A lua brilhava no céu escuro da noite. Era cheia, volumosa. De deixar qualquer mente humana fascinada pela beleza que esbanjava naquela noite, se estes não estivessem em um sono profundo, dentro de seus aposentos.

Ou pelo menos, a maioria deles.

Howard Stark encontrava-se em sua cama, deitado de tórax para cima, e com as mãos cruzadas atrás da cabeça. Sua camisa de tecido branco era somente o que cobria seu peito, enquanto sua mão esta sobre sua barriga, deixando assim, a camisa levemente erguida, deixando seu abdômen livre à vista alheia. Ele estava pensativo; divagando em lembranças que ele sabia que dificilmente iria esquecer.

Lembranças estas, que o levavam sempre ao mesmo nome: Gisele Marie Blood.

O seu desafio ainda não cumprido.

O seu desafio que era deliciosamente saboroso de se tentar cumprir.

Aquele era um dos motivos para ele continuar a insistir em tentar conquistá-la, dentre vários outros. Ele realmente amava ver sua expressão e reação claramente irritada sempre que se aproximava; na verdade, ele adorava irritar as pessoas em geral, mas, especificamente, Gisele era realmente sua escolha preferida.

No fundo de si mesmo, Howard sabia que sentia algo diferente pela Blood. Algo que ainda, para ele, não podia ser definido. Na verdade, nem ele mesmo queria saber a definição do que sentia, por ter medo. Medo do que seria isso que sempre o afligia sempre que algum rapaz se aproximava de Gisele; sempre a que observava ao longe, por minutos, e saber que poderia ficar fazendo isso o dia todo, sem cansar. O Stark balançou a cabeça, para afastar tais pensamentos que sobrevoavam sua mente.

Porém, ao fazer isso, só trouxe a ela mais lembranças, e, sem colocar barreira alguma, ele deixou-se levar-lhe por elas, mais uma vez.

————[Flashback]————

O sol amanhecera há alguns minutos, mas ao contrário do comum naquela universidade, a maioria dos alunos já estavam de pé, de frente à entrada do lugar onde estudavam; forçadamente, é claro.

Hoje iriam visitar uma fábrica muito famosa, para descobrirem como tudo aquilo funciona. Como tudo era organizado em seus pequenos detalhes.

Era uma fábrica de chocolate, que ficava mais ao sul da cidade de New York.

Alguns – e se deve ressaltar-se que não eram todos – estavam bastante animados com aquela visita; ela poderia lhes garantir um emprego futuro, ou algo parecido. Já outros, não estavam nem um pouco animados, pois realmente achavam uma idiotice completa; acreditavam que visitar uma fábrica de chocolates não mudaria nada em suas vidas, e muito menos os ajudaria em algo, no futuro. E dentre estas pessoas, estavam Howard Stark e seus amigos.

Gisele os observava de longe, com um olhar de desprezo e ao mesmo tempo, intrigado. Era incrível como eles sempre andavam “em bando”, nunca separados. E quando estavam assim, pareciam exercer uma força maior, uma moral maior, para o descontentamento de Blood.

Eles eram a “fraternidade” da universidade, eles eram considerados os reis, os comandantes de tudo.

Adjetivos, que na opinião sincera de Gisele, eram ridículos e inúteis. Ela admitia que no primeiro momento em que os viu, no primeiro segundo, pensou que eles poderiam não ser tão machistas como era o comum naquele tempo; mas, infelizmente, ela estava errada.

Agora eles conversavam entre si. E de vez enquanto, riam languidamente quando Howard falava alguma coisa, que Blood não conseguiu ouvir, devido à movimentação que ali acontecia.

— Howard, você é realmente um gênio. — exclamou Greg Dohnn, sorrindo incrédulo enquanto repassava a ideia do amigo por sua cabeça.

— Já sei disso, Greg. — respondeu Howard, passando a mão por seus próprios cabelos perfeitamente arrumados, sorrindo pelo canto dos lábios. — Não há necessidade de repetir. — adicionou, e logo voltou sua atenção para Gisele, que ainda os observava ao longe; ela desviou de seu olhar de forma rápida, colocando uma mecha de seu cabelo castanho desajeitadamente atrás da orelha.

Freddie – outro “amigo” de Howard – observou a cena, e não conseguiu evitar que sua boca profetasse tais palavras, ao momento em que os olhares dos dois se cruzaram, mesmo que por meros instantes.

— Stark... O quê há entre você a srta. Blood? — a reação dos amigos ao ouvirem essas palavras foram previsíveis. Greg arregalou os olhos, ao mesmo momento em que levava uma de suas mãos a boca, para tentar evitar uma gargalhada. Victor Keys lançou um olhar de clara incredulidade para Freddie; enquanto o mesmo, ao notar finalmente o que havia falado, arregalou suas orbes. Howard somente continuou encarando Blood, sem piscar uma única vez, com uma expressão séria.

— Não há nada, Freddie. Absolutamente nada. — sibilou Howard, desviando lentamente sua atenção da Blood e voltando-se para o amigo; ele não demostrava incerteza alguma ao proferir tais palavras, mas eu seu interior, Howard tão tinha certeza se o que falara, era realmente verdade. Ele fazia suposições do que sentia em relação a Gisele, então, apenas ignorava certas sensações o máximo que podia. — Ainda. — adicionou em um murmuro para que somente ele mesmo ouvisse; para logo depois, sorrir pelo canto dos lábios e dirigisse à seus amigos novamente.

~oOo~

— Bem-vindos à Goodlacte. — anunciou Benjamin Karen, um dos professores da universidade. Ele tinha ficado encarregado de levar e acompanhar os alunos pela fábrica, não que ele não estivesse feliz ao fazer isso. Na verdade, estava estonteante por ter recebido tal responsabilidade. Ele sonhava que, um dia, ainda iria comandar aquela universidade.

“Um babaca” era o que Gisele pensava sobre dele. A mesma estava ao final da turma, tentando se manter escondida de todos, sabia que se entrosasse naquele meio, com certeza Howard e sua “gangue” viriam lhe atazanar. Não que ela estivesse com medo deles, isso nunca. Definitivamente. Mas só queria se manter distante, para afastar confusões desnecessárias, em seu interior, ela acreditava que quando agia assim, agia superior ao Stark.

Howard estava muito mais a frente naquele meio de alunos. Ele passava seus olhos castanhos por toda a extensão que lhe era permitida, à procura da Blood. Mas não achava-a em lugar algum. Seus olhos varreram mais uma vez o local, e ele soltou um longo bufo contrariado ao concluir que Gisele não estava em seu campo de visão.

Ao fazer isso, chamou a atenção de seus amigos, que sempre estavam o acompanhando em todos os lugares que fosse; bem, talvez fosse por isso que os nomeassem de “gangue”. Os amigos tinham sim, notado a pequena inquietude de Howard, mas preferiram se manter quietos.

O Stark chamou-se intimamente de idiota, ao ver que tinha realmente perdido a morena de vista. A última vez que a tinha visto fora antes de saírem da universidade, às pressas, pois o sr. Karen queria que eles não chegassem atrasados.

Os minutos se passaram rapidamente, mesmo que para alguns alunos, mais se parecessem com uma eternidade. Até que um certo momento chegou.

Os alunos passavam em uma fila por uma fina estrutura que se assemelhava a uma ponte que os protegia de cair por uma grade, uma de cada lado, que se estendia até o outro lado do lugar... E o que havia debaixo deste?

Grandes, aliás, grandes não, gigantes tigelas de ferro, que dentro tinham chocolate. O melhor chocolate da época, em liquido. Muitos ali se sentiam tentados a experimentá-lo. Mas não o faziam, até porque, isso poderia afetá-los de alguma maneira ruim na universidade, sem terem recebido alguma autorização para fazê-lo.

O professor ali responsável começou a explicação sobre as máquinas que faziam tudo naquele lugar funcionar, chamando a atenção de alguns alunos. Porém, não de todos. Gisele se espremia entre a pequena multidão de homens, com o intuito de não ser vista; há nove meses ela tinha entrado na universidade, todos já estavam acostumados com sua presença unicamente feminina há algum tempo.

Blood meio que tentava se esconder do Stark. Ela tinha observado ao longe, que ele estava tentando achá-la, em meio ao emproado de pessoas. Não que estivesse fugindo do Stark. Não, isso nunca! Ela só estava tentando evitar brigas, ou alguma coisa parecida. Mas, para sua total frustração, Howard a viu.

Ele a fitou intensamente e começou a se aproximar da Blood, entrando no meio de alunos, sem chamar a atenção de ninguém e indo na direção em que Gisele estava.

Se pode supor que na noite anterior um acontecido tinha começado a perturbar mais que o comum ao Stark. E era meio óbvio que Gisele Blood tinha que estar dentro deste assunto.

Na verdade, atualmente, tudo que o perturbava tinha mulheres no meio. Ele às vezes pensava em desistir de tentar compreendê-las... Senão, estaria perdido.

— Deus... — murmurou Gisele, ao deparar-se enquanto “fugia” com a gigantesca grade de ferro, que servia de proteção. Ao virar-se de costas, encontrou o Stark com aquele sorriso de escárnio que já era sua marca registrada – Blood divagava quando estava sozinha se aquele sorriso era ensaiado no espelho... Simplesmente porque... Ah, definitivamente, ela não sabia explicar.

— Pelo que vejo a senhorita está tentando fugir de mim, Gisele... Ou estou errado em minha ideia? — questionou Howard, prestando atenção nas gesticulações da mulher à sua frente ao ficar de frente para ela, que o olhava com os olhos arregalados, e até mesmo incrédulos. Stark já tinha uma ideia do por que.

— Não estou fugindo de você, sr. Stark. — Blood gesticulou, para logo depois colocar as mãos na cintura, falando em um tom sério em seguida: — Só quero assistir minha aula em paz, ou será que não está notando? Onde estão seus neurônios Stark’s agora? Sumiram? — terminou, mostrando estar indignada com a atitude que Howard estava tomando. Todavia, no interior de si, ela tinha que admitir a si mesma que... Gostava disso, às vezes.

Howard, para a surpresa de Gisele, não falou nada. Apenas continuou com aquele sorriso realmente de deixar qualquer uma arrepiada pregado no rosto e olhou para os lados lentamente com uma sobrancelha arqueada, e logo depois voltou a fitar a Blood, que ainda mantinha as mãos na cintura e uma expressão incrédula e, agora, confusa no rosto.

— Não vejo nenhum professor por perto, Gisele... — ele começou, se aproximando lentamente, passo a passo, da Blood fazendo-a se escorar na grade, e olhar para trás rapidamente, encontrando aquele gigantesco amontoado de chocolate.

Ela poderia muito bem dar mais um tapa na cara do Stark, como nas milhares vezes que já havia o feito; mas dessa vez estava em uma incursão, não queria causar problemas ou chamar atenção.

— Eu também não. Por que não aproveitamos a situação e você some para sempre? Seria bem gentil de sua parte fazer isso, Howie. — debochou entredentes, demorando mais no “Howie” que saiu em tom de ironia quase apalpavel.

— Suma comigo, Gisele. — ele se aproximou de vez, colocando Gisele entre ele e a grade, fazendo assim poucos milímetros separarem seus corpos um do outro.

— Não acho que isto é uma boa ideia... — murmurou ela. — E, aliás, quem você pensa que é para falar assim comigo? — sibilou adquirindo um olhar fuzilador e um tom de voz ameaçador voltando a fitar rapidamente os olhos castanhos de Howard antes de se esquivar para o lado com agilidade e rapidez, deixando o Stark desorientado por alguns segundos.

E ele, com a rapidez do movimento, tropeçou e passou por cima da grade, assustado; caindo assim, naquilo se parecia com um rio de chocolate antes que pudesse responder “Sou Howard Stark, querida.”

A última coisa que Howard se lembrava deste dia era do olhar chocado de Gisele, e logo depois, das risadas se seus amigos e colegas de sala.

————[Flashback]————

Há poucos metros dali de onde Howard – já adormecido – estava, uma pequena movimentação acontecia. Gisele tinha acordado há alguns minutos, se remexendo na cama. Ela relembrava desta mesma lembrança, uma das mais inesquecíveis que possuía, sem duvida. Ainda conseguia imaginar perfeitamente a cara do Stark quando estava coberto de chocolate, da cabeça aos pés; com o rosto surpreso, chocado e indignado. Fora divertido, tinha que admitir. Mas lembra-se de Howard Stark completamente coberto de chocolate lhe causava...

Ideias.

Ideias nada corretas para moças como ela.

Então decidiu-se voltar a dormir, com o Stark perambulando por seus pensamentos mais uma vez.

É... Isso já estava se tornando comum.