Faltando apenas uma semana para o tão comentado baile, os pais de Jessica finalmente mandaram para ela o vestido que a mesma usaria para o baile. Jessica ficara encantada com a beleza simples que o mesmo exibia. O vestido era de um tom lilás, do estilo que deixa os ombros a mostra, a parte de baixo do mesmo consistia em algumas camas e um certo volume. Junto com o vestido viera o salto — que a mãe de Jessica fizera absoluta questão —, e mais um pequeno bilhete em que os mesmos diziam que tudo corria normalmente por lá e que esperavam que as coisas estivessem indo bem.

Jessica guardou o vestido com cuidado para não amassá-lo, em seguida seguiu para o Salão Principal onde seria servido o jantar. Evitou alguns olhares à mesa da Sonserina e logo assim que terminou de comer saiu acompanhada por Oliver. Nos últimos dias passara a conversar mais com ele, até mesmo porque ela realmente queria saber com quem aceitara ir ao baile. Ela achava legal tê-lo por perto, ele era engraçado e sabia como fazer durar uma conversa. Quando estava com ele, Jessica conseguia fugir um pouco do clima monótono e chato que pairava no salão comunal.

— Sabe — comentou ele em uma tarde, quando faltavam apenas dois dias para o baile —, quando eu convidei você para ir ao baile comigo, eu pensei que... bem, pensei que você não aceitaria.

— E porque pensou isso? — perguntou Jessica sorrindo.

— Bem, é que eu já havia visto você inúmeras vezes, mas, você parecia tão... Inalcançável — respondeu timidamente e as maçãs de seu rosto coraram. Jessica sorriu sem saber o que lhe responder, aquele simples jesto que ele teve de ficar envergonhado ao falar, ela não podia negar, havia a encantado.

***

O dia finalmente havia chegado. O dia que grande parte das meninas da escola haviam esperado. Jessica não devia, mas sentia-se um tanto quanto nervosa. Separou a roupa e a colocou sobre a cama. Demorou quase uma tarde inteira para se preparar, e nem sequer se passava por sua mente que precisaria de tanto tempo assim para o mesmo. Vestiu-se e finalmente se permitiu olhar por completa no espelho. Surpreendeu-se com o resultado que obtivera, e isso a fez ficar um tanto quanto satisfeita consigo mesma.

Havia enfim chegado o momento em que precisaria sair, porém, não o fez assim logo de cara. Abriu apenas uma brecha da porta do dormitório e espiou para fora. Sentia-se uma completa tola por estar agindo feito uma menininha de cinco anos, portanto, tomou fôlego e finalmente resolveu sair. Havia uma boa quantidade de pessoas no salão comunal, algumas encararam-na rapidamente mas outras a acompanharam com o olhar. Jessica dirigiu-se á um canto desejando com todas as suas forças que parassem de lhe encarar daquela forma. Aliás, estava bem arrumada assim como todos os outros ali presente. Ficou por alguns minutos aguardando, havia marcado com Oliver de se encontrarem ao pé da escada as sete e meia. Faltava pouco. Quando finalmente dera o horário ela dirigiu-se a porta, porém na metade do caminho parou de repente. Ela encarou com firmeza aquele intenso par de olhos cinzentos que a avaliavam com surpresa. Um dos amigos de Draco, Blaise Zabini, parou ombro a ombro com o mesmo e deixou escapar uma exclamação quando seguiu o olhar do amigo.

Não havia mais o que esperar, ela seguiu rumo ao átrio principal e surpreendeu-se com a massa de pessoas que ali havia. Teve um pouco de dificuldade de se movimentar um pouco por entre as pessoas ali presentes, mais logo alcançou a escada e ficou feliz por encontrar Oliver já por lá. Ele estava bonito, observou. O traje preto que vestia caía-lhe perfeitamente, o cabelo negro estava bem arrumado e Jessica não pôde deixar de reparar ao se aproximar que, ele estava excepcionalmente cheiroso.

— Você está muito bonita — comentou ele sorrindo ao observá-la. E sim, não podia-se negar que Jessica estava bonita.

O vestido lilás dançava em torno de seu corpo, parecia ter sido feito sob medida exatamente para ela. Os sapatos de salto haviam a deixado com uma postura mais confiante, os cabelos estavam presos em um coque meigo no alto da cabeça e a maquiagem era o que mais se destacava. Não estava forte, nem sequer vulgar. Mas, a mesma fazia com que o verde dos olhos de Jessica se destacasse fortemente, e isso lhe dava um ar autoritário, até mesmo — e ela se odiava por ter que assumir — arrogante.

— Obrigado, você também está muito bonito — elogiou de volta com um sorriso. Em seguida, seu braço direito enroscou-se no esquerdo dele enquanto a mesma posicionava-se à seu lado.

Aguardaram alguns minutos até que as portas do salão principal foram abertas e todos começaram a se direcionar para dentro do mesmo. Jessica observou com certa fascinação o capricho na decoração. As quatro mesas que sempre se encontravam por lá haviam sido retiradas, ao invés disto haviam outras dezenas de mesinhas redondas para no máximo quatro pessoas localizadas aos cantos. O teto mágico em forma de abóbada deixava a mostra o céu estrelado do lado de fora, no centro do salão principal estava posicionada uma pista de dança e mais ao fundo, onde sempre localizava-se a mesa dos professores, havia um pequeno palco com alguns instrumentos musicais.

Dumbledore fez um pequeno discurso, curto até demais para o que costumava dizer. Jessica não pôde deixar de reparar em como o mesmo parecia extremamente velho e cansado. Ele inclinou-se cordialmente para a Professora McGonagall e em seguida guiou-a para o meio da pista de dança. Com um aceno de varinha, Flitwick fez os instrumentos começarem a tocar uma música suave, que fazia com que todos os músculos do corpo ficassem relaxados.

Aos poucos os pares começaram a se dirigir para a pista de dança e logo a mesma se encheu. Jessica os observava com um leve sorriso, mas assustou-se quando Oliver disse próximo ao seu ouvido que eles iriam dançar.

— Por favor, não! — pediu Jessica enquanto Oliver a levava em direção a pista. — Eu não sei dançar, nunca fui boa com isso.

— Eu não entendo — disse Oliver sorrindo —, é porque todos sempre dão a mesma desculpa. Dançar não é nenhum bicho-papão. Venha é fácil.

Eles posicionaram-se e Jessica sentia que estava prestes a sair correndo dali. Todos pareciam dançar tão bem que, ela ficou com receio de mostrar suas desastradas habilidades. Oliver posicionou-se diante dela e em seguida a encarou.

— Olha eu como eu te disse, dançar não é nenhum bicho-papão. É, aliás, bem simples. Você só precisa seguir a música — disse.

Oliver segurou a mão de Jessica, e em seguida posicionou sua outra mão na cintura dela. Sem ter muito o que fazer ela apenas o imitou. Oliver sorriu. Eles começaram a dançar de forma lenta e estranha; Jessica não sabia muito bem o que deveria fazer, portanto, apenas mexia os pés de um lado para outro sentindo-se uma completa estúpida. A primeira música terminou e se sucedeu outra do mesmo porte lento. Jessica estava melhorando, tanto que até mesmo já arriscava algumas giradinhas. Nada mais que isso.

Por quanto tempo ao certo ficaram dançando ela não soubera estimar. Só sabia que mais tarde, a música lenta fora substituída por uma de nível bem mais animado e continuar dançando próximo um ao outro não era aconselhável. Jessica começou finalmente a se soltar, percebera — até um pouco tarde — que ninguém estava interessado em reparar se ela sabia ou não dançar. Estavam ali pelo mesmo motivo, queriam pelo menos por aquela noite, esquecer de tudo e apenas se divertir. Logo quando o calor tornou-se insuportável, Jessica dissera a Oliver que precisava urgentemente de uma cadeira. Eles se desvencilharam das pessoas que ainda dançavam e sentaram-se em uma das mesas.

— Eu vou buscar algo para a gente beber — disse Oliver se levantando.

Jessica permaneceu sentada na tentativa de recuperar o fôlego. Oliver demorou tempo suficiente para que o ritmo retornasse a ser lento e todos grudassem um no outro novamente. Ela os observou. Todos, como ela mesma observou, pareciam extremamente satisfeitos com seus pares. Não que ela não estivesse satisfeita com Oliver. Não era isso. Mas é que ela sabia que Oliver a via de uma forma diferente, ela conseguia enxergar isso nos olhos dele quando sentavam-se juntos para conversar. Ela não podia negar que ele de fato era um cara legal, mas simplesmente não passava por sua mente que um algo a mais pudesse surgir entre eles. Oliver era apenas seu amigo, um amigo com quem ela gostava de passar o tempo e o tipo de pessoa que é bom sentar e dizer como foi o dia. Por um momento a festa pareceu se dissipar de sua mente, ela observou alguns dos casais presentes e tentou em sua mente formular um jeito de dizer para Oliver que não pretendia levar muita coisa adiante entre eles. Estava quase se convencendo de seus próprios argumentos quando, alguém puxou uma cadeira e se sentou diante dela. Tomara um susto pois não esperava por aquela visita.

— O que você quer aqui? — perguntou Jessica surpresa.

— Dança comigo? — convidou Draco com um sorriso cínico. A alguns dias a humilhara na frente de todo o salão comunal e hoje a convidava para uma dança?

— Não, estou esperando Oliver — respondeu Jessica olhando para outro lado.

— Sabe, eu o vi agora pouco e ele estava muito concentrado em uma dança com uma garota da Corvinal — provocou.

Jessica o encarou. O sorriso que tomava os lábios dele fez com que o sangue dela fervesse, ela inclinou-se sobre a mesa de modo a tentar se aproximar dele e disse:

— Que seja, eu não irei dançar com você!

Mas ele parecia disposto á não sair dali enquanto ela não aceitasse sua proposta. Cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas despreocupado. Em seguida, vendo a expressão cética no rosto de Jessica que já havia retornado ao lugar, Draco ergueu-se e esticou a mão para ela.

— Anda, vamos! — chamou ele novamente.

Com o pensamento de que talvez ele fosse embora se ela aceitasse, Jessica ergueu-se sem segurar na mão estendida dele. Caminhou sem a mínima pressa em direção a pista de dança e então parou. Logo, sem esperar, ela sentiu a mão de Draco em sua cintura e em seguida o mesmo ficou frente á frente com ela. Ela o encarou e oscilou por um momento. O que diabos achava que estava fazendo? Não havia mais como voltar. Já que estava ali ficaria, aliás, era apenas uma dança.

Draco puxou-a mais para perto e seus corpos ficaram próximos, mais próximos do que Jessica pretendia ficar. Ele segurou a mão dela e ela vacilou por um momento; o toque gélido e ao mesmo tempo delicado das mãos dele eram inconsequentes e desafiadores para ela. Precisava assumir, e se odiava por isso, mas era quase impossível resistir ao mesmo. Ele a conduziu e Jessica surpreendeu-se em como o mesmo tinha um certo dom para tal coisa.

De uma forma ou de outra ela evitava o olhar, porém, ela podia sentir sua respiração e isso a deixava nervosa. Não havia motivos para estar assim, mas ela não conseguia se conter.

— Você dança bem — comentou ele.

— Bom, se já deu para você perceber que eu danço bem, então acho que já podemos parar por aqui — disse Jessica.

Ela virou-se mas, Draco tomou-a de volta para ele. A proximidade de seus rostos era mínima, apenas alguns centímetros os separavam. Jessica engoliu em seco e o encarou, os olhos dele a fitavam com intensidade. Ele inclinou-se um pouco mais para frente e Jessica recuou. Estava confusa, precisava sair de perto dele antes que...

— Jessica? — chamou alguém atrás dela. Era Oliver.

— Onde você estava? — Perguntou Jessica soltando-se de Draco e virando-se para Oliver.

— Muito empolgado dançando com uma colega — disse Draco desdenhosamente atrás de Jessica.

— Sim e o que você tem haver com isso? — Indagou sério.

— Nada, só acho meio estranho o fato de você convidar uma garota e deixá-la sozinha para dançar com outra. — Disse Draco de forma displicente.

Oliver fez menção de avançar contra Draco mas Jessica se interpôs.

— Chega vocês dois — disse Jessica. — Para mim esse baile já deu o que tinha que dar.

Ela virou-se e esbarrou no ombro de Draco ao passar, saiu da pista de dança sentindo-se sufocada. Precisava do silêncio e calma do salão comunal. Desceu em direção as masmorras, disse rapidamente a senha e adentrou o mesmo. Não havia ninguém, todos ainda estavam se divertindo no baile e provavelmente não haveria hora para que voltassem. Jessica retirou o salto e sentou em uma das poltronas, soltou o cabelo do coque e fitou desanimada as chamas da lareira. “Como queria meu quarto nesse momento”, pensou.

Ouviu os passos de alguém adentrando o salão comunal e ergueu os olhos. Bufou, não conseguia acreditar que Draco viera atrás dela. Ele posicionou-se de pé atrás de uma poltrona e a fitou.

— O que você quer aqui? — questionou Jessica irritada.

— Vim ver você — respondeu ele.

— Me ver? — indagou Jessica perplexa. — Faça-me o favor Draco. Até uma semana você disse na frente de todos que eu era um ser desprezível e agora diz que vem me ver? Qual é a piada da vez?

— Não há piada alguma.

Jessica gargalhou.

— Vindo de você é até difícil de se acreditar — bufou e se ergueu. Seguiu-se um momento de silêncio enquanto nenhum dos dois disse uma palavra sequer, então, sem que Jessica esperasse, Draco proferiu as palavras que fizeram seu coração gelar, ela esquecer como se respirava e seu cérebro entrar em pane.

— Eu... eu... eu estou apaixonado por você.