Querido Diário Otaku escrita por Panda Chan


Capítulo 46
Capítulo 46 - Harder Than You Know


Notas iniciais do capítulo

Oooi pessoas.
*O nome do capítulo veio da música Harder Than You Know do Escape the Fate que também é citada*
'Por que esse capítulo demorou tanto?'Porque eu gastei mais de uma semana editando a carta do Lucca e ainda não fiquei satisfeita T_T
Aaaaaaaaaaaaaaah gente to depressiva Ç-Ç Tia Collins faz parecer tão fácil matar os personagens amados.
Obrigada Panda Hero por ter recomendado a fic, como de costume esse capítulo é dedicado a você gatinha.
Boa leitura.



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Jessie ficou paralisada enquanto a pedra atingia com força sua testa, o mundo ficou cheio de pontinhos coloridos e um liquido quente deslizava por seu rosto.

Sangue.

Jullie começou a chorar sem parar, depois de deixar Jessie desnorteada deixou a pedra cair e a empurrou começou assim uma sucessão de chutes, socos, tapas e arranhões. Jessie tentava proteger seu rosto enquanto Jullie arranhava seus braços criando cicatrizes vermelhas.

Sangue.

Jessie enxergava tudo embaçado só conseguia sentir arranhões e espalhando por seu corpo e socos na sua barriga que lhe tiravam o fôlego, de repente um gosto tomou conta de sua boca.

Sangue.

Jullie acertou, por pura sorte, um soco no rosto de Jessie que pareceu doer muito. Jessie conseguiu visualizar sua imagem borrada e tentou segura-la, Jullie foi mais rápida e se levantou.

Cambaleando Jessie fez o mesmo, agora estava de pé e encarava Jullie (ou o borrão que ela acredita ser Jullie) com a melhor expressão raivosa que conseguiu fazer.

– Você vai me matar? – perguntou.

– Talvez – respondeu Jullie.

– Seja rápida.

Jullie então percebeu como o que ela fazia era injusto. Jessie não tinha culpa por ser uma maluca psicopata, ela era assim porque o mundo a fez assim.

Ela matou Lucca, isso foi justo?

Não...

Ele merece ser vingado.

Não...

Ele era seu irmão.

– Você está hesitando - Jessie acordou Jullie de sua conversa mental.

– Não estou.

– Sim, está – o olhar de Jessie mostrava algo que Jullie não conseguia decifrar – Você me odeia não é?

– Você não me deu escolha.

– Acho que realmente não dei – Jessie caminhou até o lugar onde havia deixado cair a arma – Tentei te matar umas três vezes desde que nos vimos novamente. Acabei de matar seu irmão, tentei roubar seu namorado e fiz coisas horríveis com várias pessoas. Eu sou um erro e minha vida é uma sucessão de erros menores.

– Jessie...

– Hora de consertá-los – ergueu a armar em direção de sua própria cabeça pronta para atirar, uma lagrima escorreu por seu rosto – Adeus Jullie.

Jullie fechou os olhos e tampou os ouvidos esperando pelo barulho do tiro, mas nada aconteceu.

(Jullie)

Não sabia o que pensar ou o que fazer, só tinha em mente que ver e ouvir os miolos de Jessie sendo explodidos não é algo legal. Fiquei assim por um bom tempo até sentir meus joelhos fraquejarem, cai no chão de joelhos e chorando com lágrimas vindas de sabe-se Deus onde enquanto braços me seguravam.

Abri os olhos e me vi encarando algo azul, não era o céu azul que vejo em dias de sol mas sim aos enormes e perfeitos olhos de Andrew.

– Andy – o abracei com a pouca força que tinha.

– Jullie – beijou minha testa.

Alguns paramédicos chegaram e nos afastaram antes que pudéssemos dizer algo a mais. Olhei para onde Jessie estava esperando encontrar um corpo morto, o que vi, porem, foi Jessie bem viva sendo medicada e posta em uma marca.

– Fique calma querida, tudo vai ficar bem – a paramédica sorriu e depois disso desmaiei.

Acordei no hospital dois dias depois com um braço e uma perna engessados e já rabiscados com algumas carinhas felizes feitas por batom, isso me cheira a dona Mãe.

Fiquei de recuperação por mais ou menos um mês, entre uma seção de fisioterapia e outra me encontrava com Andrew. No inicio isso era diariamente, quando recebi alta, porém, ele nem deu as caras aqui.

Duas vezes por semana vou á psicóloga falar sobre o acontecido, o nome dela é Fernanda mas ela me deixou chamá-la apenas por Nanda e é escritora, ela acha que eu não supero a morte de Lucca porque me sinto culpada.

Lucca morre todos os dias.

Jessie foi para o mesmo hospital que eu (acho que nem preciso dizer que foi o hospital Way), sempre que tinha um tempo eu ia visitá-la. Fiz um belo estrago em seu rosto.

Hoje ela está internada em uma clinica psiquiátrica no interior. A história do seqüestro ganhou muita força na mídia e surgiram diversas reportagens sobre ‘como os jovens estão tendo problemas psicológicos cada vez piores’ e ‘ como perceber sinais de que seu filho é um psicopata’, com tanta gente falando sobre a mãe de Jessie ser uma filha da fruta (estou parando de falar palavrão) a mulher saiu do país e deixou Gregory cuidando de Jessie.

É irônico, mas depois que ela e o marido saíram do país ele morreu com um salto no pescoço. Não estou brincando, isso rolou mesmo. Aparentemente ele foi abrir o armário em busca de uma roupa e um dos sapatos de salto fino da mãe de Jessie caiu da prateleira de cima e atravessou seu pescoço. Bizarro.

Só agora, sentada no meu quarto verdadeiro entre minha bagunça de livros e mangás, me lembro da carta que ele havia falado antes. Levantei-me e andei em direção a seu quarto.

Logo que abri a porta comecei a tossir, Dona Mãe proibiu que qualquer um entrasse no quarto de Lucca e como ficou um mês fechado o estado está bem ruim. Abri o máximo possível as janelas, do jeito que ele gostava, e dei uma boa olhada no quarto.

Sob o cheiro de pó e mofo ainda conseguia sentir o cheiro da colônia de Lucca, podia até vê-lo deitado na cama enquanto lia um livro de terror ou mexendo em seu computador.

Em sua mesinha era possível ver livros com post-it coloridos marcando paginas aleatórias, por curiosidade abri um e li a seguinte frase:

“Eu não quero ser a paixonite de ninguém. Se alguém gosta de mim, eu quero que goste de mim de verdade, e não pelo que pensam que eu sou. E não quero que carreguem isso preso por dentro. Quero que mostrem para mim, para que eu possa sentir também.”
— As Vantagens de ser Invisível.

Esse é um dos meus livros favoritos, sorri e coloquei de volta onde estava. Vi mais algumas anotações sobre formulas de matemática ou lembretes como ‘ Comprar mais bolos pra Jullie ‘ ou ‘ Buscar a mãe no salão tal dia’, sorri ao ver como Lucca se preocupava com coisas tão pequenas, próximo a isso tinha uma carta.

A carta era apenas uma folha de fichário muito bem dobrada com meu nome escrito na frente.

Jullie.

A letra era perfeitamente desenhada como a da carta que recebi há um certo tempo atrás, engoli em seco e a abri.

"Querida Jullie,

Agora você já sabe quem eu sou e se está lendo isso é porque algo terrível aconteceu comigo.

Não sei bem por onde começar, o que tenho pra te falar não tem um começo nem um final definidos (e ter sua casa cheia de policiais e o namorado da garota que você ama não ajuda em nada a pensar).

Acho que a melhor forma de começar é voltando no tempo, quando você era uma garotinha desastrada que sempre caia da bicicleta e eu tinha que te segurar. Lembra disso? Depois que você se levantava ficávamos rindo por horas daquilo.

A felicidade está nas pequenas coisas.

Crescemos juntos, lembro da sua primeira festa e de como estava nervosa porque não sabia o que iria vestir, Mary terminou escolhendo sua roupa toda e naquele dia soube que sentia algo mais do que um amor fraterno por você.

Seu sorriso, seu cheiro, sua voz, seu olhar, tudo em você me atraia cada vez mais sem que percebesse. Quando dei por mim estava apaixonado.

Minha primeira reação foi sentir nojo e desprezo por mim mesmo, depois me perguntei se não estava doente, no fim resolvi acreditar que tudo não passava de uma fase e que logo me interessaria por outra garota. Isso não aconteceu.

Cada vez que te via sentia que meu amor aumentava e isso estava me enlouquecendo, passei a sair com garotas diferentes e me relacionar com elas tentando te esquecer. Isso não deu certo.

Quando Andrew apareceu na sua vida queria matá-lo, quem ele pensa que é pra ficar com você? Passei a ser mais protetor e carinhoso na esperança que você percebesse o que sentia por você, mas descobri que tu é lerda. Muito lerda.

Não sei se fez de propósito, se fingiu intencionalmente que não enxergava o que eu sentia por você e que meu maior desejo era te beijar. Acho que nunca saberei.

Se algo aconteceu comigo peço que não se preocupe, eu ficarei bem. Onde quer que esteja agora, seja em uma cama de hospital vegetando ou em algum lugar sendo mantido vivo por maquinas, saiba que te amo e não me importo com o que acontecer com a minha vida desde que isso te proteja. Não me importo com os danos que posso ter agora, não me importo com nada desde que você esteja bem.

Eu queria uma única vez na vida ser o herói que no final fica com a mocinha.

Quem sabe quando eu estiver melhor talvez possamos falar sobre isso? Não quero te pressionar nem nada mas gostaria de saber se podemos ficar juntos um dia.

Caso sua resposta seja não espero que Andrew cuide você. Ou melhor, quero que você cuide de você. Não sofra por tudo nem se culpe Jullie.

Por favor, não se martirize por minha causa, nãos e culpe por nada. Peço que sorria sempre que possível, viva intensamente e de forma feliz.

Não ligue pros momentos tristes, pros obstáculos que parecem invencíveis ou para que os outros vão pensar sobre suas escolhas, ninguém pode escolher por você assim como ninguém pode viver por você.

Seja feliz, querida.

Com amor,

Lucca Daniel Way.”

Comecei a chorar e reli a carta. Ler esse pedaço de papel foi como voltar ao enterro de Lucca e ver todos falando sobre como ele havia sido incrível, foi como levar uma facada no estomago e outra no coração.

Fiquei deitada na cama dele abraçando a carta e chorando, seu cheiro ainda estava nos lençóis.

Era tão óbvio que ele havia escrito as cartas, acho apenas que não queria acreditar que era assim que ele me via.

Encostado na porta do quarto de Lucca me observando estava meu pai, fechei os olhos para ignorá-lo, torcendo pra que ele entenda que não quero falar com ninguém. Quando voltei a abri-los quem estava era Grace, fechei novamente.

Lucca me conheceu a vida toda, ele sabia como eu era quando não passava de uma amiga seguidora fiel de Mary e como fiquei idiota quando passei a sair com Thomas. Lucca queria me ajudar, só não sabia como e acho que isso é o que mais me machuca agora.

Em algum lugar Grace e meu pai estão brigando, sei disso porque posso ouvir fragmentos da conversa.

– Ela está sofrendo Daniel, como você não enxerga isso?

– Ela vai superar Grace, me deixe em paz!

– Ninguém está superando isso Daniel! Como você pode ser tão idiota?

– Não sou idiota. Eu também sou vitima nessa historia, eu também sofro oras!

Su gran hijo de un mono*! Como pode pensar em seu sofrimento quando ele não é nem metade do dela?

Coloquei o travesseiro sobre minha cabeça tentando esquecer a briga, tentando apagar as memórias ruims.

Em algum lugar chovia.

– Eu estou tentando manter essa família inteira! Elise não sai do quarto pra nada há mais de um mês, Jullie tem que fazer terapia e não se abre com ninguém! Por que eu não tenho o direito de sofrer também?

Meu pai está muito bravo. Grace deve ter notado isso porque a discussão acabou.

“Será que estamos apenas perdidos no tempo?

Pergunto-me se o seu amor é o mesmo

Porque eu não sou mais seu”

Devo ter adormecido, quando acordei Grace estava sentada na cama comigo segurando uma bandeja de cookies, só agora percebo como estou faminta.

– Trouxe para você querida, chorar deixa as pessoas famintas.

Balancei a cabeça em concordância e peguei a bandeja de sua mão. Devo ter engolido uns cinco cookies seguidos.

– O que é isso na sua mão? – perguntou.

Olhei pra folha de papel marcada por lagrimas e amassada que segurando com força. Engoli o choro e dei pra que ela lesse.

Grace leu a carta em silencio enquanto eu comia toda a bandeja de cookies, quando comi o último ela suspirou.

– Isso deve ter doido.

– Um pouco – minha voz estava fraca e rouca, parece que não pertence a mim e sim a outra pessoa.

– Esse lugar não faz bem pra você.

– Nenhum lugar faz.

– Querida – me abraçou- Quero te fazer uma proposta, sei que agora pode não ser o melhor momento, mas nesses últimos tempos nunca é o melhor momento. Venha morar comigo na Europa, podemos viajar o mundo inteiro se você quiser.

– Mas – me interrompi antes de falar besteira.

– Mas?

Grace não vai desistir até saber.

– E o Andrew? – minhas palavras mais pareceram um sussurro e talvez até tenham sido isso.

– Vocês ainda estão juntos?

– Não sei – admitir isso em voz alta é pior que qualquer carta de Lucca.

Grace me abraçou novamente e ficamos assim pelo que pareceu uma eternidade, quando nos separamos olhei para seu rosto pela primeira vez em muito tempo.

Ela não usava maquiagem forte como sempre e pela primeira vez parecia uma avó de verdade, seus olhos amáveis brilhavam com lágrimas que ela segurava, seus finos lábios estavam curvados em um sorriso carinhoso mas podia sentir por seu toque que ela sofria tanto quanto eu e apenas tentava se manter forte.

Assim como meu pai.

Suspirei cansada de tudo, tentando esquecer tudo.

Olhei no fundo de seus olhos. Quantas mortes Grace já presenciou? Quantas teve que agüentar calada se fazendo de forte? Quantas vezes consolou alguém?

Sei que meu avô morreu durante uma guerra, em algum ataque, mas nunca me perguntei qual.

Quantos sofrimentos Grace aguentou até se tornar uma pessoa sábia?

– Eu aceito ir morar com você – respondi.

Ela sorriu.


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Notas finais do capítulo

* Grace chamou Daniel de filho de um macaco '-' #medo
Enfim, não me xinguem muito nos reviews okay?