Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 20
XVII — Encurralada. |Parte 2|.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado, com modificações. [31/03/2014].



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P.O.V AMBRE.

Eu sentia enjoos só de pensar no que eu teria de fazer. Sentia tudo voltar para a garganta e descer novamente. Sentia borboletas no meu estômago e sentia culpa. Eu... eu sempre quis ser a maior naquele grupo. Sempre quis ganhar atenção, ser melhor e me destacar. Mas eu também não sabia que para chegar a este ponto eu teria que fazer aquilo com a novata.

Estava certo que Vicktor iria me ajudar e estaria junto, mas quem garante que eu não vou parar na prisão por isso depois? Porra, eu odeio a minha vida. Se eu pudesse arranjar uma forma de me matar agora, não pensaria duas vezes.

Antes de ir para casa, eu vi uma foto. Até parecia que ele saberia que eu passar ali. A foto era de Jane, e eu não sabia como ele havia conseguido-a. A foto estava jogada no chão. Eu recolhi, coloquei no bolso da minha calça e fingi que nada havia acontecido. Aquilo era apenas uma pista de que meu tempo estava se esgotando.

"Ou você faz, ou você se ferra", ele disse pra mim, aquele dia.

Que diferença faria? Meus pais estavam mais retardados do que todo mundo. Minha mãe nunca parava em casa, eu, basicamente, vivo apenas com Nathaniel. Ele finge que eu não existo. Então, pra quê me preocupar com essas coisas? Eu vou fazer isso e... sumir, se estiver ao meu alcance.

Eu não voltei para casa. Eu segui para a casa de Li, precisando desabafar com alguém. Ela era a única pessoa que não me julgava... Charlotte era diferente. Li, por sua vez, sempre me dava alguns conselhos e me mostrava o lado mais fácil de resolver meus problemas.

Quando cheguei lá, toquei a campainha e esperei que alguém me atendesse. Era onze da noite, provavelmente todos já estavam dormindo.

Quem me atendeu foi o irmão dela, John. Era um garoto muito bonito, dono de olhos azuis como o oceano e cabelos pretos. Já havia ficado com ele algumas vezes, mas nada mais que isso... John era um cara legal. E, quando fui pedir para passar, o garoto me abraçou.

Correspondi, era claro. Deixei liberar algumas lágrimas silenciosas, mordendo os meus lábios, para que não fizesse barulho. Fiquei na ponta dos pés, tentando me concentrar ao máximo naquele abraço. Tentando esquecer tudo o que havia acontecido comigo, por pelo menos dois minutos, ou menos.

Nos separamos. Ele sorriu e acariciou minha bochecha. Não me senti confortável, então, abaixei minha cabeça um pouco, perguntando por Li.

— Ela está no quarto.

— Obrigada... — sussurrei. — Seus pais estão em casa?

— Não — respondeu, subindo o lance de escadas comigo. — Pode dormir aqui, se quiser.

Assenti positivamente. Caminhei até o quarto da oriental e vi ela sentada na cama, lendo um livro qualquer, que não me interessava. Suspirei fundo e perguntei se poderia entrar. Ela deixou o livro de lado e assentiu, arrumando um espaço pra mim na cama.

— O que faz aqui a essa hora? — ela sorriu.

— Preciso falar com você...

— Sente-se aqui — ela bateu a mão em um pedaço da cama. — Conte-me.

— Eu estou estranha, não estou?

Ela ponderou um pouco. Analisou o meu rosto, e fixou o olhar em minhas olheiras. Não respondeu por pelo menos três segundos. Analisou meu pescoço e outros lugares visíveis do meu corpo. Após isso ela respirou pesadamente:

— Está...

— O grupo... — falei. — Eles estão me torturando, Li. Você deve se lembrar de quando eu lhe disse que chegaria ao topo em pouco tempo. Pois falta um passo... falta um serviço. E esse serviço é com a novata. Eles pediram para que eu sequestrasse ela, não de verdade, mas dando um susto só — murmurei. — E se qeu conseguisse, eu chegaria ao topo. Mas eu estou com medo, muito medo... nem parece que me chamo Ambre.

— Eu não sei o que te dizer. Isso é muito estranho — ela falou. — Como eu poderei te ajudar? Você não consegue sair do grupo? Abortar tudo?

Balancei a cabeça negativamente, arranhando minha própria calça.

— Eu passei no parque há alguns minutos atrás... — falei. — Era como se ele estivesse me vigiando. A foto da novata estava lá!

— Eu não sei o que dizer, Ambre — ela estava chocada. — Se eu pudesse, faria com que você saísse de toda aquela merda... mas pelo visto é pior do que imaginei. E a única saída é fazê-lo. É um susto, Ambre... pensa só nisso: um susto.

— Um susto... — repeti comigo. — Nada demais...

Ficamos um tempo em silêncio. Li fitava sua coberta, e eu o pequeno rasgo que havia feito em minha calça, apenas com a minha unha. Meus pais não davam a mínima pra mim, então, se eu me ferrasse, o problema iria ser apenas meu. Não iria ter eles para me julgar ou me chamar de cobra pela segunda vez.

Tudo bem, Ambre. O caminho está limpo. Carta branca pra você... vai lá, faz o susto, termina, e retoma sua vida como se nada tivesse acontecido. Nada.

Eu iria dormir lá, e quando já estava pronta para pegar um pijama emprestado, recebo uma mensagem no celular. Não era uma mensagem comum, claro que não. Vicktor era o remetente:

"Agora mesmo. Estive vigiando ela durante um tempo... Pare qualquer coisa que esteja fazendo agora e me encontre no parque."

Respirei fundo. Li me encarou, assenti positivamente para ela. A oriental entendeu, me deu um abraço e me conduziu até a porta.

* * *

P.O.V CASTIEL TISSOT.

Fui até a casa de Íris, lá Jane estava morando por um tempo. Na verdade, as duas haviam combinado de dividir as despesas da casa até a novata terminar o colegial. Assim, ela faria uma faculdade e não moraria mais com Íris. Achei justo.

Bati na porta duas vezes.

— Quem é? — era ela. — Já vai!

Quando abriu a porta, assustou-se um pouco. Tratou de fechá-la, mas coloquei meu pé a tempo, impedindo que ela fechasse a porta por inteiro. Dei mais outro passo e entrei totalmente na casa. Ela suspirou, balançando a cabeça negativamente.

— O que você quer agora?

— Pensei que já estivéssemos bem.

Sentamos no sofá da sala. Primeiramente, murmurei algumas coisas sem nexo, tentando achar uma maneira de me desculpar com ela. Cara, eu jurava que ela já tinha parado de frescura e me perdoado, mesmo eu não tendo pedido perdão.

— Ehm... tudo bem — ela sussurrou. — Está perdoado. Mas nunca, nunca, jamais, fique desconfiado de mim daquele jeito. Você sabia desde o começo que eu não conhecia aquele menino.

— Tá...

Por fim, ela sorriu. Me abraçou fortemente. Estávamos no escuro e Íris estava dormindo. Então, decidi convidá-la para dar uma volta pela cidade. Jane relutou, mas aceitou. Amanhã não teria aula mesmo... eu sempre andava pelas ruas de madrugada.

Tive a ideia de buscar Dragon. Eu morava perto de Íris, e quando voltei, fomos nós três dar uma volta.

Ela reclamou de frio. Então a abracei de lado, tentando aquecê-la. Era meio impossível, porque com a outra mão eu segurava a coleira de Dragon, o qual não sabia andar devagar. Ele queria correr.

A noite estava legal, não tinha muitas estrelas, mas isso contava. A brisa também era legal... ainda mais quando batia no rosto, e aliviava um pouco o calor de andar.

Dragon estava quieto... olhava para os cantos e acuava para o além. Logo quando chegamos perto do parque, ele parou, subitamente. Estranhei, Dragon não era desses fiascos. Quando entramos, tratei de arranjar um banco para descansarmos.

Dragon se soltou da coleira e correu para longe.

— Merda! — falei. — Espere aqui, vou buscá-lo.

— Não, eu vou com você.

— Tá.

Caminhamos em direção para onde ele tinha corrido. Chamamos o nome dele umas mil vezes. Quando comecei a entrar em desespero, ele acoou. O latido estava longe, e então chamei-o mais uma vez. Dragon não respondeu. Que vontade de jogar ele de um prédio.

Finalmente o encontramos perto de uma árvore, fazendo xixi nela.

— Pra quê marcar território aqui? — indaguei. — Vamos embora, seu babaca.

Quando Dragon estava prestes a vir em minha direção, escutamos um barulho vindo de perto. Jane pulou no meu braço, tremendo em medo. Eu gritei para saber quem estava lá. Não obtive respostas, talvez fosse o vento levando as folhas... ou não.

Escutei uma risada. Não era na minha frente, mas era atrás.

Quando me virei, um cara apareceu. Não conseguia ver o seu rosto, e a medida que fiquei tentando distingui-lo e o tempo que perdi, ele conseguiu pegar Jane pelo braço e arrastá-la para ele.

— Solta ela! — gritei.

Agucei a visão... e pude ver o crápula do Vicktor. Aquele filho da puta que sempre me infernizava com o Dake.

Ele não me respondeu. Apenas riu. Passou o braço pelo pescoço de Jane, enquanto ela pulava, tentando se soltar. Jane gritou, ordenando que ele a soltasse se realmente fosse homem. Até ele mostrar uma faca...

Sem hesitar, fui para cima dele, jogando a faca para longe. Desferi-lhe um soco na têmpora, Vicktor resistiu e não soltou Jane.

— Acha que vai me fazer soltar ela pelo físico?

— Se eu te matar aqui — esbravejei. — Você solta!

— Me solta! — Jane gritou. — Me solta, seu nojento!

— Quietinha aí... — ele sorriu, observei o roxo se formar em seu rosto. — Fica bem quietinha... Shh...

Ela se debateu por mais alguns segundos, até desistir. Fui em busca da faca, e quando achei ela, fui pego de surpresa. Vicktor me lançou um chute nas costas, me fazendo cair de barriga para a grama. Por centímetros a faca não me perfurou. Ele chutou a minha mão, causando-me grande dor. Ajuntou a faca e agarrou Jane antes que ela fugisse.

Urrei de dor.

— Seu merdinha — ele cuspiu as palavras. — Fica no chão, que aí é o teu lugar.

Antes que ele fosse, tentei me levantar, mas acabei levando um golpe na cabeça. Fiquei tonto... minha visão estava um pouco turva, mas mesmo assim consegui ver ele se desvencilhando, levando Jane consigo.

Eu fui tão burro a ponto de apanhar dele. Tão burro a ponto de não conseguir me defender. Tão burro a ponto de arrastar Jane para o parque, sem saber que aquilo iria acontecer.

E, antes de desmaiar, me perguntei porque raios ele queria ela.

Dragon veio até mim. Me cheirou e pareceu chorar. Meus olhos fechavam-se involuntariamente. A última coisa que eu vi foi meu cachorro correndo para fora do parque...

Eu espero que ele procure pela pessoa certa.


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Notas finais do capítulo

Dragon, el salvador!