A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 2
Unidos


Notas iniciais do capítulo

Todos os escolhidos caem em um salão escuro e misterioso. Descobrem que unidos, conseguem abrir um portal para algum lugar.
Que lugar será esse?



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Poemas são flores abertas que nascem lindas em solos tristes. São cantadas para a lua, proferidas ao sol. As lagrimas de um poeta não escorrem dos olhos e sim da caneta.

Esse pensamento não viria de qualquer um. Mesmo dentre os poetas, não seria qualquer um que descreveria suas emoções assim. A dona desse pensamento é...

– Danya...

– Pois não?

Era a mercenária Danya. Mulher perfeita, atraente e dona de muitos corações masculinos. A poetisa, quando não estava caçando seus prêmios, estava compondo, cantando, tocando harpa ou paquerando.

Seus olhos são castanhos. Os cabelos negros estão sempre presos numa trança. Usa ou boina ou um lenço laranja. As roubas são de cetim ou couro. E colares de dentes ou de prata. De certa forma, a moça preferia ganhar seu ouro com a dança, mas... Isso nem sempre dá certo. Os homens bonitos estão casados.

– Sua amiga acabou de voltar.

– Byakushi...?

– Exato.

Danya e Byakushi são parceiras. Na verdade, a pequena rouba e a mais velha divide as pedras com os pobres. Claro que não trabalham sozinhas. Uma terceira mulher que já aparentava ser bem madura, com uns 30 anos. Era chamada de Lobo Azul, mas seu nome é Leona. E Leona era amistosa apenas com a sua sombra. Nunca sorri ou demonstra interesse. Suas palavras são frias e rudes. Os olhos eram... Tremendamente amedrontadores. Ela era loira. Os cabelos, na verdade, eram realmente quase brancos. A coloração das íris eram azuis... Quase verdes. Trajava couro e um casaco de gola acinzentada, quase azul... De um lobo falecido. Nunca largava de sua espada.

Dentre todas as “escolhidas” parecia que Danya era a única que realmente sabia que tinha algum dom diferente. Quantas vezes usou da tua habilidade para fugir de uma luta? Mesmo assim, era um grandioso segredo.

Dan desceu as escadarias da casa de madeira e viu sentada numa cadeira a pequena Morte Branca. Ela estava trincando a pedra que roubara com um martelo. Batia sem dó mesmo, marcando a madeira frágil da mesa. A poetisa torceu os lábios, mas não reclamou.

– Bya...

– Danya, isso aqui é teu. Isso aqui é meu... E o resto você distribui. – Apontava para os cacos de aquamarine espalhados por uma pequena região da mesa. O maior do lado esquerdo era apontado quando ela disse “é teu”. O maior do lado direito foi apontado quando ela disse “é meu”. Os menores foram amontoados no centro e era do povo.

– Eu estou começando a ficar preocupada. Você saiu sem avisar. Poderia estar ferida.

– Sei me cuidar. – Foi a única resposta. A pequenina olhou por cima dos ombros, para poder ver a parceira que estava atrás de suas costas. – Se você trabalhasse ao invés de paquerar os bardos das tabernas, eu não precisava roubar tanto.

– A “Paquera” é minha forma de conseguir dinheiro, Byakushi... – Danya se aproximou da pequena, se sentando em seu lado. Pegou sua parte da pedra e analisou-a de todas as formas. – Eles pagam para conseguirem um pouco de minha essência.

– No fim, você é uma cigana prostituta.

Quem será, não? Leona havia se aproximado de uma pequena caixa. La dentro, suas bebidas estavam esperando-a. Dan e Leona passaram a discutir coisas inúteis, e isso com certeza irritou a albininha.

A menina apenas se levantou, pegando sua parte da joia. Saiu da casa, descendo por uma escada de corda que ficava no lado externo da mesma. Ainda era noite. Caminhou pela rua esquecida por deus e cobriu a cabeça, para se proteger do sereno. Uma movimentação estranha ao leste chamou sua atenção, mas ela não foi ver o que era.

Uma luz avermelhada emergia da esquina. Fogo, possivelmente. E Byakushi não foi ver. Gritos, sons de espadas e choros... Tudo isso foi ignorado. Ela simplesmente seguiu para o oeste. Cantarolou uma musica aos céus, e dançava em meio ao chão. Estava contente por mais um dia sem se ferir... Mas o dia ainda não acabou.

Um vulto vermelho passou por perto da criança e pegou-a nos braços. Segurou-a de forma que a mesma não possa ver quem era... E saiu correndo. Como qualquer criança, Bya se desesperava. Passou a gritar pelas ruas, mas era inútil. Os moradores tinham medo de sair de noite. A pequena estava encaixada entre o braço esquerdo e o quadril do sequestrador. Pela curva da cintura, logo pode chegar a conclusão: Era uma mulher.

Nesse momento, a albina parou de gritar. Alguns tipos de tortura foram descartados, como, por exemplo, o estupro.

Quando já estavam bem longe de sua rua de origem, viraram em um beco entre duas casas e ficaram ali. Ela foi solta, e segundos depois, um exército do reino central passou correndo pelo vão, como um trem bala.

Byakushi estava com a boca tampada e só foi liberada quando a movimentação se acabou. Ela ia gritar com a outra, mas o “Shhh!” vindo daquela que a sequestrara a impediu.

– Não queria te assustar. Mas não tive tempo de conversar antes de pegá-la. Aqueles são os soltados do reino central. Estão atrás de Mariska. Como sou a única que sabe de tudo por aqui, eles descobriram que eu sei para onde ela foi.

– E por que me pegou? Não sou ela!

– Eles não querem nem saber. – A mulher escorregou pela lateral da parede, sentando-se no chão. – Atropelaram meu irmão. Ele faleceu. Não quero ver mais ninguém se machucando por causa dessa desgraça.

– E quem é você? – Byakushi também se sentou ao lado da moça, descobrindo a cabeça para terem um contato melhor.

–Meiying. Sou da província vizinha. Aquela pequenininha que não tem nome oficial, mas que todos chamam de Hua. Sou filha de uma família pobre de lá. Mas sou considerada uma traidora, então praticamente vivo uma vida nômade.

– Traidora?

– Não é coisa para conversar aqui... Venha, vou te levar para a casa de Acalântis. Ela pode te ajudar em algo.

– Eu já tenho casa... Ei! – Não deu tempo de terminar de falar. Meiying pegou-a novamente com um porquinho e colocou-a sobre as costas. Se aqueceu antes de correr até o destino. Não era tão longe assim.

Meiying usava uma longa roupa vermelha. A parte de cima era longa e uma faixa preta prendia-a na cintura. Nas pernas, uma calça também um pouco larga. Os sapatos eram pretos. Os cabelos eram bem curtinhos, mas dava para ver que tinha uma mecha fininha e bem longa, pintada de amarelo e vermelho, bem oposto do preto original. Os olhos eram rubros como o sangue e a pele era bem branquinha. A mocinha era bem mais alta que a pequena ladra. Dava para ver que Byakushi parava um pouco acima do seu umbigo e por isso era tão fácil de carregar.

A casa da outra estava a 2km de distancia. Bem mais longe do que a casa de Danya. Distância alcançada em 15 minutos. A mocinha era mesmo muito rápida. A casa de Acalântis era móvel, uma carroça presa em dois animais que muito se assemelhavam à dois avestruzes. Era rodeada de aves. Eles faziam ninhos nos telhados,e alguns voavam de lá dentro quando a porta foi aberta. Havia um homem deitado na cama, ruivo. Ele encarou as novinhas com desdém, enquanto Meiying se dirigia até a porta do pequeno salão de reuniões de Acalântis. Eles eram marido e mulher... O ruivo se chamava Adalberto, mas era bem conhecido como Renascente. Isso por que quando houve a ultima guerra para decidir se as províncias Hua e Harumonia pertenceriam ao reino central de Vlad, ele foi o único dos guerreiros de Harumonia a voltar vivo.

Meiying abriu a porta. Acalântis estava escrevendo uma carta ao rei Céu, pedindo para que ele devolva um bem precioso de sua família. Deixou bem claro que isso não tinha nada a ver com a província... Era um pedido dela, em particular.

– Quem é Caitlyn? – Perguntou Byakushi ao se aproximar da mesa e consequentemente ler algumas palavras da carta.

– Minha irmã. – A voz de Acalântis era muito grossa. Tipo... A voz de um homem jovem.

Ela era loira. Cabelos presos num rabo de cavalo, com um laço dourado que era mais comprido que o próprio cabelo. Os olhos eram castanhos. Vestia a roupa de um soldado vitoriano, fraque preto, calças justas e brancas, cintos brancos, e botas altas. O chapéu era preto, estranho, aos olhos da ladrinha, o famoso quepe. Ah, havia cintos em forma de “X” em frente ao peito. Roupas masculinas, que prendiam os seus seios, nada fartos. Ela realmente se parecia com um garoto, quando estava com o chapéu.

–Caitlyn... Foi a escudeira dela na guerra. Por ter matado o comandante do Rei Céu com uma habilidade peculiar, foi perseguida e por ser frágil, foi presa facilmente. Assim, está a mercê dos caprichos dos médicos de Vlad.

– Eles vão descobrir tudo... E não vai dar tempo de realizar o ritual.

– Que ritual? – Byakushi perguntou novamente, pegando o quepe e analisando-o.

– É segredo. – Ambas responderam em coro.

As mulheres e o homem cuidaram da ladra com muito carinho. Deram comida, banho, e trocaram suas roupas sujas e surradas e vestiram-na de laranja bem clarinho. Os cabelos foram presos em duas xuxas e a franja foi penteada para um dos lados. Foi nessa hora que a “loira macho” percebeu a marca na testa da menina. Arregalou os olhos castanhos e sorriu.

– A chave do ritual está aqui... E eu não tinha percebido.

– Ela é a chave?! –Exclamou Meiying, animada.

– Sem duvidas...

– Chave? – Perguntou Byakushi, roendo a unha do anelar canhoto.

– Você vai ver... Mas agora, tem que dormir.

Deitaram-na num colchão e a loira passou a niná-la como sua própria filha. A morena conversou com o ruivo a respeito do tal ritual. Ele acenou com a cabeça positivamente... Falando que de manhã, bem cedinho, ia reunir as escolhidas. Mas agora, todos precisavam dormir.

Meiying era realmente muito amorosa com crianças. Abraçou a pequena albina como se fosse um ursinho. Estavam deitadas sobre um cobertor no chão, já que naquela casa móvel havia apenas uma cama de casal, onde o rapaz dormia. Acalântis fez menção de ir dormir. Se deitou na cama, mas assim que percebeu que todos já haviam dormido, se levantou.

A mulher abriu a porta com sutileza. Foi até o coche e sentou-se ali. Pensou, ao som de corujas e outras aves noturnas. Criou consigo mesma mil planos de como chegar ao jardim central... Ela e sua irmã eram as únicas mulheres que sabiam da passagem secreta abaixo desse. Entretanto, nenhum dos planos parecia bom o suficiente. Colocou o quepe na cabeça. Chicoteou as aves com sutileza e as mesmas começaram a caminhar pela terra vermelha daquela província esquecida por deus.

As rodas tinham uma capa que só era colocada de noite. Era feita com a pele de cordeiros, para suavizar os barulhos e não chamar a atenção. Também evitava que a casa chacoalhasse em meio ao trajeto.

Teve a sorte de ninguém acordar. Estava desperta durante toda a noite e rodou quilômetros até o sol nascer. O pequeno galo azul engaiolado no topo da casa cacarejou. Apesar do barulho, apenas o homem acordou.

Adalberto pulou da carroça em movimento, e segurou-se nos degraus que davam ao coche. Subiu e se sentou ao lado da esposa.

– Por que não foi dormir?

– Não sei que tipo de maldades a minha irmã está passando. Isso rouba meu sono.

– Você ficará doente, assim. – O rapaz pegou as correias da mão da loira e passou a dirigir. A mulher se deitou no colo do marido.

Os olhos estavam pesados e ali, confortável, estava difícil de vencer o cansaço. Apesar disso, ela ainda não estava com vontade de dormir. Pediu para que seu marido conversasse com ela. Ele o fez, falando sobre o templo oculto, sobre os rituais, sobre o pacto. Ela respondia tudo com clareza. Quando o dia já estava bem claro, mesmo que muito cedo, Adalberto devolveu a direção para a loira e saltou de lá mais uma vez. Já estavam em meio à civilização.

Ele passou a se misturar em meio ao povo e pouco a pouco não se dava mais para vê-lo. A pobreza era deixada para trás. Logo, as ruas sem terra de Harumonia ganhavam a cor dourada dos paralelepípedos que forravam a rua do reino central. As casas de madeira davam lugar a belas casas de pedra e telhado forte. Altas, que cresciam de acordo com a aproximação do castelo. As aves chamavam a atenção, mas ninguém ousava perguntar de onde a caravana vinha. Mas também, com a rudeza dos traços da loira, era provável que quem barrasse morreria pisoteado.

E agora alguém havia acordado. O que ninava Byakushi era a melodia noturna dos bardos e das ciganas. Aquele grito peculiar e familiar dos comerciantes: “PEGA LADRÃO!” Os gemidos das prostitutas, as risadas altas dos bêbados... Era o ambiente que ela vivia. O bairro nobre do reino central tinha um silencio estranho... O silencio da riqueza. Não se via crianças para fora... Eram todas bem protegidas. E se via, era filho de algum camponês bem sucedido. Aquilo realmente irritada a albina.

Ela se sentou no cobertor. Meiying já havia se virado para o outro lado fazia algum tempo. Se espreguiçou. Foi até uma janela e olhou pelo vão da cortina. Era bem diferente de tua realidade. As casas eram luxuosas, mas tristes. Todos ainda dormiam, exceto alguns empregados. Byakushi não desejava estar ali. Estava bem.

– Estamos indo para onde, exatamente? – A menina perguntou, avulsa.

– Hmm... – Murmurou a morena, despertando. – Bya...? Bya!! –Acordou. Levantou-se num salto, assustada. Só agora percebeu que estava tudo bem com a pequena.

– Para onde estamos indo?

– Possivelmente, para o templo oculto. – Disse, em meio a um longo bocejo. – Mas o por que de irmos agora, não sei.

E então, a casa parou. O lado que a albina via focou em uma grande loja de armas. O outro lado, dava para o jardim central. Estava longe... A uns 15 metros da carroça, mas perto o suficiente para poderem andar a pé.

A porta se abriu. Um guarda do Rei Céu deu uma rápida geral no quarto, e encarou por longos minutos a albina. Perguntou o nome dela. Ela respondeu... Perguntou de onde vinha. Ela respondeu... Perguntou sua idade. Ela respondeu.

Os homens do reino central eram bonitos, mas rudes. Sempre rudes. Isso afastava as garotas. Rapazes do exército, eram realmente mais tarados ainda, por ficarem longe do sexo feminino por anos e anos. E Byakushi era uma jovenzinha atraente. A sua carinha de anjo a fazia ser ainda mais atraente que Meiying. O guarda se aproximou. A menina finalmente se virou para ele, encarando-o seriamente.

– Precisamos dela virgem. – Acalântis apareceu. O olhar pervertido de um homem era como barro em águas claras... A mulher sempre percebia.

– Não falei nada.

– Seus olhos falam por ti. O que quer com a pequena?

– Boquinha delicada, a dela... Deve ser ótima no... – Foi interrompido pela própria albina.

Byakushi sabia muito mais que muita mulher madura. Perguntou para ele o que ganharia em troca. O rapaz falou que liberaria a passagem da carroça pela cidade, e permitiria a entrada no jardim central.

A menina encarou a loira pelo vão entre o braço e o corpo do guarda. A moça piscou com o olho esquerdo e pediu que a morena também se retirasse da caravana.

E então, a albina começou seu trabalho. Meiying se mostrou um pouco excitada. Acalântis queria vomitar.

Mas então, um silêncio súbito tomou a conta do quarto. Byakushi saiu do quarto e estendeu uma garrafa quebrada pra loira. Explicou o ocorrido e ambas foram ver a cena. Enquanto estavam lá dentro, a albina colocou indicador e dedo médio na garganta, vomitando tudo o que tinha no estomago... No caso, apenas o esperma do guarda.

Acalântis saiu novamente da sala, e assoviou de uma forma peculiar. Logo, vários corvos voaram do horizonte até a casa móvel, e penetraram pela janela, para fazer o trabalho de lixeiros.

Agora sim podiam ir.

As três invadiram a grama verde e seguiram até o centro do grande jardim, onde havia uma velha arvore. Tinha vários nomes de casais gravados nela. E aparentemente, era uma arvore oca, pois havia um buraco em sua raiz. Foi nessa hora que Meiying se perguntava se aquela era a entrada para o templo.

Byakushi resolveu verificar primeiro. Invadiu o grande buraco e viu gravado na madeira um símbolo parecido com o de sua testa. Um brilho forte e alaranjado incomodou os olhos azuis da criança e logo, tudo ficou escuro.

...

– O que é isso? – Danya colocou a mão sobre uma pedra alaranjada de sua capa, com forma peculiar.

Leona estava afiando a lâmina. Não viu ou fingiu não ver o que houve com sua amiga. Ela também se envolveu com um clarão laranja, como Byakushi e foi transportada para uma sala escura.

Danya caminhou pela sala, no avulso por não saber onde estava. Logo, viu um altar enfeitado com rosas brancas e pequenas floresinhas alaranjadas. Estava iluminada por uma luz misteriosa, e Byakushi estava lá, deitada.

– Byakushi!! – Dan correu até a albina, e agarrou-a nos braços. Acariciou os cabelos da menina até que a mesma despertasse.

Byakushi abriu os olhos e sorriu ao ver o rosto da amiga. Perguntou baixinho onde estavam e... Não obteve resposta, já que a outra também não sabia. A menina ficou em pé, e Danya serviu de apoio para a coitada. Ficaram olhando para o nada negro, na espera de uma resposta.E ninguém aparecia.

– Vamos esperar, um pouco... Logo descobriremos onde estamos e como sair daqui. – Concluiu a poetiza.

E ficaram lá, em pé. Conversaram sobre a nova roupa da albina e fizeram joguinhos tontos, só para passar o tempo. Na cabeça das duas, já estavam ali durante horas, mas não... Foram vários minutos. Num certo momento, sentaram se no chão. Lado a lado, sobre uma marcação estranha, um desenho opaco de uma circunferência com varias divisões internas, e apenas uma das divisões com o interior pintado de laranja. Foi o pisar de ambas ali que acendeu uma trilha fininha, também alaranjada, que dava a um possível altar ainda maior e mais alto. Não havia escadas ali. Era apenas uma torre circular.

Elas olharam a trilha e um pouco da torre, que ficara exposta com a pouca luz. Byakushi achou graça e ameaçou se levantar para ver o que era, mas foi impedida pela parceira.

Foram duas horas de espera, até que um barulho estranho tomou conta da sala. Um altar ao lado esquerdo daquele de Byakushi se revelou, vermelho. Era realmente vermelho e branco, e seus enfeites eram, basicamente, rosas brancas e lycoris vermelhas. Uma pequena ruivinha de olhos castanhos apareceu ali, sentada no chão. Reclamou de dores no quadril por causa da queda. Segundos depois, Meiying também apareceu ali.

As duas não eram amigas, diferente de Dan e Byakushi. Conversavam pouco e a pequena parecia ser bem explosiva. Qualquer coisa que era repreendida, xingava. Até que por birra, bateu o pé forte na parte pintada em vermelho no chão, dentro da mesma circunferência do altar. Só que aquela parte pintada era diferente, uma outra divisão do circulo.

Meiying até tentou sair do altar pra conversar com Byakushi, mas algo invisível impediu sua saída. Passaram a conversar à distancia, e Danya perguntou seu nome, de onde conhecia a albina, um pouco de tudo. Era realmente como se estivesse com ciúmes.

– Essa é Haruna. Falaram que ela é a minha parceira pra entrar no templo, mas por alguma razão, ela não gosta de mim.

Mesmo sendo bruta, ao ser apresentada a menina fez uma reverência bem fofa e pegou no vestidinho rosado, com detalhes e vermelho. Ele era longo, rodado, bem meigo. Byakushi comentou do laço nos cabelos, prendendo uma das mechinhas para trás da cabeça. A menina acabou se soltando e conversando mais.

Em poucos minutos, foi o altar direito de Byakushi que se iluminou. As duas crianças esperavam mais uma menininha como elas, mas então veio a surpresa: Quem apareceu foi um adolescente com seus 15 anos, loiro, belo, de olhos azuis bem claros. Ao seu lado, Acalântis apareceu e sem demora ativou o seu botão amarelo. O altar era amarelado, com rosas brancas e margaridas. Aliás... Dava para se ver que em todos os altares as rosas eram sempre brancas.

– Qual... Qual seu nome? – Byakushi perguntou. Ela era pequena, mas mais velha que Haruna. Era comum se interessar por rapazes, já nessa idade.

– Kenji. – Ele disse. Sua voz era grossa, suave, uma droga única que acertou a albina em cheio, corando sua face.

Acalântis encarou a mocinha e sorriu, pela primeira vez.

– O templo é escuro... Mas nos livros dizem que quando as sete chaves estão unidas, um portão se abrirá e iluminará a sala. Só devemos esperar.

– Acalântis-sama, me diga... O que exatamente devemos fazer? – Kenji perguntou.

– Não se preocupe, você entenderá... Todos vocês vão. – E ao terminar de dizer, um novo estrondo.

O altar verde se iluminou. Rosas brancas eram abafadas pelas Eras enroladas entre os pilares. Lá, Katrinah acompanhada por Tahra, uma mulher de 18 anos sem um dos braços. Katrinah era a primeira guardiã que apareceu lá cuja idade era inferior à idade de sua governanta.

– Eu ainda não entendo. – Ina disse, com os olhos mareados. Possivelmente, tudo aquilo estava assustando-a.

– Você nunca se perguntou o por que de sua aparência ser tão diferente da do teu irmão? De ter olhos e cabelos esverdeados e ele não? – Começou Acalântis.

– E você não pode desistir agora. – Completou Tahra. – É minha parceira, não é? Minha protetora, como o ruivinho falou. É mais nova que eu sim, mas com certeza tem uma explicação para isso acontecer. Se me deixar sozinha, eu serei inútil.

A deficiente se apoiou no peitoril atrás dela. A loira do altar amarelo pediu para que Ina subisse em cima do quadrado pintado de verde. Quando a mesma o fez, a mesma luz guiou uma trilha até o altar central. Não deu tempo de conversarem mais. Logo, duas almas familiares apareceram no altar azul, decorado por rosas brancas e pequenas bluebells. Ina ficou feliz ao ver Cinara e Saryel ali. Kenji também ficou, assoviando ao ver a beleza de Saryel.

A moça parecia ser a única que sabia o que fazer. Falou para Cinara subir sobre o símbolo azul para que a luz ligasse os altares.

– Saryel!! Cinara!! Finalmente alguém que conheço!! Cadê a Mari?

– Está lá em cima. Possivelmente virá também... Ela deve ser a governanta da luz. Não sei de tudo também, não é?

– Você também leu o livro, não é? – Perguntou Acalântis, encarando a sereia.

– Algo assim. Cinara tem algumas páginas dele consigo. Eu só conheço o que está escrito nelas.

– HAH!! – Exclamou a loira, novamente, apontando para as duas. – É por isso que o livro falta paginas!

– Minha sincera desculpa, Acalântis, mas... – Cinara balançou os cabelos, sensualmente. – Mas foi para o bem da mestra Saryel.

Ina resolveu perguntar um pouco mais sobre o assunto. Elas explicaram sobre coisas sobrenaturais, cujas tais soavam confusas no momento. Byakushi mandou todas se calarem, pois havia sentido o tremor novamente.

E estava certa... Logo, no altar com pequenas violetas, uma mulher que não podia ter menos de 23 anos apareceu, com longos cabelos negros e de raiz roxa. Ela usava roupas típica dos magos, com capa longa, sapatilha, e um belo vestido, e seus olhos, para surpresa de todos, também eram roxos. Com ela, um rapaz também muito bonito, moreno e de olhos azuis, com seus 19 anos se fixava na parte roxa do circulo. Estava de braços cruzados e bem sério.

– Prazer... – Disse a mulher, se curvando para todas as outras governantas. – Sou Murasaki. E esse é Reno, meu querido irmão. – Ao ouvir seu nome, ele assentiu com a cabeça.

No mesmo momento, veio uma criança com seus 13 ou 14 anos. Era a guardiã do altar azul-marinho. Era tímida, e tinha um dos olhos rubros e o outro azul. Seu cabelo era preto, com parte da franja azul... E ela vestia um vestidinho azul escuro. Com ela, uma menina da mesma idade, mulata e cega, com cabelos negros e roupas escuras.

– E vocês devem ser... – Começou Meiying, sendo interrompida.

– Sou Kita... E ela é Lukaria. – Sussurrou a guardiã de cabelos bicolor.

Mais uma vez, todos se calaram. O mesmo barulho, só que um pouco mais forte tomou conta do templo oculto.

Diferente de todos os outros altares, que se acendiam para a direita, um todo branco e enfeitados somente com rosas brancas se acendeu para a esquerda. Mariska apareceu, chorando muito. Ina perguntou o que houve, gritando, já que estava bem longe. A loirinha tentava explicar mas não conseguia. Murasaki disse que escutou a conversa antes de ser mandada para o templo. Rainha Helena havia mandado vasculhar todas as casas e matar todos que se colocarem em seu caminho. A loirinha era contra a essa carnificina, principalmente por que a culpada era ela.

– Você não é a culpada, Mari... – Disse Ina, tentando sair do seu altar para dar carinho à sua amiga que estava sozinha.

– Por que ela está sem parceira? – Perguntou Byakushi, com uma expressão de dó e desdém ao mesmo tempo.

– Por que... – Acalântis colocou a mão na boca, pensando no pior.

Quando a invocação de uma das guardiãs falha, quer dizer que essa tal está morta. Mas o desespero da loira durou pouco. Após mais dois minutos, a guardiã da princesa apareceu.

A loira estava exausta e desnutrida. Não estava magra, mas a palidez e a falta de vivacidade estava bem a mostra.

– Perdão... Eles fizeram de tudo para eu não estar aqui. – Sussurrou a mulher. – Está tudo bem agora.

Caitlyn era de longe muito mais bela que a irmã. Era alegre, divertida, e sempre muito dócil. Diferente da irmã, trajando seus trajes de soldado vitoriano, Caitlyn trajava vestidos alvos da mesma época. Os cabelos enrolados viviam armados, presos por fitas e arranjos florais. E ela vestia luvas grossas. Mas... No momento, a loira não estava assim. Usava apenas um vestido liso, as mãos estavam acorrentadas em frente ao colo e os cabelos estavam molhados graças ao suor das minas onde trabalhava para o rei.

– Você está bem? – Acalântis perguntou, preocupada.

– Eu estou cansada. Mas vou ficar bem. – Ela teve de se sentar. Mari ajudou-a, antes acatando o aviso de nunca tocar em suas mãos.

O momento meloso foi quebrado com a chegada de Josephina, no altar cor de rosa. Não havia rosas, ou flores. Eram apenas espinhos enrolados nos pilares.Com ela, uma mulher de armadura vermelha e prateada, cabelos negros e levemente bufantes, com uma faixa na testa, também vermelha... E... Olhos rubros e fendados como os de um demonio. Ela era Theia. Seu nome fazia estremecer o templo e Josy parecia ter odiado a ideia de ser guardiã da governanta que a matou... Mas naquele momento, Theia parecia não saber que Josephina era sua antiga filha Lunatus.

Por fim, o altar negro. Ele não tinha nenhuma planta. Era só ele e a prata. Lá, uma dita maga das montanhas veio como governanta. Se chamava Mufasa. Com ela, uma grande e sedutora mulher de cabelos negros amarrados num belo rabo de cavalo ondulado. Os olhos mudavam de cor constantemente, do azul ao roxo. Trajava uma capa marrom e roupas negras, com pequenos detalhes em prata e safiras. Era Achila, a guardiã da morte. Não falaram nada, nem comprimentaram os companheiros. Apenas faziam o seu papel.

E então, todos os botões foram ativados. A torre central foi finalmente iluminada e a imagem contrariava tudo o que as meninas imaginaram. Não era um altar como os outros. Tinha quatro belas tochas em suas pontas e de um dos lados o grande circulo que havia no chão de todos os templos estava desenhando, só que agora com todas as partes internas pintadas. O painel se relevou ser uma grande porta. Ao ser aberto, uma imagem parasidiaca foi exibida como se fosse uma pintura. Mas era real.

A torre continha duas escadas laterais. Cinco das luzes acertavam uma delas e as outras cinco acertavam a outra lateral. Acalântis deu a ordem para que todos os governantes e guardiões seguissem escadarias acima.



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Notas finais do capítulo

A inspiração foi fail. Esse cap não me agradou completamente, mas consegui mostrar o que eu queria: O templo que ligava A.R ao mundo material.
Apesar da chegada repetitiva de cada um dos escolhidos, tentei descrever cada altar com detalhes.
Merece Reviews?



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