A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 21
A rainha branca


Notas iniciais do capítulo

No calor de uma batalha, Byakushi descobre que não está sozinha, e enquanto os antigos seguirem de seu lado, ela terá força para derrotar seus inimigos.



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- Byakushi-san... Está me ouvindo...?

- Quem? – Sussurrei, coçando os olhos.

Ao abri-los, o branco deu lugar lentamente a um belo jardim cheio de flores coloridas. Havia uma mulher sentada no banco de mármore, de costas para mim, escovando longos cabelos dourados, que se espalhavam no chão. Eu caminhei até ela, percebendo somente agora seu vestido branco todo rendado e cheio de adornos dourados. Além disso, aquela coroa... Eu já tinha visto... Eu coloquei a mão no banco, percebendo que meu braço estava nu.

Olhei somente agora para meu corpo. Eu não tinha uma única peça de roupa. Coloquei minhas mãos em frente ao ventre, de forma que eu me cobrisse, pelo menos, os íntimos. Eu estava queimando de vergonha, mas ao mesmo tempo sabia que eu não precisava sentir...

- Byakushi-san... Trance meus cabelos?

Eu me sentei em meio a grama clara, quase acinzentada, e passei a trançar as douradas mechas de seu cabelo. Enquanto isso, ela perguntava se eu estava bem, se eu sentia frio... Respondi que não sentia, que ali era confortável. Após um longo silencio, envolvi a parte inferior do cabelo com um laço branco.

Ela apontou para algumas flores azuis e rosas que estavam num canteiro, miúdas. Engatinhei até elas, arrancando algumas com o caule. Voltei até os cabelos da mulher e enchi as mechas com as pequenas flores, de forma que ficassem bem separadas uma das outras.

- Deixe-me ver seu rostinho, pequena...

Me levantei da grama e dei a volta no banco, levantando o olhar até encontrar os olhos dela.

O rosto da loira era estranho... Era branco como a neve... Até mais... Ela parecia ter luz própria. Seus olhos, o esquerdo era como uma safira... O direito, uma bela esmeralda. Os lábios estavam pintados de negro, destoando do resto da palidez. Ela sorriu para mim, tocando meu rosto com sua mão gélida.

- Eu sabia que Aiya ia gerar... A deusa de Conchita... De Aljha Rhara. O coração dela é tão puro, que apesar de eu saber que seu irmão era seu oposto, o que sairia deles... Seria uma alma límpida como a água.

- O que é você...?

- Sabe... Os orianos são ligados a uma religião muito clara... Pura. Quando alguém sem pecado algum morre pelas mãos de um corrompido, essa pessoa se torna celestial.

- Um deus...?

- Um deus. Mas não é só isso. Para se mostrar digna, deve ter verdadeiros amigos, verdadeira coragem, força, inteligência e compreensão.

- Eu... Tenho. Tenho, apesar de não acreditar que eu seja pura.

- Como assim?

- Quando eu era pequena, eu roubei. Matei. Eu até mesmo me envolvi com homens para conseguir o que eu queria... Isso me faz ser impura.

- Você por acaso foi rica? Não tinha a mínima razão para se defender? Se envolveu com homens em busca do prazer?

- Nunca fui rica... Eu sempre fui procurada... Eu só precisava de que eles liberassem espaço.

- Então você é verdadeiramente pura. – Ela deslizou sua mão pelo meu rosto, parando nos ombros. – Eu, Enix, lhe declaro a nova Rainha Branca, e primeira Geração Celestial da Harmonia.

- Se eu morrer, me tornarei deusa? Simples assim?

- Não. Você tem de acabar com seus inimigos... E arranjar sua sucessora, antes de morrer.

- E se eu não conseguir?

- Aljha Rhara sumirá.

Ela tocou as laterais de meu rosto, encarando minha face com serenidade. Acabou por sorrir meigamente e se aproximar de mim, beijando-me num delicado selinho...

~~~~~~~~

Ainda estava tudo branco. Eu na verdade sequer abri os olhos com medo de feri-los com o clarão. Eu escutava os sons da batalha, alguns gemidos sofridos e alguns gritos de horror. Abri os olhos, lentamente, sentindo meu corpo queimar... Até que meu olho direito azul se pintou de verde, com a íris fendida como a de um lince. Eu pude ver, na primeira brecha, meus cabelos voando para frente, algumas faíscas e... Penas...

- Excelência... Excelência!

- Hm...?

Eu estava empunhando minha lança... A lança que havia ganhado de Adeste, e vi, em alguns vultos, muitas pessoas correndo para cima de outras, caídas no chão. Elas me encararam horrorizadas. Davam de correr, mas Yomi abatia algumas, até que eu dei um passo para frente, vendo mais penas caírem em minha frente. Olhei para cima, ao que gritei.

Gritei de forma aguda, mas Yomi me relembrou de onde eu estava. Um homem grande avançou contra mim com uma faca em forma de cruz, e eu pulei numa tentativa de desviar, mas meu salto foi muito mais alto que o esperado... Asas. Eu podia voar.

Aproveitando disto, eu apontei a ponta da lança para o peito do homem e forcei meu corpo para frente, penetrando-o.

Yomi me mandou procurar a sacerdotisa. Disse também que daria conta de acabar com aquelas pessoas. Eu obedeci, voando bem junto do telhado, por pouco não esfolando as asas desengonçadas. Eu escapei do fino corredor, indo diretamente ao salão de culto, mas não encontrei ninguém lá, além do corpo do monstro, ainda sobre a pedra. Dei meia volta e fui em direção de uma outra sala, de porta pequena, mas diferente das outras. Enquanto cada uma era fechada com um cadeado, aquela era fechada com chave e fechadura.

Eu a quebrei com a lança, fechando os olhos para que os estilhaços não machucassem-nos, e avancei corredor a dentro, encontrando, por sorte, o quarto da sacerdotisa. Aproveitando que ela estava de costas, se preparando para um banho, pousei no chão com cautela e recolhi as asas da melhor forma possível. Caminhei sobre o tapete, parando centímetros de distancia da mais velha, que por sorte, também estava sem seu leque. Ele estava fechado sobre a penteadeira.

Ela ia se afastar para ir até o banheiro, mas eu a envolvi com as asas, prendendo-a e fazendo com que gritasse.

- Guardas! Me ajudem! Me ajudem!!

- Quietinha aí, querida...

Minha voz estava grossa. Eu não parecia tomar conta de algumas coisas em meu corpo, como antes. Era como se Enix estivesse dentro de meu coração... E quem sabe não era isso? Levei minha mão livre até suas costas e arranquei-lhe o espinho encravado.

Quando soltei a mulher, ela caiu diretamente no chão, gritando de dor. O sangue roxo escorria na ferida, ao que ela rolava no chão, tentando se acalmar. Mas lentamente, ia se acalmando. Encheu os pulmões com ar e ao soltar, deu seu ultimo gemido. Peguei o leque sobre a mesa da penteadeira e joguei contra a mulher, que ao pegar, abriu-o e sussurrou um claro “Enix...”

Procurei alguma superfície lisa o suficiente para me olhar, e ao encontrar um escudo de ouro com o símbolo da religião, eu pude ver a coroa em minha cabeça, a dimensão das asas, as ranhuras negras em meus cabelos, o olho verde, o batom negro e o vestido da rainha em meu corpo. Eu deslizei a mão sobre meu rosto, séria, descrente na imagem que eu via.

Passei a ver pequenos pontinhos negros em minha vista, e logo depois senti o calor do tapete do cômodo da sacerdotisa.

...

Quando eu acordei, estava com a cabeça sobre o colo de Yomi, que berrava com alguém com todo o ar dos pulmões. Ele pedia, mas ela apenas negava... Eu ri, apesar de ainda manter meus olhos fechados.

O silencio reinou quando eles perceberam que eu havia acordado. Yomi acariciou meu rosto, perguntando se eu estava bem.

- Eu estou... Zonza. Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava dormindo...?

- Sim. – A morena começou, mas foi interrompida pelo ruivo.

- O templo dela explodiu magnificamente! 

-Eu conversei com a sacerdotisa quando subi até seu quarto. Ela estava chorando muito, talvez por lembrar da rainha Enix. Ela me acompanhou e ajudou a colocar Zion sobre o Estela dela com cuidado e depois me pediu para entrar. Eu só tive tempo de vê-la dentro de um dos aquários, se sacrificando para trazer Pivahlin de volta.

- E então... O templo explodiu. Mas Pi conseguiu escapar... Eu sei disso.

- Vocês viram ele voando? – Perguntei, coçando os olhos.

- Não, mas a explosão causou uma zona cega. – Ask disse, coçando a nuca.

- De qualquer forma... – Yomi me pegou no colo, se levantando. – É melhor irmos para casa... Ask...

- Não me olhe assim!

- Cuide da Zion. – Ela balançou os cabelos, num movimento sensual. – Juro pela minha morte dar-lhe o dobro do que eu havia prometido antes.

- S...Sim senhora.

A morena seguiu caminho, se perdendo inúmeras vezes, só conseguindo identificar onde estava ao chegar na fonte. Ela me colocou sentada na beira da tigela, me deu um pouco de sua água, para finalmente continuarmos, dessa vez a pé. Eu a segui bem perto, pois estava bem debilitada. A caminhada foi mais lenta que antes, por causa dos meus tropeços, mas enfim chegamos na aldeia.

Para nos receber, estava Purpura e Malesia ao seu lado. Ela correu para um abraço, ao que nos envolveu no mesmo momento. Malesia não se moveu do local onde estava, de braços cruzados e cabisbaixo. Além disso, estava com uma seriedade que eu nunca vi antes.

- Irmão... – Comecei, antes mesmo de ser solta do abraço. Quando fui libertada, caminhei até ele, fazendo uma delicada reverencia. – Sinto muito pela sua...

- Me leve com vocês.

- Como é?

- Vocês perderam um membro do grupo. Eu perdi um ente querido. Me leve com vocês, e eu prometo me tornar um excelente sucessor de Reno.

Foi só tocar nesse assunto, que Purpura entrava em desespero e começava a chorar, e eu também deixava algumas lágrimas escorrerem, por conta da amizade bonita que tivemos por pouco tempo.

Yomi se aproximou de mim e secou meu rosto, me acolhendo em seus braços. Eu consegui murmurar um “sim”, causando um leve sorriso no rosto do homem.

- Você nunca vai substituir meu irmão!

- Eu sei que não... Mas como disse antes, tentarei ser tão bom quanto ele em seu cargo. Agora, vamos. Já está tarde e vocês precisam dormir... Em suas casas.

...

- Vão indo, eu vou travar o portal para que ninguém de lá passe para Aljha Rhara.

- Você sabe onde Conchita fica? – Yomi perguntou.

- Sei... Podem ficar tranquilas. Daqui, no máximo duas horas, estarei lá.

- Estaremos te esperando. – Eu sussurrei.

Acenamos para ele, ao que ele retribuiu com um simples menear de cabeça. Adentramos campina a dentro, enquanto ele ficava trabalhando no portal, coisa que escutamos até chegarmos nos bosques de Paus.


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Notas finais do capítulo

Eu sei. As coisas caminharam rapido demais. Mas espero que esteja bom.
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