A Última Chance escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 19
Parte I - Capítulo 19 - Confusa


Notas iniciais do capítulo

Oooi gente!
A votação deu empate, então eu mesma tive que resolver e levei em conta a opinião que deixaram. Em vista do que muitas pessoas disseram sobre seguir mais o raciocínio da fic, a personalidade do Daryl e tudo mais, escolhi a primeira opção. Espero que gostem, ok? E quem queria a segunda, me desculpem, e espero poder recompensar com o resto do capitulo e os próximos!



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Capitulo 19

Confusa

             Estava acordada há alguns minutos, mas não queria abrir os olhos. A vergonhosa verdade era que eu estava com medo; medo do que poderia acontecer quando eu o fizesse. Tudo em volta estava quieto, a não ser por um irritante tamborilar de dedos e, ás vezes, um murmúrio nervoso. Me mexi minimamente, sentindo toda a extensão do meu corpo dolorida.

             Respirei fundo algumas vezes, tentando ser discreta, e abri os olhos lentamente para evitar a luz forte do sol que entrava pela janela.

             - Hey, finalmente acordou. – falou uma voz. E não era a que eu esperava ouvir.

             - Herschel? – perguntei sentindo meu coração acelerar.

             - Bem, parece que pelo menos sua visão não foi afetada. – falou sarcasticamente.

             - Mas... Mas... O que aconteceu? – gaguejei, olhando em volta.

             Ao contrário do que eu esperava, estava completamente vestida com as mesmas roupas do dia anterior, o quarto estava completamente organizado – tinha certeza de que algumas coisas tinham... caído – a não ser por um pequeno pano encharcado de sangue caído no chão.

             - Alguém se machucou? – perguntei confusa.

             - Tem certeza de que não se lembra? – a voz que tanto esperava ouvir se pronunciou, da porta do quarto, e em sua pergunta pensei se havia o sentido duplo que imaginei nelas.

             Senti meu rosto esquentar na mesma hora e não sabia como encarar Daryl. Enrolei o lençol que me cobria com as mãos nervosamente, passando-os por entre os dedos e me concentrando nisso, tudo para não olha-lo.

             - O que aconteceu? – perguntei baixo, apenas para Herschel.

             - Porque não me falou sobre essa mão quebrada e o tiro? – o homem perguntou, olhando-me severamente. – Savannah veio lhe chamar para o jantar e você estava caída no chão ao lado da janela, desmaiada e sangrando

             Pensei por um momento e estava pronta para me desculpar por minha distração, mas algo me fez parar por um segundo. Eu estava desmaiada?

             - Eu fiquei desacordada até agora? – perguntei engasgada e meio ofegante.

             - Ficou. – Herschel me olhou de cima, com curiosidade.

             - Mas... Eu... Eu jurava...  Nããão! - choraminguei passando o lençol por sobre a cabeça.  Abaixei-o um pouco para que pudesse ver e apontei para Daryl. – E o que ele está fazendo aqui?

             Os dois se olharam por um momento, trocando um olhar que me fez sentir que depois que quando me respondessem nunca mais iria querer ver a cara de ninguém de tanta vergonha e...

             - Enquanto estava desmaiada você chamou por ele, então pedi que o chamassem. – explicou Herschel – Pensei que talvez isso ajudasse com a febre crônica, e parece que funcionou.

             ...eu tinha razão.

             Soltei um gemido que mais parecia um choro e afundei na cama, me cobrindo completamente.

             - Como posso ser tão estúpida? – sussurrei para mim mesma, não me importando se alguém mais havia escutado; minha vida e dignidade já estavam acabadas mesmo.

             Alguém pigarreou, mas me recusei a sair do casulo que havia feito com o lençol, e passos anunciaram que eles estavam deixando o quarto; mas não me rendi. Continuei ali, avaliando minha situação.

             Primeiro: eu tinha sonhado com Daryl. Um sonho ótimo. Muito bom mesmo. Muito, muito bom e... Tinha que parar de ficar repetindo isso. E era um sonho que eu jurava que era real.

             Segundo: eu queria que ele fosse real.

             Terceiro: nem eu me entendia mais; não sabia o que estava sentindo, nem o porquê de estar me sentindo daquela forma, e me sentia estranha por isso.

             A cada vez que repetia o sonho em minha mente, meu corpo inteiro tremia e sentia como se suas mãos ainda estivessem em minha cintura, deixando seus rastros quentes por onde passavam, seus lábios colados aos meus e seu corpo que parecia acompanhar toda a extensão do meu. Como poderia parecer tão real?

             A porta se abriu, mas a ignorei, esperando que quem quer que fosse desistisse logo e fosse embora para eu poder ficar sozinha novamente.

             - O que aconteceu? – a voz doce e calma de Savannah desfez o delicioso silêncio que se abatia sobre o quarto – Quero dizer, além de estar com a mão quebrada e ter levado um tiro.

             - Nada... – falei ainda sem sair de debaixo do lençol, tocando o ombro onde estavam os pontos onde a bala passara.

             - Pode pelo menos me contar o que está acontecendo agora? – ela pediu, e senti o peso da cama mudar, indicando que ela tinha sentado ali – Porque sei que tem algo errado.

             - Se eu te contar um segredo você promete que não conta para ninguém? Nunca? – perguntei me descobrindo e olhando atentamente para a garota á minha frente.

             - Prometo, juro, e tudo mais. Agora conta. – ela falou rapidamente e chegou mais perto para ouvir.

             Contei-lhe tudo – mas não em detalhes, apenas resumidamente, e ela ouviu tudo atentamente, de vez em quando arregalando os enormes olhos cinzas.

             - O que você acha? – perguntei quando terminei.

             - Acho que está caidinha por ele e que está louca para fazer com ele tudo o que fez no sonho.

             - Não estou brincando! –a repreendi.

             - Eu também não. – ela falou revirando os olhos – Agarre ele logo e acaba com isso!

             - Savannah, eu não posso ficar pensando nisso... Tenho dois irmãos pequenos que precisam de mim, umas oito pessoas que não confiam em mim, um primo idiota no qual tenho que fica de olho, alimentação para controlar e, se for preciso, ir á cidade para fazer o que for preciso para mandar todos aqui. – falei num sussurro – Não tenho tempo para romances ou qualquer coisa do tipo.

             - Se você pensa assim... – a loira falou, se levantando derrotada – Mas só não se esqueça de que mesmo sendo o fim do mundo você tem apenas dezoito anos, e não é sua obrigação cuidar de todos aqui. As pessoas são egoístas, e ás vezes também devemos ser.

             Ela saiu do quarto e eu me levantei. Fiquei andando de um lado para o outro do quarto com vários pensamentos confusos e meus sentimentos mais ainda. Ainda não havia caído a ficha de que tudo tina sido apenas um sonho.

             Cansada de andar por ali e me sentindo sufocada, fui para a janela e a abri, me debruçando sobre ela, aproveitando a deliciosa e fria brisa que batia em minhas bochechas. Sorri com a sensação e fiquei observando toda a extensão á minha frente. Eu podia muito bem ver ao longe todos os outros fazendo algo, desde ajudar na pequena plantação á ficar apenas olhando, e senti que deveria estar lá. Mas perdi toda a vontade de ir até lá quando vi Daryl e Carol conversando, e esta ria animadamente.

             Revirei os olhos e me joguei na cama, afundando o rosto no travesseiro.

             - Queria você aqui para me aconselhar, mãe... – suspirei olhando para o teto.

             Depois de alguns minutos, cansada de ficar parada olhando para o teto, fui para o banheiro tomar um banho. A verdade era que eu não queria fazer isso apenas por necessidade – não tomava banho há quase 24 horas, se não mais (eca) -, mas tinha esperança de que o chuveiro estivesse com defeito, provando que tudo havia “acontecido” não era um simples sonho. Mas, quando girei a válvula esperando que nada saísse do chuveiro, a água saiu dele com toda a força levando vapor para todo o lugar pela água quente. Me despi e entrei debaixo dela, apreciando um momento de incrível sanidade que parecia não ter a muito tempo, como se depois de muito tempo no escuro eu finalmente visse a luz do dia, e era reconfortante.

             Vesti uma roupa quente, afinal, estava frio e com certeza a cada dia ficaria ainda mais frio, até que por fim começasse a nevar. Devíamos ir logo á cidade buscar suprimentos para o inverno, porque depois que começasse a nevar isso se tornaria praticamente impossível. Com esse pensamento me senti praticamente como uma formiguinha, estocando comida para o inverno.

             Desci para o primeiro andar e fui para a varanda, a fim de tomar um ar. Parecia que dentro da casa estava cada vez mais sufocante e uma hora ou outra eu iria enlouquecer por isso. Nunca havia sido garota de me sentir presa, na verdade gostava de ficar sozinha no meu quarto, mas depois que não pode sair mais porque pode se tornar jantar para mortos-vivos é outro assunto. Isso afeta a sanidade da pessoa mais equilibrada do mundo, e tinha certeza que não era alcoólatra por falta de oportunidade.

             Ao passar pela cozinha, ouvi os risos de algumas pessoas. Deviam estar preparando o almoço. Mas o que realmente me perturbou foi o fato de não parecer que três pessoas... zumbis... tinham morrido há menos de 2 dias. Talvez por que não conhecessem nem ao menos Emma direito, mas isso, para mim, não justificava.

             Abri a porta rudemente, sem o mínimo de cuidado, e me sentei na cadeira de balanço no canto. Coloquei as pernas no balaustre á frente e olhei em volta, me sentindo estranhamente sozinha. Quanto estava começando a refletir sobre isso, ouvi alguém gritar meu nome.

             - O que? – gritei de volta, e logo Rick e Herschel apareceram na porta.

             - Nós queremos conversar com você. – começou Rick. – Todos já aceitaram... Com certa dificuldade, mas aceitaram... Então só queremos sua permissão.

             - Digam.

             - Eu pensei bem... – Herschel falou hesitante – Antes eu achava que havia uma cura para essa... coisa... que está fazendo os mortos voltarem á vida. E talvez haja. E eu queria fazer um estudo sobre isso, mas...

             - Mas...? – incentivei, cansada de rodeios.

             - Já que todos já aceitaram, pensamos que talvez pudesse deixar Herschel usar o corpo de um dos zumbis de ontem... Eram seus irmãos, não eram? – Rick falou de uma vez só, delicadamente, como se temesse que eu explodisse.

             Parei um pouco, digerindo suas palavras.

             - Não podem pegar outro? – perguntei, olhando para frente, evitando contato visual, e sentia o olhar dos dois homens sobre mim.

             - Preferíamos não nos arriscarmos. – Rick explicou.

             - E porque estão pedindo permissão? – perguntei, os olhando sem reação alguma.

             - Bem, eles eram seus irmãos.

             Era incrível como tudo parecia querer jogar isso na minha cara. Eles eram meus irmãos. E estavam mortos.

             - Podem usar Leonard e Charity. Emma não. Prefiro que a enterrem.  – falei com a voz mais intensa que consegui e o olhei nos olhos, tentando não parecer tão confusa como realmente estava.

             - E onde podemos fazer isso? – perguntou Herschel, olhando em volta como se o lugar pudesse aparecer de repente.

             - Todos os quartos estão ocupados... O único vazio é o dos meus pais, e não quero que façam isso lá. – falei, pensativa – Usem o escritório. É no terceiro andar. Depois do quarto dos meus pais, o corredor vira, e é no final dele. Vou dar uma olhada lá agora mesmo.

             Sem esperar por resposta, me levantei e segui para o terceiro andar. Era estranho estar lá novamente. Há quase um ano não fazia aquele caminho, e de repende, em menos de dois dias, tinha de fazê-lo duas vezes. Passei pela porta do quarto que no momento parecia um agouro e quase corri para a virada no corredor. Fui direto para a porta no final e ia abrir a porta, quando ouvi um ruído vindo dela. Intencionada a abri-la, levei a mão em direção á maçaneta, mas ela girou antes que eu a tocasse. Minha respiração falhou  juntamente com meu coração e de repente eu não sabia o que fazer.

             Encostei o ouvido na parede e o ruído ficou mais nítido, e se parecia com algo raspando rudemente pela parede, misturado com um... Grunhido. Arfei e me afastei rapidamente da porta, olhando para trás, como se algo pudesse me atacar pelas costas. Mas não havia ninguém. E isso parecia ainda pior.

             A maçaneta girou novamente e a porta estava claramente trancada, e agradeci mentalmente por isso. Afastei-me dela, andando de costas, sem tirar os olhos da porta, e algo começou a puxá-la, tentando desesperadamente abri-la. Sufoquei um grito e sai correndo do corredor, e assim que virei a esquina sentei no chão pensando no que fazer.

             O escritório era um dos únicos lugares onde meu pai havia proibido a todos de entrar, e sabia que ele tinha trancado a porta, mas nunca pensei muito nisso. E minha principal preocupação no momento era como havia mais um zumbi dentro do escritório que devia estar trancado e a chave bem guardada e onde estava essa chave.

             Como num reflexo, olhei diretamente para a porta um pouco á frente no corredor e, tomando coragem e fôlego, entrei ali. Era como se ainda pudesse ver os corpos de Charity e Leonard estendidos ali, com o sangue escuro saindo de suas cabeças. Expulsei a imagem de minha mente e dei alguns passos á frente, procurando um local onde poderia estar a chave, e para minha sorte, logo em cima da cômoda havia um gancho com algumas chaves. Olhei cada chave, mas nenhuma parecia ser de uma fechadura de ferro batido, como a do escritório. Abri cada gaveta procurando por ela, mas nada, e então me ocorreu a ideia.

             Corri para a cozinha e peguei todos os pequenos vasos de porcelana que meu pai costumava usar quando queria fazer seu pequeno jogo de esconder as coisas dos outros e virei tudo na bancada.

             - O que está fazendo? – uma voz perguntou alarmada, mas ignorei. Estava ocupada demais tentando achar a porcaria de uma chave que libertaria um zumbi.

             - O que aconteceu? – outra voz perguntou, mas também ignorei.

             Continuei virando todos os pequenos vasinhos na bancada, até que, finalmente, quando já tinha perdido a conta de em quantos já tinha olhado, virei um em forma de pinguim em minha mão e a chave caiu nela.

             Ignorando qualquer tipo de pergunta – estava transtornada, assustada e cansada demais para responder – e, quando passei pelo segundo andar, fiz uma pequena parada para pegar meu arco e flecha. Deixei uma flecha separada em minha mão e segurei a chave firmemente.

             Quando cheguei ao corredor o barulho tinha parado, mas isso não me tranquilizou. Andei lentamente em direção á porta e coloquei a chave na fechadura. Antes de girá-la, encostei mais uma vez o ouvido na porta e pude ouvir novamente o grunhido. Fechei os olhos por um momento e girei a chave.

             - Vamos lá, amiguinho. Não vou te machucar. – falei zombeteiramente.

             Aprontei o arco, mesmo com minha mão machucada protestando arduamente a dor latejante e a ardência em meu ombro. Mordi os lábios trêmulos e chutei a porta com uma força que nem eu mesma sabia que tinha, e a coisa devia estar atrás dela, porque estava caída atrás dela. Poderia rir dela, se não fosse pelo nó na garganta.

             O zumbi teve alguma dificuldade para se levantar, e poderia ter atirado nele bem ali, enquanto ainda tentava, mas para isso teria que dobrar o pulso de uma maneira que provavelmente só o faria piorar. Esperei que levantasse e, quando o fez, esperei por um segundo para tentar reconhecê-lo, e suspirei de alivio quando vi que não era ninguém que conhecia.

             Sem mais nenhuma hesitação, soltei a flecha que foi certeira em sua testa. A coisa caiu, desta vez definitivamente morta, e a única coisa que ocupava meus pensamentos além de que eu não limparia todo aquele sangue era a confusão insistente, que dava nós e mais nós em minha mente. 



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Notas finais do capítulo

Entãooo amanhã tem mais um capitulo! Espero MUITO que tenham gostado! Beijos