Lud Vai Ser Papai. escrita por matthewillians


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/273300/chapter/1

Ter uma criança é o segundo passo para se constituir uma família após o casamento, ou pelo menos é o que dizem os livros, mas o que eles não falam é o quão estressante isso pode ser antes mesmo do bebê nascer. Estresse esse que pegara Ludwig totalmente desprevenido.

O fato era que sua vida já estava de pernas para o ar quando veio a notícia, dois anos após ter assinado os papeis e trespassado os portões da Igreja de terno branco juntamente com Felicia, trajada esta em seu belíssimo vestido de noiva Prada. Os filmes geralmente fazem-nos pensar que a vida em casal é um sonho, mas a arquiteta e o engenheiro logo descobririam que nem tudo são flores, uma vez que desde trocar de carro até as coisas mais simples como os cães dele destruírem a horta dela no jardim poderiam gerar grandes discussões.

Geralmente ela chorava, e Ludwig, incapaz de ver a mulher triste, logo se desculpava ou procurava desesperadamente por um meio-termo. Mas havia vezes também em que eles ficavam dias sem se falar, cruzando-se silenciosamente pela casa. Em casos mais graves, o alemão ia passar uns dias na casa do irmão, mas era a italiana quem arrumava as malas e visitava a gêmea na Espanha com maior freqüência, nessas ocasiões. Em ambos os casos, no entanto, eles acabavam por voltar em poucos dias: conviver com os parentes sempre os lembrava do quanto se amavam, além de serem acometidos por uma enorme saudade do seu dia-a-dia tranqüilo, algo impossível de se ter na presença de  irmãos espalhafatosos como os deles.

Então eles eram felizes, ao seu modo, até que veio a notícia fatídica. Felicia andava comendo mais do que o normal, todos já haviam percebido, mas o que realmente levou Lili, uma de suas vizinhas, a recomendar que ela fizesse um teste de gravidez foram suas constantes reclamações de enjôo nas últimas semanas. Apreensivo, o alemão foi até a farmácia comprar o pacote para a mulher, respirando fundo diante do olhar consternado que o farmacêutico lhe lançou e segurando-se para não gritar de agonia quando um outro cliente desferiu algumas palmadinhas em seu ombro e disse-lhe que não, não era o fim do mundo, enquanto uma criança tentava chamar a atenção do homem - algo sobre um band-aid do Batman e como ele simplesmente precisava daquilo (e desde quando existiam band-aids temáticos?) - quase lhe arrancando as calças no processo de tanto puxá-las. Ludwig conseguiu, no entanto, voltou são e salvo de sua missão – excetuando as seqüelas psicológicas - com o objetivo em mãos.

Felicia o recebeu em casa cheia de expectativa, praticamente arrancando a sacolinha plástica de suas mãos, correndo até o banheiro logo em seguida. Ao sair, um belo e enorme sorriso adornava as feições delicadas da mulher, sua respiração estava mais calma e ela veio em sua direção praticamente saltitando. Foi neste momento que a verdade o atingiu. O alemão deixou-se cair sentado no sofá, sentiu a esposa sentar em seu colo, beijar seus lábios e, em meio ao estupor, ouviu as palavras proferidas em italiano:

"Vee~! Lud, você vai ser papai!".

Depois disso, Ludwig convenceu-se de que tinha de aprender o máximo possível sobre paternidade, bebês, crianças, gravidez e toda essa sorte de coisas que ele não fazia a menor ideia de como lidar nesses oito meses que lhe restavam. Não demorou ele tinha todos os livros mais recomendados, havia trocado seu adorado jornal pela programação do Discovery Home and Health e mudado totalmente a lista do supermercado.

Felicia, porém, aparentava bastante tranqüilidade e sempre fazia pouco caso das preocupações do marido – para o desespero do mesmo - passando os dias sentada à sombra de uma árvore no jardim devorando os pêssegos da mesma, comendo seu adorado gelato ou simplesmente cochilando, com a desculpa de que estava muito quente para se mexer. Durante as refeições, sempre dava preferência a massas porque "isso deixava o bebê feliz", o que Ludwig sabia não passar de uma desculpa para ela comer o prato preferido, e, por fim, recusava-se a fazer os exercícios propostos por ele.

Acompanhava-o de bom grado, no entanto, quando este levava os cães para passear, continuou com seus projetos arquitetônicos, ainda que agora em casa ao invés de no escritório, além de permanecer cuidando da horta e, principalmente, das suas preciosas margaridas, geralmente cantarolando, como sempre fora seu costume. Nesses momentos, quando Felicia cuidava do jardim, cozinhava ou colocava a roupa para secar no varal do lado de fora, o sol reluzindo em seus cabelos meio avermelhando, iluminando a pele cor-de-marfim e especialmente quando ouvia as melodias entoadas por sua voz encantadora, o coração de Ludwig enchia-se de um calor inexplicável, um sentimento de que tudo haveria de dar certo. E então ele sorria, ainda que imperceptivelmente, assistindo-a da janela ou escorado na parede da cozinha, enquanto pretendia ler o jornal.

Mas havia ocasiões em que nem mesmo o doce sorriso da esposa era capaz de acalmá-lo, como quando os parentes resolviam os visitar, e ele bem tinha os seus motivos. Em primeiro lugar, eles nunca avisavam, e as desculpas eram sempre as mesmas: fazer uma "surpresinha", ou que estavam apenas de passagem e resolveram parar para dar um "oi"; Segundo: eles eram escandalosos e bagunceiros; Terceiro: geralmente acabavam bêbados; Quarto: eles sempre vinham em grupos... Verdade seja dita, Ludwig poderia passar horas listando o porquê desses momentos serem uma grande dor de cabeça.

Nenhuma dessas visitas, porém, fora pior do que a primeira, logo após darem a notícia por telefone. Ele ainda lembrava-se, fazia uma bela manhã de sábado - o sol estava quente e não havia nuvens no céu, mas a leve brisa que soprava tornava a temperatura agradável – quando ouviram o soar da campainha. Fora ele quem atendera a porta, mas tão rapidamente quanto a abriu, também a fechou. Ao episódio seguiram-se fortes batidas na porta de madeira e palavras pouco polidas em italiano e alemão foram ouvidas em todo o quarteirão, mas Ludwig só convenceu-se em tornar a abrir a porta quando viu pela janela o vizinho suíço sair de casa com uma espingarda em mãos.

"Vão embora", dissera ele em seu tom de poucos amigos, sendo prontamente ignorado por todos: Seu primo Roderich, o irmão mais velho Gilbert, os dois melhores amigos do mesmo, Francis e Antônio, e a mulher do último, coincidentemente gêmea de sua esposa, Lovina. Ele nunca soube em que momento Felicia apareceu ao seu lado, mas enquanto o berlinense procurava livrar-se dos intrusos, ela os abraçava e perguntava de que era o bolo que o francês havia trazido. No final, eles acabaram ficando para almoçar.

O dia transcorreu repleto das brincadeirinhas sem graça de Gilbert e suas proclamações de que aquilo era extremamente incrível, mas que ainda assim ele jamais se casaria, sempre lançando olhares cúmplices para o primo nestes momentos, dicas esdrúxulas de Francis – que tinha dois filhos -, reclamações e lamentações de Lovina sobre como ela nunca deveria ter permitido que a irmã se casasse com "aquela batata-gigante" e que agora eles estariam atados para sempre, mesmo que ela pedisse o divórcio e as paparicassões de Antônio, que mandava tanto diretas quanto indiretas para sua cunhada, deixando bem claro ao fim do dia que ele também queria ser papai.

Quando a noite caiu, por sinal, estavam quase todos bêbados e Felicia havia adormecido no sofá de pura exaustão. Após levar a mulher para a cama no colo, enxotou o resto da cambada para o quarto de hóspedes onde dormiram basicamente amontoados, sobrando para ele toda a louça para lavar, recolher as garrafas de vinho e cerveja espalhadas pela casa, endireitar os móveis nos seus devidos lugares... E quando finalmente pôde deitar-se para uma merecida noite de sono, como se não bastasse, tudo o que conseguia pensar é que ainda haveria mais no dia seguinte, porque eles nunca iam embora logo.

É ele odiava toda essa atenção. Bem, quase sempre. Afinal, Ludwig era humano e, portanto, até mesmo o berlinense era incapaz de não se sentir excitado com algumas coisas, como quando recebeu a notícia de que seria um menino, ele mesmo convidando os amigos para beber em comemoração na referida ocasião, ou de não sorrir quando traziam roupinhas e brinquedos de presente para o seu filho, tal qual na vez em que Antônio deu uma bola de futebol em miniatura feita de um material parecido com silicone para o bebê morder, ou quando Alice, a mulher de Francis, trouxe um livro enorme e todo ilustrado de contos de fadas. Esses momentos eram realmente especiais para o alemão, que começava a compreender porque Felicia achava a famiglia algo tão importante, mesmo com os desentendimentos constantes.

Assim, a cada dia que se passava, semana que se ia e meses que corriam, Ludwig achava-se mais estressado, mas por motivos diferentes do início da gravidez. Agora, preocupava-o conseguir desconto nos móveis do bebê que eles comprariam na Ikea, já que um conhecido seu trabalhava lá, achar uma cadeirinha confortável para o carro, escolher o nome da criança.

Porque ele queria Otto, devido a Otto Von Bismarck, mas Otto para Felicia era nome de cachorro e ela queria Giuseppe, o que ele mal conseguia pronunciar graças à seu sotaque alemão. Foi apenas após muitas discussões, argumentações e palpites de toda a família que decidiram, afinal, chamá-lo de Alexandre (ou Aleksander, como Ludwig pronunciava) em homenagem ao Grande. Mesmo assim, houve aqueles que não ficaram satisfeitos, porque sempre tem alguém para reclamar.

E assim foi até o fim da gravidez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

FLUFFY FLUFFY FLUFFYYYY ♥♥♥♥
Faz tempo que quero escrever essa one. Tive a ideia depois de ver um fanart muito fofo, que infelizmente não lembro onde salvei, ou ele definitivamente teria ido parar na capa -q
Enfim, espero que tenham gostado /o/