareceu ensurdecedor quando o empurramos apenas o suficiente para que passássemos. Dentro tudo estava escuro e tive que forçar a visão por alguns segundos, até me acostumar com a pouca claridade que apenas vinha das pequenas janelas. Era abafado ali dentro, o ar era denso e difícil de respirar, como um dia quente de verão. Não havia nada dentro dele, bastou apenas um minuto para encontrar o que queríamos.

– Eddie... - Sarah sussurrou.

Hunter mantinha Eddie preso com seu braço preso na garganta do menino e uma mão tapando sua boca. Pude perceber as lágrimas escorrendo pelas pequenas bochechas e os olhos, desesperados.

Algo sempre estaria errado.

Ela começou a correr em sua direção, mas segurei seu braço.

– Pare. Você precisa tomar cuidado. Eu o conheço. – hesitei. - É ele.

Sarah arregalou os olhos e soube que ela entendeu que era meu perseguidor que eu havia lhe contado há semanas atrás.

– O que vamos fazer? – ela perguntou alarmada.

– Calma, está bem?

Virei-me para Hunter e andamos até ele. O sorriso torto arrogante sempre presente em seus lábios, moldava seu rosto que eu sentia tanto nojo. Eddie se debateu em seus braços e Hunter apertou mais seu braço na garganta dele.

– Não faça nada com ele, por favor. – disse Sarah.

Suas sobrancelhas se arquearam numa expressão falsa de pena.

– Hunter. – pronunciei seu nome como se fosse algo estragado.

– É tão bom ver você novamente, Lissa. Parece mais bonita a cada dia que a vejo. Aliás, gostei do uniforme. Andrew também aprovou?

Ignorei sua pergunta.

– O que você quer?

– Muitas coisas... – ele começou.

– Estou falando sério. – o interrompi. – Me diga o que quer e me devolva o menino.

– Cada dia mais destemida... – ele fez uma pausa. - Terei que dar um jeito nisso. – Hunter disse mais para si mesmo.

Seu braço apertou mais a garganta de Eddie.

– Não, não, não! – gritou Sarah.

– Se você gritar novamente, eu o matarei. Não duvide disso.

Sarah assentiu frenética e pareceu até parar de respirar, com medo. Hunter abriu um sorriso de satisfação.

– Hunter... – implorei. – O que você quer? – repeti.

– Calma, passarinho. Você está apressada hoje.

Bufei. Respirei fundo. Esperei.

– Vamos logo ao ponto. – pedi.

– Vou soltar o garoto, porém quero que diga algo a Andrew. – a voz soou áspera.

Suas palavras me chamaram atenção. Tremi.

– Diga a ele para não se meter comigo. Ele não sabe com quem está mexendo. Eu comando esse jogo. Vocês são meus peões. Ou Andrew para de bancar o rei ou o eliminarei do tabuleiro, assim como todos aqueles que ele ama. – a cada palavra Hunter soava mais ameaçador. – Isso inclui você, Lissa. Peça pra ele se cuidar, ou você acabará com um pé de cabra atravessado em seu peito.

Minha respiração saiu entrecortada e engoli em seco. Suas palavras deixaram um rastro pesado em minha mente. Eu sabia que ele falava a verdade e temi qualquer coisa que fizesse.

Hunter desapareceu rápido assim como veio. Eddie caiu ao chão e Sarah correu até a ele, o envolvendo com seus braços. O escutei choramingar enquanto Sarah sussurrava palavras, tentando confortá-lo.

– Sarah, você ficará bem? – perguntei.

Ela apenas mexeu a cabeça, afirmando.

– Ok, preciso ir há um lugar.

Disparei correndo até em casa, eu não estava longe, mas cheguei cansada e arfando. Atravessei a porta como um furacão e peguei a chave do carro de tia Rose.

– Lissa, onde você está indo?

– Na casa de Andrew. Preciso falar com ele.

Antes que ela pudesse protestar, bati a porta e entrei no carro. Sai da rua silenciosa cantando pneus. O caminho nunca pareceu tão longo. Passei por algumas sinaleiras fechadas, sem paciência para esperar. Entrei no bairro calmo, com as árvores secas pelo inverno. As casas iguais e perfeitas. As calçadas largas, com pouco movimento. A rua rodeada pela floresta ainda me trazia lembranças amargas e palavras carregadas. Freei em seco, perto do portão. A casa parecia imponente e ainda me dava calafrios. Nunca me acostumaria com ela. Abri os portões de ferro, pesados e andei meio correndo. Ignorei a porta e segui até a parte de trás da casa, onde eu sabia que havia uma varanda com pilhas de livros, um sofá e por sorte, Andrew sentado nele.

Eu estava certa.

Andrew estava sentado, olhando fixo para a floresta a metros na sua frente. Não pude deixar de perceber as duas bolsas de sangue ao seu lado. Vazias. Na parede havia algumas lascas de tinta que não havia antes e cacos de vidro perto da porta.

– Que ótima surpresa. – ele disse, mas não entendi se estava falando a verdade ou apenas sendo irônico.

– O que aconteceu aqui? – perguntei com a voz sufocada.

– Andei me descontrolando. Consequências de ser um híbrido.

Pensei em perguntar por que havia se descontrolado, mas recolhi as palavras, deixando-as apenas em minha mente. Eu sabia a resposta.

Andrew abriu um sorriso cabisbaixo, e pela primeira vez olhou para mim. A princípio me surpreendi. Seus olhos estavam escuros, quase pretos. Eram vazios e se sentia alguma coisa, não deixava transparecer.

– Gostei do uniforme. – Andrew disse.

Abri um pequeno sorriso, feliz por ele ter gostado.

– O que veio fazer aqui? – perguntou.

Eu quase havia me esquecido do verdadeiro motivo. Fechei meu sorriso e o encarei.

– Você andou atrás de Hunter?

Ele deu de ombros.

– O que você pensa que está fazendo? – surtei. - Por que pelo visto não o matou, se é que esse era o propósito.

– Claro que era o propósito.

– Hunter sequestrou o irmão de Sarah por sua causa, e quase o matou!

Andrew franziu as sobrancelhas.

– O que ele queria?

– Pediu para dizer algo a você. – hesitei. – Falou para não se meter com ele. Se você brincasse de novo, ele mataria você e todos que ama. E quem terminaria com um pé de cabra atravessado no peito, seria eu.

Seguiu-se um silêncio longo e desconfortável. Talvez eu não devesse ter dito a última parte, considerando que havia uma foto dele e de Brooke em cima de uma das pilhas de livro. Eles estavam virados um para o outro. Ela estava sorrindo com a boca aberta, como numa gargalhada. Sua mão encostava-se à boca dele que também sorria. Brooke era muito parecida comigo, a não ser pelo cabelo escuro como Hunter havia descrito. Poderia ser minha prima, ou até alguém mais próximo.

Andrew percebeu o que eu estava olhando e pigarreou. Cruzei os braços e os apertei junto ao corpo. Um nó se formou em minha garganta e por algum motivo, senti vontade de chorar.

Ele ainda guardava uma foto dela.

– Escute o que ele diz. – sussurrei. – Hunter está aborrecido.

– Vou escutar.

– Espero que sim. Você poderia ter causado algo muito maior. Chega de mortes, está bem?

– Preciso matá-lo, não conseguiria na primeira tentativa, é claro que isso traria consequências.

– Pense nas pessoas ao seu redor antes de tentar fazer alguma babaquice.

– Você está do lado dele? – Andrew murmurou.

– O que?!

– Alguém sempre acaba morrendo. – ele sussurrou. – Isso irá acontecer, sempre acontece.

– Mas era o irmão de Sarah, uma criança!

Respirei fundo.

– Quer saber, estou feliz por Hunter ter me contado quem me salvou, porque se dependesse de você, eu nunca saberia!

Dei as costas para ele e sai pela lateral da casa batendo pé.

– Lissa.

Parei, quando escutei sua voz rouca me chamando, mas não me virei para ele.

– Lembre-se: Hunter não se aborrece. Ele se vinga.


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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora, a princípio eu não iria pra praia, mas acabei indo haha
Espero que tenham tido um ótimo Natal e se ainda der tempo, quero desejar um Feliz Ano Novo, amem muito, digam o que tenham que dizer, se divirtam e tenho certeza que vocês farão um ano muito melhor que 2013!
Então, o que acharam do primeiro capítulo do ano?



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