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Acordei e percebi que o dia estava nublado. Olhei para janela e tive a impressão de ter visto uma sombra passar rapidamente pelo vidro do carro do Valentim (meu padastro). Retornei meu olhar para o carro e pensei: Se fosse uma sombra ela não iria passar de novo. Resolvi colocar uma roupa apropriada para ir ao colégio, pois hoje era o dia em que eu o conheceria. Eu e minha mãe viemos da Pensilvânia onde Valentim conheceu minha mãe. Logo eles começaram a namorar e se casaram então Valentim teve a ideia de nos convidar para morar em sua casa. Minha mãe aceitou de imediato, já eu comecei a imaginar como seria minha nova vida longe dos meus poucos amigos, longe da minha casa, do meu quarto, dos vizinhos estressantes e principalmente longe do meu pai. A minha relação com meu pai era boa, não era uma relação de melhores amigos, mas era a relação que eu amava mesmo sem conseguir demonstrar pra ele. Pensei em ficar na Pensilvânia com meu pai, mas ele iria passar uma temporada viajando exercitando sua profissão de biólogo marinho. Então tive que vir para Holds, uma cidade média que ficava no sul de Nova York. Valentim e minha mãe tinham varias coisas em comum e uma delas era que os dois gostavam de lugares movimentados, gostavam de interagir com as pessoas e tinham facilidade pra isso. Já eu era igual a Phil (meu pai). Nós gostávamos de ficar juntos em um parque da cidade e gostávamos de ficar isolados do mundo que nos rodeava. Mas agora seria diferente e eu teria que a todo custo me acostumar com este novo ambiente. Não poderia ser mais a Morgana da Pensilvânia, eu teria que mudar mesmo contra minha vontade. Mas há uma coisa que ninguem nunca irá conhecer: meus sentimentos ocultados.

Cheguei ao colégio e tudo o que eu pensava sobre aquele lugar era verdade. Era um dos colégios mais movimentados da cidade e lá tinha pessoas das mais variadas classes sociais. Confesso que pensei em voltar para casa 128 vezes e essa foi a centésima vigésima nona vez. Quando vi todas aquelas garotas bonitas, ricas e cheia de pose me encarando tive vontade de fugir dali, mas teve algo que me fez ter vontade de continuar. Foi então que eu vi diante dos meus olhos uma criatura perfeitamente linda! Tinha profundos olhos castanhos escuro e um cabelo negro que brilhava e balançava conforme ele caminhava. Todos olhavam aquela “criatura perfeitamente linda” e o analisava a cada passo que ele dava. Ele não olhava para os lados e seus olhos pareciam hipnotizados por algo que estava a frente. Ele virou a esquerda e entrou na segunda sala deixando seus contempladores completamente entristecidos.