A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 11
O segredo da Lua


Notas iniciais do capítulo

Os heróis novamente descobrem segredos do passado, e esse, em particular, será o genitor de uma das batalhas mais intensas que nossa albina enfrentará. Quem será o oponente?



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- Banidos de Sanddrif, o casal mais jovem dentre os quatro filhos dos reis falecidos se exilou em um planeta menor. Apesar disso, as fêmeas orianas mantinham contato através das estrelas. O casal mais jovem recebeu a noticia de que Aiya havia sido banida, convidaram-na para morar com eles, mas... Ela recusou.

- Por que recusou? – Perguntei, aproximando-me mais do sacerdote, até que ele me envolveu com um dos braços, como se eu fosse um urso de pelúcia.

- Ela queria mostrar para seu irmão que podia ser melhor que ele. Além disso, entregou você aos humanos, antes de começar com seu trabalho. Seria terrível que você se envolvesse tão pequena com algo tão grande quanto o projeto de Aiya. Apesar de saber disso, eu não conheço a historia da rainha, e sim da sua irmã mais nova, exilada.

- Qual seu nome...? – Acalântis perguntou, apertando os olhos.

- Para comemorar a evolução da raça... - Ele desconversou – Os dois machos se uniram por um mês, no tempo oriano, forjando presentes para as cinco esposas de Zatsu e a fêmea do mais novo. Entregaram para a primogênita de cada uma das quatro esposas do mais velho uma espada: Killer, que ficou com Ghanida. Orologio, que ficou com Eisblume. Rursus, entregada à Pleiades e Turin, espada que vira duas, entregadas a Vathya e Melina.

- Todas meias irmãs minhas, eu creio... – Perguntei, encostando a cabeça no ombro do sacerdote, me divertindo com as expressões de Kenji, morrendo de ciúmes.

- Exatamente.

- Mas está faltando duas. Aiya e a mulher do irmão mais novo. – Disse Kenji, com a voz rouca de raiva.

- Como Zatsu não encontrou a irmã e nem sua filha, entregou um cetro à Adeste, que viraria um colar nas mãos da filha de Aiya. – Enquanto ele falava, eu tocava na joia em meu pescoço, vendo o nexo das suas palavras. – E eu fiquei com o colar que seria dado à uma das filhas do casal mais novo. Também a primogênita.

- QUEM É O CASAL MAIS NOVO?! – Acalântis perdeu sua paciência, apontando a espada para o sacerdote, que me soltou para que eu fugisse, caso algum ataque viesse contra ele.

- Theia e Theon.

Escutamos a espada de Aurora... Sim, eu tinha que me acostumar a chamá-la assim agora... Cair no chão num som metálico. A moça ainda estava com a mão para frente, como se ainda estava empunhando alguma arma. Os olhos arregalados mostravam a surpresa que nem eu e Kenji escondíamos.

- Co...Como assim... Theia e Theon? – Eu disse, tomando fôlego e voltando a me aproximar. – Quer dizer que a Yomi e a Luna...

- São orianas da classe mais baixa de acordo com a hierarquia da raça. E você herdou sozinha a classe alta.

Não era comigo, então por que? Só lembro de ver bolinhas pretas ao meu redor, tudo girar, ficar embaçado e de como o chão era áspero.

...

Acordei no colo de Carmaux. Não sabia quantas horas havia dormido, mas sabia que quando acordei, todos ainda estavam dormindo. Me levantei do colo do moreno, olhando ao redor e tossindo freneticamente, fechando os olhos que começaram a arder.

A fumaça estava mais densa, e a lava do lago de fogo já havia invadido a margem de terra. Estava bem próxima de nós.

- Gente! Se não nos apressarmos, isso aqui vai nos devorar!

Apesar de gritar isso, o único que despertou foi Carmaux. Ele deu um salto, olhando para o estado dramático da caverna. Alegou que os loiros não iriam acordar cedo, graças ao efeito da fumaça toxica, e que eu teria de carregá-los. O moço pegou Aurora nos braços, e eu fiz de todo o possível para levantar Kenji em meus ombros. No ultimo segundo que ficamos lá dentro, vimos uma mancha escura sobre uma das pedras que boiava.

- GHANIDA! – Carmaux gritou, ao que não obteve a resposta. A caverna havia desabado.

O moreno deixou a loira no chão e correu até o monte de pedras, revirando-as como se quisesse ir atrás da ruiva. Ele ofegava, a cada segundo que se passava e a passagem não era liberada, até que desistiu, caindo sentado no chão. Me aproximei por trás dele, sussurrando.

- Ela disse que não ia desistir enquanto não tirasse de mim algo que Zatsu quer. Então... Sãos os filhos mais jovens...?

- Nida sempre foi fiel ao Reino de Espadas. E agora, ela está...

- Ela não morreu.

Eu sabia que não. Orologio brilhava fortemente em minhas costas, e isso sempre acontecia quando Ghanida estava por perto. Puxei-o pelo braço e ele lutou um pouco antes de obedecer. O moço caminhou até a guardiã e colocou-a de bruços no ombro, e seguiu caminho, sério. Eu novamente me esforcei para erguer Kenji, mas logo estávamos de volta a caminhar.

Eu estranhava o caminho. Ele era muito rochoso, arenoso, continha poucas arvores, mas todas muito altas. O chão era cheio de escorpiões que se afundavam e subiam novamente pela areia, ao que o sacerdote me disse que se não tocasse neles, nada aconteceria. Passamos por uma vila de casas de pedra e telhado de palha, com caldeirões extremamente cheirosos, que me dava água na boca. As crianças brincavam de brigar, e todos eles, apesar da pele escura e anormal, eram extremamente lindos.

As donzelas eram esguias, mais baixas que a classe Ouros, e vestiam couro. Um top e uma longa saia. Dava para ver nitidamente que a raça Espadas era bem mais pobre. Mais humilde e de cultura bárbara.

Chegamos numa parte do bairro onde a rua era sem saída. Havia um poço tampado no centro da rua e mesas cheias de comida nas calçadas. O moreno pegou uma garrafa que cheirava forte, passando por baixo das narinas dos loiros, que acordavam na mesma hora.

Um senhor de meia idade nos ofereceu um café da manhã reforçado, já que o sol já brilhava um pouco. Kenji comia como se nunca tivesse visto isso na frente, e Aurora devorava o prato com rapidez, mas delicadeza. Eu comia lentamente, escutando um som que se aproximava. Olhei para trás, me virando no banco.

Um grupo vestido com roupas que lembravam o estilo árabe tocavam pandeiros e tambores, até que uma moça de pele tão morena quanto a do sacerdote subiu sobre a tampa do poço e passou a dançar de acordo com o ritmo.

Descalça, calças bufantes vermelhas com um pano até os joelhos verde escuro, tope também vermelho cheio de pedrarias verdes e amarelas, turbante verde com uma longa pena vermelha em sua fronte e um véu cobrindo os ombros, olhos amarelos e cabelos longos e pretos, lisos como uma seda, chamava a atenção de todos daquela rua, até que irritado, o sacerdote se ergueu e cruzou os braços, olhando para ela.

- Nika! Se comporte!

- Mas meu amor...

A moça pulou dali. Era incrível ver a tamanha diferença entre aquela raça e a raça de Eisblume. O mais surpreendente no entanto foi saber que um sacerdote poderia ter uma fêmea. Apesar de ter medo de perguntar algo assim, Aurora retirou o peso de meus ombros.

- Eu pensei que sacerdotes eram santos demais para terem relações sexuais.

- Eu não sou um sacerdote. Já lhe disse que era minha irmã que tinha de ficar no templo. Eu sou apenas um substituto.

A negra falou para seu amado que aquelas companhias eram inconvenientes e que não eram bem-vindas no Reino de Ouros. Tive de lhe lembrar que eu era filha de Aiya e que estávamos em Aljha Rhara, e não em Sanddrif. Ela rosnou, sacando uma adaga do cinto, mas foi parada pelo sacerdote, que me encarava com um sorriso safado.

- A albininha não vai se colocar entre nós, minha deusa. Afinal, ela deve ser frágil demais para imaginar algo do meu tamanho sobre seu corpinho delgado.

A negra riu. Riu de forma sádica, tossindo logo depois. Dessa vez, fui eu quem ri.

- De qualquer forma, o que descobrimos hoje foi um tanto pesado para nossa cabeça. – Aurora fez o colar sambar entre seus dedos. Possivelmente estava pensando se seria uma boa ideia entregá-lo à Yomi ou não.

A dançarina nos expulsou do terreno, falando que não deveríamos pisar naquelas terras novamente. Antes de eu sair, fiz uma reverencia à Carmaux, perguntando onde a espada de Espadas estava. Ele falou que ela vivia colada em Ghanida, e que seria um desafio arrancá-la da ruiva.

- Afinal, ela não é como Eisblume, nojenta, que não gostou da espada por não fazer seu estilo. Ghanida é forte.  Lembre-se.

Depois disso, acenei ao casal e me afastei, ao que fui seguida. Se Aurora ia ou não contar à Yomi, não haveria problemas... Mas eu sabia que EU contaria a ela.

...

Sentimos falta das aves de Aurora, ao que ela lamentava profundamente por não ter conseguido salvar as criaturas. Perguntava em voz alta quem teria a coragem de matar aves tão belas. Eu completei seu pensamento, falando que Maux não parecia usar uma sarabatana, então com certeza foi outra pessoa.

- Aquela aldeia nojenta... Não vejo a hora de acabarmos com o reinado de Zatsu e limpar essas terras desses parasitas!

- Eu sou uma dos parasitas, Aurorinha... Não se esqueça.

Se a loira queria me irritar, havia conseguido. Me afastei com passos firmes, e corri até os portões caídos de Conchita, finalmente me sentindo protegida. Mas nossos problemas estavam ainda começando.

Aiya havia “instalado” um sistema de percepção, para sabermos quando havia algo errado dentro de Conchita. Todas as aves que acompanharam-na no dia em que se apresentou a nós, circulavam a província em desarmonia, piando freneticamente.

E... Dessa... Vez... A província... Era... A da Lua.

Eu gelei. Theia e Theon eram orianos. Theia e Theon eram reis. Theia e Theon mataram os filhos. Theia e Theon eram demônios. Theia e Theon... Eram inimigos.

Corremos até a província em questão, não encontrando ninguém no nosso caminho. Todos os governantes estavam por lá? Impossível. Isso ia deixar as outras províncias vulneráveis a um ataque. Estávamos diante da lagoa, centralizada em um bosque de arvores medianas e frutíferas. A água do mesmo estava vermelha e densa, e do outro lado Theon despejava os corpos dentro da mesma, tremendo e chorando. Diferente da irmã, percebi só agora, o rapaz tinham belos olhos verdes. Verdes, claros, e brilhantes. Ele nos olhou, e temendo que eu o atacasse, correu, caindo após tropeçar em um tronco caído.

Circulamos o lago. Eu particularmente estava assustada. Me aproximei dele, falando que estava tudo bem, e o mesmo me agarrou pela gola da roupa, gritando ao pé do ouvido.

- POR QUE?! Por que não nos disse que não éramos humanos?! Sabe o que Theia está fazendo com nossa província?! Olhe bem... Olhe bem o bilhete que um cavalo marinho voador trouxe para minha irmã!

Ele tirou um bilhete manchado de sangue e todo amassado dos bolsos. Eu passei meus olhos nas letras, mas a caligrafia era enfeitada demais e demorei para entender.

“Queridos irmãos menores. Eu, rei de Orion e futuro rei de Aljha Rhara, escrevo-lhes para mostrar que não guardo rancores das ofensas e peço desculpas pelo banimento. Tenho certeza que não entenderão as minhas palavras no momento, pois Aiya, a liderzinha de vocês, preocupou-se em mandar que Maux apagasse os vestígios do passado de vocês. Não são apenas irmãos... São um casal, e tem duas filhas cujas tais tinham corpos orianos antes de morrerem. E agora estão vivendo em corpos mortais, graças a você, meu irmão. É muito fácil conseguir o poder que tanto desejam: Matem todos que se opuserem contra vocês... Venham até mim! O trono ao lado esquerdo é, com certeza, pertencente à vocês. Se não acreditam em minhas palavras, olhem para minha doce cavalaria. Ela, uma fêmea alada, diferente do macho terrestre, possui o olhar da verdade.”

- Esse olhar da verdade...? – Por que eu estava calma? Por que não conseguia sair gritando? Eu estava próxima de ver uma carnificina e não mostrava reação.

- Uma pedra... Uma pedra vermelha e azul que estava no colar da quimera. Theia acoplou-a em sua bandana. Agora ela sabe de tudo. Sabe o que fez. E eu também sei.

O moreno me agarrou de forma desesperada, chorando em meus braços. Ele não era nada parecido com Theia. Ele era gentil. Estava chorando de verdade.

Após me afastar, pedi a Kenji que levasse o moreno em algum lugar tranquilo e pedi à Aurora que os acompanhasse, caso alguém esteja prestes à lutar contra. Após uma breve discussão, saquei Orologio e corri mata a frente, procurando a residência do tão temido demônio.

À frente, morte. Aos lados, também. Todas as pessoas que anteriormente viviam ali, estavam caídas, com suas cabeças decapitadas e postas em postes pontudos, que deixavam o sangue escorrer. Ah, o cheiro de sangue fresco! Como eu odeio!

Corri ainda mais, finalmente invadindo a casa da morena com uma forte espadada no cadeado.

O chão estava pintado de sangue, em dois rastros. O da esquerda era rubro. Puro. Rico. O da direita era mais escuro, com um tom roxo misturado. Segui as duas trilhas e vi o que não queria ver, mais uma vez.

Como Jesus, Yomi e Lutanus estavam crucificadas na parede, braços e pernas pregados com grandes pregos, de tamanho anormal. O sangue delas escorria em abundancia. Eu deixei Orologio cair, batendo forte na poça de sangue e espirrando-o em minha roupa.

- LUNATUS! YOMI!

Com os olhos mareados, corri até elas. Subi em cima de uma mesa, tocando desesperada o rosto de Yomi, que apesar de ferido, estava quente. Coloquei a mão em seu pescoço. O coração batia. O sangue dela era o vermelho vivo. A morena estava desmaiada. Depois fiz o mesmo com Lunatus, tremendo. Manchei meus cabelos com o sangue levemente roxo, assim como as mãos e parte do rosto. Gritei com a voz tremula, não conseguindo acreditar no que via. Me afastei, em choque, caindo no chão sentada. Senti o corpo queimar. Lunatus tinha uma doença, eu me lembrava, mas qual era? Eu não recordava o nome. Escutei passos. Me arrastei para trás, pegando Orologio e segurando-a em frente ao corpo, enquanto ela vibrava mais do que bambu verde.

Como estava tudo meio escuro, não vi de onde a lança veio mas lembro-me da dor.

- Ahhhh!! QUE ISS...!! Hã?!!

Uma risada sádica apareceu, assim quando eu vi a parte inferior da roupa de Theia. Senti a sola dura de seu sapato, quando ela pisou em meu estomago de tal modo que perdi a respiração da mesma hora. Ela girava a lança, e pude ver a cor vermelha de seus olhos quando a luz voltou a acender, mesmo tendo alguns apagões.

- Bem vinda, sobrinha!


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Notas finais do capítulo

Era para contar apenas o passado das espadas, colares, e falar sobre Theia e tals... Mas aí pensei: O que eu faria no proximo cap? Que tal avançar um pouco as coisas e fazer com que Bya enfrente mais alguém? E não pode ser qualquer um... Tem que ser alguém que não participa do exército, mas que é tão poderoso quanto uma das generais de Mirabilia... Então... Por que não... Ela?
Reviews? ♥



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