A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 22
A premonição


Notas iniciais do capítulo

As meninas utilizam do tempo livre para descobrirem um pouco mais sobre a raça delas. Entretanto, esse "tempo livre" foi o suficiente para que Conchita caia em mãos inimigas.



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- Mas uma coisa eu não entendo, Enix...

- O que, neta linda...?

- Se você é loira e o seu marido moreno, como que Zatsu pode ter nascido com os cabelos cor de chumbo, mamãe ter nascido com os fios coloridos, e eu ser albina? Além disso, como que os próprios filhos de Zatsu, meus irmãos bastardos, podem ser tão diferentes do pai?

- Os orianos, minha querida, nascem brancos. O cabelo e pele muda de acordo com o que você maneja. Eu mexo com a luz desde sempre. É meu atributo. Então, meus cabelos ficaram amarelos. Seu pai mexe com as trevas, logo, o cabelo dele ficou preto. O Zatsu comanda energia psíquica, uma arte mágica negra, mas com traços de pureza. Logo, o cabelo dele se mesclou. Sua mãe comanda todos os atributos.

- E eu?

- Byakushi, você é um ser neutro. Nasceu longe de suas origens e, portanto não teve contato com nenhuma arte mística.

Enix estava do meu lado, se olhando no espelho de forma analítica, contornando os olhos com os dedos para se certificar de que não havia nenhuma ruga sequer. Eu estava cabisbaixa, olhando com o canto dos olhos para ela, séria, analisando suas palavras, verdades que vieram até mim fragmentadas até esse dia chegar. Eu custava a entender a razão da coroa abrir um portal que me juntava à Enix, sendo que a mesma já havia falecido há tanto tempo. Outra coisa que me intrigava também, era a origem dos orianos... Seria uma origem tão avulsa como a humana? Os homens não sabem de onde vieram. Alguns se prendem a religiões, mas mesmo assim não sabem.

- Enix, você sabe qual a origem dos orianos? Eles são mais antigos que os humanos?

- Quer mesmo saber? – Ela parou de se olhar no espelho, encarando agora a mim.

- Quero... – Também ergui minha cabeça, atenta as suas palavras.

- O tempo oriano é diferente dos seus. Enquanto o Via Lactia caminha para frente, Orion caminha para trás. Os dias de Sanddrif são bem mais rápidos que os da Terra, e os anos, quase na velocidade de seus meses. Houve uma época no sistema terrestre que não havia mais nada para eles construírem. A Terra estava se desintegrando, não havia mais matas, mal havia animais, peixes, e passou a ser apelidada de Omega Férrea.

- Eu não ouvi falar disso, Enix. Aliás, a Terra ainda é verde e azul. Tem muita natureza por lá. – Eu estava incrédula. Não dava para acreditar que houve um tempo que o planeta Terra havia se reduzido a uma chapa de aço.

- Isso ainda vai acontecer. Como eu disse, o tempo de Orion caminha para trás. Essa data marcaria o fim do ser humano. O fim do planeta, o Apocalipse. Os homens que restaram usaram da nave para viajar para outro lugar, pois o próprio Sol deles estava morrendo. E eles encontraram um planeta bem próspero, de mata e oxigênio, com águas, e animais, mas sem civilização. Não havia um ser que pudesse construir casa. Não havia vida inteligente.

- Sanddrif.

- Isso. Esse é o nascimento de Sanddrif. Os cientistas da nave perceberam que as águas de lá não era como as águas da Terra. E o ar, não era como o ar do planeta deles. Era algo mais palpável. E começaram a controlar os quatro elementos daquele planeta misterioso. Como ser exposto em raios gama, que o nosso Sol é composto, alterou a configuração genética, as gerações futuras da nave humana se transformaram em aberrações...

- Os Orianos.

- Sim. E assim foi indo. A característica humana não sumiu, como pode ver. Nós temos cinco dedos nas mãos e nos pés, um tipo de cabelo, as fêmeas dão de mamar aos filhotes... – Ela riu, ao ver minha expressão que era no mínimo indignada por ela nos chamar de animais.

- Quer dizer que um Oriano nasceu de um ser humano. Isso é incrível!

- Sim... E tem mais uma coisa.

- O que é? – Voltei a ficar séria, encarando a loira, que me olhava com graça.

- Para essas realidades se chocarem, o universo precisou de duas realidades paralelas. E foi por isso que Aiya conseguiu encontrar um planeta tão favorável e tão fácil de conseguir reproduzir a natureza terrestre.

- Aljha Rhara... É o que sobrou do planeta Terra?! – Eu me levantei do banco, tapando a boca e arregalando os olhos. Não, não podia ser. Ela estava brincando, só pode. – Isso quer dizer que... Aqueles pedaços de aço que tem nos bosques de Paus... São pedaços de construções terrestres que foram largados ali... Isso é horrível!

- Eu aconselho a ir embora.

- Por que...?

- Se a coroa for retirada antes de você se desconectar a mim... – Enix foi se apagando da minha frente, como se uma profunda névoa estivesse começando a tomar conta do local. – Sua mente será desintegrada em partes, e isso é a ultima coisa que Conchita precisa, agora que está em apuros...

- Apuros...?

~~~~~~~~~

- Uh... Bem que ela poderia ser mais clara.

- Byakushi, já descansamos o suficiente. Vamos até Conchita.

- Ah, é.

Eu estava sentada na raiz de uma árvore no bosque de Paus. Havíamos parado por que minha pressão caiu e eu tive a necessidade de me sentar. Aproveitei esse tempo para colocar a coroa e conversar com Enix, e agora... Faltava bem pouco para eu compreender a realidade que nos cercava. Yomi estava em pé, impaciente. Ao lado dela, estava Purpura, que me esperava de forma um pouco mais compreensiva. A morena estava com os braços cruzados. A maga, só em pé.

Enquanto cruzávamos o bosque e chegávamos à província de Espadas, contei para elas o que eu havia descoberto. Yomi não pôde reagir de forma mais engraçada. Ela bateu a mão nas pernas e voltou a cruzar os braços, emburrada. Purpura riu com a reação da outra, mas a maga também reclamou de que de uma forma ou de outra, éramos humanas...

- E em pensar que eu tinha algo para me orgulhar...

- Purpura... – Sussurrei, desfazendo meu sorriso. Yomi e a outra também me olhavam com um ar preocupado, vendo que eu tinha voltado a ficar tristonha. – Você já superou a perda de Reno?

A maga engoliu o sorriso no mesmo instante. É claro que não! E era bem possível que isso nunca fosse acontecer. Afinal, Reno e Murasaki eram próximos desde sempre, quase deixando um amor incesto surgir. E agora, a maga estava sozinha, sabendo que nunca mais iria ver o moreno. Ela negou com a cabeça, ao que Yomi suspirou. Eu não podia ler o que a moça estava pensando, mas Yomi não gostava quando pensávamos em quem partiu.

A mulher era sempre muito séria, então descontrair uma cena pesarosa era difícil demais. Entretanto, o destino quis que ela o fizesse. Pequenos escorpiões escaparam da terra quando ela pisou acidentalmente num dos ninhos, e partiram para cima dela, apontando seus ferrões. Yomi saiu correndo, se esquivando dos escorpiões que se desenterravam para uma vingança envenenada. Eu e Purpura olhamos para a morena que agora já estava a vários metros de distancia, e ainda assim dava para escutar seus gritos. Rimos.

...

- Byakushi, olha aquilo.

Estávamos em frente ao muro de Conchita. Não perto dos portões, mas perto da muralha. Eu retirei o cabelo dos olhos, depositando atrás da orelha e olhei para cima, onde a morena apontava. Aquilo... Aquilo não poderia ser de forma alguma uma chaminé. Não era. A fumaça preta estava tomando conta de grande área de extensão.

- Alguma coisa explodiu ali!

Purpura gritou, ao ouvir um estrondo baixo e um clarão mediano brilhando por cima dos muros. Nós três corremos em direção dos portões, enquanto Yomi comentava que aquilo não parecia ser fogo de artifício de uma festa... E não era.

Ao chegarmos aos portões, dava para se ver dentro o monte de cinzas que estava espalhado pelo corredor central e bastante fogo, a maior quantidade reduzida a pequenos flocos, trabalho possivelmente feito por Saryel. Mas se todos estavam cuidando do incêndio, quem estaria defendendo as províncias de...

- Ah não... – Purpura disse, ao cair na real.

- Eles estão aqui. – Completou Yomi, sacando sua foice.

- Mirabilia... – Eu sussurrei, apertando os olhos e me preparando para o pior...


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