A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 7
O templo impenetrável de Adeste


Notas iniciais do capítulo

Onde Byakushi, Saryel e Yomi saem em busca de Adeste, e descobrem que seu templo é mais assustador do que pensavam. O que será que protege aqueles portões?



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Voltamos até a vila oriana da classe Ouros. Todos que conheciam Chu e sua família abençoaram o corpo da pequena, que estava em meus braços. Suas amigas gritavam horrores mas o mais difícil foi enfrentar seu pai.

Quando chegamos na casa do homem, ele já tomou a filha nos braços e se derramou sobre a pequena. Eu fiquei de longe, vendo o quanto aquela raça era sensível. A diferença era que um oriano emitia apenas sons... Não conseguiam derramar lágrimas.

Yomi acordou em meio ao escândalo. Desceu as escadas e bocejou, arregalando os olhos esverdeados quando viu aquela cena.

– O que houve aqui?

– Fomos buscar Mari... – Fui interrompida por mais um grito do pai. – E acabamos perdendo Chu num embate com Oudo.

– Oudo? Aquele grandalhão? – Yomi se aproximou, tocando na face da pequena, também abençoando sua alma.

Segundos depois, o senhor bateu na mão da morena para ela se afastar. Era só ele e a filha agora, mas eu precisava de uma informação antes de ir embora.

– Senhor... Eu... Eu preciso de uma informação. Chu pediu para procurar... Adeste.

– Você matou minha filha. Ainda acha que merece ajuda?! – Respondeu o homem, ainda debruçado contra sua pequena.

– Foi um desejo dela, não? – Retrucou Yomi. – Se você a amasse, realizaria seu ultimo desejo! – A mestra em desmontar pessoas.

Ele finalmente aceitou ajudar. Contou que ninguém havia visto a forma de Adeste. Dizia a lenda que em Sanddrif, Adeste ficava num lago congelado. Congelado por Venite, quando tomou poder. Disse que era só um ser mitológico. Que ela não existia.

– Se ela existisse... Onde você acha que ela estaria?

– Há duas opções... O farol negro, onde Zatsu está junto com os chefes dos reinos, ou no castelo de Eisblume.

Quando ele citou o nome da mulher, eu encarei Mari e ela me encarou, nervosa. Engolimos seco, ao que ele prosseguiu. Disse que seria impossível manter um ser mitológico dentro de um palácio pagão. Falou que Eisblume teria de ter colocado a mulher em algum lugar do seu jardim. Isso nos aliviou em parte, mas ele prosseguiu.

– Fideles deve ser a raça guardiã desse “templo” – Já calmo, pôde olhar nos nossos olhos. – É uma quimera que simboliza poder e superioridade. Sempre é representada com uma bola na boca...

– Fideles, o animal que devora o mundo. – Disse Yomi, se lembrando de ter lido algo assim nas anotações de Aiya.

– Diz a lenda. – Ele deu de ombros. – Eu não acredito em lendas.

– Sua filha parece ser bem crente nessa lenda, em particular.

A honra de uma oriana de Ouros é morrer sendo útil para alguém. Pai de Chu sabia disso. Levou o corpo da menina para perto da criação de Buarthas da pequena vila e entregou seu corpo para os filhotes, que devoraram alegres. Após fazê-lo, ele nos desejou boa sorte.

Viramos de costas... Seguimos para onde seria as muralhas de Conchita. Estava eu, Yomi e Mariska perto dos portões... Quando eu tremi ao me relembrar do que passamos no Castelo de Gelo Azul e ri, me chamando de louca, doente, masoquista... Meu braço ainda doía das cacetadas que levei da faca de pedra.

– EU NÃO VOLTO MAIS LÁ!

– NEM EU! – Concluiu Mari, cruzando os braços e se mostrando ‘útil’. O lado Saeris de Yomi riu do nosso desses nossos comentários.

Entramos. Yomi guiou Mari até as geleiras de Caitlyn. Eu fui recebida por um loiro bem animado e extrovertido, que na hora, estava extremamente preocupado.

– BYAKUSHI! – Ele se chocou contra mim, abraçando-me deliciosamente. – Você está bem? Eu senti tua falta!

Era Kenji. Kenji é meu namorado desde os meus 15 anos. Não era um namoro liberado, pois eu tinha de me conservar na figura virginal, mas ele não economizava beijos quando estávamos sozinhos. Kenji sempre foi meu pilar principal. Sempre que eu estava com medo ou desanimada, ele me reerguia. Era o símbolo de luz e coragem em Conchita. Naquela tarde, ele me forçou a repousar. Deitou-se do meu lado e deixou Aurora cuidar de seu território. Ele cuidaria de mim até descansar. Meu braço foi enfaixado, ele contou todas as minhas costelas e mediu temperatura.

Ele virou a noite do meu lado. Acariciava meus cabelos enquanto eu perdia a consciência lentamente, até dormir.

Quando eu acordei, Kenji estava debruçado em minha escrivaninha, dormindo. Eu chamei pelo seu nome, e ele despertou na hora.

– Ken, chame Saryel. Acho que para a aventura de hoje, ela será a melhor opção.

– Então eu vou com ambas. – Ele disse, se levantando e ajeitando as roupas.

– É perigoso.

– Então você não vai.

– KENJI! – Exclamei. O loiro arregalou os olhos, me encarando.

Apesar de sempre ser protetor, Kenji sabia que eu tinha alma livre. Se eu estivesse determinada a fazer algo, eu faria. Era o caso. Eu queria saber quem era Adeste, se ela realmente existia, se ela podia me ajudar a acabar com reinado de Zatsu, tanto em Aljha Rhara, quanto em Sanddrif.

Aquelas pessoas bondosas não podiam ser dominadas por aquele exercito horrendo. Será que os cinco lideres aprovavam essas escolhas de Zatsu? Por que ELE fazia tudo? Por que o farol negro era dele? Se tanta gente está aqui, é por que o rapaz fez algo com o mundo deles. E as respostas... Só Adeste pode ter.

– Tudo bem, Bya. – Disse ele, desanimado. – Vou chamar Saryel.

...

Então havia nova formação: Eu, Yomi e Saryel. Fizemos todos os caminhos de novo, mas agora não me perdi. Eu tinha uma memória fotográfica. Claro que... De montaria demorava bem menos para chegarmos ao destino.

Quando começamos a senti o vento frio, eu me joguei no chão, ofegante. Saryel e Yomi estavam bem mais descansadas que eu. Claro. Elas não lutaram com um monstro de três metros. O vento fazia minhas feridas arderem mais do que deveriam.

–Por favor. – Sussurrei. – Que não tenha nenhum outro inimigo.

Quando entramos nos jardins, a cena foi um pouco diferente. Haviam arvores caídas, e animais mortos espalhados por todos os cantos. A neve branquinha estava rosada pelo mar de sangue. Eisblume estava mesmo bem nervosa.

Procuramos por alguma cabana. Reviramos os jardins, nos perdendo varias vezes, mas reencontrando o caminho graças ao senso de direção de Yomi.

Andamos em círculos, mas finalmente encontrei uma passagem secreta por meio do labirinto. Era uma grande pedra, com um buraco grande o suficiente para alguém magro passar engatinhando. Nós três éramos magras. Passamos.

A presença de Saryel fez com que as pedras iluminassem. Não eram aquamarines, mas era algo parecido, de mesma beleza. Seguimos gruta adentro, tremendo de frio, até que sentimos o chão sumir de nossos pés.

Deslizamos por uma espécie de tobogã, mas quando vimos seu fim, eu me atarraquei nas curvas. Saryel estava atrás de mim e Yomi atrás dela.

– Bem, estamos todas em ordem?

– Sim! – Responderam em coro.

– Perfeito... Não dá pra escalar. Temos que descer daqui e ver onde vai dar.

– Eisblume não poderia ser tão burra a ponto de construir uma gruta com um escorregador que dá pro nada. E se ela quiser entrar? – Comentou Yomi.

– Só se soltem ao meu sinal. Eu vou primeiro. – Coragem, mulher. Você precisar ter!

E fui. Me joguei em meio às trevas e elas me engoliram. Eu ia me espatifar no chão. Já esperava por isso, mas algo amaciou minha queda. Emergi daquelas águas escuras, e não sabendo se dava pé, me agarrei na parede da gruta. Não era boa em natação. Fui andando pela beirada, até sentir o chão. E o chão estava cada vez mais alto... Até que as águas foram deixadas para trás. Eu não via nada. Só sentia o cheiro de algo irreconhecível. Ardia o nariz, espirrei inúmeras vezes, até que então bati a testa em uma parede.

– SARYEL! YOMI! PODEM VIR! – Gritei, ao me certificar de que não havia perigos por ali.

Segundos depois, escutei as duas mergulhando, em silencio, bem diferente de mim que gritei até sentir as águas. Assim que Saryel voltou à superfície, as paredes brilharam como mais cedo. Eu percebi que não bati numa parede, e sim num portão. Um portão que estava com o mesmo losango de todo o castelo. Não havia fechaduras, nem trincas. Era uma chapa de aço. Saryel tocou no portão e o losango brilhou , rodando três vezes até se mostrar ser a própria maçaneta do local. Eu me perguntava: Por que só Saryel era compatível?

Adentramos. Vimos a imagem do lugar mais lindo do mundo. O chão era tão brilhante que parecia um espelho. Perto das paredes, havia um fino e longo jardim, com flores e pequenas arvores frutíferas. Esse jardim rodeava a sala toda. Havia uma escada. Uma escada larga, tão brilhante quanto o chão. Ela dava para um andar superior, um mezanino, com uma porta de madeira em um dos cantos, cuja tal só podia ver a parte superior.

Subimos as escadarias. Chegamos lá em cima e vi que a mesma estava trancada.

– Vamos fazer o seguinte: Saryel, você vai pela direita, Yomi, você vai pela esquerda. A chave pode estar aqui em cima, quem sabe.

E elas foram. Enquanto isso, tentei arrombar a porta. Nós três tivemos resultados negativos. Saryel, ao voltar, se encostou na porta, achando que sua presença destrava tudo por ali, mas não foi bem assim. Então, já estressada, Yomi chutou a porta, ao que ela quebrou. Não quebrou a ponto de nos deixar passar. Foi mais ou menos o que aconteceu com Oudo no castelo: Yomi estava com a perna presa.

– Maldita!!! Porta maldita!

Ela começou a se agitar. Agitava com força, tentando sair dali sem ferimentos, mas então...

– Bya... – Ela disse, com a voz tremula.

– O que?! A madeira feriu você? – Respondi, ficando nervosa.

– Não...

Ela descreveu o que sentia. Algo quente e molhado deslizava pela canela e ao chegar no joelho, ela pode sentir que era fino e biforcada. Os olhos verdes dela estavam arregalados. Nervosos! E ela estava em estado de choque. Mal pode sentir eu e Saryel segurando em sua cintura e contando até 3, para puxá-la para trás. A madeira trincou mais, deixando que a perna escapasse.

Pelo vão, enormes olhos de lince nos encaravam. Eu tremi. Ambas estavam em choque até para isso.

Ele deu um baque na porta, ao que ela se trincou ao meio. Nós descemos as escadas as pressas, mas não víamos saída. Logo, o grande animal estava ali, parado, com as patas dianteiras nos degraus e as traseiras ainda dentro da porta. Eu revi em minha mente a figura congelada daquela quimera no castelo de Eisblume, e pensei comigo: Tantas quimeras desse tamanho... Mortas pela princesa?!

Yomi sussurrou no meu ouvido um plano: Enquanto eu e ela ficávamos lá embaixo, Saryel, a compatível, subiria no andar superior e procuraria Adeste por lá. Não dava para saber se havia mais algum cômodo. A besta não deixaria.

Seguindo o plano, assoviei. Como já esperado, Fideles trotou até nós, parando a poucos metros. Os grandes olhos felinos me encaravam, em particular, e ela rugiu, ao que a língua sambou pelo ar antes de voltar para dentro da boca.

Yomi nessa hora estava brincando com um galho. Ela precisava de uma arma, enquanto eu já estava com a Orologio preparada para mais um combate.

Minutos depois, ela finalmente chegou com sua “espada” e se colocou ao meu lado. Demos alguns passos para trás, ao que a fera acompanhou. Saryel aproveitou a deixa para subir as pressas aquela escada e finalmente invadir o salão de Fideles, mas a quimera percebeu. Se virou brutalmente, sacudindo o rabo escamoso de crocodilo e nos rebatendo para o lado. Yomi me serviu de apoio. Enquanto ela me segurava para não deslizarmos pelo chão, e preparei Orologio e girei a espada em mãos, atirando-a como uma lança na cauda grossa. Nesse momento, Fideles rugiu daquela forma assustadora e voltou a me encarar com o rabo dos olhos.

– Parabéns... Compramos a briga. – Disse Yomi, me soltando e voltando a pegar o galho que havia caído.

– A briga já estava comprada! – Eu avancei sobre a minha espada, e acabei sendo erguida pela cauda. Ela sacudiu-se inúmeras vezes, mas eu havia me agarrado nas escamas com força. Quando aterrissei no chão, retirei a espada e me coloquei em posição defensiva.

Era agora ou nunca!



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Notas finais do capítulo

Historia pausada por algum tempo. Isso por que eu estou sem ideias para a luta entre a quimera e Byakushi.
Se vocês tiverem alguma ideia, deixem em Reviews. Irá ser de grande ajuda!



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