A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 1
A princesa e a Ladra


Notas iniciais do capítulo

Onde a princesa Mari começa sua aventura em busca da liberdade. Enquanto isso, uma gatuna anda roubando jóias da classe alta para ajudar sua classe pobre.
Os caminhos de ambas irão se cruzar?



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Existem muitos reinos por aí. Alguns que ainda vivem nos tempos atuais, e outros que estão apenas na memória de suas terras. Mas havia um... Um especial que era magnífico.

Havia alcançado seus tempos de ouro. E existia uma família orgulhosa de tudo isso. O glorioso rei se chamava Vlad. Mais conhecido como Rei Céu. Seus cabelos negros viviam escovados para trás e suas roupas obscuras contrariavam a felicidade dos olhos verdes. Sua fiel mulher se chamava Helena. Rainha Lena, como era chamada. Loira, de longos cabelos trançados, era mais tirana que o rei, e sempre usava um vestido azul e dourado. Eles tinham uma filhinha, a pequena Mariska Elisabeth, conhecida apenas como Princesa Mari. Vivia de vestido branco, os olhos eram iguais os do pai, mas os cabelos dourados eram iguais aos da mãe. Linda.


Mariska vivia na torre mais alta do palácio e seu quarto era perfeito, enorme... Tudo, absolutamente tudo foi programado para que a menina não se machucasse nunca, e havia dado certo. A pequena Mari nunca havia caído no chão ou feito um corte nos dedos. Ela era uma boneca de porcelana que os pais nunca deixavam quebrar... E todos os dias imaginava a cor do sangue.

Sua dama de companhia chamava Saeris. Uma mulher de pele muito clara, olhos misteriosos e esverdeados e uma índole gentil, só que fria. Era gentil com a pequena, e fria com todo o universo. Usava sempre vestidos azuis, longos, e os cabelos negros também bem compridos escondiam as costas e ombros. Sabia que mesmo a pequena tendo uma vida perfeita, havia algo que contrariava a perfeição.

Quando a menina não estava pintando desenhos nos seus cadernos, estava olhando pela janela. Olhando a evolução camponesa, e desejando poder fazer parte. Via as crianças de sua idade brincando pelos campos e logo ela fechava os olhos, para se imaginar lá. Quem prestava atenção percebia... Que todos os seus desenhos esboçavam um mundo antes nunca conhecido.

Saeris acompanhava a solidão da princesa e era a sua única companhia. Mesmo não querendo, deixava que a pequena escovasse seus cabelos sempre que estava entediada. Conversavam sobre a vida selvagem e por meio de livros, Mari podia ter uma noção da fauna e flora que nunca podia ver.

Mas houve um dia que a dama não aguentava mais. Viu pela primeira vez a pequena princesinha chorando e ao perguntar, percebeu a dura realidade que a cercava. Enquanto estava na janela, uma pobre menina a chamou para brincar e os guardas, quando viram a cena, expulsaram a menina por meio de pedradas.

– Por que? Eu não sou tão diferente de todos eles. Sou uma criança... Não posso brincar?

– Mariska...

Saeris tirou as mãos da frente do colo e estendeu-as abertas, no mesmo momento que se abaixou para ficar no nível da princesa. A menina correu até sua protetora e começou a chorar ainda mais. Mas ao ouvir a melodia da mulher, seus soluços diminuíram de ritmo e acabaram na garganta.

– Mariska, eu não quero mais te ver assim...

– Eu quero sair daqui!

– Eu vou te levar até a casa da minha irmã. Ela é mais nova que eu, mas é sábia e conhece muito sobre a vida camponesa. Seus pais não passam muito tempo com você. Vão demorar para perceberem que você sumiu.

Sim, a ideia era boa. Saeris colocou a pequena dentro de uma grande mala de couro mole. A pequena não tinha mais de 25 quilos... Era fácil para a dama carregar. Passou a descer as escadarias com a mala amarrada nos ombros como uma mochila. Aos empregados, falava que era apenas roupa suja... Mas foi difícil desviar a rota até a saída, já que a lavanderia era longe das portas. Quando finalmente conseguiram sair dos portões do palácio, Saeris passou a caminhar o mais rápido possível e na primeira esquina, retirou o saco das costas e soltou a menina.

– Você... Já está parecendo com a plebe com essas roupas. Eu não posso te acompanhar agora. Precisa ir sozinha.

Saeris se abaixou novamente para ficar na altura da pequena e beijou-lhe a testa. Desejou sorte e apontou para o caminho qual ela deveria seguir. A casa de sua irmã era pequena e tinha um mensageiro dos ventos roxo em frente da porta. Era difícil de confundir... Até mesmo para uma menina de 8 anos.

E assim foi. Mariska se despediu da mulher e seguiu viagem. Ela cantava baixinho musicas que aprendera com a mãe e com a dama de companhia. Enquanto pode ver a torre do castelo sabia para onde ir, mas chegou uma hora que os telhados altos das casas mais nobres cobriram seus olhos e roubaram o ponto de referencia da mocinha. Engolida pelo ambiente desconhecido, a pequena se mostrou mais cautelosa e apressa o passo sempre que via algum homem pervertido olhando maliciosamente para aquela perfeita boneca. Sabendo que seu destino era pequeno, acreditava que estava bem longe daquele bairro.

Seguiu durante algumas longas horas. Isso por que cruzou esquinas que não deveria cruzar. Em sua mente, a casa estava entre civilização, e não exilada em um canto afastado. Se sentou na beira da fonte, imaginando o que fez de errado. Podia ver dali a pontinha da torre do seu quarto, mas estava muito distante. E foi nessa hora de distração que um homem se aproximou e puxou-a pelo braço esquerdo, fazendo com que se levantasse no ar.

– Ora, ora, que belezinha nós temos aqui...

Ele era enorme. A pele era bronzeada e os cabelos penteados. Ao julgar pelas roupas e pela prata ele era um mero Bardo. Mesmo sendo um cara atraente aos olhos das meninas, para a pequenina, poderia descrevê-lo como um simples MONSTRO!

–Kamael!

Uma voz conhecida. Pela reação dele, até temida. Soltou a pequena e deixou-a cair sentada na beira da fonte novamente, mas mesmo assim não desviava os olhos negros dos olhos esverdeados da criança. Logo, a atenção da menina foi para baixo dos ombros dele. Havia alguém se aproximando, e ela já tinha visto aquela menina.

Seus olhos se arregalaram ao ver o tapa-olho esquerdo, e as faixas cobrindo o corpo ferido. Os cabelo verdes presos em duas xuxas, olhos também verdes e o vestido branco manchado de marrom, marca de sangue antiga. A pequena olhou para a princesinha e afastou o grandalhão por meio de chutes leves.

– Vejo que você finalmente saiu.

– Você... Você é a menina que me convidou para brincar! Está muito ferida?

Mariska se levantou e puxou um dos braços da camponesa. Ao ver as manchas nas faixas e na roupa, perguntava para si mesma se o sangue era marrom. Mas a menina ria. Destampou o olho e mostrou-o um pouco ferido, mas sua visão ainda estava intacta. O rapaz puxou a mão da loira para que soltasse o braço da outra e bronqueou-a com todo o ar em seus pulmões.

– MIMADA! Quem você acha que é, por machucar os inocentes que só querem te ajudar?!

– Mas...

–Irmão... Essa menina não tem nada a ver com o incidente. Ela é só uma prisioneira dos caprichos da mãe. Mas vejo que agora está aqui, perdida. O que houve contigo, pequenina?

– Minha babá me soltou por aqui e disse para eu ir até a casa de sua irmã. Acontece que eu me perdi, e agora não posso voltar para casa e nem seguir em frente, pois não sei mais onde é minha frente.

Mariska arregalou os olhos depois de desabafar, quando se deu conta do que ouvira. Irmãos? O grande Kamael e a pequena camponesa não tinham nada em comum. Um era moreno, a outra era bem branca. Um era alto e forte, a outra era um cisco. O cabelo do rapaz eram negros, tais como os olhos, e os dela eram verdes, assim como o cabelo. A única coisa que tinham em comum era a beleza. Bem, não que a loira achasse o homem bonito.

A camponesa se apresentou. Katrinah era o seu nome. Kamael também se apresentou formalmente, mas ainda desdenhava a pequena princesa. Mari passou a chamar a nova colega de Ina e seu irmão de El, pois ambos eram nomes difíceis de se lembrar.

Enquanto seguiam para um lugar onde a princesa não conhecia, Ina pedia informações sobre esse destino proposto. Mariska explicou que sua babá se chamava Saeris e que havia dito que a casa da irmã era pequena e que havia um mensageiro dos ventos perto da porta.

Não precisava falar tudo isso. O nome Saeris alegrava o rosto dos dois irmãos e logo os passos se tornaram mais firmes e ágeis.

– Saeris está viva? Que maravilha! – Pausou apenas para tomar fôlego. – Saeris é irmã mais velha de Josephina. E ela é minha melhor amiga, sabia? Ultimamente, algo pesado nesse reino está fazendo com que ela fique doente.

– Ela está doente? O que ela tem? – Perguntou a juvenil princesa, preocupada.

– A doença se chama Mormia. Não ataca os humanos, e sim animais e plantas, mas ela, por alguma razão, foi atingida. Pode ser que isso tenha acontecido graças a esta aura pesada que envolve o reino.

– Posso sentir, daqui debaixo.

Katrinah apenas concordou com a cabeça e levou a pequena até o seu destino. Era uma casa de madeira, com um jardim roxo em sua frente. Havia um belo caminho de pedras redondas e bem achatadas. O mensageiro dos ventos também roxo continha desenhos de luas e estrelas. Quando se aproximaram, a porta se abriu sozinha, enchendo a loira de medo.

A casa era realmente pequena. A sala só continha a televisão ainda em preto e branco, um sofá pequeno e uma estante de poucos livros. Havia 3 portas de madeira: Uma dava para a cozinha, outra dava para o banheiro e a do meio para o quarto.

Kamael ficou para fora enquanto as duas meninas invadiram a residência. Abriram a porta do quarto e acenderam uma das luzes. Ele era quase todo roxo. Havia uma cama que era posta em diagonal dentro de uma caixa de vidro lacrada, apenas com um lado vago para entrar o ar. Ela estava lá, deitada, mas desperta graças a luz. Sentou na cama e só agora dava para perceber que suas mãos estavam acorrentadas em forma de X em frente ao peito. Os cabelos longos e negros eram cortados com maestria, e seus olhos abriram rubros.

– Eu esperava você.

Mariska tremeu ao escutar aquelas palavras. Quando viu Katrinah fazer uma reverencia, ela também reverenciou, não sabendo o porquê.

Josephina se levantou da cama e saiu da caixa pela lateral vaga. Caminhou lentamente para perto das garotas e pediu que estas esquecessem total formalidade. Ina explicou a situação. A misteriosa mulher entendera e arregalou os olhos ao ouvir o nome de sua irmã. Antes que falassem sem nome, pediu para ser chamado de Josy.

Sentaram em almofadas no chão, em circulo.

Josy contou à princesa uma historia que ela não conhecia sobre sua irmã. Bem ao fundo do bosque que a casa marcava a entrada, existia uma pequena civilização. A líder deles era conhecida como Deusa Theia, mas que até naquele momento, ninguém havia confirmado todo seu poder. Theia tinha duas filhas: A mais velha nasceu sem muitos poderes, mas algo dizia que podia atravessar mundos paralelos. A mais nova controlava a lua e o mar. Podia ler mentes ao tocar numa pessoa. E sentia o que essa pessoa sentia, dor, amor... Tudo.

A irmã mais velha era chamada Yomi. A mais nova, Lunatus. Davam-se bem, mas ambas eram contra a tirania da mãe.

Numa rebelião, Theia prendeu e decapitou as filhas em frente a uma praça publica, mas o irmão dela, Theon, gêmeos, selou a alma das meninas em dois grifos. O de Yomi era preto e dourado... O da mais nova, era prateado e azul.

Relatos dizem que Theon esperou sua irmã dormir e levou os animais até a casa de uma família bem pobre, que também tinha duas filhas. Saeris e Josephina eram seus nomes. As pequenas foram obrigadas a devorar os corações das bestas ainda pulsantes e alegava que quando elas chegarem em uma certa idade, desenvolveriam os poderes das duas filhas da Deusa.

– Saeris e Josephina... Você e a Sasa!

Após esse gritinho alegre da princesa, tudo ficou azul. As paredes, os móveis, tudo que era roxo ficou azul. Josy encarou a porta da sala pela do quarto, que estava aberta, e estava séria, como se tivesse visto um fantasma. As pequenas também encararam a porta e logo, algo lá fora passou a dar coices na madeira. Todas ficaram em pé às pressas e Josephina passou a dar ordens em silencio:

– Rápido... Arrastem aquele baú azul e entrem num alçapão em baixo dele... Encontrarão uma passagem subterrânea e devem seguir por ela até chegarem no rio do bosque... Vão saber quando chegarem lá. Andem...!

E assim que ela terminou de falar, as meninas já estavam fechando a porta do alçapão. E segundos depois, a porta foi arrombada.

– Ah, os escravos do Rei Céu. Como vão?

– Não esconda... Muitos camponeses viram a princesa e uma menina se abrigarem aqui. Onde estão?

– Eu estou sozinha...

O grande guarda se aproximou da jovem e tocou em seu queixo, elevando seu rosto. Sussurrou uma pergunta indecente, como “o que você faria em troca da tua vida?”, mas não obteve mais que um olhar inexpressivo como resposta. Por alguma razão, aquilo atiçou-o ainda mais. O rapaz puxou ambas as mãos da pequena, afrouxando as correntes para poder ver seu corpo melhor.

Por alguma razão, quando o chefe da guarda real encostou ali, apagou e caiu no chão. Josy olhava para os inferiores da guarda, todos eles trajando belas armaduras brancas e douradas. Descalça, pisou sobre o líder e seguiu lentamente até os servos.

Todos recuaram a cada passo, enquanto a menina explicava um pouco de suas habilidades. Disse que seu poder não era somente sentir e ler o que os outros pensam e sentem. Podia roubar a energia de quem tocasse em suas mãos. Esse poder foi chamado de Mormia. Animais e plantas não tem capacidade de utilizar essa arma, e por isso a própria energia é sugada pelo vírus. Porém, humanos, com seus corações impuros, podem se salvar ao sacrificar os da sua raça...

– Mas quem disse que ligo para os humanos? É esse mesmo coração impuro que me deixa com vontade de matar todos vocês. Destruir, formatar suas mentes... Transformá-los em bonecos inúteis. O que acham de fugir agora?

Não precisou dizer mais nada. Cada homem ali largou sua arma e fugiu às pressas. Kamael ainda estava escorado no lado de fora da cabana, calado, enquanto olhava a cena. Josy tombou o corpo para frente, somente para poder ver o rapaz ali. Os olhos voltaram a conter o brilho amistoso de antes e o azul se tornara roxo novamente. Sorriu para o grandalhão e pediu docemente uma ajuda. Precisava que alguém recolocasse sua porta no lugar.

– Tudo bem, tudo bem... Mas quero um beijo em troca.

E Josephina apenas concordou com a cabeça, entrando novamente em sua casa. Kamael pegou a madeira partida em meio ao chão. Sentou-se no primeiro degrau de pedra e passou a reparar os danos.

...

Estava totalmente escuro. Ele era largo, comprido, mas bem baixo. Aparentemente tinha uma forma quadrada, teto, chão e paredes de madeira. Podia conter algum bicho ali, mas as pequenas não tinham medo. O que mais preocupava Mariska era o escuro. A partir dos 10 primeiros metros, uma iluminação estranha tomava as paredes do caminho. Elas estavam lado a lado e podiam ver claramente pedras redondas que mudavam de cor numa certa ordem. Enquanto as mais próximas das duas ficavam verdes, as de uma tal distancia estavam azuis e as mais distantes ficavam roxas. Em questão de 10 segundos, as verdes se tornaram roxas, as roxas azuis, e as azuis ficavam verdes.

Essas pedrinhas acompanhavam todo o túnel. Era possível que esse não tivesse um fim. Mas no meio do trajeto, em mais ou menos 600 metros de distancia da cabana, algo pingou sobre a testa da princesa. Escorreu pela lateral direita da face e ao passar perto da boca, ela buscou com a língua para identificar. Era água, da mais cristalina. Olharam para cima e viram uma pequena tampa quadrada. Era de lá que a água pingava.

– Se aquela tampa for aberta, possivelmente inundará toda a passagem.

– Mas se não for, vamos ficar engatinhando para sempre por aqui. – Retrucou a princesa, já cansada. Ambas deitaram sobre a madeira e pensaram juntas numa forma de sair dali.

Ina era um pouco mais velha que a princesa, mas a diferença era realmente mínima. Possivelmente, tinham uma mentalidade parecida. Mas pode pensar que Saeris não construiria uma passagem bem abaixo de um rio. Aquela goteira poderia ser muito bem uma poça, e assim poderia molhar bem menos. Sem o consentimento da loira, a verdinha deu um baque na tampa e logo, mais ou menos um litro de água foi despejado sobre seus cabelos. A princesa quase não se molhou com essa brincadeira. Ao perceber o que a parceira queria, se afastou de imediato.

– Mari, está vendo? Aqui dentro é uma sala azul.

– Eu estou vendo apenas uma luz azul e você ensopada.

– Não tem graça. Vamos... Deve ser aqui.

Katrinah entrou primeiro, exclamando um “HOW!” espantado. Isso despertou a curiosidade da loira que passou a empurrar a colega para agilizar o serviço. Com as duas lá dentro, o espanto foi maior.

A sala era realmente toda azul, havia uma cascata cristalina que escorria do andar superior e descia num lago redondo e brilhante. Nas laterais da cascata, havia duas largas escadas e duas passagens sem porta. Lá em cima, dava para se ver o brilho do sol passando pelas passagens e refletindo na água, formando um belo arco-íris. Havia varias aves sobrevoando o local, e o teto era feito pelas copas das arvores plantadas dentro do cômodo. As paredes eram formadas por cascalhos. Decoradas com pequenos búzios.

As pequenas subiram pela escada da direita, passando pela grande porta e chegando no tal rio que formava a cachoeira. Talvez fosse isso que Josy queria. Deram as mãos para não se perderem em meio à vegetação e saltitaram sobre as pedras até cruzarem a correnteza.

– Josy não disse o que temos de fazer aqui.

– Vamos nos sentar, esperar e ver o que acontece.

E assim foi. Ambas se sentaram em meio às pedras, colocando os pés mergulhados nas águas claras. Ficaram ali... Minutos, horas. O dia estava virando noite, e o sol se escondia no horizonte que no momento não se dava para ver. No meio do silencio, um barulho e uma risada. As pequenas se levantaram e ficaram uma de costas para a outra, na intenção de perceber todo e qualquer ataque.

Uma movimentação estranha no meio da água chamou a atenção de Katrinah. Logo, uma criatura de longos cabelos azuis colocou as mãos sobre a margem. Voltou a dar uma risada, e a calda forte deu um tapa na correnteza, levantado uma grande quantidade de água. Não chegou a molhar as duas, mas o som alto fez com que ambas se afastassem alguns passos.

– Invasão ou se perderam?

– Quem... Quem é você? – Retrucou Mari, encantada com a beleza da calda da sereia.

– Me chamem de Saryel. Agora... Quem são vocês?

– Já ouvi falar de você! – Katrinah desmanchou sua guarda e se aproximou poucos passos da mulher. – Você é a princesa de Aquamarine e também a líder das minas da pedra que recebeu o mesmo nome, não é mesmo? E você é uma metamorfa. Pode se transformar em humana, sereia, e até um peixe, certo? É o que dizem sobre você nos campos.

– Está tudo certo... Mas você ainda não me disse...

– Sou Katrinah, filha de camponeses que moram na clareira ao norte do bosque. Essa é Mari... – Disse quando apontou para a pequena. – Princesa do reino central.

– Entendo, entendo... Deixe-me adivinhar... – A mulher saiu das águas, e a calda pouco a pouco foi se rasgando, formando as pernas da mulher. – Josephine mandou as duas aqui?

– Josephina... – Corrigiu Ina.

– Isso, isso. Mas... Por que?

– Estão procurando a princesa. Ela fugiu do castelo faz algumas horas e...

– Querem lugar para ficar? Tudo bem. Eu posso ceder alguma barraca para as duas. Venham comigo.

E assim foi. Saryel guiou as novinhas até uma gruta e apesar da falta de sol, a caverna tinha uma iluminação vinda de pequenas velas que estavam fixas em recipientes feitos com gemas de aquamarine. Havia varias casinhas, similares à de esquimós, também feitas com a pedra azul e existia duas em especial que eram mais bem trabalhadas. Uma era grande, com cômodos , moveis, a única matéria de tudo aquilo, exceto a comida era a água-marinha. Do seu lado, uma grande torre, e um mastro que era feito de ferro que ligava a janela mais alta ao chão.

Graças à gruta, a voz e passos das meninas ecoavam por todos os cantos, despertando a fiel companheira da princesa das águas, Cinara. Ela saltou da janela e desceu pelo poste até chegar ao chão. Armada com uma besta e usando a roupa do exercito Tsunami, só que desta vez estava sem armadura, seus cabelos eram louros, bem claros, lisos e batiam nos ombros. Os olhos eram azuis bem escuros.

– Visitas? – Sua voz era bem sensual. Parecia ter lá seus 17 anos, mas o corpo... Bem... Já ouviu falar daquelas mulheres que não tem absolutamente nada de busto?

–Soldada Cinara, essa é Mariska, princesa do reino e Katrinah, sua amiga. Pequenas, essa é a oficial Cinara Cleanto.

As pequenas fizeram uma curta reverencia, bem feminina. Cinara correspondeu, levando a mão direita sobre o coração e proferindo um “Salve”.

Após comerem algo, Cinara mostrou o lugar onde as pequenas dormiriam. As meninas se ajeitaram em pequenos colchões recheados com penas de aves nobres. Mari comentou sobre o exército de seus pais, que com certeza iriam procurá-la em todo canto. Cinara apenas riu, se retirando lentamente.

– Não se preocupe. Eles podem me matar, mas a superioridade ainda é minha.

Se despediram. Mari dormiu primeiro que Ina, mas a soldada preferiu ficar bem acordada. Estava sentada na mureta de sua janela e ficava observando a entrada da gruta quase sem piscar. Quase, pois após algum tempo, o sono vinha chegando e ela não se importou em tirar um curto cochilo.

Foi nesse período de tempo que uma encapuzada baixinha caminhou às ocultas por trás das cabanas. Ao ver pequenas pedrinhas de aquamarine presas nas paredes, arrancava com uma pequena estaca de ferro que levava em sua capa. Sem querer, fez o barulho necessário para acordar a vigia.

– Ei! Quem é você?!

Cinara pulou lá de cima, seu usar do mastro. Era mais rápido. A pequena ladra saiu correndo, rindo satisfeita por conseguir arrancar aquela pedra preciosa da caverna. A loira parou de perseguir aquela garota assim que chegou na porta da caverna, e suspirou desapontada.

A ladra saiu correndo pelas matas. Era ágil, estava descalça, e ria como se estivesse realmente muito feliz. Ao perceber que havia despistado a soldada, se sentou em meio ao mato para apreciar a pedra roubada.

A pequena tinha mais ou menos 12 anos. Quando tirou o capuz, deu para se ver seus longos cabelos alvos e olhos azuis. Órfã e pobre, sabe muito bem o que os camponeses da menor classe sofrem com os impostos no reino. É por isso que ela decidiu ajudá-los: Roubando o que a melhor classe tem de mais belo, Byakushi separa e divide aos seus amigos, todos de famílias humildes, o dinheiro e joias que pega por ai.

Mesmo sendo travessa, Byakushi é, em todos os sub-reinos, considerada a Morte Branca, graças a sua capa, que apesar de ser branca, se assemelha com a da Morte. Apesar de ser criança, a menina sabe como enfrentar os perigos, se defender e até matar o inimigo, se possível. É rápida, mas não muito cautelosa.

Em sua testa, há uma marca de nascença azul. Um símbolo em forma de hexágono. Os cabelos estão sempre divididos no meio e a parte da frente é mais curta que a de trás. A pele é realmente muito clara. Um leve acinzentado. E os cílios são tão prateados quanto os cabelos. Esse era o perfil da pequena ladra.

– “Suas atitudes são nobres, mas deixam de ser puras assim que rouba a primeira moeda dos ricos e dá aos pobres.” Tolice! O que você não entende, querida madrasta, é que os ricos roubaram essas mesmas moedas dos meus amigos.



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Notas finais do capítulo

Tentei deixar o capitulo com o máximo de detalhes possíveis. As meninas ainda não tiveram contato com o mundo de Aljha Rhara.
O capitulo está pra ser postado faz meses, e só tive coragem de postar após revisar varias vezes.
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