A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 24
De frente com o passado


Notas iniciais do capítulo

Após ser sequestrada, Byakushi se encontra vulnerável perante todos os membros de Conchita e de Orion que ela conhecia, e também que não conhecia, e percebe como são manipulados facilmente. Entretanto, seu problema vem em cinco corpos diferentes. Como ela os derrotará?



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– Byakushi...?

– Enix-sama...

– Está com frio?

– Um pouco. Faz mais ou menos duas horas que eu senti a mudança de temperatura.

– E não fez nada?

– Estou muito fraca para pensar em algo. Enquanto isso não me fizer mal, eu não fazer nada a respeito.

Abri os olhos lentamente, pensando que como sempre, eles fossem invadidos por um clarão alvo antes de eu ver a rainha, mas estava tudo muito escuro. Pela posição que eu me encontrava, parecia que eu estava sentada num canto de uma sala, com as mãos amarradas, embora eu não pudesse ver as cordas nem se aproximasse de meu rosto, ou muito menos senti-las.

Eu vi a rainha em minha frente, sentada no chão, com uma leve aura brilhante azulada ao seu redor. Ela ainda estava com os cabelos trançados do nosso ultimo encontro, e com um olhar tipicamente atordoado ao me ver. Além dela, eu não podia ver mais nada. Isso era extremamente assustador, e mesmo assim, ela me passava certa confiança.

–Você foi pega.

– Pelo cão? Aquele que nós enfrentamos?

– Não, por Pivahlin.

Eu podia entender. O quente que eu senti era a língua do animal. E agora, eu possivelmente estava em algum lugar inorgânico, que não fosse dentro de ninguém. Mas eu não tinha ideia de onde. Perguntei à Enix, mas ela apenas negou. Não sabia de mais nada, além do que meus olhos puderam ver, e meu corpo pode sentir. Afinal, Enix já havia morrido. Estava apenas em minha cabeça.

– Eu aconselho que acorde agora. Mesmo sendo tão ignorante a respeito da situação quanto você, consigo sentir que alguém pretende lhe fazer algo.

Eu estava exausta. Dava para ver que até mesmo minha respiração estava profunda. Eu me engolia para mostrar à loira que eu ainda estava com forças, mas ela sabia que aquilo era apenas uma maquiagem. Enix se aproximou de mim e tocou meu rosto delicadamente, me passando todo o calor que ela podia me oferecer. Com um sorriso meigo, ela murmurou.

– Não exija tanto de si mesma. Até mesmo um Oriano pode cansar de se manter em pé, é natural.

– Onde a Yomi e a Mariska estão?

– Eu não posso lhe dizer isso. – Suspirou. – Posso ser mais sabia que você, mas depois de meu falecimento, tudo o que sei é o que você sabe.

– Eu estou com medo.

– É natural. – Ficamos quietas por m momento. – Escutou isso? Tem alguém vindo. Vamos, desperte.

– RAINHA!

– O que foi, minha querida?

– Não me deixe. Por favor. – Eu começava a chorar. – Me diga um pouco mais sobre Pivahlin.

– Eu não tenho muito a lhe falar sobre ele. É um excelente guerreiro, ou era. Ele entrou em histeria após ter seu amor recusado pela kutsal, mas além disso eu não sei o que houve. Quem poderia dizer tudo a respeito do guerreiro é seu pai, sua tia Theia ou até mesmo Yomi. Embora eu não creia que eles queiram tocar em feridas antigas.

– Estou com... Falta... De ar.

~~~~~~~~~

– Ah, você acordou.

Eu tossia violentamente após minha garganta ser liberada pela mão morna de alguém. Não enxergava nada, e parecia estar na mesma posição na qual me encontrava anteriormente, mas minhas mãos dessa vez estava realmente amarradas, e a corda era bem real.

A voz do rapaz era grave, e se não fosse assustadora, poderia ser “sensual”. Ele retirou a faixa de meus olhos permitindo que uma luz fraca e branca invadisse meus olhos. Eu ergui meu rosto, estava com a boca tampada, ao que ele destampou de imediato.

– Dormiu bem? – O rapaz disse. – Espero que não tenha lhe assustado. Não pretendia lhe devorar, mas com certeza não viria comigo se eu pedisse humildemente.

O rosto do rapaz tinha um queixo fino, e olhos pequenos, delicados e ameaçadores, com cílios medianos prateados. Ele sorria de forma meiga para mim, e realmente não me deixava amedrontada, ou nervosa.

Os cabelos longos estavam penteados para trás perfeitamente. Eram alvos, mas com algumas mechas púrpuras misturadas ali. Haviam duas grossas mechas encobrindo as orelhas, indo até a altura do peitoral, amarradas na ponta por duas fitas negras. Nas historias que me contavam, seu cabelo era apenas branco, então liguei a mudança de cor ao sacrifício feito pela Sacerdotisa.

– Você é o...

– Pivahlin. Sim. Sou eu. Por que a surpresa?

– Você se parece comigo...

– Já me falaram isso. Zatsu disse que eu lembrava sua filha querida chamada Byakushi, acredito ser você, então vim humildemente me apresentar.

– Seus olhos são...

– Vermelhos? São. – Ele sorriu, mostrando as presas pontiagudas. – Não se preocupe, olhos vermelhos não são sinônimo de maldade.

– Não disse isso.

– Que horrível. Eu tive de amarrá-la, mas deve estar doendo, correto? – Ele levou as mãos, finas e com longas unhas, até minhas cordas. – Eu vou soltá-la agora.

Ele aproximou a lamparina de nós dois antes de se sentar na minha frente, já com as cordas na própria mão, livrando-me. Perguntei para ele qual a razão de estar me ajudando, e com um sorriso malicioso, ele respondeu de forma curta.

– Você tem algo que quero.

– O que seria?

– Conhece Yomi, correto? A irmã dela.

– Eu não tenho a mínima ideia de como ela está ou onde.

– Eu sei, fique tranquila. – Ele acariciou o meu rosto, sorrindo apenas numa linha. – Yomi com certeza virá te buscar. E... Vamos pedir Luna em troca.

– Sabe que ela não trocará!

– Não levante o tom de voz. – Ele sussurrou. – Você fica mais bonita calma. Aliás, que grosseria a minha. Você está na torre de Zatsu...

– Que idiotas! É extremamente perto de Conchita! As meninas não demorarão nem mesmo uma hora para chegarem até aqui!

– Em Orion.

– Oi?!

– Como você mesma disse, seria idiotice se levássemos você até a torre em Aljha Rhara. Aliás, ela é fina, e meu corpo apesar de delgado é longo. Em forma de dragão, com certeza destruiria a torre.

– Pode me soltar? Se me soltar, eu lhe trago a sacerdotisa.

– Desculpe. – Ele se levantou, erguendo a lamparina consigo mesmo. Estava sorrindo calmamente, enquanto olhava fundo em meus olhos. – Mas Zatsu tem planos para você.

Ele se afastava lentamente. Suas vestimentas eram curiosas, de forma que seu peitoral ficasse totalmente exposto, ou pelo menos a maior parte dele. Não sentia vergonha de nada, pelo visto, nem frio.

Eu fiquei no escuro novamente, mas meus olhos já haviam se acostumado. Solta, resolvi me levantar e caminhar pelo salão até encontrar seus pontos extremos. Não era pequeno, e tinha uma cama macia embora bem baixa. Mais adiante, eu senti uma pequena porta, de uma saleta estreita, era o banheiro. Somente a luz era precária. O cheiro era de bem cuidado.

– Ah, Yomi... – Me escorei na parede, que era bem lisa. – Eu estou com problemas, não estou?

Não tive tempo de pensar. Nem de me lamentar. Senti um clarão atrás de mim e quando me virei, vi uma garota invocada com os olhos me encarando fundo. Eu sorri, sabia que ia levar algum xingo, mas ela estava com um amargo sorriso no rosto, maior que o meu.

– Você matou meu Oudo. – Foi direta, com a voz mais branda do que costumava ser.

– Ele estava atacando uma de minhas províncias.

– Eu não estou tão brava assim. – Eisblume se aproximou, mas a luz de fora estava forte, então pude vê-la com clareza. – Ele cumpriu seu trabalho...

No lugar das roupas decotadas e coladas ao corpo, ela estava com um manto azul celeste felpudo que revelava a saliência de sua barriga. Eu não acreditava no que via. Abaixei o rosto, ao que ela me agarrou pelo queixo e me fez encarar os olhos dela. Abriu um sorriso, exibindo cada dente serrilhado daquela boca.

– Zatsu mandou te chamar. Espero que seja uma boa menina.

Ela me puxou por um cinto de aço que só agora vi que estava em meu quadril e colocou um gancho na sua argola, que se prendia em um cabo grosso que ela levava consigo. Sussurrou calmamente que era para eu segui-la. Eu ia hesitar, mas lembrei de que eles estavam com Mariska. Eu fui arrastada pelos corredores, e com aqueles atos, dava para notar que ela estava revoltada com o que fiz com seu amado Oudo, mas era “superior” demais para dizer ou deixar transpassar.

– Está com medo? – Ela perguntou, baixo.

– Não. Eu estou bem. Talvez um pouco ansiosa, mas bem.

Chegamos a um grande salão, com o símbolo Oriano, que no fim era o mesmo que o de Conchita, no chão. Eu cada ponta, havia enormes altares com bancos enfileirados feito uma arquibancada, e no topo de cada um, um trono, com suas respectivas donas.

Todas as rainhas... Eram assustadoras. Cada uma com uma aparência peculiar. Havia dois portões também, além daquele que eu havia entrado. O salão era em forma de hexágono, sem telhado. Eu fui guiada até parte do salão e depois apenas recebi a ordem de continuar até o centro.

Eu caminhei até lá encarando cada rainha e sua peculiaridade. Como Genitum tinha a pele negra, cabelos longos e ruivos, um par de chifres vermelho e preto. Como Venite tinha e expressão tão travessa como a de sua filha, olhos azuis e cabelos celestes, e continha um chapéu com um prisma azulado em seu topo. Como Fideles tinha o cabelo curto e verde escuro, pele bem branca e orelhas de elfo. Como Lumine e Lumen eram idênticos e pareciam ser tão jovens. Como Zatsu... Como ele era diferente de mim. Estava sentado no maior trono, sobre um dos portões. Tinha o rosto masculino, diferente do que me falavam, e cabelo bem mais cinza do que eu me lembrava. E no trono à sua frente, do outro lado do salão, um trono todo branco, com pedrarias coloridas, escrito “Aiya” em seu inferior, mas sob ele, Zion estava sentada. Ela me encarava fundo nos olhos. Me devorava, enquanto eu não entendia a razão de tamanha traição.

Parei no meio da sala. Olhava não só as rainhas, como os servos. Os cidadãos que anteriormente estavam nas cidades, e agora me dei conta de que todos... Cada um deles estava contra mim.

Zatsu se ergueu. Ele pisava sobre a arquibancada dele, contendo apenas os guerreiros e seus demônios, Todos eles com o símbolo de Joker estampado nas vestimentas.

– Está surpresa? – Começou. – Não teria graça começar o ano vermelho sem que a líder suprema se divertisse de acordo com o jogo.

– Estou desolada. O que vocês fizeram com essas pessoas?

– Entre se oporem a mim, soberano, e a você, uma guerreira qualquer, a escolha é bem obvia. – Ele balançou os cabelos. – Eu sou imortal, você é apenas uma qualquer. Uma menina que acha que pode se igualar a nós, uma que se acha ser a deusa deste mundo. Mas deixe-me lhe dizer algo, princesinha. Você não é a deusa de nada.

Eu não conseguia responder. Ouvia a voz dele me golpeando fundo, lá no coração, e eu não podia fazer nada. Começava a ter um nó na garganta que precisava me livrar através do choro, mas chorar como? Olhei com o canto dos olhos para ele, que sorria profundamente, vitorioso.

– Quais os danos em Conchita?

– Grandes.

– Poderiam ser melhores, correto?

– ...Sim. Sabe que quando Yomi chega... – Ele me interrompeu.

– Quando Yomi chegar? Ela vai se virar contra você também. E sabe por que? Ela ama mais Lunatus do que você.

– Lunatus está sã e salva com os... – Me interrompeu novamente.

– Mariska, entre.

De um dos portões, a menina se aproximou. Os vestidos rosados, os cabelos cheios de cachinhos... Ela trajava um longo vestido preto que varria o solo com uma cauda e um laço. Os cabelos agora estavam sobre o rosto, soltos e mais longos que o normal, como se estivessem pesados e molhados. E não era só isso. Os olhos alegres que me traziam flashbacks de felicidade agora estavam vagos, e metade do rosto continha símbolos... Tribais avermelhadas que morriam sobre o batom preto. Em seu colo, ela trazia Lunatus, desmaiada, que colocara no chão perto do trono de Zatsu. Mariska estava com as mãos sujas de sangue, denunciando que ela assassinara alguém.

Um nó na garganta novamente. Seria Kenji? Ela olhava para mim. Fundo em meus olhos. Como se me desejasse, como se quisesse me devorar.

– Mariska... Era o corpo mais frágil de Conchita. Não mudei isso, mas a mente fraca e facilmente sequestrável a fez se tornar um frasco para eu derramar uma personalidade atordoante. E então surgiu essa arma aqui... Kastia, ou Mariskastia, como Zion a chama. Eu não farei que ela lute contra você. Seria trágico.

– Mariska... – Eu fechei os olhos.

– MAS... – Ele chamou minha atenção. – Você enfrentará joias muito mais raras. As nossas Cinco Aljhas Rharas... Que venham as generais de Mirabilia!

Eu estremeci. Estava desarmada. Orologio estava novamente com Eisblume, a lança não estava comigo, nem Blind, nem a mascara. E eu não me lembrava de ter pegado a coroa. Morreria agora?


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