Grace e eu estávamos em um pequeno café/lanchonete/restaurante no aeroporto esperando a hora de embarcar no vôo, meus pais foram embora há alguns minutos porque Dona Mãe estava passando mal.

Odeio despedidas.

Dei um gole em meu café gelado enquanto jogava no meu celular.

- Merda – murmurei.

- O que houve querida?

- A bateria do meu celular está acabando.

- Então é melhor desligá-lo, você pode carregá-lo depois.

- Mas e se a Dona Mãe ligar? – O que eu queria perguntar na verdade é: E se o Andy me ligar?, me contive.

- Ela pode ligar no meu celular – deu os ombros.

Desliguei meu celular mesmo sem querer e suspirei.

Andy você não vai vim até aqui me impedir de fazer besteira?

Uma mulher se aproximou sorrindo e começou a conversar animadamente com Grace me deixando com cara de batata esquecida. Enquanto as duas relembravam os “melhores momentos de suas vidas” eu encarava o céu em busca de algum sinal de fumaça que Andy possa me mandar.

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Andy corria com apenas um tênis e mesmo assim estava na frente de Debby.

- Anda logo! – disse impaciente.

- Estou indo o mais rápido que posso – Debby quase tropeçou em uma raiz de árvore – Droga! Quebrei meu saltou – lamentou.

- Mulheres – Andy revirou os olhos e deu meia volta – Sobe – disse ficando na frente dela.

- O que?

- Sobe nas minhas costas e eu te dou uma ‘carona’, você é muito lerda Debby.

Debby revirou os olhos, mas não discutiu porque sabia que o garoto de olhos incrivelmente azul estava certo. Subiu nas costas de Andy que foi correndo até o estacionamento.

Entraram no carro de Debby um Panda Fiat 4x4 vermelho com diversos adesivos como ‘ Eu sou gostosa e sei disso’, ‘ Lugar de mulher NÃO é na cozinha’ e ‘ Eu paro para animais atravessarem a rua’.

- Andy eu devo te amar muito pra dirigir apenas de meias com uma ressaca infernal.

- Desculpe, mas se me lembro bem foi você que em disse pra vir sem o Tony e pegar uma carona.

- Desculpe se eu sou pobre e precisava de um trouxa pra bancar minha gasolina!

Andy revirou os olhos e tirou seu único tênis do pé.

- Você sabe onde está meu outro tênis?

- Não faço idéia.

Ótimo, pensou se se encostando ao banco, vou tentar impedir Jullie de fazer uma besteira e me trocar por algum europeu gostosão vestido como um mendigo.

- Você pode ir mais rápido?

- Claro que posso Andy, e depois nós dois vamos passar um longo tempo em coma se tivermos ou sorte ou podemos morrer em um belo e épico acidente de carro –sorriu – Isso é um não.

- É só que não tem ninguém por essa estrada, não vejo mal em ir mais rápido.

- Ao invés de procurar ver coisas que não existem por que você não liga pra Jullie e descobre onde ela está?

- Boa idéia.

Andrew digitou o número no celular e caiu direto na caixa postal.

- Merda.

- Que foi?

- Caixa postal – respondeu.

- Você acha que ela pode.

- Nem ouse completar essa frase – disse ele – Não quero pensar no pior.

- Eu não entendo vocês. Se você a ama e ela te ama, por que não ficam juntos?

- Amar alguém não é tudo que se precisa pra ficar junto com essa pessoa – Andy falava enquanto olhava pela janela do carona, Debby se perguntou se ele fazia isso porque estava chorando – Ás vezes temos que lutar muito por isso - acrescentou.

- Eu te conheço há quanto tempo Andy? Três?Quatro anos?

- Por ai.

- Nesse tempo todo nunca te vi ir atrás de uma garota, na verdade nunca nem te vi sair com alguém mais de duas vezes. Algumas noites quando saiamos juntos te via com duas garotas ao mesmo tempo e me perguntava se seria sempre assim, então, do nada, apareceu essa menina com o nome de uma das suas exs namoradas de uma noite e CABUM! Tudo mudou você passou a levá-la a sério e a ignorar as outras garotas. Se isso não é amor é o que? Esse amor que te fez mudar seu jeito de ser e agir não é o suficiente pra que fiquem juntos?

- Acho que você devia dizer isso pro pai dela que tenta me manter afastado sempre que pode, e consegue. Devia dizer isso pra ela que vive insegura pelos cantos, eu não sei mais o que fazer. Droga! – bateu no porta-luvas – Eu não sei o que fazer!

- Faça uma grande bobagem.

- Estou com medo de fazer uma bobagem grande demais.

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- Adoro o clima de Londres é tão...

- Espetacular – Grace completou.

Eu me limitei a sorrir enquanto tomava meu terceiro café gelado e mordia um muffin .

- Pena que nem todos conseguem sentir isso – a amiga de Grace tomou um gole de chá e , como se fosse combinado, o vôo dela foi chamado – Tenho que ir Grace, foi muito bom revê-la.

- Adeus.

- Ah, e tchau Jullie – sorriu.

- Tchau.

Esperei ela virar as costas e revirei os olhos.

- Sabia que revirar os olhos é falta de educação?

- Deixar as netas agüentando conversas chatas de adultos também não é algo muito educado.

Grace sorriu.

- Você devia prestar atenção nessa mulher – despejou um pouco de açúcar em sua bebida - Ela é dona de uma importante editora de livros.

- Isso significa que ela vai me dar livros de graça? – disse claramente mais animada.

- Talvez, se ela gostar de você – Grace sorriu como se dissesse ‘ Viu como as amigas idosas da sua avó descolada são legais?’

Voltei a ler o livro Belo Desastre, minha escolha de leitura pro avião, e a imaginar como seria minha vida se tivesse um Travis Maddfox nela ao invés de Andrew Foster.

Cheguei a conclusão que Andy é um Travis da vida.

Quando o conheci, Andy era um clássico bad boy de quem eu fugia na rua mudando de calçada. Quando soube meu nome ele não teve nem intenção de esconder que já havia namorado uma garota com um nome igual, o que sempre achei quase impossível. Andy muda quando está comigo e assim como Travis apelidou a Abby de Beija-Flor, Andy me apelidou carinhosamente de menininha . Ele sempre me protegeu e até mesmo me ignorou na esperança que eu percebesse a idiotice que estava fazendo.

Mesmo tentando fugir disso, mesmo tentando ignorar a falta que ele me faz, mesmo tentando esquecer que ele não está aqui, Andy não sai de meus pensamentos nem pro um único instante.

- Passageiros do vôo 4715 para , Alemanha, dirijam-se ao portão 6 para o embarque. Repetindo, passageiros do vôo ..

- É agora querida.

- É agora.

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Por onde passava, o Panda 4x4 deixava muitos motoristas irritados.

Debby não respeitava os sinais vermelhos (de acordo com Andy, ele pagaria as multas depois) e nem os limites de velocidade (apenas quando passavam por vias de muito movimento), cortou todos os caminhos possíveis pro aeroporto. Andy estava pronto para saltar do banco do carona a qualquer instante e sair correndo atrás de Jullie, reconquistá-la e depois levá-la de volta pra casa. Tudo isso com apenas um tênis no pé.

- Prepare-se – Debby tinha um olhar sério e decidido no rosto.

Andy ficou em silencio e se arrumou no banco. Com uma manobra totalmente ilegal e estacionando como uma bêbada, Debby parou o carro e Andy mal esperou por isso para saltar e sair correndo com sua bela meia branca em um pé e um all star sujo de terra no outro.

Assim que entrou no aeroporto ouviu um segurança gritando ‘Pare’, ignorou e continuou correndo em busca de algum telão com os destinos de cada vôo .

- Mamãe por que esse moço ta vestido assim? – perguntou alguma criança .

- Fique longe dele querida – a mãe de forma protetora afastou a criança de Andy.

- Passageiros do vôo 4715 para , Alemanha, dirijam-se ao portão 6 para o embarque. Repetindo, passageiros...

Andy olhou paras as placas buscando a direção dos portões de embarque. Seguiu em frente sem parar ouvindo o barulho dos passos apressados dos seguranças que o seguiam.

- Você não pode ir ai – gritou um deles.

- Pare ou vamos chamar a policia!

Ótimo, pensou, Agora devo estar sendo confundido com algum terrorista.

Continuou correndo sem parar e depois deu meia volta vendo as malas roxasmamãe eu existo de Grace. Andy começou a correr em direção da mulher vestida como se fosse a uma festa e a garota a seu lado.

Depois de ver uma menina vestida como uma vadia, como um personagem de anime e vestida pra dormir você acha que ela não pode te surpreender mais, Andy aprendeu que isso é possível. Ficar quase um mês sem vê-la parece te deixado todos suas lembranças menos vivas, quando ele viu a camiseta cinza com o desenho de runas, a calça vermelha rasgada nos joelhos e os tênis cano alto sentiu alivio por ela não ter voltado a ser a vadia que era quando andava com Thomas. Quando viu a pele clara e macia, os olhos que parecem sorrir e sempre brilham, o rosto que estava limpo sem as marcas de choro que ele se lembra de ver na última vez que se falaram sentiu um turbilhão de emoções que variavam entre amor, paixão e desejo. Mas quando viu as malas do Mickey Mouse e a mochila cheia de bottons caindo do ombro onde estava ele sentiu que seu coração estava sendo esfaqueado um milhão de vezes no mesmo lugar. Ela estava partindo.

- Alguém pare esse garoto! – gritou uma voz masculina chamando a atenção de Jullie.

Ela não havia reparado que Andy se aproximava, se fosse outra situação teria dado risada de seu ‘visual’. Andy estava descabelado, um de seus tênis tinha sumido e no lugar havia apenas uma meia branca com grama e terra coladas, sua blusa tinha alguns rasgos bem evidentes assim como sua calça, ambas estavam sujas de terra.

Mesmo nesse estado deplorável e com cara de bêbado, Andy era e é o garoto mais bonito que Jullie Anne Elizabeth Way já viu na vida.

- Jullie! – ele gritou.

- O que você – antes que ela pudesse terminar a frase ele a beijou, ela mal teve tempo de fechar os olhos e quando os fez os abriu em seguida.

- Não fala nada, só me escuta – Jullie estava tão desnorteada que apenas assentiu e olhou na direção de Grace que sorria e falava com os seguranças – Eu não sei bem o que estou fazendo aqui, na verdade nem sei onde está meu tênis – ele sorriu sem graça – Eu só tenho três certezas nessa vida: primeira, eu te amo, segunda, seu pai me odeia muito e eu também o odeio e terceira não posso nunca te deixar ir embora.

- Andy ..

- Calada menininha – sorriu – Se você não me deixar falar agora talvez nunca mais diga nada. Eu nasci pra ser um cara ferrado na vida, nunca me dei bem no que queria. Minha mãe foi abandonada pelo pai e teve que se virar pra me sustentar sem a ajuda da família, a primeira garota que eu gostei se tornou a maior vadia da escola e o irmão dela tentou me matar. Já perdi a conta de quantas garotas peguei quando estava bêbado, mas nunca senti com elas o que sinto com você. É como se eu tivesse passado a vida toda te esperando e não soubesse disso até o momento em que eu te vi perdida no pátio do Saintine, sei que parece idiota e bastante clichê mas é isso que eu sinto e não sei nem com me expressar direito. Eu não sabia o que era estar vivo até você aparecer diante de mim, naquele momento senti rinocerontes bêbados sapateando no meu estomago e pude ouvir a minha pulsação em qualquer parte do corpo, soube que havia algo especial em você, mas não conseguia decifrar o que. Então você jogou um pudim em mim. Desculpe, isso é tão constrangedor mas é minha lembrança nossa favorita. Nenhuma garota nunca fez isso comigo – riu sem jeito e coçou a cabeça – Eu falo bastante né? É que esse negocio de ‘grande gesto romântico’ é novo pra mim. Eu posso não ser o melhor pra você, posso ser um idiota que tem um carro chamado Tony e uma mãe que nunca está em casa, sou um idiota que usa camisetas de banda, que toca guitarra e fica bêbado, que sai por ai quebrando as regras e ainda dá risada depois. Sou um cara que nem sabe qual faculdade vai fazer, que coleciona os HQs do Batman e lê livros de ficção, mas Jullie o que eu estou tentando te dizer com todas essas palavras embaralhadas e misturadas é que eu te amo e não sei como minha vida pode ser daqui pra frente se você não estiver comigo. Não verei mais dias ensolarados da mesma forma, não vou mais ver a lua ou ouvir nossa bandas favoritas sem lembrar de você – ele começou a rir de forma tímida – Acho que não vou nem conseguir passar na frente de uma loja de games ou animes sem me lembrar de você. Jullie Anne Elizabeth Way – Andy se ajoelhou e pegou a mão de Jullie – Aceita ficar aqui comigo? – tirou do bolso da calça um estranho anel de caveira.

- Aceito, Andy. Eu aceito.

Ele se levantou e a puxou para um beijo que deixou todos ao redor de olhos e boca completamente abertos formando um perfeito formato de ‘o’, depois as pessoas começaram a aplaudir.

Jullie podia ouvir os aplausos e sentia um calor se espalhando por seu rosto enquanto a timidez voltava, mas ouviu uma voz em sua mente dizendo ‘ Que se dane’ e passou os braços ao redor do pescoço de Andy incentivando-o a continuar.

Só se afastaram quando sentiram seus pulmões implorando por ar, ambos com as bocas rosadas e totalmente sem fôlego. Se entreolharam e começaram a rir como loucos enquanto as pessoas ao redor tiravam fotos e vídeos pra internet.

- Finalmente – disse Grace aparecendo atrás deles - Pensei que você nunca apareceria para impedir essa menina de fazer uma besteira.

- Grace!

- Desculpe mi niña, mas eu sabia que seu pai estava fazendo algo para manter o menino afastado. Precisava impedir que esse belo amor acabasse sem nem começar direito.

- Última chamada para o vôo 4715 para...

- Nosso vôo –sussurrou Jullie.

- Sabe nina, menores de 18 não podem fazer viagens internacionais sem a companhia de um adulto ou responsável – Grace sorriu – Mas vagens nacionais são outra coisa e seu pai pensa que estamos na Alemanha, certo?

Jullie e Andy e entreolharam e seguiram Grace em direção ao balcão de passagens.

Naquele momento nada importava para nenhum dos dois, a perseguição de Jessie, a morte de Lucca e os problemas com o pai de Jullie parecem coisas tão distantes e surreais que nem podem ter acontecido de verdade. Jullie estava completamente em paz, já Andrew tinha uma grande preocupação: Onde foi parar o seu tênis?