Depois que Tadase e Nagihiko foram libertados do mundo de ilusões de Shiori, e convenientemente sem se lembrar de nada do que aconteceu lá, alguns dias se passaram, até que Utau convidou à todos para irem até sua casa de novo, ao mesmo tempo que encararia o Rei e o Valete pela primeira vez desde que ela e as demais os espionaram descaradamente.

– Olá, olá! Sejam todos bem-vindos! - Utau exclamou sorridente ao abrir a porta, e afastando-se para o lado para abrir passagem aos outros - Tem chá com bolinhos na mesa, então sirvam-se à vontade!
– Se você diz, então com licença - Rima não pensou duas vezes, e já se acomodou no lugar mais próximo, servindo-se de chá
– Rima-chan, você é corajosa de beber isso, hein... aposto que foi a Shiori quem fez - Nagihiko observou
– Eu mesma! Algum problema com isso, Valete?? - Shiori saiu da cozinha, depositou uma bandeja com biscoitos na mesa e parou de frente para Nagihiko, encarando-o
– Ah, eu sabia... não me leve à mal, mas sua comida não é lá muito confiável
– Está dizendo que eu cozinho mal?! - ela exclamou ofendida
– Não é que você cozinhe mal, mas... sua comida sempre causa situações problemáticas depois - Nagi respondeu,lembrando-se de pequenos "acidentes" anteriores que teve com Tadase, tudo porque o loiro provou a comida dela
– Vamos, vamos, você está na casa dos outros agora, então tenha um pouco mais de educação, Nadeshiko! - Ikuto também surgiu da cozinha, passando deliberadamente um braço ao redor dos ombros de Shiori e a usando como apoio, enquanto encarava Nagi presunçosamente
– Você também, é? Já falei que meu nome é Fujisaki Nagihiko! - ele exclamou irritado
– Melhor desistir, eles nunca vão aprender seu nome completo - Rima falou sabiamente
– Hai, hai! Bom, agora que estão todos aqui, eu quero dizer uma coisa! - Shiori exclamou, desvencilhando-se de Ikuto e batendo palmas numa tentativa de calar os demais - Utau-chan chamou vocês à meu pedido, já que eu sabia que, se eu mesma chamasse, vocês não viriam
– É, não viríamos mes... ué...
– O que foi agora, Valete? - Shiori perguntou, irritada com a interrupção
– Nada, é que... tenho a sensação de que estou esquecendo alguma coisa importante sobre você... alguma coisa muito grave que iria me querer fazer bater em você, mas... não me lembro o que era...
– Ahh, agora que você falou, eu pensei isso também! - Tadase concordou - Pensei que era só impressão minha, mas.... tenho a sensação de que ela fez alguma coisa muito séria, mas não consigo lembrar o que era.

As garotas se entreolharam, temerosas. Mesmo que a memória dos dois tivessem sido apagadas, parece que ainda restava um resquício de lembrança sobre o incidente em que eles foram espionados, e se eles insistissem em tentar recordar o acontecimento, era possível que o selo fosse quebrado, embora muito pouco provável.

– Ora, o que estão dizendo?! Não deve ser nada, vai ver vocês sonharam comigo ou coisa parecida e agora não conseguem se lembrar do sonho! - Shiori desconversou
– É... se for esse o caso, então prefiro nem lembrar, deve ter sido um pesadelo e tanto - Nagi murmurou, ainda tentando inutilmente se lembrar do que quer que ele estivesse esquecendo
– Bem, se não conseguem lembrar, então não deve ser importante, portanto é melhor deixar pra lá - Shiori sentenciou - Agora, voltando ao assunto, o motivo pelo qual eu os chamei aqui é pra dar um aviso: Não é nada de muito importante, pelo menos não pra vocês, mas... como vocês devem saber, falta pouco mais de uma semana pro verão acabar e, quando isso acontecer, eu terei que voltar pra casa e irei embora daqui
– O que?! Peraí, Shiori-tan... você está dizendo que... v-vai embora?! - Yaya cuspiu os biscoitos que devorava, tamanho foi o susto
– Você vai embora e deixar a gente?! Mas por que?? - Amu completou, tão exasperada quanto a Às
– Ei, ei, eu disse desde o começo que só iria passar as férias aqui, não disse? Uma vez que as férias terminarem, eu terei que voltar pra minha casa... quero dizer, pra casa dos meus tios - a garota explicou - O que é isso, vocês fizeram tanto escândalo quando eu cheguei... não me digam que agora não querem que eu vá embora?!
– Bom, vai ser estranho não ter você por perto, afinal, já nos acostumamos com a sua presença - Kukai admitiu
– É verdade... você passou tanto tempo colada na gente que... é estranho você dizer que vai embora - Nagihiko concordou á contragosto
– Ora, e você também já não fez isso uma vez? Quero dizer, a Ex-Rainha fez... ah, dá na mesma - Shiori deu de ombros, como sempre fazia - Bem, o motivo pelo qual chamei vocês aqui foi pra avisar isso, e... também, como eu logo irei embora, quero pedir uma coisa: Joguem uma última vez comigo!
– Ahh pronto, estava demorando... sabia que ela estava aprontando alguma coisa! - Kairi exclamou, jogando-se em um sofá
– Isso é bem a cara dela mesmo - Kukai concordou com uma gota na cabeça - Mas... se é a última vez, então...
– Não custa nada jogarmos né? - Yaya completou sorridente
– Tá bem, tá bem, nós jogamos, sua viciada em jogos! - Ikuto ergueu as mãos, como quem se rende - Francamente, se você gosta assim de jogos, já deve ter jogado bastante ao longo da vida, já não está bom não?!
– Eu já não contei? Eu vivia sozinha, então não tinha com quem jogar - Shiori forçou um sorriso, mas logo se recuperou, e acrecentou - Então, essa será a primeira vez que jogo de verdade!
– Tá bem, já entendemos! Que jogo vai ser afinal? - Amu perguntou
– Huhuhuhuhu... um que vocês conhecem muito bem... - ela tirou uma caixa de palitinhos açucarados do bolso, mostrando-a à todos - Ta-daaan! Pockygame!
– Não! Eu não vou jogar isso de novo, não mesmo!! Escolha outra coisa!! - Nagihiko gritou antes que qualquer um pudesse protestar primeiro
– Ora, mas se me lembro bem, foi graças ao pockygame que eu inventei que você pôde perceber seus sentimentos pelo Chibi King lá no mundo de ilusões... se não fosse por isso, você jamais perceberia que gosta dele, e seriam apenas amigos até hoje - Shiori argumentou - Foi só por causa do pockygame que você percebeu que sempre esteve apaixonado pelo seu amigo de infância! Seja grato ao pockygame! - ela apontou um dedo acusador para o Valete
– Ahh, mas eu acho que o Nagihiko tem razão... não sei se quero jogar isso - Amu falou um tantinho temerosa
– T-Também não acho uma boa idéia - Kairi concordou, tão receoso quanto a Coringa
– Eu também... n-não sei se quero jogar isso. Esse jogo é tão... perigoso, não sei se é uma boa idéia - Tadase apoiou, corando só em imaginar o que poderia acontecer caso eles jogassem
– Tudo bem, vamos fazer uma votação então! Quem quer jogar pockygame levante a mão! - Utau exclamou, levantando a própria mão em seguida. Yaya, Kukai, Ikuto e Shiori á imitaram - Cinco pessoas né... tudo bem, agora quem não quer jogar, levante a mão! - ela exclamou, e Amu, Rima, Kairi, Nagihiko e Tadase levantaram a mão - Ahh droga, empatou... e agora??
– Eu tenho uma idéia melhor: Eu quero jogar, e a Amu não quer, então vamos disputar na sorte - Ikuto falou, tirando uma moeda do bolso - Se der cara eu ganho, se der coroa você perde. Lá vai! - antes que Amu pudesse perceber o que ele estava fazendo, Ikuto jogou a moeda para o alto, e depois de rodopiar no ar por alguns segundos, ela caiu na mesa - Deu coroa! Lamento, você perdeu, nós vamos jogar sim
– Ué... mas espera aí... ei, isso foi trapaça, não foi?? Não valeu Ikuto!! - a Coringa gritou enraivecida
– Lamento, tarde demais, reclamasse disso antes. Agora, como vamos decidir quem joga com quem? - o neko desconversou antes que os outros começassem a apoiar os protestos de Amu
– Eu sei, eu sei! - Shiori correu até a cozinha, voltando segundos depois com uma garrafa vazia nas mãos - Vamos girar a garrafa, e as duas pessoas pra quem ela apontar serão as que vão jogar!
– Parece uam boa idéia! Vamos jogar assim então! - Utau concordou, sentando-se no chão, e os outros à imitaram, alguns um tanto relutantes, sentando-se em uma roda
– Como você tem coragem de sugerir um jogo desses, hein garota?! Não estamos mais no seu mundinho de ilusões não, se a garrafa apontar pra você, então você terá que jogar, que nem a gente! - Nagihiko exclamou, ainda inconformdo com a escolha do jogo
– Eu sei, mas não me importo com isso - Shiori respondeu simplesmente - Muito bem, agora vamos ver quem serão os primeiros sortudos! - antes que alguém pudesse impedí-la, Shiori girou a garrafa que estava no centro, e ela rodopiou por alguns instantes, até que parou, a boca apontando para Nagihiko e o fundo para Tadase
– Ora, que interessante... começamos bem, hein hahahahahahaha!! - Yaya exclamou, dando uma risadinha maldosa
– Eles já devem ter feito isso tantas vezes que não deve nem ter mais graça - Rima comentou, desviando os olhos de seu chá e os fixando em Tadase e Nagihiko, sem piscar uma única vez
– Ei, ei, espera um minuto! Isso vale mesmo?? Uma rodada entre dois garotos?! - Kukai indagou alarmado
– Ora, é claro que vale! Por que não iria valer afinal?! - Utau respondeu, como se falasse o óbvio
– Mas isso não vale! - o Valete vagal insistiu - Quero dizer, o Tadase e o Fujisaki tudo bem, mas... e se a garrafa apontar pra algum de nós?!
– Se apontar, então vocês terão que jogar também, e pronto - Shiori sentenciou, e Kukai, Ikuto e Kairi se entreolharam um tanto temerosos
– Isso significa que se a garrafa apontar pra duas garotas também vai valer, não é? - Ikuto perguntou, sorrindo perversamente
– Bem, sim... mas esse não é o caso agora - ela desconversou - Então chega de enrolar, e façam isso logo!
– Eles podiam simplesmente pular a parte do palito e se beijar de uma vez - Rima comentou sugestivamente
– Ei, espera um pouco! Vocês... r-realmente querem que façamos isso?? - Nagi indagou, entre incrédulo e envergonhado
– Ora, e qual o problema? Não é a primeira vez que vocês se beijam afinal - Utau rebateu
– M-Mas... n-nós nunca fizemos isso.... n-na frente de outras p-pessoas antes - Tadase murmurou desconcertado, vermelho até as orelhas
– Ei, isso não é verdade - Amu discordou - Lembro muito bem que, daquela vez em que jogamos Verdade ou Consequência, o Nagihiko te agarrou e...
– A-Aquilo não vale, eu estava no Chara Change, não sabia o que estava fazendo!! - Nagi à interrompeu, corando quase tanto quanto o Rei
– Olha, eu achava melhor vocês fazerem isso logo... pensem bem, vocês se gostam, e já fizeram isso antes mesmo. É melhor do que fazer com outra pessoa - Shiori argumentou, e os dois se calaram, tentando se conformar - Então, ainda vão querer o palito ou preferem apenas se beijar de uma vez? - ela estendeu a caixa de pocky sorridente
– M-Me dá logo essa coisa! - Nagi puxou um palito de má vontade, e voltou a encarar Tadase - G-Gomen nee Hotori-kun... não queria fazer isso na frente dos outros tanto quanto você, mas... bem...
– Eu sei, não se preocupe. Além do mais, se... s-se tenho que fazer isso na frente de outras pessoas... é melhor que seja com você, Fujisaki-kun - o Rei sorriu sem graça, com o rosto ainda corado, e Nagihiko depositou com cuidado a ponta do palito em sua boca, mordendo o outro lado em seguida.

Tadase ofegou, os lábios tremendo levemente de nervosismo, e corando à cada mordida que o Valete dava no palito. Ainda que eles já tivessem se beijado outras vezes antes, o fato de estarem fazendo isso na frente de outras pessoas, principalmente quando as pessoas em questão gritavam e riam histericamente à cada mordida que o Valete dava no palito, parecia tornar tudo milhares de vez mais constrangedor. Nagi podia ouvir ao longe o som do botão de uma câmera sendo apertado freneticamente, e sabia que era a câmera de Yaya entrando em ação, mas resolveu deixar esse assunto de lado por enquanto. O palito logo chegou na metade e seus narizes se encostaram. Nagihiko podia sentir claramente a respiração cálida e descompassadado Rei batendo em seu rosto e se misturando com a sua. O Valete devorou os últimos centímetros do palito, e seus lábios se encostaram. O loiro enrubesceu furiosamente, sua face agora mais vermelha do que seus olhos escarlates, que ele fez mênção de cerrar com força, como se isso pudesse amenizar a vergonha e o nervosismo que sentia por estar sendo observado por vários pares de olhos atentos enquanto era beijado, como se fosse um animalzinho fofo e raro em um zoológico. Nagihiko, no entanto, pareceu se esquecer completamente de que possuíam platéia, e invadiu os lábios do Rei com a língua, que deixou escapar um gemido, mas deu permissão para que o outro garoto continuasse. Hesitante, Tadase foi movendo suas mãos aos poucos, uma ainda segurando a camisa de Nagihiko com força, enquanto que atirou a outra ao redor do pescoço do Valete, agarrando-se em seus longos cabelos. O bendito do palito açucarado que provocou essa situação se fora há tempos, mas isso já não importava mais. O cheiro adocicado que Tadase exalava parecia embriagá-lo por completo, fazendo o maior se esquecer completamente de onde estavam, ou se tinha ou não mais pessoas ali, tudo o que conseguia pensar agora era no garoto em seus braços.
No entanto, logo a necessidade de oxigênio em seus corpos se fez mais presente do que a necessidade que tinham um do outro, e Nagihiko foi obrigado a encerrar o beijo, ainda que à contragosto.

Depois de voltarem lentamente e em silêncio para seus lugares, os dois deram uma breve olhada em volta, rápida apenas para perceber que todas as meninas pareciam completamente extasiadas com a cena presenciada, enquanto que os garotos pareciam estar entre chocados e embaraçados, com exceção de Ikuto, que parecia já estar acostumado a ver aquilo.Tadase dobrou as pernas, colando os próprios joelhos no peito e enterrando seu rosto ali, envergonhado demais para dizer qualquer coisa. Nagihiko apenas desviou os olhos para um canto vazio da parede, sem realmente vê-lo.

– Kyaaaa isso foi tão incriveeeeel!! Ainda bem que a Yaya filmou!! - a Às exclamou, revendo a cena em seu celular
– Ai, foi lindo mesmo... como vocês podem ser tão fofos, hein?! - Utau apoiou, esticando o pescoço para ver a cena de novo também no celular de Yaya
– Tá, tá, vocês gostam de ver essas coisas, já entendemos, suas pervertidas... será que podem calar a boca pra continuarmos com o jogo agora?? - Nagi exclamou, tentando mudar de assunto, e ainda terrivelmente corado. Ele girou a garrafa com força novamente, que foi parar em Amu e Kukai
– O que?! Fala sério, eu e a Hinamori?? - Kukai gritou, mais incrédulo do que qualquer outra coisa
– É, esse é o resultado... deve ser sorte, eu acho. Bem, vão lá e mandem ver! - Shiori exclamou como se não fosse nada
– Espera aí Shiori-tan - Yaya levantou-se, estranhamente séria - Isso não vale!! O Kukai não pode jogar com a Amu-chi, não mesmo!!
– Ah, é? E por que não, posso saber? - ela perguntou para a Às, sorrindo como o Gato de Cheshire
– Porque... ahn... etto... p-porque não pode e pronto!! - Yaya atrapalhou-se com as palavras, sentindo o rosto esquentar
– "Porque não" não é resposta. Se não tem um bom motivo, então eles vão ter jogar sim - a mais velha sentenciou
– M-Mas isso não vale! - Yaya exclamou, nervosa com a falta de argumentos - Eles... e-eles não querem jogar um com o outro... não é?
– C-Claro que não! - Kukai respondeu na hora - Isto é... n-nada contra você, Hinamori, mas... f-fazer algo assim é...
– .... embaraçoso demais, né? Eu sei, sinto a mesma coisa - Amu completou, tão corada quanto ele
– Mas se me lembro bem, o Reizinho e o pirralho travesti também não queriam jogar e fizeram assim mesmo... isso não é motivo - Ikuto falou
– Falou e disse, Ikuto-kun! Então, se nossa pequena Às não tem um bom argumento, vocês podem começar - Shiori concluiu, colocando um palito na boca da Coringa, que encarou Kukai, entre assustada e embaraçada. Sem outra opção, ele mordeu a outra ponta do palito.

Ambos estavam muito corados, e logo fecharam os olhos para não terem que ver essa cena embaraçosa que eram obrigados a protagonizar. Os outros observavam atentos, quase prendendo a respiração de tanta ansiedade, e Yaya tinha ficado anormalmente quieta, olhando a cena com uma cara séria demais que não combinava com ela. Na verdade ela parecia era estar zangada, e quem fosse mais atento, perceberia que ela estava rogando pragas e xingando Amu em voz baixa. Logo o palito chegou na metade, e tanto a Coringa quanto o Ex-Valete puderam sentir a respiração um do outro batendo em seus rostos. Apertaram os olhos com mais força numa tentativa inútil de fazer com que aquilo não acontecesse. Ou talvez nem tão inútil assim. Antes mesmo que seus narizes se tocassem, ouviu-se um "crec!" e o palito se partiu ao meio.

Kukai e Amu reabriram os olhos, mal ousando acreditar que estavam salvos. Conforme a ficha foi caindo, eles se afastaram lentamente um do outro, terminando de comer o resto do palito quebrado em suas bocas.

– Yes! Deu certo, ele quebrou!! - Yaya deixou escapar, erguendo um punho no ar, vitoriosa - Q-Quero dizer... a-ainda bem né, vocês não queriam fazer isso mesmo, foi melhor assim...
– É, e parece que não eram só eles que não queriam que isso acontecesse - Utau comentou, dando uma risadinha maldosa - Muito bem, vamos ao próximo! - ela girou a garrafa, que terminou por apontar para Ikuto e Yaya dessa vez
– Ehhh?! A-Apontou pra Yaya e pro I-I-Ik-Iku... - Yaya pareceu "travar", tamanho foi o choque do resultado, seu rosto ficando mais vermelho do que seus cabelos ruivos - Não, não, não, não!! Isso está errado, Yaya não pode jogar com ele, não pode!!
– Bom, mesmo você sendo uma pirralha, vale a pena tentar... e não dá pra fugir do resultado, você sabe, não é, ruivinha? - Ikuto comentou como quem fala do tempo, pegando um palito na caixa de pocky
– M-Mas... mas o Ikuto não!! - ela gritou, terrivelmente assustada - Ahhh céus, você vai acabar comigo, eu sei que vai... Yaya é só um bebê inocente, não mereço ter um fim tão trágico!!
– Bebê não sei aonde... você é a maior pervertida de todos os pirralhos, admita! - Ikuto rebateu
– Ei, também não gostei dessa história - Kukai falou de cara amarrada - A Yaya é muito nova pra fazer algo assim com o Ikuto, isso não está certo!
– Isso mesmo, não está certo! - Yaya apontou para o Ex-valete, agarrando-se ao primeiro argumento que viu à seu favor
– Mas Yaya, você sabe muito bem que, não importa o resultado, nós temos que cumprir! - Utau argumentou - Todo mundo aqui cumpriu os resultados, por que com você seria diferente?! Não é, Shiori-chan? Ué... Shiori-chan? está me ouvindo??

Não, Shiori não estava ouvindo. Na verdade ela parou de ouvir ou ver qualquer coisa desde que a garrafa anunciou o resultado. Ela olhava fixamente para a garrafa, sem realmente vê-la. Só a idéia de Ikuto beijar outra garota, mesmo que fosse por causa de um jogo... só a idéia de vê-lo fazendo isso bem na sua frente não lhe agradava nem um pouco. Shiori foi tomada por um sentimento pesado e doloroso que preencheu rapidamente seu coração, que ela só podia classificar como raiva, embora tivesse a impressão de que era outra coisa. Tentou pensar em algum motivo para evitar que Ikuto e Yaya se beijassem, mas não via motivo nenhum para fazer isso. Ainda inconformada e irritada sem saber nem com o quê, ela limitou-se a ficar calada e não dar palpite dessa vez.

– Ehh... que estranho, ela está bem quieta dessa vez - Rima observou, tomando um gole de chá
– Essa garota... fala sério, ela adora dar palpite na vida dos outros, mas quando se trata dela mesma, demora tanto pra perceber as coisas - Nagihiko resmungou para si mesmo, observando a reação de Shiori com o canto dos olhos
– Fujisaki-kun - Tadase chamou baixinho - Isso que dizer... que a Tennousu-san está com ciú...?
– Psssiiiu! Provavelmente é isso... mas é melhor não falarmos disso agora, alguém pode ouvir - Nagi sussurrou e volta
– Bem, já que não vejo motivos pra impedir essa rodada, vamos acabar com isso de uma vez - Utau falou, dando uma última olhada para Shiori. Como ela não protestou, Utau simplesmente os forçou a continuar. Ikuto também a encarou de soslaio, mas não viu nenhuma reação e, por fim, soltou um suspiro e colocou o palito na boca da Às, mordendo a outra ponta em seguida.

Yaya estava completamente paralizada enquanto encarava o rosto do neko. Ela não conseguia nem piscar, nem desviar os olhos, muito menos comer o palito. Ikuto foi mordendo seu lado do palito, estranhamente relutante. Queria acabar de uma vez com aquilo, mas, por algum motivo, ao mesmo tempo ele não queria chegar até o final. Os outros observaram a cena apreensivos, a maioria com pena da Às. Shiori tentava olhar disfarçadamente, fingindo não estar interessada. Utau, Rima e Amu recomeçaram a soltar seus gritinhos agudos e histéricos. Tadase, Nagihiko e Kairi desviaram os olhos da cena quando o palito chegou a metade, com certo receio do que aconteceria a seguir. E Kukai vivia um sério conflito interno, dividido entre desviar os olhos daquela cena absurda ou continuar olhando até o final sem nem ao menos piscar. Por algum motivo, sentia-se incomodado vendo isso. O fato de que Yaya e Ikuto poderiam se beijar a qualquer momento fazia o coração do Ex-valete doer terrivelmente, como se alguém o estivesse esmagando.
Mas, para a sorte de todos ali, quando o palito estava a dois centímetros de terminar, ele se partiu ao meio. Assim que ouviu o "crec!", Yaya se afastou rapidamente, cobrindo a boca com as mãos.

– Ai, o palito quebrou, ainda bem! Estou salva!! - Yaya exclamou, sendo tomada por um imenso alívio, que era compartilhado por Kukai e Shiori - Nem tente terminar com isso, ouviu bem, seu gato pervertido?! O palito já quebrou, essa rodada está terminada!! - ela acrescentou, agarrando-se ao braço de Kukai e se escondendo atrás dele
– Hai, hai, já entendi... quem sabe na próxima, não é? - Ikuto deu uma piscadela seduzente, fazendo Yaya voltar a corar
– Bom, já chega disso, vamos para a próxima! - Shiori finalmente se manifestou, querendo acabar logo com aquela cena. Depois que todos voltaram a se sentar, ela girou a garrafa, que rodopiou até parar apontando para Kukai e Yaya - Ahh, finalmente essa garrafa apontou para o casal certo hein, hahahahahaha!! - ela gargalhou, como se estivesse completamente recuperada de sua breve confusão de sentimentos que aconteceu à poucos segundos atrás
– C-Ca-Casal?! - Yaya gaguejou nervosa, enrubescendo novamente
— Y-Yaya... – Kukai corou, surpreso – Se não quiser, nós podemos pular...
— Não mesmo! – Amu protestou – Vocês tem que continuar!
— Isso aí! Não tem nada que os impeça de terminarem isso! – Shiori pegou um pocky e entregou para Kukai, que fitou constrangido a Às.

Hesitante, ele se aproximou de Yaya, sentando de frente para ela, colocando o palito entre os seus lábios, e abocanhando o outro lado. Yaya ficou incrivelmente vermelha, fechando os olhos com força. Ele mordeu um pedaço, esperando que Yaya fizesse o próximo movimento. Ela o fez, tremendo dos pés a cabeça, com o coração batendo tão rápido quanto fosse possível. Kukai inclinou a cabeça, aproximando mais uma mordida, e Yaya fez o mesmo. Seus narizes se tocaram, causando um formigamento na pele. Kukai segurou-a com cuidado pela cintura. Estavam tão próximos agora que podiam sentir calaramente a respiração um do outro batendo em seus rostos corados, e tornando-se uma só. Sem que ninguém percebesse, Shiori surrupiou a câmera da Às e começou a filmar a cena. Todos observavam com atenção evidente, sem nem mesmo piscar, ninguém se atrevendo a desviar os olhos da cena. As meninas logo voltaram a dar seus gritinhos histéricos. Meio hesitante, Kukai colocou a mão no rosto quente da Às, trazendo-o para mais perto, ao morder mais um pedaço. Yaya avançou mais um pouco, agora tão perto que era capaz até de sentir o perfume que o garoto exalava com clareza. Kukai terminou com a distância que os separava, mordendo o último pedaço do palito e selando seus lábios com os de Yaya. Invadiu os lábios inexperientes da menina, em um beijo desajeitado, e fazendo-a se arrepiar por completo. Com o coração batendo forte e alto, ela apoiou a mão no peito do garoto, retribuindo ao beijo. Sentiu o Ex-Valete apertar mais um pouco o abraço em sua cintura, aproximando ainda mais seus corpos, e atirou uma das mãos ao redor do pescoço dele, bagunçando ainda mais seus cabelos rebeldes. Quando começaram a sentir falta de ar, Kukai à soltou, estranhamente relutante. Os dois se afastaram, entre confusos e embaraçados, e não voltaram a se encarar. Kukai voltou ao seu lugar, vacilante. Agora ele percebia que Tadase tinha razão. Aquilo era perigoso, muito perigoso. E o jogo estava só começando.

*** Próximo Capítulo: Beijo ***