Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 26
XXI — Alívio.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [11/04/2014].



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P.O.V JANE SLANDER.

Abri lentamente meus olhos. Não demorou muito para que eu começasse a sentir algumas dores... daí vem a frase: "você não sente dor quando está dormindo." O problema era que eu não conseguia pegar mais no sono.

Senti algumas pontadas abaixo do meu peito... deveria ser ali onde estava o machucado. Tentei me mexer, mas lembrei que me doía tudo, então decidi ficar parada. Fechei e abri os olhos duas vezes. Respirei fundo, tentando procurar alguém no quarto.

Minhas costas estavam retas e acomodadas por um travesseiro. Meu braço direito estava perfurado por uma agulha, que transferia um soro para minhas veias. Como eu odeio isso. Havia uma máquina que mostrava meus batimentos cardíacos também.

Senti uma leve tontura. Antes de apagar, se fosse possível, olhei para a poltrona que havia perto da maca. Lá estava Castiel, estirado nela, dormindo. Forcei um sorriso:

— Cas...tiel — sussurrei.

Ele não me escutou. Olhei para o meu braço esquerdo, vi que ele "segurava" um controle pequeno com um botão vermelho no meio. Apertei-o.

Após um minuto, uma enfermeira abriu a porta.

— Me chamou? — ela disse, sorridente.

Ah... então é pra isso que serve aquele botão.

— Sinto dores — murmurei.

— Ah, sim... deixe-me ver que horas são — ela olhou para o topo do relógio, que marcava duas da manhã. — Passou o efeito do remédio. Então, Jane, eu vou te dar um dipirona, mas você tem que ficar com o braço bem parado. Você vai sentir algo gelado correndo pelas suas veias, mas é normal. Vai te aliviar por algumas horas.

Assenti positivamente e esperei. Logo, senti algo geladinho se espalhar em mim. Soltei uma risada curta, era engraçado. E o remédio corria pelo tubo como se fosse um bloquinho.

A enfermeira sorriu para mim.

— Espera... — murmurei. — Eu estou aqui faz quantas horas?

Ela sorriu torto, mostrando as marcas da idade no rosto:

— Faz um dia e algumas horas que está aqui — disse ela. — Logo após o acidente, querida, te levamos correndo para a sala de cirurgia. Você murmurava coisas sem noção... Acordava e desmaiava, gritava de dor e desmaiava novamente — ela fez uma pausa. — Então te demos um sonífero. Quando terminamos a cirurgia, esperamos você acordar... Não foi fácil, você começou a ter sangramentos e desmaiou de susto! Te dopamos novamente e, então, você acordou só agora.

— Eu não acredito que fiz isso... que vergonha!

— Que nada, foi normal perto de alguns pacientes... — ela disse. — Tinha que ver seus amigos, loucos de preocupados, pensando que você iria morrer.

Abri a boca:

— Que apoio, hein!

Ela riu, dizendo que iria ir no quarto de outro paciente. Falou que qualquer coisa eu poderia clicar no botão vermelho que ela viria imediatamente. Tentei dormir, porque não queria incomodar Castiel acordando-o a essa hora da madrugada.

Suspirei, fitando a televisão em minha frente. Tentei fechar os olhos e dormir, mas as desgraças se abriam involuntariamente.

Em seguida, escutei um barulho. Castiel havia se debatido na poltrona. Após isso, ele murmurou algumas coisas, que eu não consegui ouvir. Então, ele foi para frente com o corpo. Estava com os olhos arregalados e ofegante.

— Castiel? — chamei.

Ele olhou para mim na hora.

— Você acordou... — sussurrou.

— Está bem? — perguntei. — Teve algum pesadelo?

— Tive. Nada demais — ele parou. — Agora me diga, você está bem?

— É... acho que sim — respondi. — Deve estar com dores nas costas... deite aqui ao meu lado.

Ele veio. Deitou-se ao meu lado. Ficamos fitando o teto por um tempo, em silêncio. O silêncio era algo comum entre mim e Castiel. Era o maior acolhedor nosso, às vezes.

Dependendo da situação, o silêncio era o que mais nos agradava.

* * *

P.O.V AMBRE TURNER.

Eles me caçaram como se eu fosse um rato. A polícia francesa quase chamou as outras forças armadas para me encontrarem. Isso é ridículo!

Sem falar que esse lugar é nojento pra caralho. Eu fui assediada duas vezes por minha colega de cela. Eu não preciso nem dizer que quando eu sair dessa imundice, vou fazer questão de colocar a Slander sofrer o dobro que eu sofri nesse tempo. E o que eu vou sofrer.

Fiquei sabendo que Vicktor também foi parar no xadrez. Nada mais justo, claro. Nossa sentença será feita amanhã, e eu quero só ver quantos anos de prisão eu vou ficar. Mas se eu puder subornar algumas marginais que tem aqui, eu não fico nem seis meses nesse local.

Engraçado, meus pais falaram que estão tão envergonhados de mim... Agora eu lhes pergunto: desde quando eles se importam comigo? Mas quando é para se envergonhar, eles fazem questão de me caçar e me humilhar, onde é que eu esteja.

Enfim, estou mandando todos para o inferno mentalmente... Por enquanto. Talvez, um dia, posso mandá-los de verdade conhecer o demônio.

* * *

P.O.V NATHANIEL TURNER.

Geralmente, nada mais me surpreendia vindo de Ambre. Nada. Até ela chegar no fundo do poço e quase matar Jane. Isso foi o cúmulo do absurdo... Eu nunca desejei tanto que minha irmã apodrecesse na cadeia. Nunca desejei tanto que ela morresse. Ela se perdeu desde que começou a andar com aquela ganguezinha de merda do colégio. Se perdeu desde que começou a se envolver com Vicktor e se viciar em heroína e cocaína.

Sério, ela não tinha nada mais pra fazer? Sua vida estava tediosa? Ela queria mudar? E, como sempre, Ambre seguiu o caminho errado. Agora ela está atrás das grades, provavelmente bolando um plano para fugir da cadeia, como antes. Meus pais sempre foram alheios... Mas isso não foi problema para Ambre, até certo ponto. Até ela começar a sentir falta deles e fazer besteiras para chamar a atenção.

E quando eles se separaram, ela se perdeu totalmente do seu rumo de vida.

Meus pais não souberam educar a fedelha da Ambre, assim, jogaram uma parcela da culpa em mim. Alegaram que, no tempo fora, eu não soube cuidar direito dela. Mal eles sabiam que Ambre virou dessa maneira antes mesmo que eu e ela começássemos a morar sozinhos. Sem presença de ninguém.

Tudo o que eu posso fazer agora é ir para o hospital e me desculpar, jogando toda a culpa de Ambre sob minhas costas. Como sempre.

Não tive notícias de Jane ainda, mas creio que ela esteja bem. Quando uma pessoa leva um tiro, são grandes as chances de sobreviver. Então, eu estou na expectativa de que tudo tenha ocorrido bem.

Não fui ao colégio hoje, tirei o dia para visitá-la no hospital.

Cheguei em pouco tempo lá. Chequei o horário: oito horas em ponto da manhã. Respirei fundo e ergui meu relógio um pouco acima do pulso. Abaixei as mangas do casaco e girei a maçaneta.

Entrando, dei de cara com Jane e Castiel dividindo a mesma cama. Fiquei com um ponto de interrogação enorme ao alto da cabeça.

E ela estava acordada... olhando fixamente para frente.

— Oi... — murmurei. — Atrapalho?

Jane olhou para mim, ficou um tempo me encarando e sorriu:

— Entra. Não se preocupe, não durmo desde as seis da manhã.

Atravessei a porta e entrei totalmente no quarto, fechei-a em seguida. Caminhei até a cama dela, mas ficando alguns centímetros generosos longe, caso Castiel acordasse e me visse ali.

— Eu vim ver como você está.

— Melhorando...

— E quero me desculpar por tudo o que aconteceu com você. Eu não conheço mais o tipo de gente que Ambre virou... isso me decepciona tanto. Por favor, me perdoa.

— Nathaniel — ela murmurou. — Não é você que tem que se desculpar! E isso já foi feito, paciência agora. Não fica se culpando por causa da Ambre, sério.

— Tudo bem, me desculpe.

— Eu só quero que sia irmã apodreça na cadeia...

— Faça de suas palavras, as minhas — eu disse.

Fiquei sabendo que Vicktor também foi preso, mas ele não teve nada a ver com o tiro. Só descobriram que ele manteve a Jane em cárcere privado, e isso ferrou com a vida dele.

Espero que ambos não sejam soltos logo... eu sei que se o fizer, será o fim. Nem tanto, mas eu sei o que me aguarda. Ambre é vingativa.

Decidi ir embora, já que meu horário de visitas estava terminando. Para esgotar o tempo, fiquei conversando um pouco com ela. Foi legal, até... mas ainda parece que no fundo ela está magoada comigo. Eu entendo isso.

Depois de cinco minutos, eu fui.

* * *

P.O.V JANE SLANDER.

Alguns minutos depois que Nathaniel foi, Castiel acordou. Fiquei muito aliviada pelo ruivo não ter acordado enquanto Nathaniel estava aqui... eu sei que iria começar uma enxurrada de xingamentos e culpas e outras coisas. Eles não podem se ver juntos, ainda mais agora. Foi pura sorte, mal consigo acreditar nisso.

Ficarei quieta, Castiel não precisa saber que Nathaniel passou por aqui. E eu espero que ele não tenha fingido dormir para escutar a nossa conversa, que na verdade não teve nada demais. O perigoso foi apenas a presença dele aqui.

Fiquei dois dias a mais internada no hospital, apenas em observação para quando eu estaria pronta para ir embora. No terceiro dia, perto do meio dia, o médico me liberou. Fiquei tão feliz com aquilo, mas ele disse que eu teria de me cuidar muito. O ferimento ainda estava perigoso. Se eu fizesse algo grave, poderia ter sequelas.

E isso eu não quero.

Quando cheguei na casa do Castiel, fui assistir televisão. Algumas horas depois eu recebi uma mensagem de Armin, ele disse que iria vir aqui em casa. Implorei para que ele trouxesse seu video game.

E dane-se as sequelas.

Eu vou jogar.


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