Nascer e crescer em um lugar onde você tem espaço para viver é muito bom, posso me considerar uma pessoa de sorte, sempre fui muito amado e cuidado, meu pai Billy e minhas irmãs Rebecca e Rachel, mais velhas,  sempre estiveram junto comigo, cuidando e dando toda  a atenção que eu precisava.

 Morei em uma casa grande e confortável,  com um pai enérgico, mas carinhoso, eles com certeza preencheram o espaço deixado por minha mãe que morreu quando eu ainda era bem  pequeno, não tenho uma só lembrança dela e sempre tem aquele momento que você sente falta de colo de mãe, ou ao menos eu acho que era essa a sensação que eu tinha quando via as fotos dela com minhas irmãs no colo.

Além deles, tinha Bella, filha do melhor amigo e patrão de meu pai, a melhor companheira de brincadeiras que um garoto pode querer, um pouco medrosa e tímida no inicio é verdade, mas que com o incentivo certo era capaz de qualquer coisa junto comigo.

 Da manhã a noite, e até depois disso algumas vezes, quando ela escapava pela cozinha de madrugada, no verão, e íamos para o porão contar historias de terror que nós inventávamos.  Quanta besteira saia!

Nós nos conhecíamos desde bebê, apesar de eu não lembrar disso, minhas memórias com ela começam quando ela me mordeu por algum motivo que não sei qual foi, era bem pequeno na época, mas da mordida e da dor, dessas  lembro bem.

Passar o dia com Bella era meu último pensamento a noite e o primeiro quando acordava, se pudesse saia da cama e ia direto chamar por ela debaixo da janela do seu quarto, mas Becca, minha irmã mais velha, não deixava, me obrigava a tomar banho, a fazer um lanche, escovava meu cabelo com força e isso sempre me irritou. Eu não entendia o porque de tudo aquilo se antes do almoço eu já estaria todo bagunçado outra vez.

Na escola algumas vezes ficávamos juntos nos intervalos, principalmente quando estávamos de castigo em casa, o que não era muito raro, mas na maioria das vezes ela ficava com o grupo de meninas e eu ia jogar com meus colegas, entretanto, na sala de aula sempre, sempre sentávamos  perto, ela nunca foi muito boa em matemática e recorria a mim, não que eu seja um gênio, mas sempre tive facilidade, não precisava estudar muito.

Já em casa era quase o tempo todo juntos, sempre que nos permitiam é claro, exceto na hora de dormir, em períodos de castigo ou quando um de nós ficava doente, mas mesmo assim arrumávamos o vídeo game e passávamos horas jogando na minha casa ou na dela.

 Renee, a mãe de Bells era quem reclamava mais do fato de estarmos sempre juntos, ela não gostava pq aprontávamos muito, mas fazer o que? Tínhamos que arrumar alguma coisa para fazer num lugar tão grande, com tantas opções.

Quando Bells ficou mais velha começou a mudar um pouco, principalmente na escola, ficava mais tempo junto com as amigas dela, e as outras me mantinham afastado, ficavam rindo e falando bobagens, sentavam perto dela na sala, e eu contava os minutos para as aulas terminarem,  queria voltar logo para casa onde ela era a mesma de sempre, a minha amiga, que me dava atenção.

Tinha também o Mike Newton, um colega chato da nossa sala, vivia na volta, chamando Bells para sentar perto dele ou dividir o lanche, isso me irritava, um dia Angela, a amiga mais chegada de Bella me disse que ele queria namorar com ela.

- O Mike ama a Bella! – foram as palavras exatas dela. 

Eu esclareci que Charlie não iria permitir e ela me disse que se a Bells gostasse dele, Charlie não ia poder fazer nada. Isso me deixou mais irritado, eu sabia que a Bella achava o Mike um chato, quando ouviu meu comentário  Angela me olhou como se eu estivesse falando alguma bobagem, e eu pensei,  mesmo se Charlie deixasse eu não deixava, foi então que o vi pegando o material que Bells deixou sobre o banco para ir tomar água e com um safanão tirei da mão dele, o bocó se irritou e veio para cima de mim, me empurrando, o coordenador chegou e nos separou,  Bells apareceu logo depois, também empurrando Mike, dizendo a ele que não mexesse nas coisas dela, que não me provocasse e pegando a mochila que eu lhe oferecia  me agradeceu.

Quando ela fez dez anos eu queria dar um presente, mas não sabia o que, o que se dá para alguém que tem absolutamente tudo o que quer? Fiquei em duvida, e então numa noite antes de irmos para casa ela comentou que gostava de olhar as estrelas, que adoraria ter uma, mas não tinha jeito de dar uma estrela para ela, minha cabeça quase fundiu pensando nisso, mas para minha sorte, uma tarde, quando Rebecca estava se arrumando para sair com o namorado eu vi um brinco nela, com o formato de uma estrela e pedi  para me ajudar a comprar um presente, ela me olhou e sorriu falando:

- Será que sua  namoradinha vai gostar de um brinco? Ela raramente usa!

Sai do quarto dela furioso, uma que Bells não era minha namoradinha, era minha amiga, e outra que o que eu daria se não fosse isso? Como iria dar uma estrela para ela?

Mas no final Becca acabou me ajudando, acho que ficou com pena de mim, fomos a uma joalheria e compramos um brinco em formato de estrela, com um pequena pedra no meio, sempre que a luz batia ali, a pedra brilhava. Não resisti esperar até a festa, dei antes do dia do aniversário dela, e como eu deduzira, ela gostou, disse que era o único brinco que iria usar, pq era uma estrela e pq quem tinha dado era eu. Fiquei feliz em agrada-la ela sempre me fazia feliz.

No dia da festa de aniversario fiquei pronto cedo e fui para a casa dela, Ana estava escovando  o cabelo dela na cozinha, porque Renee estava resolvendo  os últimos detalhes da festa, era sempre assim, Bells me viu entrar e sorriu, me sentei a mesa esperando e logo ouvi Ana reclamar:

- Fique quieta. – ela dizia – Seu cabelo vai ficar todo torto e sua mãe vai brigar comigo.

Bells me olhava e sorria e Ana puxava sua cabeça de volta, estava fazendo tranças finas ao lado da cabeça e depois as prenderia atrás com algo que não sei o que era, acho que uma fivela, foi então, quando o cabelo saiu que vi os brincos, ela estava usando os brincos que eu dei, fiquei ainda mais feliz, ela percebeu que eu vi e sorriu apontando com o dedo. Assim que Ana terminou ela me disse:

- Vou olhar como ficou. Espera aí Jake, já volto. – e saiu correndo, Ana veio para perto de mim e passando a mão por debaixo do meu queixo fechou minha boca falando:

- Essa carinha não me engana! Temos um apaixonado em casa.

Dei-lhe uma olhada atravessada e sai, todos tinham  dado para falar nisso, minhas irmãs, até Ana, porque ninguém via que Bella era só minha amiga e que eu gostava dela, era só isso.

Aquela festa foi muito boa, nos divertimos muito, fora a presença chata de Edward Cullen, com sua mania de querer que suas brincadeiras fossem as únicas que todos acatavam, e Mike que ficava toda a hora na volta de Bells,  me diverti muito com ela, com as brincadeiras, e a comida estava muito gostosa, nós comemos muitos docinhos e bolo, que estava delicioso.

Mas, apesar de tudo, depois disso as coisas começaram a ficar cada vez mais diferentes, ela levava mais tempo para se arrumar, ficava cada vez mais com as amigas nos intervalos, parecia não sentir minha falta quando ficávamos de castigo, e o nosso último ano juntos foi o pior, teve uma época em que ela passou alguns dias  sem brincar comigo, mas não estava doente pq ia para a escola, e lá ficava cochichando e rindo com as amigas, num dia em que cheguei perto, Angela me disse:

- Sai daqui Jake, isso é assunto de garotas.

Eu olhei para Bells esperando que ela me pedisse para ficar, mas ela apenas concordou com a amiga e também me pediu  para sair, eu parei no meio do pátio e gritei furioso:

- Eu não queria ficar aí mesmo. Eu ódio você.

Ela me olhou séria e se virou, me deixando parado no mesmo lugar, como se não tivesse a menor importância, fiquei ainda mais irritado e garanti a mim mesmo que não falaria mais com ela.

As coisas ficaram estranhas por um tempo, parei de falar com ela por uns dias, mas depois Bella me procurou, pediu desculpas, disse que eram coisas que não poderia me contar,  eu argumentei que não tinha segredos para ela, mas não teve jeito, ela disse que não podia contar mas que não queria que eu ficasse bravo, bravo? Eu não estava bravo, estava furioso, mas não teve jeito, acabei por aceitar as desculpas, sempre aceitava e lentamente as coisas foram voltando ao normal,  o verão chegou, era nosso ultimo verão inteiro juntos, depois, só nas férias, resolvemos que íamos fazer tudo que tínhamos vontade de fazer, independente de qualquer coisa e muitas loucuras realmente foram feitas.

A medida que os dias passavam e o verão se extinguia  comecei a ficar nervoso, não tinha ideia do que me esperava no colégio, ia ficar longe da minha família, e tinha certeza que não veria Bella por um ano, no mínimo, como ia conseguir ficar tanto tempo longe, se um dia já me parecia muito?

Foi então que Rachel comentou comigo o que todos já estavam falando e que eu não dava atenção, numa manhã em que eu olhava a tigela de cereal e remexia nela com a colher.

- Tá sem fome? – perguntou me encarando e num tom de deboche continuou : -  Que milagre!

- Tô pensando. – expliquei  encarando seu belo rosto.

Ela sorriu e sentou perto de mim falando:

- Isso é perigoso vindo de você, o que está tramando desta vez? Ainda bem que Bells não está aqui, ou  aí eu teria certeza que alguma vocês iriam aprontar.

Fiquei calado e ela se assustou.

- Ih! É serio, o que houve?

- Estava pensando nessa historia de ir para o colégio interno...

Ela se acomodou na cadeira e segurou minha mão falando:

- Você sabe que vai ter uma ótima educação, que será bom para você, para o seu futuro e que nós estaremos aqui a sua espera, e iremos sempre que possível para vê-lo.

Meu pai já tinha feito a lista de todas as vantagens desse tipo de escola, e eu sabia que ele não ia me deixar lá, nem esquecer de mim, nem minhas irmãs, não era isso que me preocupava, e Rachel entendeu logo.

- Por que você não conta para ela?

- O que?

Ela sorriu novamente e me olhou com cara de gozação, ameacei sair e ela foi ao ponto:

- Que você gosta dela bobo!

Não respondi, ela insistiu, ficou falando, falando, falando, até que eu finalmente sai dali, foi naquele dia que comecei a pensar mais, se aquilo que eu sentia era mesmo o que ela falava, me acomodei debaixo da árvore sozinho por um tempo, apenas pensando, foi aí que vi Bella vindo até mim sorrindo como sempre, mas de alguma forma diferente, os cabelos castanhos soltos  as bochechas rosadas, os braços se movimentando enquanto  falava animada alguma coisa que eu não ouvia, e só então cai na real, era verdade, a Ana, a Becca e até a Rachel sabiam mas eu ainda não sabia,  senti meu coração pular e de repente não soube o que responder.

Ela ficou me olhando, esperando, e depois segurando minha mão me puxou, o toque queimou, fiquei em pé e ela se virou indo em direção a casa, sem outra alternativa, a segui, sem saber o que fazer, ou o que dizer, resultado, não falei nada.

Depois daquele dia o tempo parecia passar tão rápido, as horas iam como a água da torneira, eu queria falar, perguntar  se ela gostava de mim, mas a coragem faltava, então uma tarde quando estávamos comendo pêssegos roubados do pomar, o rosto dela estava sujo, eu comentei e ela me pediu para limpar, não pensei muito, minhas mãos estavam sujas mesmo, retirei o pedacinho de pêssego com a boca do rosto dela e no mesmo instante fui  em direção aos  lábios, Bella não se afastou imediatamente,   mas quando fez não pareceu irritada nem brava comigo, estava apenas surpresa, sorri de leve e justifiquei:

- Estava sujo perto da sua boca também.

Se ela acreditou ou não, não sei, não faz diferença, isso me mostrou que ela não se incomodava em estar assim comigo, como se incomodava com Mike e Edward, fiquei satisfeito e mais certo de que Rachel me dera um bom conselho, mas eu ainda tinha alguns dias para falar, e  resolvi que iria fazer isso antes de viajar, mas no dia seguinte teve o maldito incidente com a moto, nunca pensei que aquilo fosse motivo suficiente para nos manter afastados até a viagem,  mas foi, o pior castigo de todos, que levou sete longos anos para acabar.

E agora, depois de tanto tempo, de volta a casa, vendo tudo outra vez, as mesmas pessoas, os mesmos lugares, percebo que tudo está  de alguma forma igual e diferente ao mesmo tempo, o que passou já não me parece possível de ser recuperado.

Quando cheguei até pensei que poderia, apesar de saber do namoro dela com o Edward, isso é uma coisa que com certeza eu não consigo entender, como ela pode namorar esse cara?

Bella o  detestava, porém logo soube que  era pior do que eu pensava, de namorado ele estaria virando naqueles dias noivo, soube pelo próprio Charlie, na manhã do noivado, e uma coisa que eu achei que não tivesse muita importância estava tomando uma proporção totalmente diferente, só esperava que de alguma forma poder mostrar a ela como me sinto, não poderei abandonar tudo sem ao menos tentar, porque se tivesse sido menos medroso naquela época talvez tudo fosse diferente, e ela viesse para casa nas férias como tínhamos combinado,  em lugar de ir para a casa da avó nos verões, ou então passear com a família Cullen.

 E se ela soubesse como me sinto talvez descobrisse que sente o mesmo por mim, ainda tenho tempo, apesar de não ter paciência, não mais, e paciência nunca foi mesmo meu forte, depois de tanto tempo quero acabar com essa espera, resolver tudo de uma vez.

 Na parte profissional eu sei o que quero e o que pretendo fazer, mas enquanto essa história com Bella não estiver resolvida, não poderei seguir adiante,  tenho,  preciso resolver isso primeiro, jogar todas as fichas nessa partida, apostar minha vida numa única rodada.