A noite caia lentamente sobre a pequena cidade. O sol começara a se pôr, deixando o céu em diferentes cores, variando do alaranjado até um azul escuro. As luzes das ruas começaram a se acender, para diminuir a escuridão que estaria totalmente espalhada pela cidade em pouco tempo.  As famílias começaram a voltar para suas casas, quem passava por ali poderia observar as mães perseguindo as crianças pela rua e pelas praças, tentando leva-las de volta para seus lares, enquanto os pequenos corriam e se escondiam sem querer sair dali e achando tudo muito divertido.

Mas havia uma figura que não se encaixava ali. Ele era muito alto, tendo aproximadamente 1,90 metros de altura, e apesar de não ser musculoso transmitia a sensação de ser extremamente forte. Vestia um jeans desgastado e uma camiseta preta por baixo de seu sobretudo preto de couro, que  esvoaçava com o vento frio daquele fim de tarde. O rosto tinha expressões duras que não se alteravam nem ao ver uma criança brincando na rua. E os olhos azuis como o mar, que faziam contraste com seus cabelos pretos, demonstravam puro ódio.

Seguiu em frente a passos firmes até chegar a uma pequena casa pintada com tons claros. Parou por um instante admirando a casa, ela não tinha mudado quase nada desde a ultima vez que estivera ali, as únicas diferenças eram a grama alta que não era a aparada há um bom tempo e jardim que agora estava mal cuidado. Desvio o olhar da casa, abriu a porta da mesma e entrou. Atravessou a sala de estar, passou por um corredor, ignorando as portas da cozinha, banheiro e escritório. Seguiu até o quarto de casal, hesitando por um momento antes de entrar, respirou fundo e abriu a porta do quarto, parando atordoado ao sentir o perfume cítrico que lhe era tão familiar. Olhou ao redor do quarto e sentiu o gosto amargo da saudade. Pegou o porta-retratos que estava na escrivaninha ao lado da cama e observou uma vez aquele rosto que tanto amava. Na foto, ele estava um pouco mais jovem, e abraçava uma garota loira, de olhos cinzentos e sorriso doce. Eles estavam no jardim daquela mesma casa, que ela tanto havia cuidado, logo depois de se mudarem pra lá. Observou as alianças novas brilhando nos dedos anelar dos dois sob a luz do sol.

Tocou a aliança que ainda estava em seu dedo, ela não estava tão nova e limpa como outrora fora, mas nunca saíra e seu dedo e nunca sairia. Sentou na cama de casal e fechou os olhos. Ainda podia ouvir seu riso cristalino pela casa e ouvir sua voz suave chamando-o. Mas sabia que não era real, nunca mais veria aqueles lindos olhos sorrindo pra ele, nem ouviria sua voz sussurrando palavras de amor.

                Uma ultima lagrima rolou por seu rosto. Haviam tirado-a cruelmente de seus braços e agora iriam pagar por isso, mesmo que tivesse que ir até o inferno para procurá-los.

                Levantou-se da cama, indo até o guarda-roupa de onde tirou uma mala. Colocou-a no chão e separou algumas de suas roupas, ignorando as roupas femininas que ainda estavam lá, guardando-as na mala. Foi até o escritório, pegou alguns documentos que precisaria e voltou para o quarto, guardando-os na mala também, assim como o porta-retratos que estivera observando antes. Fechou e pendurou-a nos ombros. Deu uma ultima olhada no quarto e na casa, não voltaria ali por algum tempo ou talvez nem sequer voltasse, e saiu de lá trancando a porta em seguida. Ele tinha uma missão a cumprir. Havia prometido a si mesmo que iria vingar a morte de sua amada esposa, e era exatamente isso que iria fazer.