Daredevil escrita por SebbyKitten


Capítulo 3
Capítulo 3 - Omnipotent


Notas iniciais do capítulo

as coisas começam a ficar mais couple like a partir desse capítulo



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Os corredores abafados da mansão davam um certo ar aconchegante a ela. Sebastian andava à sua frente, o guiando e introduzindo cada um dos milhões de cômodos do lugar ao garoto. Mesmo com a amargura e a tristeza na alma, o mesmo não conseguia se impedir de apreciar o adulto. Seu rosto de traços magros e definidos, curvos no sorriso misterioso e doce. O cabelo preto que lhe caía aos olhos, envolvendo o seu rosto perfeitamente. Ciel não tinha conhecimento de que sentimento era esse ao que ele traçava com os olhos toda a figura do homem. Decidiu então apenas balançar a cabeça e voltar a prestar atenção no tour pela enorme casa.

– E, finalmente, este é o seu quarto, Bocchan - o garoto brevemente se alarmou com o termo tão formal e já tão comprometido que Sebastian usou, mas o sorriso aconchegante e malicioso que recebeu dele fez isso sair de sua cabeça. O alto abriu a porta para o pequeno, que encontrou um quarto perfeitamente arrumado, com até algumas das coisas que Ciel mais gostava, e uma cama de casal com os lençóis passados e macios.

Era quase como se ele já esperasse o garoto vir a o encontrar.

– É bom o bastante? - ouviu Sebastian perguntar à suas costas. Giro nos seus calcanhares e assentiu, firme. Mais um sorriso do homem e uma reverência que o mesmo fechava vagarosament a porta e deixava Ciel sozinho com os seus pensamentos.

Se arrastou até a cama, que logo o abraçou de volta. Os lençóis com cheiro de amaciante o lembrava da sua roupa de cama preferida, que sua mãe fazia questão de lavar ela mesma, toda semana, a mão. Sentiu outra facada ser enfiada no seu peito devagar, o perfurando calmamente para lhe trazer mais dor. Segurou as lágrimas, apenas se encolhendo em meio a grande cama, e de repente sentia falta do abraço de sua mãe e do beijo de seu pai em sua testa.

De repente tentava se lembrar como tinha vindo parar nessa cama, feita perfeitamente pelo homem que conhecera apenas algumas horas atrás.

Depois que seu trágico espetáculo chamou a atenção de todos, o garoto já não aguentava sentir todos aqueles olhares de pena e perdão em si. Se levantou bruscamente, as lágrimas borrando sua visão, e empurrou as pessoas para fazer seu caminho por entre a multidão. Era quase como se não conseguisse andar, seu cérebro agora funcionava sem a conciência dele, pois toda a sua atenção estava no seu coração que sangrava, na imagem de seus pais queimando vivos. O barulho e o cheiro das chamas que nunca chegou a presenciar o intoxicou, arrancando gritos dele que nem o mesmo conseguia ouvir. A noite gélida fazia a sua parte, chicoteava a pele pálida com seus ventos violentos e o lembrava da cena que nunca chegou a presenciar, de sua casa, seu lar, em chamas. Seus pai, presos a seus destinos precipitados.

Correu por não se sabe quanto tempo. Fez seu caminho por lugares que nunca tinha visto, se sentindo sozinho no mundo. Ninguém se preocupou com o seguir. As pessoas apenas queriam saber da notícia, atuando suas falsas preocupações apenas pelo bem da fofoca. Isso causava uma raiva penetrando o seu coração junto com a faca, que ainda o cortava fortemente.

Seu cérebro não o avisou antes de tropeçar, caindo no chão duro e frio de concreto, seu corpo tremendo tanto de medo quanto de frio. Agora estava sozinho, o pensamento ocorreu a ele. Agora era só ele com si mesmo. Já se imaginava morrendo de fome, de frio, sem ter para onde ir. E, de verdade, queria que seu fim fosse assim. Sem sua família, viver tinha perdido o seu açúcar e agora tinha um gosto amargo em sua boca.

Abraçou os próprios joelhos, sentado ali no chão, e deixava as lágrimas escorrerem por suas bochechas por minutos. Horas. Talvez dias, ele não se importava mais. Tudo o que queria era ter estado naquela casa na hora do incêndio. Morrer ao lado dos pais, não ter que sofrer tanto o quanto estava sofrendo agora.

Foi nessa hora que ouviu passos. Não sabia de onde vinham, mas sabia que estavam se aproximando. E se fosse alguém armado? Se sim, seria seu dia de sorte. Iria morrer, ali e agora, com um tiro certeiro e sem piedade.

– Vamos - uma voz profunda e masculina disse, o segurando docemente pelos braços e o colocando de pé. Levantou o rosto devagar, as mechas esverdeadas tampando seus olhos como cortinas - Eu posso te ajudar, vou cuidar de você. Se quiser, é claro. - Ciel não entendia nada. Um estranho estava propondo ajuda? Mas ele nem sabia o que havia ocorrido. Ou sabia, ou todos de Londres a esse ponto sabiam. - Eu juro que vou cuidar de você até não precisar mais de mim. Vou fazer tudo o que você manda, sem excessões, sem hesitar. Até a hora certa chegar.

Os olhos vermelhos e gelados atravessavam sua visão, quase que engolindo a sua alma. Tremia da cabeça aos pés, as lágrimas secas ainda marcando suas bochechas pálidas, e apertava os punhos com força. O homem de pé a sua frente tinha um sorriso exótico no rosto - uma mistura de confortante com malicioso. O garoto de cabelo esverdeado engoliu em seco, balbuciando as palavras:

– Como você tem certeza que pode me ajudar? Ninguém pode - sua voz foi diminuindo o tom com o que o riso gelado ecoava pelo ar. O alto e magro adulto, de cabelos negros, ria com gosto. Era quase como se o desespero do pequeno menino o satisfazesse.

– Seus olhos me dizem que a sua vontade é aceitar minha proposta - disse, arqueando as sobrancelhas. Não era completamente mentira. O poder das expressões do homem e o poder de sua voz, ao mesmo tempo que o amedrontavam, faziam ele sentir vontade de se juntar a ele. De ser seu companheiro - mais que isso, até. De ser seu dono.

– Sim - disse o menino do cabelo esverdeado, falando com mais incerteza que certeza.

– Sabe as consequências de aceitar, principalmente tendo uma alma tão jovem e tão pura.

– Sim - repetiu, impaciente, voltando a tremer mais que antes. O moreno alto sorriu satisfeito, estendendo a mão ao garoto.

Ainda enrolado em seus lençóis, as lágrimas já não deciam mais. Era como se ele não tivesse mais forças para chorar, e apenas saboreasse a dor que lhe cortava o peito. Ouviu um click vir da porta, mas não se importou em olhar. Já sabia quem era.

– Sente-se, por favor, Bocchan - pediu, uma camiseta branca apoiada em seu braço. O garoto se sentou, as pernas soltas do lado de fora da cama. O moreno começou a o despir.

– Pera, o que você está fazendo? - perguntou, com as voz cansada e um tanto indignada.

– O preparando para se deitar - respondeu, calmamente, franzindo o cenho.

– Eu consigo me vestir sozinho - disse, com a voz cheia de um orgulho ferido que acabara de descobrir que possuía.

– Mas não precisa. - respondeu o adulto, lhe oferecendo mais um de seus famosos sorrisos. Se tomou como derrotado, mesmo que contra a sua vontade, e deixou o homem o vestir, seus longos e pálidos dedos acariciando o seu tórax toda vez que fechava outro botão. Isso o arrepiou, fazendo ele se mexer desconfortavelmente sob o toque. Os olhos dos dois se encontraram, cortando um o outro com uma mescla de algo que o pequeno ainda não sabia distinguir, mesmo que sentisse.

Quando estava finalmente pronto, Sebastian se pôs de pé e pegou a vela que estava na cômoda. Fez uma breve referência antes de começar a se afastar.

– Espere - Ciel disse, hesitando. O homem logo parou seu caminho para olhar o menino sobre o ombro. - Fique comigo até eu adormecer - disse, sua voz timída saindo baixa. Não sabia porque, nem como em tão pouco tempo, mas confiava no homem. Se sentia confortável perto dele, e acreditava nas suas palavras quando ele dizia que iria cuidar do pequeno.

Com um pequeno sorriso, o moreno andou até a beira da cama. Tirou o terno e a gravata para ficar em sua camiseta social e calças pretas. Sentou-se à beira do colchão e apoiou a vela na cômoda, a apagando em um sopro.

Sem conseguir ver nada, a última coisa que Ciel sentiu antes de adormecer foi o braço quente e grande de Sebastian o envolvendo o corpo.


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