A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 8
Nascido para morrer


Notas iniciais do capítulo

Dentro de um templo, num profundo poço, Bya, Yomi e Saryel investigam o paradeiro de Adeste, mas encontraram um ser não esperado por ali.
Como vão derrotar o novo inimigo? E como será a aparência da doce sacerdotisa?



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Os olhos estavam me encarando com certa melancolia. Eu, em posição defensiva, tremia. Pensamentos pessimistas invadiam minha mente, mas logo, outros ainda mais depressivos eram sussurrados aos meus ouvidos. “Feras que foram criadas para serem mortas. Feras que não tem como escolher o que querem. Elas não podem ir contra a vontade de seus donos. Animais nascidos para serem mortos.”

Abaixei minha espada. Coloquei sua lamina no solo e apoiei os braços na empunhadura. Encarei o animal da mesma forma que ele me encarava, solidária.

– Byakushi!

Eu não podia ouvir. Ergui minha mão destra e o bicho desceu seu focinho. Toquei em seu nariz. Yomi, ao contrario de mim, não estava se comovendo com o olhar da quimera. Viu agora sua deixa.

A morena correu até o bicho. Deu um salto alto e encravou o galho em seu olho esquerdo. Ele recuou a cabeça e rugiu, me fazendo acordar de algo que eu não sabia que estava... Um transe. Começou a se sacudir, enquanto seu sangue escorria em todos os cantos, com Yomi ainda pendurada em seu globo ocular. Ele era esperto. Jogou-se contra uma parede, pressionando a mulher contra a mesma. Ela grunhia de dor e eu não podia fazer nada. Estava em estado de choque.

– Byakushi! Se você me deixar morrer, eu volto para te levar comigo!

Era tudo o que eu precisava ouvir. Voltei a minha posição ofensiva, segurando a espada com firmeza e corri contra o animal. Agarrei-me em sua juba, ao que ele sentiu e se sacudiu para o outro lado, querendo me derrubar, também. Com a espada em mãos, era fácil cravá-la no couro denso de Fideles. Rodei-a para deixar na posição correta e cravei-a ali. A pele entre a cabeça e o tronco, o grosso pescoço, era mais macio do que o resto do corpo. Mas mesmo assim, ela não queria recuar.

Fideles rolou no chão, querendo se livrar das parasitas e depois de tanto se movimentar, a espada escapou de minhas mãos, me fazendo cair no chão. Mais uma vez, tive um encontro romântico com sua calda, que me rebateu para longe, batendo brutalmente contra a parede oposta e deslizando até o chão. A parede era bem saliente, fazendo com que meus trajes se retalhem em pequenos pedaços de pano, e claro, que minhas costas fique com arranhões que nem mesmo Oudo pôde deixar. Eu estava mole... Não conseguia me levantar. A visão estava turva, quase em 0%, e eu via Yomi lutando corajosamente contra aquele ser vivo que para mim, era impossível de vencer. Ela deu a volta sobre a cabeça dele, e usou do mesmo galho para cegar seu outro olho. Pronto... Os olhos do lince foram fechados para sempre.

...

Quando eu acordei, Yomi havia mergulhado meu corpo nas águas e segurava minha cabeça logo acima da superfície. Percebendo meu despertar, ela sussurrou um “shhh”, para que eu não chamasse a atenção da fera, que estava me procurando dentro do salão. Dava para vê-la de longe, com a língua bifurcada para fora da boca, vibrando, procurando o nosso calor pela nossa temperatura... Mas as águas estavam gélidas. Ficaria mais difícil de Fideles nos encontrar.

Foi tarde demais quando Yomi percebeu que o animal à sua frente não usava só da língua para procurar-nos. Com o tempo, foi se aproximando, até que veio sobre nós como um touro, galopando sobre as pedras e visando mergulhar naquelas águas. Sangue. O meu sangue estava se espalhando pelo lago... Qual o cheiro mais fácil de ser reconhecido?

Na mesma hora, Yomi tampou meu nariz e me puxou para baixo. Eu não tive tempo de me preparar. Ia me descontrolar logo. O animal estava lá dentro conosco. Não podíamos nos mover. Qualquer vibração na água e nós estaríamos mortas. Cadê Saryel?!

Após dois minutos, já não suportava mais. Comecei a me sacudir, ao que Yomi me levou para a superfície. Me empurrou para a terra e pediu para que eu corresse.

– VÁ! VÁ! AGORA!

Ela gritava em pânico, enquanto me observava correr até uma distância razoável e pegar a espada que havia sido deixada ali, ao se desprender da carne do inimigo. Ao me virar, Yomi não estava mais lá e Fideles havia acabado de fechar as poderosas mandíbulas serrilhadas, como um tubarão.

– Yomi!!

Eu gritei. Meus olhos se encheram de lágrimas. Ela não podia estar ali dentro! Não... Ela não estava morta! Eu não posso acreditar nesse fato. Mas meu inconsciente acreditava. Corremos uma contra a outra como rinocerontes e nos chocamos. A quimera abriu a boca ao que eu golpeei com a espada a sua língua. Arranquei-lhe da boca e tirei fundo com ela mais uma forma de me descobrir em meio à cegueira.

Corri de volta ao templo e subi as escadarias, ao que a fera me seguiu num galope feroz. Mais baixa que meu nível, saltei sobre sua cabeça e me agarrei em sua juba novamente. Agora, só com uma mão, o que me dava estabilidade mínima. Fideles se balançou para todos os lados, até pular para trás e jogar suas costas, onde eu estava sobre o chão. Seu rabo serpenteou no chão, varrendo as pedras e ao voltar a ficar de pé, se surpreendeu quando sua parasita ainda estava ali, logo ao lado de onde havia sido chocado contra o solo.

Fideles começou a saltar igual a um cavalo selvagem. Minha espada havia sido cravada em sua espinha dorsal graças ao choque no chão. Com dificuldade, me levei até o cabo da mesma e retirei de seu couro, rompendo de vez as ligações e aleijando a quimera. O animal chocou o traseiro no chão, com as patas esparramadas pelas pedras. Eu me retirei dali. Saltei no chão, caindo sentada e novamente grunhindo de dor. Sem sair do local, ela moveu sua cabeça e foi abocanhando perto de onde achava que eu estava. O olfato e audição ainda estavam em perfeito estado. Ela, errando por pouco, jogou seu queixo sobre mim. Se atacasse alguns metros atrás, eu teria me encaixado perfeitamente em suas mandíbulas. Ergui minha espada e cravei-a na mandíbula inferior, arrancando dela mais um enorme rugido. Ela ergueu a cabeça. Seu estado já era deplorável.

Moveu seu pescoço para cima e para baixo, tentando jogar-me de volta ao chão. Eu não iria aguentar outro impacto contra as pedras afiadas. Escalei nas próprias saliências de minha arma e me segurei no queixo da mesma. Ela levantou a cabeça mais uma vez, e eu fui jogada para cima.

– Byakushi!

Por um milagre, Saryel tinha terminado seu trabalho.

– Saryel! Me ajuda!

A menina não precisou escutar duas vezes. Ergueu suas mãos para frente do corpo, e então, um rodamoinho de água se ergueu do rio e foi se aproximando, com fúria.

– Ele vai me atingir também!!

– Saia daí!!

Me soltei de suas narinas, caindo, por sorte, sobre os cascos frontais da fera, que amorteceram minha queda, pelo menos um pouco. Deslizei até o chão e corri escadaria acima novamente, ficando ao lado de Saryel. O rodamoinho atingiu a besta pela frente em sua cabeça. Eu fechei meus olhos. Os ruídos eram simplesmente perturbadores.

– Bya! Acorde!

Saryel disse. Ali, só tinha agora uma grande poça de água e Fideles agoniada no solo, cuspindo a enorme quantidade de água que havia engolido e também o sangue que jorrava do ferimento que varou sua mandíbula inferior. Mais uma vez, desci as escadas, dessa vez sentada no corrimão. Fui até o animal, que estava engasgado e puxei a arma de seu queixo. Ele só não rugiu por que não conseguia.

Ergui a espada. Ela tomou uma coloração azulada em meio às suas ranhuras. Desci com toda a minha força contra o pescoço do animal, degolando-o.

A quimera protetora ergueu a cabeça num ultimo movimento, chocando-se contra o solo mais uma vez, morta. Saryel comemorou lá em cima a derrota do inimigo, mas eu, novamente, estava em choque. Havia perdido mais uma amiga? NÃO!

– Não! Não! Não!

Fui até seu abdômen. Rasguei-lhe a carne mole com minha Orologio. E fui golpeando-o ali com ferocidade, até ver suas costelas.

– O que está fazendo?! Ela já morreu!!

– Yomi! Ela engoliu a Yomi!

Respondi, em desespero. Golpeava sem dó. A arma demorou, mas conseguiu quebrar os grossos ossos do animal. Seu estomago! Sim, posso vê-lo. Saryel desceu correndo até onde eu estava e ajudou a abrir a barriga do animal. Ela ia jogando grandes quantidades de água contra a ferida para lavar o sangue, enquanto eu finalmente rasgava o estomago.

Ele era enorme. Cabia um tigre lá dentro. Yomi estava desacordada... Mas para mim, havia morrido. Eu me ajoelhei no chão e passei a chorar. Saryel, um pouco mais forte, puxou a mulher de dentro do órgão e arrastou-a pelo solo. A pele alva de Yomi estava com leves queimaduras. Fideles estava começado a fabricar os ácidos necessários para digerir sua refeição.

– Yomi...?

Saryel chamava, com esperança. Repetiu isso mais umas 4 vezes, até que a morena teve uma reação. Puxou a jovem pelos cabelos, e rouca, sussurrou.

– Cadê Adeste?

Ela balançou a cabeça negativamente. Adeste não estava naquela sala. Nós três ficamos em silencio por alguns momentos. Na minha cabeça, a ideia mais absurda estava se formando: Adeste era Fideles. E nós... Matamos Fideles.

– Escutem...

Sussurrei. Alguém cantava uma musica um pouco obscura, mas de letra e melodia que de certa forma me relaxava. Todas nós ficamos caladas, ouvindo as letras.

– Bonfires dot the rolling hills

Figures dance around and around.

To drums that pulse out echoes

Of Darkness

Moving to the pagan songs…


( http://www.youtube.com/watch?v=eKfbVAO6VGA&feature=plcp )

–Que musica é essa? – Yomi perguntou.

– A pergunta certa seria quem está cantando... – Corrigi.

Nós três olhamos para cima, no salão, onde uma luz azulada iluminava toda a área interna. Dava para se ver, pela porta aberta. Corremos até lá, hesitando um pouco nos últimos degraus. Mais uma inimigo? Mas não...

A moça que estava lá dentro era jovem. Usava um vestido azul marinho com babados brancos e tinha um cetro... Um belo cetro com a imagem de Fideles, em prata. Ela nos encarou. Era como Aiya, sem íris ou pupilas. Os cabelos eram longos e azuis, divididos em duas partes. Cada parte tinha um enfeite que unia os fios, na frente do rosto, como se fosse um pequeno cano de plástico. Ela nos olhava, doce, fria... Não conseguia ler o que aqueles olhos passavam.

– Adeste?

– Sim...

Sua voz era angelical. Era ela mesma que cantava anteriormente. Trocamos alguns olhares, mas nenhuma palavra. Yomi e Saryel estavam ainda mais distantes que eu. A primeira a falar, claro, foi a própria Sacerdotisa. Se aproximou de mim e colocou suas mãos sobre minha testa, bem no hexágono que tinha ali. Fechamos os olhos.

“Ninguém nasceu sem nenhum propósito. Assim como a sua era salvar o seu reino, o de Fideles era de morrer por alguma razão. A única certeza que temos no mundo é que um dia vamos morrer. Então, seque suas lágrimas. Faça suas perguntas. Irei responde-las de bom grado.”

Eu não sabia por qual razão... Mas era como ela mesma dizia. Eu estava chorando pela morte do animal. Nem mesmo percebi isso, antes dela. Yomi e Saryel se aproximaram, talvez por que estava quieto demais. Adeste sorriu, se afastou e nos olhou...

– Filhas de Aiya... O que desejam?



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Notas finais do capítulo

Agradeço à Rumpel pela dica, e Legend of Zelda pela musica de inspiração: Vaati's Theme.
Eu não estou contente com o fim do capitulo. Ficou um pouco confuso, não sei. Talvez seja por que quero explorar a cena melhor no próximo capitulo e por isso não terminei esse por completo. Sei lá. Algo assim.
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