A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 4
O ano vermelho


Notas iniciais do capítulo

Explorando o lado de fora das barreiras, as garotas descobrem o plano que o líder oriano está tramando contra as terras de Aljha Rhara. Ele parece ser forte. Qual será o contra-ataque?



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“Vocês sabem... Sem a minha pessoa, terá de existir uma líder de todas as lideres. A governanta das governantas... E a pessoa que mais acho que é páreo para essa tarefa é você, Byakushi. Você governará Conchita... E transformará essas terras em cidades perfeitas. Você é a escolhida.”

A maior alegria de todas é se tornar uma governanta chefe. Com o passar dos anos, me especializei em cuidar dos conflitos que vieram com o passar do tempo. Com o pessoal crescendo, sinto que os hormônios ficam a flor da pele. Desde o falecimento de Aiya, o grupo estava a beira de uma guerra entre si, mas eu aprendi com a mesma como resolver cada discussão.

Estou com 19... Ou seja, já se passaram 7 anos. Aquelas terras que eram quase totalmente vazias foram aos poucos se tornando cidades. Voltamos para a Terra muitas vezes, para recrutar pessoas para nos ajudar, seguindo o que nossa líder nos disse: A faixa etária deveria ser entre 15 a 35. Foram exatas 300 pessoas por governanta e 60 casas foram erguidas por cada uma. Viraram pequenas cidades... Isso me alegrava.

Era como Aiya disse. A primeira família de Aljha Rhara me aceitava como mestra... Me ajudava sempre que possível, com exceção de algumas parceiras. Logo,um trio fortíssimo foi feito: Eu, Mariska e Yomi... Sim, a Saeris.

Aiya fez algo com as guardiãs e Saeris. Eu sinto que seja algo parecido com uma lavagem cerebral... E cada uma recebeu um nome assim que sua habilidades foram completamente restauradas. Caitlyn agora se chama Claymore; Meiying é agora conhecida como Tai; Danya foi nomeada como Elion; Acalântis foi chamada de Aurora; Katrinah é agora Kikuri; Cinara agora se tornou Coralinne; Kita virou Akune; Murasaki se chama agora de Purpura; Josephina voltou a ser Lunatus. Achila é a grande Azura e... Saeris, a única que não é guardiã, lembra de sua antiga vida e nome... Yomi.

Eu, Byakushi, adoro brincar com os animais pela manhã. Lembrar de que estou viva e agora numa ótima situação. Meu animal é o Leão Albino e ele sempre me acompanha. Hoje, por alguma razão, o céu está encoberto por nuvens e o sol não apareceu. As vezes venta forte e o tempo está bem frio. Aiya dizia que isso era alguma maldição, que caía em Aljha Rhara quando alguém não estava de bem. Era como um aviso.

Sua morte não trouxe tristeza. Foi como se fosse apenas mais um aprendizado. Descobrimos um pouco sobre sua filha Zion, que nos acompanhou às ocultas... Nós já estávamos predestinadas a isso. Por que?

Todo dia ao relaxar, toco na marca em minha testa enquanto observo o que construímos nesses anos. Lembro-me do que passei na infância, no quanto o planeta Terra era tão sem escrúpulos. Aqui não é assim. Uma vez por semana, eu reúno o povo de todas as províncias no centro da cidade, na arena. Não para lutar. É apenas para dizer para eles que estão vivos. Hoje era o dia.

– Byakushi, está na hora. – Alguém chamava.

Yomi... Dizem por aí que ela fez um trato com a morte e que agora se recusa a morrer. Não posso dizer que ela é minha amiga, pois se eu morresse agora, ela não choraria, mas sinto que ela quer muito o meu bem.

Ontem, de noite, Yomi revelou uma jura que fez para sua irmã Lunatus enquanto ainda estavam em seus corpos originais: A cada evolução da Mormia, Yomi cortava um centímetro de seus longos cabelos negros. Isso, por que a alegria da irmã era a vida... E a alegria da própria Yomi era seu cabelo, sempre sedoso e belo. Como Lunatus tinha uma doença incurável, sua irmã ceifaria o seu mais precioso bem.

Eu estava numa grande rocha brincando com meu amigo albino, como sempre, mas aquele dia eu estava muito tensa. Quando ela me chamou, avisando que já era para eu ir até a arena, bufei de decepção.

Me virei, e o vento frio me encontrou mais uma vez. Ela já estava a metros de distancia... Eu era lenta demais. Apressei o passo e a segui, até o local da reunião.

Formular algo para dizer à população é realmente muito difícil. Eu era péssima oradora, e só sabia conversar quando tinha uma ou duas pessoas me escutando... Não 3000. Bem, em relação a uma cidade terráquea, 3000 não era nada. Mas para mim era.

Subimos um lance de escadas. E mais outro... Depois outro e mais outro, até chegar no topo da arena. Uma torre lá tinha uma superfície sustentada por 3 pilares. Eu encarei o pessoal lá de cima, assustada como sempre.

– Todos vocês... – Pausei por segundos – Todos vocês que estão aqui, após perdermos nossa rainha, todos que estão aqui para resgatar... Sonhos e amigos. Todos juntos, agora, possuímos um único sonho. – Alguns começaram a me aplaudir, o que me fez mais uma vez parar de falar, mas voltei. – Agora, precisamos mostrar às pessoas de Orion quem somos. Vejam que juntos... Agora, nessa semana faremos novas casas aos céus, casas às almas e aos seus sonhos. Ergueremos templos para deixar gravado na memória... Que no nosso tempo, já havia luz. Juntos, honraremos o nome de Aljha Rhara... E também àquela que nos projetou.

Quem diria... Que o ato mais glorioso que pude fazer foi olhar para trás. Mostrar a todos que não tomei uma decisão sozinha e que meus outros governantes aprovavam. Kenji retribuiu colocando a mão no coração e fazendo uma curta reverencia. E o povo aplaudiu.

– Eu não vou fugir. – Conclui.

...

Duas horas depois, eu já estava novamente em casa. Exausta, um pouco tremula, extremamente perturbada. O que houve de errado comigo? O que houve de errado com a Primeira Governanta da Harmonia? Eu não sei. Após passar a minha vez para Mariska, tive uma visão perturbadora por segundos: Alguém encapuzado ao lado de um homem esbelto de longos cabelos, cuja cor não pude identificar... Atrás deles, chamas. Um terrível e enorme incêndio.

– Isso é muito estranho. – Comentei. Já estava deitada em minha cama, em minha casa. – Mesmo estando aqui a tanto tempo, é estranho.

– O que é estranho, Byakushi? – Comentou Yomi, que estava sentada em frente de uma mesa, desenhando.

– A visão que tive. Era a silhueta de duas pessoas. Uma cuja não percebi seu sexo, pois estava completamente encapuzada, e outra que era um rapaz, de longos cabelos.

– Hm, não conheço muitos homens de cabelos longos, embora não seja tão anormal. Era longo batendo nos outros ou...

– Quadril.

– No quadril?! Corajoso!

– Sim. – Me revirei sobre o colchão de palha e suspirei. – Formato do rosto triangular, usava roubas nobres e era encantador, pelo menos... Pareceu.

– Você foi conquistada por uma visão? Eu devo dizer que... Você é muito ingênua. – Ela se levantou, aproximou de mim e se sentou no colchão. – Mas uma visão atacou a princesa semana passada. Ela viu a costa de Aljha Rhara sendo destroçada pouco a pouco, engolida por um tipo de anti-matéria. O fim do mundo provocado por alguém de longos cabelos também.

– Seria... Você acha... – Tirei a cabeça dentre os braços, dando mais uma volta e parando de barriga para cima. – O apocalipse de Aljha Rhara? Isso não seria possível, certo?

– Anti-matéria, mesmo aqui, pode destruir com tudo. Mas a pergunta é... Que raça futura é essa que poderia possuir consigo mesma uma quantidade imensa dessa coisa?

– O irmão de Aiya e sua turma?

– Eles teriam de viajar anos luz. – Yomi abaixou a cabeça e cravou-a em suas palmas. – A população de Orion não pode ser tão inteligente assim.

– Ela é uma civil de Orion e conseguiu construir tudo isso aqui.

– Cortou o espaço entre a menor fração de tempo, pausou até construir uma terra, céu e vegetação. Abriu uma fenda temporal entre dois terrenos e uniu. Acidentalmente, acertou o planeta Terra, mais exatamente por volta do reino central... O reino da princesa Mariska e as pequenas províncias secundarias, em Dezembro do Ano de 1563. Quer saber? Isso já é mais que suficiente para eu reparar na tamanha inteligência. Eles parecem estar 1000 anos mais evoluídos que nós.

– Fico pensando no que um rei de Orion pode nos fazer. – Me sentei na cama, ao lado dela. Eu estava preocupada, ela estava um pouco estranha.

– É muita informação... Eu creio que devemos nos preparar. Nos preparar para enfrentar uma guerra que não vai ser fácil não.

– O ano onde tudo acaba? Mas Aljha Rhara não tem mais de 8 anos!

– Nos meus cálculos, tem bem mais. Podemos considerar que Aiya veio aqui faz 10 anos.

– Um universo não é criado em 10 anos, mesmo por alguém tão mais evoluído que o ser humano.

– Eu sei que não. – E Yomi se levantou. – Eu estava escrevendo e desenhando, fazendo cálculos sobre isso. Descobrir a idade exata de Aljha Rhara e somar com os anos que virão.

– E com base no que, você fez os cálculos?

– Com a base nesse livro. – Foi até a mesa novamente, pegando outro livro escrito por Aiya. – Aqui diz... Aqui está bem claro que a amostra do terreno arenoso do planeta chamado Aljha Rhara pela moça tinha mais de 600 milhões de anos. Então Aljha Rhara deve ser da idade da Terra, mais ou menos.

Yomi tinha sua razão. Quando folhei o livro ao seu lado, pude constatar o mesmo. Ela teve a paciência de desenhar as amostras que captou ao chegar nesse mundo. Escreveu as composições com maestria, chegando a conclusão de que não é parecido com o universo terráqueo. Existia um alto índice de carbono e metal, gás carbônico e pouco oxigênio. Nenhum ser vivo, além de grandes construções extremamente degradadas de aço. Disse também que “seria um bom lar, longe de encrenca.” E completou com um “somos uma espécie diferente de tudo. Não vivemos em bando.”

Conversamos mais sobre assuntos parecidos, mas logo Lukaria bateu na porta. Ela não me esperou abrir, e simplesmente foi entrando. A mulher estava já com o uniforme de governanta, com um botão sobre a clavícula que emendava as partes da roupa. No colo, fazia-se um losango aberto, onde o decote era mostrado. Os seios eram volumosos e a roupa apenas confirmava isso. Abaixo do busto, um cinto era usado para erguer ainda mais.

Havia prendido os cabelos... Ainda mais do que já era de seu costume. A mecha de sua franja já estava na altura do queixo, ondulada. A expressão era maliciosa, mas expressava ainda mais a preocupação.

– Caitlyn sentiu tremores na zona leste.

– Um terremoto? Faz sete anos que não acontece isso...

– Pode ser que um vulcão esteja entrando em erupção. Se for fora da muralha, não há problema. – Comentou Yomi, sorrindo despreocupada.

Mas não era bem assim. Achamos melhor reunir as guardiãs, escudeiros e governantas no salão de reuniões, na minha província mesmo, Ebinazaka. Mariska foi a que mais se atrasou, e estava chorando, angustiada. Não conseguira dormir.

– Caitlyin, o que houve?

–Mariska gritou do nada, pedindo socorro. Alegou que tinha sentido alguém segurar seu pescoço, na tentativa de enforcá-la.

– Não foi só um sonho...?

– N-Não. – Sussurrou Mari, entre os soluços. – Eu senti a falta de ar de verdade.

Nos sentamos em volta da mesa redonda de pedra do salão, e preparei o grupo para o pior:

– Vamos morrer duelando contra o povo de Orion. Não estamos fortes o suficiente para enfrenta-los.

– Se esse é o caso, vamos voltar para a Terra. – Disse Marthy, nervoso. Ele era o mais medroso.

– E acha que já não tentei? – Retrucou Adalberto. - O portal não está mais lá...

– GENTE!! – Gritei, batendo as mãos na mesa. – Não vamos desistir agora! Aiya disse que enquanto a marca da minha testa estiver reluzindo, teremos alguma porcentagem de chances contra eles.

– Você está querendo dizer que vamos embarcar numa carnificina por que sua testa está piscando? Byakushi, você está sendo ridícula. – Respondeu Achila, bufando de tédio.

– Vocês podem me abandonar agora... Mas eu vou explorar cada centímetro de terra por fora dessa muralha. E vou absorver o que ela tiver de forte para expulsar os invasores... Quem estiver comigo, que me acompanhe.

Levantei num baque mudo. Saí na porta às pressas e não me importei se eles me acompanhariam ou não. Lá embaixo, perto dos campos, meu leão me esperava deitado como uma esfinge. Ele rugiu quando passei por perto, se levantou e me seguiu. Fui até minha casa, subi até o quarto. Prendi os cabelos, para que eles não me atrapalhassem durante o trajeto, tirei meu vestido e coloquei uma roupa de couro com proteção metálica nas costas, peito e ombros. Saquei meu cajado, qual ganhara de Aiya, e me olhei na chapa de aço qual usava como espelho...

– Guarde bem essa imagem, Leon. – Disse ao meu leão. – É a decadência da Morte Branca.

Me enrolei na mesma capa que eu usava quando pequena, e é claro que ela estava mais curta. Segui até os portões da muralha e para a minha surpresa, algo realmente incrível preencheu meus olhos: Elas estavam lá, Mariska e Yomi. Nosso grupo não havia se desfeito. Eu agarrei ambas num abraço caloroso e puxei-as para fora da muralha.

Veríamos o que nos aguardava... Além dos muros de Conchita.

Aiya havia escondido. Ela escondeu o fato de que não viera sozinha para cá, que havia mais seres de Orion por aqui... E eles eram realmente bem parecido conosco, exceto pela pele cinza, metálica, dura e os olhos claros. Alguns não tinham íris, outros tinham.

Havia um que me deu medo: Daniou Oudo, ou só Oudo, como foi chamado. Ele era enorme. As costas tinham a largura de um carro e sua altura era de um pouco mais de 3 metros, bem diferente da magrela baixinha que estava com ele, cujo nome não escutei.

Ela tinha os cabelos brancos, com mechas roxas, rosas e azuis. Sua pele era prateada, roupas numa escala de cinza, leves tons azuis. Olhos azuis e um losango bem no meio do abdômen, e dois nas coxas.

Sua voz era completamente irritante. Ela puxava o grandalhão por uma corrente e dentre tantos, foi se aproximando de nós.

– Olha Conchitana. Sou Eisblume, princesa de Orion e daqui também. Você, pelo símbolo na testa, deve ser Byakushin.

– Byakushi. – Corrigiu Yomi. Eu estava travada demais para falar.

– Você vieram junto de Aiya?

– Não... De Zatsu.

– Quem é? – Perguntei, embora já tivesse uma leve noção.

– É o...

Oudo rugiu e pegou a mocinha, levantou-a e fez com que ela ficasse sobre seu ombro. Ele não sabia falar. Era apenas uma fera.

– Escute, Eisblume, eu vou investigar isso daqui. – Concluí.

Ela deu de ombros. Foram se afastando e nós deixamos que fossem embora. O trio seguiu pelo meio dos seres não identificados. Tomei a liberdade de chamá-los de Orianos.

Fui para frente do trio, pois era a mais parecida com eles. Tenho a pele clara, como a deles, cabelos claros, como o deles. Mesmo o mais moreno tinha um cabelo desbotado.

Eles eram mais altos que um humano. Uma criança de 7 anos tinha altura de 15. Os mais altos tinham 2, 95 e Oudo batia até essa altura máxima. Dizem que Zatsu é ainda maior, mas eu não consigo acreditar.

A população falava muito comigo. As vozes eram muito belas. Demoravam para me reconhecer como Conchitana.

Seguimos por uma estrada de ferro, que ligava bosques e ao fundo, uma construção peculiar. Um grande farol monstruoso, com as inscrições Sanddrif em sua fronte. Era todo de aço e chamava muita atenção.

– O que é isso?! – Exclamou Yomi, boquiaberta.

Aparentemente, eles não vinham apenas de Orion. Tinha um local específico. Sanddrif, pelo que eu escutava por ali, é o planeta que os terrestres chamam de HD3765b. Aquele farol só podia ser...

– É a casa do Zatsu, creio. Vamos!

Continuamos a nos aproximar, até que sua luz que rodava vermelha nos atacou. As vezes nos cegava com seu clarão. Mesmo assim, eu, Yomi e Mari continuávamos firmes.

...

Driblamos guardas como conseguíamos. Chegávamos a escalar paredes para passar, o que era difícil, graça as nossas roupas. Mas finalmente conseguimos alcançar as portas da torre. Entramos e subimos a escada circular. Eu estava confiante em mim, Yomi também, como parecia, mas Mari só queria voltar. Na sala, onde havia o farol, escutamos uma conversa.

“Só assim conseguiremos botar a mão em tudo isso aqui. Já não temos Aiya para atrapalhar, e sua filha não é boa o suficiente para me vencer... Logo, tudo, até mesmo Conchita, será meu. A carnificina marcará nossa passagem. Já posso até sentir o nome causar tremores nas futuras gerações: O ANO...VERMELHO!



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Notas finais do capítulo

O negócio do farol... Bem, eu não tive ideia melhor. Ia colocar uma piramide, mas ia ficar com cara de plagio. Se eu tiver ideias melhores, mudo.
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