A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 6
Dentro do Castelo de Gelo Azul


Notas iniciais do capítulo

Chegando ao palácio da princesa oriana, Byakushi descobre um pouco mais sobre uma das classes de Orion.
Lutas e sacrifícios as aguardam... E pela primeira vez, a albina saberá o que é perder alguém.
Como ela irá reagir?



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Chu aconselhou que eu retirasse meus calçados. Ela mostrou que andar descalço, como Oudo faz, é mais seguro naquela estrada.

Demoramos aproximadamente 7 minutos até chegar nos portões. Tão grandes, pareciam com os de nossa muralha. Era inteiro de ferro, com o mesmo losango que estava em todo o resto do jardim. Bater na porta não era viável. Oudo poderia parecer e quebrar nosso pescoço. Não havia janelas baixas, a parede era lisa, não dava para escalar. Chu olhou para a porta, e depois olhou para mim, pensando um pouco. Antes de eu imaginar o que faria, ela deu um baque no aço, e por sua sorte, estava aberta.

– Oudo não é muito esperto. – Comentei, ao que ela riu.

Passamos pelo pequeno vão da porta e logo, estávamos lá dentro, no meio de uma imensidão cristalizada. Do lado interno das portas de aço, havia dois seres enormes, congelados, com cabeça de leão, corpo de tigre, patas de cavalo, asas de morcego e um rabo de crocodilo. Ambos estavam com as bocas abertas, com uma esfera de gelo entre os dentes, amassando a língua longa, fina e biforcada de uma serpente. As esferas continham um brilho metálico melancólico.

Puxei Chu para perto, protegendo-a. Caminhamos por um longo tapete azul, contrastando com o chão brilhante, alvo. As paredes brilhavam, e o teto estava cheio de estalactites de gelo. Aquele salão, aparentemente, não havia nenhum móvel, além de inúmeros espelhos colocados lado a lado, apontados para quem estava no tapete. Me senti zonza ao olhar para ele e ver minha imagem multiplicada.

Chu seguiu firme, pisando sem medo, enquanto eu, do seu lado, me sentia vulnerável. Cruzamos o salão, chegando a um batente sem porta, que dava para outro ambiente. Nos entreolhamos, engolimos seco e fomos em frente.

O próximo ambiente era uma sala de estar. Havia um aquário enorme que tomava uma parede inteira, e dentro dele estavam pequenos cavalos com cauda de peixe. Chu me contou que em Sanddrif, quimeras aquáticas chamadas de Buarthas, o mesmo tipo de animal que usamos como montaria, são criados assim, em água, e só depois de um longo tempo de vida que conseguiam sair e servir aos Orianos. Eisblume tinha a mania de retirá-los da água cedo, quando ainda não estavam prontos e depois os colocava em aquários, para enfeitar.

Do outro lado da sala, havia um sofá, uma lareira com fogo azul e dois vasos sobre ela, com flores brancas, de pétalas pontudas como espinhos. Era a famosa Eisblume, como Chu disse, a flor que deu o nome da princesa Oriana, por ser linda e perigosa, como a bela flor. O sofá era acinzentado, e como o resto do castelo, também tinha um losango azul em seu encosto. Me sentei lá por um tempo, para colocar os sapatos. Encarei porta-retratos numa estante, redondos e também congelados. Haviam fotos de varias pessoas diferentes, e eram separados em 4 partes.

– O que é isso? – Sussurrei, ao que Chu se aproximou e pois a explicar.

– Sanddrif é um planeta médio, dividido em apenas quatro reinos. Numa pesquisa, nossa rainha falecida Aiya levou consigo um baralho, com os naipes. Os quatro chefes gostaram dos símbolos e adotaram. Genitum chamou seu território de, traduzindo para a língua de vocês, Espada de Genitum. Venite, mãe de Eisblume, chamou seu terrtório de Ouros de Venite. Fideles chamou seu território de Fideles de Paus. Os gêmeos Lumine e Lumen nomearam sua província de Lulu de Copas.

– Sim, isso explica boa parte, mas... – Fui interrompida.

– A parte da estante em rubro é do reino de Genitum. A parte em azul é de Venite. A parte em verde é de Fideles. A parte em roxo é dos gêmeos. Todas as imagens são dos guerreiros de cada província, conhecidos como Exército Mirabilia.

E ao se virar, ela me viu anotando tudo no bloco de Yomi. Antes de sair, me lembrei de pegá-lo. Infelizmente, deixei as paginas avulsas que foram retiradas na casa de Chu. Eu vi seu belo sorriso, como se ela estivesse orgulhosa de que alguém estivesse se interessando pela historia da sua espécie. E eu estava mesmo. Anotei tudo de forma organizada, não esquecendo de nomes. Me levantei, mas antes de ela permitir que eu saísse daquele cômodo, prosseguiu com a ultima parte da explicação, de forma misteriosa.

– Ghanida, Oudo e Eisblume, Pleiades, Vathya e Melina.

Escrevi os nomes de forma avulsa, no fim da folha, e guardei o bloco mais uma vez. Me virei e fui em direção da outra porta. Mas Chu hesitou um pouco, pedindo para que eu esperasse um pouco antes de abrir a porta, mas um grito agudo que eu já conhecia chamou minha atenção e eu fui contra suas ordens. A próxima sala era um corredor. Eu olhava para todas as portas. Quanto mais eu avançava, mas o corredor ficava mais longo aos meus olhos. Eisblume era mestra em confusões, pelo visto.

Também meus olhos. Pedi que Chu me virasse. Ela o fez e ao parar, apontei para uma porta totalmente avulsa. Chu girou a maçaneta e abriu. Invadimos o quarto como policiais. Era um tipo de salão de jogos, mas de apenas um jogo.

– Analisando bem essa sala, que tem pinos no chão e paredes, o desafio e acertar o pino certo para seguir.

Eu ri. Era quase impossível. Eram dezenas de milhares de pinos ali. Eu iria escolher outra porta. Dei meia volta e fui em direção a saída, mas algo me barrou. A porta não abria, não importava minha força. Havia o desenho de uma espada de forma peculiar, qual nunca vira antes. Chu exclamou espantada atrás de mim: É a espada Orologio.

Dei de ombros. Agora eu teria de jogar aquele maldito jogo. Amaldiçoava Yomi por não estar comigo. Coloquei a mão sobre o hexágono de minha testa e me concentrei. Pegando as argolas que eu teria de acertar nos pinos. Eu tinha 10 chances.

...

Joguei a ultima argola, acertando um pino azul. Chu estava separada de mim, ela num bloco, eu em outro. Entre nós havia um enorme buraco que se formou com os blocos de piso que caíam conforme eu errava. A menina estava encolhida, com medo daquele ultimo bloco cair, mas não. A porta se escancarou e o piso se reergueu das profundezas. Pisei em um... Era firme. Logo, atravessamos tudo novamente e chegamos até a porta.

Ao atravessar, Chu puxou a porta com tamanha força, que nem eu pude acreditar. Ela estava irritada pelo tamanho susto. Eu também estava assustada, fato só comprovado quando minha respiração oscilou, agora que eu estava voltando em mim.

Apesar desse episodio, Chu entendia a razão dos jogos. Eisblume era gamista e nada humilde, que pensava sempre em si mesma. Seu pensamento era único:

“Ou você acerta, ou morre. Ou você é do meu nível, ou é lixo.”

– Nenhum prêmio? – Reclamei, ao que ela riu novamente e negou com a cabeça.

Mas havia algo diferente na sala. 15 portas estavam com o mesmo desenho da espada. As outras estavam com losangos.

– São duas. – Chu disse.

– Vamos abrir ambas juntas. – E cada uma pegou numa maçaneta diferente.

– Um...

– Dois...

– Três! – Gritei, giramos as maçanetas.

Para nossa surpresa, ambas as portas davam para a mesma sala: Sala de Jantar/Cozinha de Eisblume e Oudo.

Espere... Orianos não comem. Qual a razão deter uma cozinha aqui? Eu não via lógica, mas Chu parecia ver. Orianos não precisam comer, mas comem por prazer. A mesa era um losango, para variar, e continha apenas 4 cadeiras, o que achei um desperdício. Caberia umas 16 ali. Sobre a mesa, havia um vaso de eisblume bem no centro.

O cômodo era bem limpo. A cozinha no entanto era imunda. Não imunda tipo não foi limpa a anos. Imunda tipo...

– Aconteceu uma carnificina aqui! – Exclamei.

Chu tampou o nariz. O cheiro embrulhava o estomago, tal como a visão.

Haviam muitos pedaços de corpos ali. Todos eram Orianos da classe Ouros, pela cor da carne (branca) e sangue (azul), mas o cheiro de podridão era igual aos mortos na Terra. Aquele cômodo não era de gelo, o que achei que foi feito de propósito.

Chu estava encarando para uma mão em particular. Caminhou entre os cadáveres retalhados e tocou na mão, pegou-a e me encarou com espanto, antes dos olhos se fecharem, como se quisessem derramar lagrimas, mas nada saía.

– MÃE! – Ela gritou.

Eu pude perceber. Ela tinha o mesmo anel azul redondo que Chu carregava consigo. Ela passou a procurar dentro da pia cheia de água alguma outra parte de sua mãe, e encontrou a cabeça.

Diferente de tantos, o rosto de Anjou, como a menina chamava, não estava desfigurado. Dava para ver seus longos cabelos azuis e olhos esverdeados. A pele dela era mais clara que a de Chu.

Lembra que os Orianos apreciam o canibalismo?

Apesar desse capitulo, Chu prosseguiu ao meu lado com vitalidade revigorada. Ela só sentia-se um pouco mais carente que antes, segurando minha mão e as vezes pedindo que eu parasse de andar e me sentasse na primeira cadeira para ela ficar no meu colo. Era o momento que eu prestava minha solidariedade, acariciando seus cabelos.

Atrás da pia da cozinha havia uma escada que dava para o andar superior. Subimos, claro.

Chu pediu para eu ficar com o anel de sua mãe, o que não pude negar. Era muito bonito. Estávamos conversando sobre isso até chegar a mais um corredor. Eu ouvi outro grito de Mariska, qual ergui a cabeça como um suricate.

Esse corredor, diferente do anterior, tinha de um dos lados 5 portas azuis. Do outro lado, havia apenas uma enorme porta também azul, de três abas.

Eu tremi. Se aquele fosse algum quarto, seria o de Oudo. Mas antes, preferi dar uma olhada nas portas pequenas.

Abri a primeira. Era um pequeno banheiro, lotado de espelhos e uma banheira de gelo. Tive a curiosidade de ver como a água escorria ali. Possivelmente, era super gelada. Liguei o chuveiro, e para minha surpresa, a água era morna. Reparei que a parte interna da banheira era de porcelana, e só a de fora era de gelo. Mesmo assim, o calor não faria com que derretesse? Aguardei alguns minutos. Nada, além de uma densa fumaça acontecia. Então desisti. Se fosse derreter, já teria derretido.

– Vamos... Sua amiga corre perigo. – Chu me recordou, ao que eu confirmei com a cabeça. Não havia tempo para brincadeiras.

Abri a segunda porta. Era um belo quarto, azul, roxo, branco e rosa, bem delicado para ser de uma assassina como Eisblume. Mas os vasinhos com a mesma flor do resto do castelo comprovava que era. Me sentei na cama. Era confortável. Confortável mas bem gelado. Chu torcia os lábios sempre que eu elogiava o gosto da princesa.

– Não quer salvar tua amiga? – Me apressava.

Ela tinha total razão. Eu estava perdendo tempo, mas não era por isso que ela queria que eu apressasse. Ela estava louca para voltar pra casa e contar logo ao pai sobre quem está por trás do desaparecimento de Anjou.

Corri de imediato para a outra porta. Abri sem demoras e lá estava, para minha surpresa, todas as armas de Eisblume.

– Eu conheço essas armas. São todas do exército de Ouros, destruído após batalhar com tantos outros. Não me surpreende que Eisblume tenha ficado com elas...

– Ela é por acaso a filha de Zatsu? – Perguntei, já me aproximando de uma espada em particular.

– Sim. Filha mais nova de Zatsu com Venite, uma de suas esposas. É também sobrinha de Aiya e...

– Espere. – Disse, virando-se para ela. – Se Aiya e Zatsu são irmãos, quer dizer que Zatsu é o tal Shin que ela tanto fala?

– Essa informação não posso lhe dar. Eu o conheço realmente como Zatsu.

Eu concordei com a cabeça. Voltei a encarar a espada... A famosa Orologio, só que agora com toda as suas 3 dimensões. Toquei na empunhadura, desci pelas lâminas e tirei-a das mãos de um anjo, que encarava-a triste.

– A lenda disse que Orologio é a espada dos demônios. Dizem que a lâmina veio da aureola de anjos caídos e que ao sacudi-la, você ainda escuda os gemidos de dor dos espíritos.

– É bem pesada. – Ergui-a com uma das mãos, vendo se eu suportava seu peso. Quando a resposta foi positiva, partimos para as grandes portas.

Eu olhei para Chu. A menina olhou para mim e ficamos ali, paradas como estátuas, esperando quem teria a primeira reação. Ela me recordou que se eu demorasse muito o fim de Mariska seria parecido com o de Anjou.

– Tem razão. –Respirei fundo. – Vamos lá.

Empurrei uma das abas da porta até ter espaço o suficiente para que eu e minha parceira conseguíssemos entrar. O que vi foi inesperado. Mariska estava como se fosse crucificada. As mãos estavam amarradas bem abertas e os pés estava juntos perto do chão. Ela estava chorando, com a boca recém coberta. Olhei para os lados, procurando Oudo, mas ele não estava ali... Pelo menos não era visível ainda. Contem no mínimo 30 das mesmas quimeras colocadas na porta de entrada. E essas não estavam congeladas. Até cores tinham. O chão era escorregadio, o que me fez tirar os sapatos novamente. Mari me olhava com uma esperança revigorada, mas ela sabia de algo, e por isso balançava a cabeça negativamente para eu não avançar.

– Mari... Eu preciso te tirar daí! – Contrariei-a, já me aproximando.

Derrapei algumas vezes, mas a espada me serviu de apoio. Já a um metro dela, escutei um som que realmente não gostei de ouvir. Olhei para trás e lá estava Chu, prensada contra a parede por uma faca enorme de pedra, que parecia dividi-la ao meio. Isso me fez voltar correndo para perto da porta.

– CHU! CHU! De onde essa droga veio?! – Gritei, em desespero, largando a espada no chão. Tentei desprender a grande faca de seu abdômen, mas era tarde demais.

A menina tossiu sangue, ao que eu tive de parar. Estava piorando a situação. Coloquei a cabeça dela sobre meu peito e pedi para que ele respirasse e não fechasse os olhos. Ela disse que não conseguia respirar. Disse que o pulmão foi furado pelas suas costelas.

– Chu! Você vai sobreviver... Eu sei que vai! – Disse, ainda com um fio de esperança.

– N...Não vou. Eu... Eu quero que... Que escute mais algo sobre a raça azul oriana. – Ela fechou os olhos, mas ainda estava acordada.

– Diga... Diga o que é. – Eu tentava engolir meu choro. Estava tremendo muito.

– Pri...Primeiro, não chore por mim. Isso é uma ofensa. – Ela respirou fundo, conforme podia, para continuar. – Peça ao meu pai para te levar a nossa sacerdotisa Adeste. Ela vai te ajudar no resto da sua viagem... Você... Você nem vai se lembrar de... Mim.

– Adeste... – Ergui seu rostinho com a ponta dos dedos e toquei a testa com os lábios.

A menina soltou um ruído com a garganta, emocionada, e deu seu ultimo suspiro. Deitei sua cabeça sobre a grande pedra que esmagara seu ventre. Até Mariska fechou os olhos, triste. Eu orei pelo espírito da pequena. Disse para que os anjos a guiassem até sua mãe. Ninguém mais iria separá-las.

Mariska gemeu novamente, para me acordar. Por puro instinto, me joguei para trás, desviando de outra faca enorme, igual a que matou minha amiga. A arma se cravou na parede atrás de mim. Eu encarei o local de onde ela veio e encontrei seu dono.

– Oudo. – Peguei a minha espada. – Você vai pagar pelo o que fez.

O monstro rugiu, saltando de lá. Correu atrás de mim como um enorme rinoceronte. Eu pulei para o lado, desviando de seu ataque. Oudo tinha um pé enorme. Era proporcional aos seus 3 metros. E eu, tão pequena, não tinha vantagens.

Ele pegou uma de suas facas com facilidade. Depois, se aproximou para puxar aquela que tinha acertado Chu. Moveu um pouco o cabo até desprender-se dos ossos metálicos da jovem. Ela deslizou pela parede, sentando-se no chão. Acha que eu fiquei só observando? Nessa hora já estava logo atrás dele, com a espada pronta para furar sua perna. Infelizmente ele percebeu. Virou seu grande braço, e me rebateu com a faca. Eu deslizei para trás no chão, mas usei a arma para não cair no chão.

Agora que Oudo estava armado, estava mais confiante. Ele avançou sobre mim, passando a faca canhota na altura dos meus pés. Após o meu salto para esquiva, ele me atacou com a direita, batendo em cheio em meu ombro.

Eu voei para um dos lados, rolando no chão e parando na base da cruz que Mari se encontrava. A garota gemeu em pânico novamente, mas eu não estava desacordada. Cravei Orologio no chão e me reergui. Cambaleante, usei da madeira para me apoiar.

– Já venho te salvar. –Com essas palavras, ela suspirou, aliviada.

Minhas palavras são sempre promessas. Mariska sabia disso.

Caminhei em direção dele, já reencontrando meu equilíbrio. Meu braço esquerdo que foi atingido estava sem movimento. Eu teria que empunhar a espada com uma mão só. Ele juntou as mãos rente ao peito, em xis, e depois os abriu, cruzando as armas em meio ao ataque. O vão entre ambas as lâminas de pedra era de mais um menos um metro, cujo tal consegui passar em um salto. Aterrissei perto dos seus pés e agarrei em sua calça.

Oudo sacudiu a perna, tentando se libertar de mim, mas não conseguiu. Eu girei a espada em minha mão direita e cravei-a em seu abdômen grosso, fazendo uma fina fenda. Ele conseguiu se livrar de mim com um chute, ao que voei para trás mais uma vez. O grandalhão estava rugindo de dor. E isso o deixou ainda mais furioso. Ele investiu em mim mais uma vez, cravando as facas no chão. Para desviar, saltei sobre seus braços e me agarrei no seus músculos. Sem demora, peguei com dificuldade a pesada arma com a mão canhota e golpeei seu braço. Ele se sacudiu pela enésima vez, me fazendo cair no chão. A espada voou longe, para meu desespero.

O monstro se aproximou de mim. Ergueu o pé sobre meu corpo e desceu com toda a sua força. Antes, consegui rolar para um dos lados, desviando. Fechei os olhos. Estava cansada demais para esquivar mais uma vez. Eu sentia as pesadas gotas de seu ferimento pingarem em minha roupa e escutei um novo rugido, acompanhado do som irritante de algo se quebrando. Abri os olhos e olhei para o lado.

O pé direito de Daniou estava dentro da camada de gelo que trincara com seu peso. Ele tentava se mover, se soltar, mas seu pé estava realmente bem preso. Eu me levantei, ao que fui recebida com um coice daquela faca de pedra, num movimento que ele fez com o braço ferido. Eu agarrei a ponta da faca e deixei meus pés derraparem para trás. Logo, vi um vulto negro por baixo da camada de gelo... Pensei um pouco sobre o que fazer, mas fui interrompida quando ele moveu o braço para o lado oposto e me puxou.

– WOW! –Gritei, “voando” agarrada na faca por uns breves segundos, até aterrissar novamente.

Agora, eu estava perto da minha espada. Soltei-me da faca e corri até ela, cravando as pontas duplas fortemente no gelo, fazendo um buraco. Retirei novamente, e pulei para trás, quando a faca veio novamente para cima. Corri para o outro lado, atrás de Daniou, e cravei-a novamente.

Daniou parecia perceber o que eu queria fazer. Se agitou brutalmente, tentando tirar o pé da fenda, mas só conseguira quebrar ainda mais o gelo. Era isso que eu queria.

Fiz mais dois buracos. Depois, me afastei e joguei a espada com força sobre seu abdômen largo. Ela cravou na pele e músculo, não atingindo nenhum órgão, infelizmente. Ele puxou a espada e jogou num canto qualquer.

Começou a se mover para todos os lados. As trincas ligaram os quatro furos que fiz, e aquele pedaço de gelo foi despedaçado. Eu e Mariska podemos o ver soltando mais um rugido rouco antes de submergir nas águas gélidas, onde sabia que tinha uma criação de Buarthas. Reconheci sua sombra no gelo, e elas não eram crianças. Já eram quimeras adultas. Vi duas delas lutando para ver quem ficaria com qual carne de Oudo, e senti um aperto no coração. Depois, me lembrei do que ele fez com Chu, e a dor passou na mesma hora.

Me reergui, peguei Orologio e segurei-a com dificuldade entre as mãos. Andei até Mariska, cortei suas cordas e desprendi sua boca. Após uma bronca, perguntando por que eu havia demorado tanto, ela me abraçou e beijou meu rosto.

– Obrigada... Obrigada!

– Nada... – Respondi, vazia.

Soltei do abraço e caminhei até a pequenina. Abaixei-me até ela... Toquei em seu rosto gélido. Ela estava com um sorriso nos lábios. Eu também sorri. Entreguei a espada para Mari e tomei Chu nos braços. Eu a levaria comigo.

Quando demos os primeiros passos para fora da sala, senti uma presença atrás de mim. Me virei de imediato, achando que Damiou tivesse voltado, mas para meu azar, o problema era maior.

– Você matou Oudo?

Eisblume estava ali, com os braços cruzados, corpo levemente arcado para trás e expressão contrariada, irritada, surpresa. Encarava o buraco, onde uma enorme quantidade de sangue emergia e manchava as águas claras.

– Ele sequestrou Mari e matou Chu.

– Eu vou vingar a morte de Oudo, certo? – Ela estava com uma voz calma demais.

Olhou para mim, com os olhos vazios, e sorriu, mostrando os dentes, com ar de deboche. Sussurrou um assustador “você vai morrer” e completou logo depois:

– Vai morrer após ver o ultimo Conchitano em pé em sua província. – E sumiu.

Nervosa, eu? Imagine... Derrotei Damiou Oudo. Derrotar Eisblume, princesa da classe oriana Ouros do planeta Sanddrif seria fichinha.



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Notas finais do capítulo

A morte de Chu foi programada por que eu não conseguia ve-la em mais nenhum capitulo. Eu já estava planejando a caçada à sacerdotisa, mas não sabia como fazer. Isso caiu como uma luva.
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