A Última Chance escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 14
Parte I - Capítulo 14 - Uma Lembrança


Notas iniciais do capítulo

MAIS UM CAPITULOOO! =O
Nesse terá algumas coisas interessantes sobre o passado da Delilah e da família dela! YEEES! rsrs' Espero que gostem!



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Capitulo 14

Uma Lembrança

Permaneci encolhida na cadeira de balanço pelo que me pareceram horas. O quarto estava escuro e abafado, mas nada ali me incomodava. Estava ali desde que saira do banho; não havia nem me preocupado em me vestir, ficando apenas com a toalha enrolada no corpo e o cabelo pingando nas costas, enroscada na cadeira no canto do quarto. A única pessoa que se atrevera a entrar ali era Emma, que havia trago um chá para me acalmar – o que não resolveu nada – e me chamado para ir me despedir do meu irmão, que estava sendo enterrado numa das partes da propriedade em que nunca íamos.

– Eu não vou me despedir. – respondi á Emma quando ela me chamou – Aquele não era meu irmão.

Nada mais passava por minha mente se não a imagem de Austin, na ultima vez que nos vimos. Como sempre quando nos despedíamos, ele me deu um beijo na testa, dizendo o que ele sabia que eu mais gostava de ouvir.

– Nunca se esqueça que eu te amo, pequena. Tudo vai ficar bem. Acredite.

Sua voz ecoava em meus ouvidos, fazendo as lágrimas que eu tanto estava lutando para reprimir surgissem em meus olhos, junto com um soluço.

Porque isso tinha que acontecer?, perguntei a mim mesma, sentindo uma enorme vontade de gritar o máximo que podia, á plenos pulmões.

Austin era do tipo de cara que todos os outros queriam ser iguais a ele, e todas as garotas queriam ter uma chance. Ele havia acabado de terminar a faculdade de história, aos vinte e dois anos. Estava tão feliz por poder finalmente seguir sua carreira, mas tudo foi em vão. Ele nunca chegaria a fazer nada que planejou, nunca poderia se casar com Cher – o amor da vida dele desde que me entedia por gente – ou poder ter todos os filhos com nomes estranhos que sonhou. E eu nunca o veria realizando nenhum desses sonhos. Me lembrava muito bem das noites que passamos acordados com Damen acampando no jardim quando voltava para cara na férias, e dividíamos doces e histórias sobre nosso ano, e só íamos dormir quando o sol já estava nascendo.

– Parecem até irmãos siameses! – vovó falava rindo, sempre que nos via juntos, conversando.

As lágrimas agora rolavam livremente por minhas bochechas num choro compulsivo enquanto repassava toda a cena daquela manhã milhares de vezes.

Não!, eu falava comigo mesma. Aquele definitivamente não era Austin. Era só mais um errante idiota!

Limpei todas as lágrimas, me recusando a derramar mais uma sequer por um zumbi.

Encarei as paredes amarelas que me cercavam, e pela primeira vez em um ano elas não me trouxeram conforto algum. Levantei-me desesperada para sair daquele torpor e fui para o armário pegando a primeira roupa que vi pela frente. Sem me preocupar em calçar nada ou pentear os cabelos, e sai do quarto quase correndo, descendo os degraus da escada de dois degraus e fui para a cozinha, de onde já podia sentir o cheiro da comida.

– Precisam de ajuda? – perguntei animadamente entrando no lugar, atraindo os olhos de Emma, Carol e Lori. – Estamos no almoço ou no jantar?

Olhei pela janela e estava tudo escuro, e eu só murmurei um “ah”, e fui para perto de Emma, que me olhava como se eu não fosse normal ou estivesse com um zumbi ao meu lado. Sorri para ela, mostrando que tudo estava bem.

– Está... Tudo bem? – Carol perguntou parando de picar as cenouras, com o mesmo olhar de Emma.

– Porque não estaria? – devolvi, como se realmente não tivesse motivos para estar mal, apesar de ter todos.

Ninguém precisa saber que estou mal, falei para mim mesma. E ninguém precisava. Todos já tinham motivos suficientes para estarem mal sem que eu precisasse acrescentar algo. Afinal, todos ali haviam perdido alguém, eu não era a única.

Respirei fundo e peguei alguns legumes para cortar, ainda sentindo os olhos das três mulheres em mim, como se esperassem que eu desabasse a qualquer momento, mas, após alguns minutos, pararam de me lançar olhares, provavelmente percebendo que não sairia nada de mim sobre o assunto. Não na frente delas.

No jantar, havia sempre um par de olhos em mim e Ethan, e constantemente em Gael e Kalem também, como se esperassem que de repente eles desabassem em lágrimas pedindo pelo irmão morto. Suspirei várias vezes tentando acalmar minha vontade de gritar para eles pararem com aquilo, e felizmente consegui me conter, apenas lançando alguns olhares mortais – e eu me saira muito bem, pois Glenn e Beth arregalaram os olhos quando os olhei e não os desviaram mais de sua comida.

Assim que o jantar terminou, levei Kalem e Gael para seus quartos dando um beijo em cada um acompanhado por um rápido “durma bem”. Depois voltei para a sala onde todos se reuniam depois do jantar para conversar.

– Então, como faremos com o portão? – perguntou Herschel em voz alta para chamar a atenção dos outros que conversavam.

– Acho que devíamos manter guarda enquanto não resolvemos isso. – Rick deu a ideia.

Todos trocaram olhares, como se perguntassem quem ficaria dessa vez, e Ethan me olhou intimidador, como se me proibisse de me oferecer para ajudar.

– Eu fico essa noite. – Daryl falou monotonamente, encostado no batente da porta da cozinha com um copo de água na mão.

– Você não dorme não? – perguntei com uma voz indignada. Como ele conseguia ficar acordado todas as noites e ainda ajudar nas plantações durante o dia?

Ele me lançou um olhar tedioso, examinando-me dos pés á cabeça. Olhei-o com raiva e dei um sorriso irônico. Por dentro, eu realmente não entendi o que seu olhar queria dizer, mas não deixaria passar sem uma resposta; eu nunca fui do tipo de pessoa que deixa algo passar em branco, e tive a quem puxar nesse aspecto.

– Eu também fico. – falou Rick, acenando com a cabeça para Daryl.

– E eu. – falou Maggie. Seu pai lançou-lhe um olhar repreensivo, como se mandasse retirar sua oferta, mas ela simplesmente ignorou.

Os três pegaram suas armas e foram para fora, e depois de alguns minutos, com uma conversa totalmente desanimada, ficamos apenas eu, Savannah e Glenn na sala. Eu por estar sem sono, Glenn ... Bem, por ele eu não sabia, e Savannah estava, como muitas vezes mexendo em suas facas (que devo admitir, eram muitas; uma coleção invejável).

– Porque não vai dormir? – perguntei.

– Insônia. – respondeu – Tenho isso desde que... Tudo isso começou.

Assenti com a cabeça e continuei ali, olhando para o teto com os pensamentos longes.

– Posso perguntar uma coisa? – Savannah me tirou de meus devaneios. Seus grandes olhos cinzas me encaravam, e neles haviam um pouco de culpa.

– Pode... – respondi hesitante.

– O que aconteceu com a sua família?

Encarei-a por alguns segundos, meio perdida.

– O que? – eu podia sentir toda a cor fugindo de minha face.

– É que sempre que o assunto é sua família você fica estranha. – ela explicou, parecendo envergonhada olhando para as próprias mãos, sua voz de repente meio infantil.

– Bem... É que... – respirei fundo, sentindo que começava a hiperventilar. – É só que é difícil para mim.

– Vou entender se não quiser contar. – falou, mas pelo tom de voz era óbvio que ela estava morrendo de curiosidade.

– Não, tudo bem. Acho que posso contar. – pigarreei e sentei direito, enquanto Savannah soltava suas facas e Glenn me olhava com curiosidade. – Quando tudo começou eu estava na escola, e meu pai e minha tia, que são... Eram. Eram parte da elite do exército. Foram buscar Ethan e eu na escola. Nós fomos para a minha casa, onde meu tio estava ajudando minha mãe a arrumar as minhas coisas e as dos meus irmãos...

– Quantos irmãos você disse que tinha? – interrompeu-me Glenn.

– Sete. – respondi. – Austin, Damen, Leonard, Charity, Kalem, Gael e Sue.

– Sua mãe teve todos eles? – Savannah perguntou pausadamente como se não pudesse acreditar.

– Não, apenas eu, meu irmão gêmeo Damen e Gael somos filhos de sangue. – respondi risonha – O resto foi adotado.

– Não sabia que tinha irmão gêmeo. – Glenn parecia assustado.

– Mas eu tenho. E ele é um porre. – sorri amavelmente. – Mas, voltando, quando entramos no carro e meu pai explicou para minha mãe, ela surtou...

“Zachary Carmell Valentine... PARE ESSE CARRO AGORA!” minha mãe gritou assustando á todos. Ela nunca fazia isso.

“Está louca, Juliet? Quer que eu bata o carro?” meu pai a repreendeu, alternando os olhares entre a estrada e o rosto de minha mãe que estava completamente vermelho.

“Eu já disse que vou buscar minha mãe!” ela insistiu, cruzando os braços e bufando (ação que meu pai dizia que eu havia aprendido direitinho com ela), enquanto eu e meus irmãos assistíamos aquela cena boquiabertos. Eles nunca haviam brigado na nossa frente.

“E eu já disse que vamos deixar as crianças em segurança primeiro, e depois eu mesmo vou buscá-la.” Papai falou agora se concentrando em seguir o carro de tia Connie. “Hey, Charity, não abra a janela!” ele repreendeu entredentes e a minha irmã fechou a janela com um olhar assustado, colocando os cabelos loiros atrás da orelha.

“Por favor, Zack... Eu tenho que ir buscar minha mãe.” A voz de minha mãe saiu chorosa e suplicante. Ela sabia que papai nunca recusaria nada a ela enquanto fizesse aquela voz. Ele suspirou e piscou os faróis duas vezes, encostando o carro logo depois de tia Connie. Ela desceu do carro mandando o marido e o filho ficarem e ali (ela era a controladora da família) e indo até a janela do meu pai.

“O que aconteceu?” perguntou ela preocupada. Ele explicou toda a situação para ela, que olhou incrédula para minha mãe. ‘Ah, qual é Julie? Vai deixar seus filhos em perigo?”

“Não, eu vou sozinha.” Explicou minha mãe, emburrada.

“Nem pensar. Eu vou com você, mãe.” Austin bateu pé, cruzando os braços e arqueando uma sobrancelha.

“Se ele for eu vou.” Damen também bateu pé, e então Leonard e Charity repetiram seu gesto. Revirei os olhos, apertando Sue contra mim, que estava adormecida em meu colo, depois de chorar por ter que deixar sua casinha de boneca preferida para trás.

“Hey, hey, hey. Já chega!” papai falou autoritário, assumindo seu perfil militar. “Quem quer ir buscar a vovó Eleanor?” perguntou e Austin, Damen, Leonard e Charity levantaram as mãos. Papai suspirou indignado, e, pelo retrovisor, me lançou um olhar de gratidão por não ter levantado a mão. “Ok, vão com a mãe de vocês.”

“Eu vou com eles” tia Connie falou, repousando a mão sobre o ombro do irmão tranquilizando-o. “Vamos nesse carro, que é maior, e vocês passam para o outro.”

Obriguei-me a não chorar ao ver a família se dividindo. Por mais que eu amasse vovó Eleanor, não suportava a ideia de minha família se dividir ainda mais.

“Ok, então não demorem muito. Peguem as rotas mais desprezadas e que passem o mais longe das cidades possíveis.” Meu pai instruiu tia Connie e minha mãe. Ele fio até o porta-malas do carro e o abriu, onde era possível ver muitas armas, uma em cima da outra, e milhares de munições. Pegou três e entregou uma para minha mãe, outra para Austin e a ultima para Damen. “Usem se precisarem, mas evitem o máximo possível.”

“Afinal, no que teremos que atirar?” perguntou Damen, com seu ar arrogante.

“No que for necessário.” Papai respondeu após alguns segundos de silêncio. “E se tentarem morder vocês, não deixem. Atirem sem hesitar.”

Achei aquilo tudo muito estranho. Ninguém havia explicado para nós exatamente o que estava acontecendo, mas as palavras “fim do mundo” circulavam por minha mente.

Me despedi de cada um deles demoradamente, parando por mais tempo em Austin e Damen.

“Me prometam que vão se cuidar, que farão o que for necessário para voltar.” Pedi com lágrimas nos olhos.

“Não estamos indo para a guerra, Lia.” Damen revirou os olhos, mesmo estando com eles marejados. Meu coração apertou e eu passei os braços por seu pescoço, molhando seu moletom com minhas grossas lágrimas. ”Ok, eu prometo.” Acrescentou depois com a voz tremida.

Austin me puxou pela cintura e deu-me um abraço demorado, logo depois dando um beijo em minha testa – como sempre fazia quando se despedia para voltar da faculdade. “Nunca se esqueça que eu te amo, pequena. Tudo vai ficar bem. Acredite. Nunca quebrei uma promessa para você antes, não é?”

Apenas assenti com a cabeça, não confiando em minha voz. Queria muito pedir para ficarem, mas eles não me ouviriam. Eu era apenas a “pequena Valentine”; a exagerada, estressada, chorona e dramática, que não sabia ver as coisas em sua real proporção (palavras de Damen).

Fiquei na beira da estrada vendo a mini-van preta fazer a volta em direção á cidade. Limpei as lágrimas e papai me chamou de volta para o carro. Fui para lá e peguei Sue no colo novamente, que ainda dormia sem nem ter ideia de que metade da família havia partido. Como eu queria ser ela!

Ethan estava em seu canto, olhando para o nada, provavelmente também pensando em sua mãe. Cutuquei-o, dando-lhe um sorriso esperançoso – de uma esperança que eu não tinha realmente.


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Notas finais do capítulo

Entãããooo? O que acharam do capitulo? No próximo capitulo tem a foto de mais um personagem!
Muito obrigada a TODOS por lerem a fic e pelos reviews!
Beijoos e até a próxima! ♥



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