Meu sono era conturbado, tinha pesadelos nos quais Sophie sempre morria de maneiras desumanas. Eu gritava implorando para pararem, mas isso só fazia com que a torturassem ainda mais. Lâminas quentes encostavam em sua pele branca e desconfiguravam seu rosto perfeito. A cada vez que isso ocorria eu gritava como se a tortura fosse comigo e ela sempre acabava morrendo, dando fim a seu sofrimento.

Acordei com batidas fortes na porta do quarto e com a voz de Sophie gritando meu nome e pedindo para abrir a porta. Corri até ela tendo a certeza de que a Ordem tinha vindo atrás dela. Abri a porta e Sophie pulou em meu pescoço, me abraçando:

-Nick, - ela tocava o meu rosto como que para confirmar se eu era real. - você está bem?

-Sim. E você? Por que está perguntando isso?

-Eu estou bem. - ela me pareceu aliviada. - É só que eu ouvi você gritando meu nome e também tinham gritos de dor. Acho que você acordou o hotel inteiro.

-Eu estava só dormindo.

-Bom Nick, - ela deu um meio-sorriso. - então eu acho que você... fala dormindo quando tem pesadelos. - disse antes de rir.

Que ótimo além de demônio, eu ainda falava dormindo. E ela conseguia rir daquilo (¬¬'):

-Certo Sophie. Acho melhor você dormir aqui comigo.

Ela ficou vermelha e eu entendi em que sentido ela havia interpretado a frase. Com isso percebi que sua camisola , que tinha um urso como estampa, me chamava a atenção pelo comprimento. Parecia uma camiseta larga:

-É, Sophie... - eu tentei consertar o que tinha dito. - dormir quer dizer você na cama e eu na poltrona. - mas o fato de eu olhar fixamente para sua camisola não ajudava muito.

-Ah e, desculpe pelo pijama. Não era para nenhum garoto, principalmente você, ver isso. - ela ficava mais vermelha a cada segundo e ficava cada vez mais bonita.

Caminhei até ela e disse em um sussurro:

-Por que eu não poderia ver isso? Por que é muito indecente?

-Exatamente. - Sophie me olhou de um modo indignado.

-Quem sabe você não se sinta mais confortável sem ela? - sorri com os olhos carregados de luxúria.

-Nicholas!

-O que foi? - perguntei beijando-a.

Quando o beijo acabou por falta de ar, Sophie estava atordoada:

-Uau, - ela disse um pouco confusa. - isso foi... intenso. Não sabia que você era assim Nick.

-Eu sou muitas coisas que você jamais imaginaria. - eu já não raciocinava. Deixei meu lado demônio, que apenas pensava no prazer próprio, me dominar. Queria possuir Sophie naquele quarto, naquele momento.

-Certo Nick. Mas esse não é o momento para... essas coisas. - ela segurou meus ombros e me chacoalhou repetidamente.

Pisquei os olhos lentamente e me dei conta do que havia feito:

-Me desculpe Sophie, essa não era a intenção. Eu perdi a cabeça por alguns instantes.

-Eu percebi. - ela respondeu tentando sorrir. - Meu Deus, o que se passava em sua mente...

Naquela hora foi minha vez de rir:

-Tudo bem Nick. Eu já volto. - Sophie me deu um delicado beijo nos lábios. - Por favor, não tente nada com a camareira. - ela riu da própria piada.

Voltou nem um minuto depois, vestindo uma calça de moletom. Eu a olhei e ela simplesmente respondeu:

-Eu me sinto mais segura assim, está bem.

-Tudo bem.

Ela se sentou na cama e fez um sinal para que eu fizesse o mesmo. A obedeci e ela começou:

-Bom Nick, eu quero saber algumas coisas sobre você.

-Tipo...

-Por que essa viagem de última hora? E não me diga da doença terminal. Eu sei que você não tem uma.

-É uma longa história, anjo.

-Pode contar. Não pense que eu vou te julgar.

-Bom Sophie, no mundo existem seres humanos. Mas também existem outros tipos de seres. Como anjos, demônios, vampiros... e tudos os seres míticos que você já ouviu falar. Eles existem e...

-Você é um deles. Um demônio, certo?

-Uhum, mas... como você descobriu?

-Eu ouço o que você pensa. Você tem que parar de pensar tanto em demônios e guerras. - ela disse como se fosse algo muito normal.

-O grande problema Sophie é que há uma guerra entre demônios e outros seres pelo poder de um mundo. E você é fundamental para que o lado inimigo dos demônios ganhe a guerra, por isso eu fui enviado para te matar. Só que, eu não consigo.

-Uuh, então estamos fugindo. - os olhos dela brilharam como se ela fosse uma criança que tivesse ganhado o melhor presente de natal. - Isso é tão romântico.

Eu me impressionava com o fato dela conseguir rir ou se animar, nas piores situações:

-Sophie. - chamei sua atenção. - Nós fugiremos para Seattle e de lá decidiremos o que fazer, certo?

Ela concordou:

-Agora, - eu continuei. - vamos dormir.

Andei até a poltrona me acomodei lá e fechei os olhos. Percebi que Sophie se aproximou quando achou que eu tinha dormido e pegou minha mão, velando meu sono e torcendo para que eu não tivesse pesadelos.