Quando Liam percebeu que Noel estava chorando, levantou de repente e ficou olhando para ele. Todos da sala, exceto Noel, o encararam, assustados pela sua ação súbita. Para disfarçar, Liam virou-se e foi ao banheiro. 

Enrolou alguns minutos lá dentro, não pensava em nada. Quando saiu, sentou no mesmo lugar que estava antes e continuou fazendo a mesma coisa: encarando o irmão, que ainda chorava. Só que Liam não colocou mais o livro na frente. Olhava diretamente para Noel. Estudava sua feição, tão triste. Aqueles olhos azuis cheios d’ água, fazia tanto tempo que Liam não os via assim. 

Aquele cenário era fixo. Só mudou horas depois, quando Noel secou as lágrimas e pegou duas folhas de papel em branco que estavam numa gaveta próxima e uma caneta.

Liam se assustou com aquele comportamento, mas já sabia que o irmão iria escrever uma nova música. E foi o que aconteceu; Noel escrevia rapidamente e ninguém ousava interrompê-lo. Todos já o conheciam bem e sabiam que suas melhores composições surgiam assim, do nada.

Essas foram as únicas mudanças que ocorreram na viagem. Quando finalmente chegaram ao hotel, o de sempre. Milhares de fãs, muita gritaria. Liam se lembrou que teria que fazer um show naquela noite.

Não demorou muito e cada um já estava em seu quarto. A primeira coisa que Liam fez quando entrou no seu foi deitar-se. Insistiam em colocar os dois irmãos em quartos lado a lado, sempre.

Mas dessa vez, pelo menos, Liam sabia o que o irmão estava fazendo. Escutou uma guitarra, ele estava tocando. Havia esquecido como Noel tocava bem...

Liam percebeu rapidamente que não conhecia a música. Não era nada do Oasis, mas era incrivelmente linda. Quando Noel começou a cantar junto, mesmo não compreendendo tudo que ele falava, Liam teve certeza de que aquela música era perfeita.

- Saímos em 10 minutos. - disse uma voz grossa do lado de fora.

Liam percebeu que ficou durante muito tempo ouvindo o irmão cantar. Lembrou-se do show, lembrou-se que ele era o mais importante da turnê, com o maior público. Sentiu-se mal, com medo, como sempre se sentia antes de shows importantes. E quem sempre o acalmava, agora, não olhava em sua cara.

Liam foi se arrumar. Não teria desculpa se simplesmente não quisesse fazer o show; sua voz esteve ótima na noite anterior, não poderia alegar uma dor de garganta. Então, colocou uma roupa qualquer e  saiu do quarto. Mas, quando percebeu, estava parado em frente a porta ao lado do seu quarto. Nunca quisera tanto deixar o orgulho de lado. Queria abrir aquela porta e dizer tudo que sentia. Dizer que como ver ele chorando naquela tarde tinha sido perturbador, dizer que era grato por tudo, dizer que o achava o melhor guitarrista do mundo, que estava com medo daquele show. Queria dizer tanta coisa.

Mas continuou lá, parado, só pensando no que poderia dizer. E só foi acordar do devaneio quando a porta se abriu. Noel levou um susto, mas Liam continuou na mesma posição, ainda não tinha assimilado bem o que tinha acontecido.

Novamente, aqueles olhos azuis se encararam. O olho de Noel ainda um pouco avermelhado e inchado, mas azul como nunca antes. Como Liam adorava aqueles olhos.

Isso durou uns 10 segundos, que mais pareceram com as 10 horas que haviam passado no ônibus. Após esses longos segundos, os dois foram andando em direção ao elevador, sem trocar uma palavra. Uma cena engraçada, os dois sem-graça. Mas no elevador foi pior. A musiquinha ridícula de fundo, típica de elevadores. Se tudo estivesse bem entre os dois, alguém faria uma piada qualquer com aquilo. “Melhor que qualquer coisa que o Robbie Williams já fez.”

Mas o que aconteceu foi que nenhum dos dois falava nada. Pareciam dois estranhos. E, como os quartos ficavam no último andar, parecia uma viagem até o térreo.

Quando chegaram, ainda tiveram que passar pela multidão juntos. Liam foi na frente. Não falaram com ninguém.

Somente no ônibus que os dois foram se sentir confortáveis. Liam ficou sentado numa poltrona em um extremo do ônibus e Noel no outro. E assim seguiram até o estádio;  ninguém pronto de verdade para um show daquela proporção.