Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 16
Capítulo 15




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Acordei cedo demais. Meu corpo ainda estava cansado e implorava para eu voltar à cama, porém meus olhos não se fechariam tão fácil. Não com as palavras de Andrew ainda ecoando nos meus pensamentos. Meu coração parecia poder explodir a qualquer momento. Ele estava cheio. Completo.

Desci as escadas saltitando e encontrei tia Rose na cozinha. Sentei em uma das cadeiras da bancada, enquanto ela assistia ao noticiário da manhã e preparava seu café.

– Bom dia.

– Bom dia, querida. Acordou cedo. – ela me fitou. – E parece animada.

Abaixei o olhar para a tigela de cereal em minha frente, sorrindo.

– É, acho que estou.

– Posso chamar essa felicidade de Andrew? – ela riu apreensiva.

– Sim. – meu rosto ruborizou. – Não sei, estou me sentindo...

Não encontrei a palavra certa, mas tia Rose completou.

– Amada. – ela suspirou. – Eu te entendo. Em algum lugar obscuro da minha memória, ainda lembro como é isso.

Sua risada soou triste.

– Nunca pensou em namorar de novo? – perguntei.

– Você não vai querer perder tempo escutando minhas decepções amorosas.

Tia Rose sorriu, mas sua expressão fechou rapidamente.

– Olhe isto. - disse com os olhos focados na televisão.

Suas mãos encontraram o controle remoto e aumentou o volume para poder escutar melhor. Abaixo das imagens que iam aparecendo na tela, havia escrito:

Banco de sangue do hospital municipal de St. Louis é roubado”.

– O que? – minha voz ecoou alta demais pelo cômodo.

– Shhh.

“O roubo ocorreu nessa madrugada. A polícia investigou o local, mas não há nenhum vestígio de arrombamento”. – concluiu a repórter.

Tia Rose me encarou pasma.

– Quem poderia fazer algo assim? – perguntou.

Dei de ombros.

– Só sei que isso é muito estranho.



O sinal para a última aula bateu e sai apressada da sala. Comprimi-me entre os alunos no corredor tumultuado, tentando encontrar Sarah.

– Ei, Sarah. – a encontrei em seu armário.

– Oi Lissa. – ela sorriu.

– Você irá comigo na biblioteca, hoje.

– Vou? – Sarah franziu as sobrancelhas e riu.

– Sim.

– Para que matéria você quer estudar? – perguntou.

– Na verdade, não é bem isso. – me aproximei dela e sussurrei. – Quero pesquisar sobre os vampiros.

Tentei parece irrelevante, porém minha voz falhou nas últimas palavras.

– Uau. – ela fechou a porta de seu armário e me fitou. – O que a fez mudar de ideia?

– Não posso contar agora. Mas por favor, vá.

– Vou estar lá. – Sarah cerrou os olhos. – Acho que vou levar umas velas e lendas macabras dos sugadores de sangue, o que você acha?

Ela riu e tentei fazer o mesmo, mas pareceu forçado.

– Nos encontramos depois da aula?

– Por mim, tudo bem.

– Preciso ir, até mais tarde! – falei por cima do ombro.

Corri para minha última aula de biologia, porém antes que eu pudesse entrar na sala, uma mão puxou meu braço, arrancando a minha da maçaneta da porta.

Lábios cheios e gentis beijaram os meus subitamente. Minhas mãos repousaram em seu peito e o empurrei atordoada.

– Andrew, o que pensa que está fazendo? – sussurrei.

– Não parece óbvio? – um sorriso malicioso brincou em seu rosto.

Ele me beijou novamente, porém mais intensamente. Suas mãos deslizaram por meus braços e pairaram em minha cintura. Andrew me apertou contra seu peito e me afastei apenas o suficiente para conseguir falar.

– Andrew... – arquejei. Um arquejo que não deveria ter existido. – Não. Temos aula.

– Liss... – ele me fitou sério. – Suas notas são perfeitas. Não fará diferença você matar uma aula.

Ele se aproximou.

– Pare. Estamos no meio do corredor.

– Então vamos sair daqui. – Andrew sussurrou contra meus lábios.

Sua mão agarrou meu pulso e saímos pelo corredor.

– A um lugar onde não tenha ninguém.

Paramos na frente da porta da biblioteca e Andrew hesitou antes de abri-la. Entramos em silêncio, observando o lugar. Felizmente estava calmo e vazio. Atravessamos a sala repleta de estantes, todas cobertas de livros e escondemos-nos atrás de uma delas.

Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, os braços de Andrew envolveram minha cintura assim que nossos olhos se encontraram. Seus lábios beijaram os meus com avidez e minha mão agarrou seu cabelo, o aproximando – como se ainda fosse possível. O fato de estarmos aos beijos na biblioteca, sabendo que a qualquer momento alguém poderia nos pegar, contribuía para meu êxtase. Um riso escapou pela minha garganta, mas não foi o bastante para interromper o beijo. Andrew me prensou contra a estante e minhas costas se chocaram em alguns livros, fazendo-os caírem no chão do outro corredor de estante, com um estrondo.

– Quem está ai? – uma voz fina ecoou pelo cômodo.

Afastei-me de Andrew abruptamente.

– Droga. – sussurrei.

Andrew me puxou para trás do corredor da estante, enquanto Kate caminhava em nossa direção. Minha respiração estava pesada e sentia a de Andrew sair pela boca e balançar alguns fios de meu cabelo. Ele tapou minha boca com a mão, para abafar o som dos meus arquejos.

– Ei, tem alguém ai?

Kate entrou no corredor de estante a nossa frente onde eu havia derrubado os livros. Ela fitou o lugar cautelosamente, mas os colocou de volta na prateleira, sem questionar e saiu da sala.

Andrew largou a mão de meu rosto e só então percebi que havia trancado a respiração.

– Acho que não isso foi uma boa ideia. - suspirei.

– Mas você adorou.

Seus lábios se curvaram em um sorriso torto. Passei os braços ao redor de seu pescoço e me ergui o beijando, assim que o sinal bateu.

– Tenho que ir. – sussurrei. – Vou ir com Sarah à biblioteca.

– Estudar?

Hesitei.

– Sim.

Eu não me sentia confortável mentindo para Andrew, contudo sabia que ele não gostaria se eu dissesse o real motivo de ir à biblioteca.

– Eu saio primeiro. – murmurei.

Andrew depositou um beijo suave no alto de meu rosto.

– Eu te amo. – disse.

Abri um sorriso bobo, efeito das palavras de Andrew.

– Te amo.



Sarah e eu passamos pela porta de vidro e entramos na biblioteca municipal. O lugar era quente, mas de uma maneira aconchegante. Era um salão claro e amplo, com janelas que se abriam para o final da tarde. A nossa direita, logo na entrada, se encontrava o balcão da Sra. Bethany, onde registrava todas as saídas de livros. A esquerda havia estantes de madeira antiga e escura. Todas eram altas e revestidas de livros até o teto. Junto delas havia conjuntos de mesas redondas onde apenas um grupo de jovens estudava. Seguimos até o final do salão subindo uma escada larga que levava a outro cômodo com estantes distribuídas em fileiras nos dois lados do cômodo e mesas. Diferente do andar inferior, aqui era mais reservado e apresentava uma luz densa.

– Escolha uma mesa. Vou pegar os livros.

Sarah me entregou sua bolsa e sentei em umas das mesas redondas. Ela veio na minha direção com uma pilha de livros no braço.

– Quantas vezes você já pesquisou sobre isso? – perguntei rindo.

– Pode acreditar... Bastante.

Ela riu e colocou os livros na mesa com um estardalhaço.

– Por onde vamos começar?

– Do começo, eu acho. – falei incerta - Eu não sei nada.

– Está bem.

Sarah soltou um suspiro pesado e sentou-se ao meu lado, abrindo o primeiro livro da pilha. Ela folhou as páginas atentamente até achar o que precisava.

“Vampiro é um ser mitológico ou folclórico que sobrevive se alimentando da essência vital de criaturas vivas” Isso você sabe. Bebedores de sangue.

Até aquele momento, não tinha percebido como a situação era estranha. Pesquisar sobre vampiros? O que eu estava fazendo?

– Certo. – murmurei.

– A noção de vampirismo existe há milênios. Culturas como as da Grécia Antiga, Romana continham lendas sobre os demônios sugadores de sangue. – ela riu. - Alguns diziam que eles, os vampiros, eram espectros de seres malignos, vítimas de suicídios, coisas do tipo...

Fite-a submergida.

– Que cara é essa?

– Como você sabe tudo isso? – perguntei.

– Curiosidade de família. Minha avó gostava de pesquisar sobre vampiros, bruxas, então eu meio que herdei isso. Ela que me contou tudo.

– E por que nunca me falou?

– Se eu falasse você me chamaria de louca, assim como quase fez no dia do jogo.

Eu ri, um pouco constrangida, sabendo que ela estava certa.

– Ainda soa estranho pra mim. Isso tudo.

– Você vai se acostumar. Eu também não gostava no começo.

Suspirei. Sarah tirou de sua bolsa um bolo de folhas e as dispensou em cima de nossa mesa.

– O que tem nelas? – perguntei.

– Artigos sobre mortes com corpos drenados, ou seja, por vampiros. Mas todos aparecem como “ataque de animal”.

Engoli em seco, fitando as folhas.

– Certo, olhe.

Ela empurrou uma das folhas em minha direção. Seu dedo indicou o segundo parágrafo que dizia:

“Corpo de um homem, aparentemente com 30 anos, foi encontrado na manhã de domingo, em St. Louis. Sem sangue e com uma mordida na lateral direita do pescoço, o corpo foi totalmente drenado. A polícia acredita ser mais um caso de invasão animal.”

Meu estomago revirou-se e por impulso coloquei a mão em meu pescoço.

– É tão ridículo. Como ainda conseguem acreditar nisso? – Sarah parecia perguntar mais para si mesma, do que para mim.

Ela continuou.

– Bom, eu só fui até 1948, mas de tempos em tempos acontecem esses ataques. – ela colocou alguns artigos na minha frente. – Em 1962, quatro corpos encontrados. 1953, seis pessoas mortas. Em 1974, três pessoas mortas. E este ano houve cinco. Todos atacados, com grande perda de sangue.

– Ninguém nunca tentou detê-los?

– Não que eu saiba. A maioria é mais esperta e o corpo é dado como desaparecido, assim não se sabe realmente a causa da morte.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando assimilar as informações.

– E quais exatamente são as características de um vampiro?

Sarah folhou outro livro e respondeu.

– Basicamente a força, velocidade, aparência, pele fria e queimam no sol. – ela levantava um dedo a cada atributo. – Essas seriam as mais obvias pra reconhecer um deles.

– E... Tem algum modo de matá-los?

– Não se sabe ao certo se funciona, já que ninguém, a principio tentou. Os mais conhecidos é o empalamento com estaca de madeira, decapitação e queimado, eu acho.

Fitei-a, insegura, porém Sarah foi mais rápida.

– Agora você precisa me explicar, por que dessa curiosidade repentina e de todas essas perguntas.

– É mais complicado do que parece, mas vou te explicar.

Respirei fundo, pensando por onde iria começar.

– Talvez eu conheça um deles. – sussurrei.

– O que?!

– Talvez eu conheça um deles. – repeti, com a voz mais clara. – Mas eu não sei. Quer dizer, pelo que você disse parece ser um, não tenho certeza.

– É alguém do colégio? Alguém que eu conheça?

– Não. Ele me... Me persegue.

Sarah levantou as sobrancelhas, alarmada. Ela moveu os lábios com desavença, pronta para dizer algo, mas a silenciei com um gesto.

– Não me pergunte. Ele começou a aparecer depois do acidente de meus pais. Sabia tudo sobre mim, Sarah, eu fiquei... Eu estou desesperada.

– E como ele é?

– Alto e sempre usando roupas pretas. Rápido demais, forte demais e frio demais para um humano. Eu só o vi uma vez de dia, mas não estava no sol. E no dia que Riley foi mordida, ele estava lá, sujo... De sangue.

– Oh. Isso definitivamente é grave. Talvez ele seja mesmo um deles. – Sarah parecia preocupada, porém muito excitada.

– Ele falou sobre o acidente. – murmurei. – Disse que sabia que alguém havia me salvado. Eu até pensei que poderia ser ele, mas é ridículo pensar isso. Se ele me salvou porque começaria a me perseguir?

– Lissa, eles são predadores! É isso que eles fazem, eles caçam. Seria como uma diversão para ele.

– Você está dizendo que há possibilidades de ser ele?

– Claro assim. E responsável por todos os ataques.

– Sim, mas...

Fitei o nada por alguns segundos e minha expressão fez Sarah se questionar.

– O que foi?

– Se ele está matando pessoas, quem roubou o banco de sangue?

Ela me encarou, sabendo que era verdade.

– Eu não sei, talvez tenha feito os dois.

O celular de Sarah tocou em sua bolsa, nos espantando.

– Alô? Mãe?

Ela ficou alguns segundos em silêncio.

– Mãe? Droga de sinal, vou ter que ir lá fora está bem?

– Uhum. – murmurei.

Ela desceu as escadas rápido, me deixando sozinha no cômodo. Levantei-me da cadeira, indo em direção as estantes. Caminhei por entre elas, prestando atenção nos títulos e folhando alguns livros. Todos pareciam antigos, embolorados com manchas amarelas e com uma leve poeira que revestia suas capas.

Pelo canto do olho, pude perceber uma sombra escura e me virei lentamente. A sombra correu em direção as mesas onde estávamos, rápido demais. Fechei o livro com um baque, o deixando em qualquer lugar da estante. Andei devagar até a mesa onde eu e Sarah nos sentávamos antes. Porém não havia ninguém.

– Sarah? É você?

Girei meu corpo olhando o corredor principal que agora parecia assustador demais. Na parede ao fim da sala, onde terminava as estantes, havia uma grande janela. Se não fosse pela noite que caia lá fora, eu conseguiria enxergar grande parte do centro de St. Louis. Mas agora, a única coisa que eu observava era meu próprio reflexo.

Mesmo distante, dei um passo a frente. Cerrei os olhos, tentando enxergar além de meu reflexo. Pela janela pude ver. Eu não estava sozinha. Atrás de mim, ao me lado, a sombra escura se erguia centímetros maior que eu.

– Lissa. – uma voz soprou em meu ouvido, como brisa, leve.

Virei-me rapidamente e apenas escutei uma porta ranger vagarosamente e fechar-se com um estrondo. A luz acima de mim piscou falhada e depois se apagou e foi assim sucessivamente com cada luz do andar superior da biblioteca.

– Droga – sussurrei.

Apertei os olhos, tentando identificar algo no meio da escuridão. Com as mãos erguidas na frente do corpo, tateei a mesa, a procura de meu celular.

O desbloqueei. A luz do celular iluminou a sala e procurei pela sombra, em vão. Rodeei a sala com o celular nas mãos até encontrar a única porta que havia na sala.

“Acesso restrito a funcionários” – dizia a placa.

– Sra. Bethany?

Silêncio.

Abri a porta, entrando em um corredor estreito. Estantes de ferro rodeavam as paredes, deixando tudo ainda menor. Havia caixa por todos os lados e alguns livros. Parecia como um depósito.

Andei devagar, o celular radiando cada centímetro do local. A minha direita se abria a mais um corredor, porém não era longo. Conseguia ver a parede branca e um armário velho que só me deixavam caminho à frente.

Ao final do corredor, percebi como tudo havia sido inútil. Não havia nada desordenado e o reflexo na janela deveria ter sido apenas a sombra de uma árvore. Era do que eu tentava me convencer.

Dei um último passo encarando a parede branca. Olhei para as estantes cheias de nada e com a luz forte do celular avistei um líquido abaixo de meus pés. Fui para trás e coloquei o celular para baixo. Encarei a mancha vermelha empossada no chão. Sangue.

Iluminei ao redor da mancha tentando encontra de onde havia surgido o sangue. Algo gotejou em meu rosto, devagar escorreu da ponte de meu nariz até minha bochecha. Rezei para não ser o que eu estava pensando. Meus dedos encostaram o líquido viscoso, e fitei o borrão vermelho em meus dedos.

Sem nenhum comando, minha cabeça encarou o teto. O corpo da Sra. Bethany pendia no teto. Ganchos perfuravam a pele de seus braços, pernas e em sua coluna, sustentando-a no teto, como se estivesse deitada. Seus olhos castanhos e enrugados me olhavam, sem vida, suplicando. Em seu pescoço, a grande ferida estava aberta.

Tranquei a respiração e corri.

As luzes da biblioteca estavam acessas novamente e Sarah subia o último degrau da escada.

– Lissa, isso no seu rosto é...

– A sra. Bethany... – a interrompi. – Ele a matou.


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