Chegamos ao estacionamento da escola. O baile iria acontecer no salão de festa que fica nos fundos. Suspirei lentamente e coloquei a mascara sobre meu rosto, Andrew fez o mesmo colocando sua máscara de Fantasma Da Ópera.

Saímos lentamente e caminhamos até os fundos.

- Preparada? – perguntou.

- Eu nasci preparada, queridinho – respondi.

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Mais cedo naquele dia

Se tiver uma coisa que Jessie Marie Franc Del Monte odeia mais que seu imenso nome é não ter o que quer. Ela odeia tanto isso que termina se tornando um pouco mais insuportável que de costume.

- COMO ASSIM VOCÊ PERDEU MEU VESTIDO? – Gritou ao telefone- EU O DEIXEI RESERVADO! QUERO AGORA O MEU VESTIDO OU ENTÃO VOCÊ ESTARÁ DEMITIDO! – jogou o aparelho na parede próxima.

Atrás dela haviam três empregadas encolhidas de medo da garota aparentemente inofensiva.

- E VOCÊS O QUE ESTÃO ESPERANDO? SAIAM DAQUI AGORA! – Gritou.

Uma das empregadas, morrendo de medo, se atreveu a fazer a pergunta que todas tinham em mente:

- O que a senhorita deseja que façamos.

Jessie pareceu pensar sobre o assunto.              

Mas só pareceu mesmo, sua cabeça estava em outro lugar.

- Façam o que eu mandei, oras.

- Mas a senhorita não nos ordenou nada.

- Então apenas saiam daqui! – gritou.

Rapidamente as três empregadas saíram do quarto. Gregory apareceu na porta logo em seguida.

- O que você quer? – perguntou secamente.

- Apenas vim te entregar o seu vestido – delicadamente ele entrou e depositou um saco preto sobre a cama rosa com dorsel.

- Por isso nenhum funcionário o encontrava. Você roubou meu vestido!

- Não minha cara meia irmã – sorriu – Eu o peguei para você.

- Imbecil! Você deveria ter me avisado!

- Se você não estivesse cuspindo fogo com gloss pela boca quem sabe eu não teria avisado.

Por um momento os dois apenas se encararam travando uma batalha por olhares. Depois, Gregory se virou saindo o quarto.

- Você que está cuidando da candidatura da Jullie? – perguntou antes que ele se retirasse.

O nerd parou. Encarou minuciosamente o rosto cheio de emoções confusas que a loira tinha. Sorriu e disse:

- Claro e ela tem grandes chances de te vencer.

- Isso era tudo que eu precisava saber.

Então ele se foi.

Sem saber o que havia desencadeado lá estava ele, lentamente, indo se preparar para o baile.

Enquanto isso ela fitava o celular, pegou o aparelho que por sorte não havia desmontado e rapidamente digitou o texto e o enviou para o numero já conhecido de seu maior amigo e confidente, ou melhor, de seu melhor peão no momento.

Suspirou ao ler ‘Mensagem Enviada’ e foi se arrumar.

Hoje a noite iria prometer.

Jullie

O salão estava maravilhoso. Tudo estava decorado com detalhes pratas e flores brancas espalhadas pelas mesas. Havia bexigas prateadas presas no teto próximas ao globo de espelho que refletia as mais diversas cores nas paredes. A mesa do Buffet estava linda com os mais diversos tipos de comidas coloridas e se destacando naquilo tudo.

Em minha opinião o teto cheio de bexigas prateadas me lembrava o céu cheio de estrelas que eu via em algumas viagens ao interior.

- Está tudo tão lindo – comentei.

- Perfeito.

Olhei para Andrew e só então reparei que ele não estava olhando para decoração do baile e sim para mim. Senti minhas bochechas esquentarem no mesmo instante.

- Vamos tirar uma foto, o que acha?

Assenti e nos dirigimos para um local decorado com as mais diversas flores em tons vivos e bem coloridos onde diversos casais estavam sendo fotografados.

Quando chegou nossa vez olhei diretamente para lente da câmera, mas Andrew parecia ter uma idéia bem melhor. Segurou delicadamente meu rosto e me fez encarar seus lindos olhos azuis, antes que e percebesse foto já havia sido tirada.

- Lindos! Lindos! O casal mais perfeito que já fotografei – gritava animado o fotografo.

- Somos o casal mais perfeito que ele já viu – disse.

- Acho que ele vai fazer um pôster com nossa foto e colar na parede do quarto como se fosse o do Justin Bieber – comentou Andy.

Sentamo-nos em uma das mesas isoladas em busca de um pouco de paz. A música eletrônica estava alta e pude perceber que além de mim poucas garotas haviam ido com vestidos longos.

Andy era a melhor companhia que se podia imaginar quando se está sozinha com ele. O garoto faz piadas, falava sobre música e ainda me dava aulas.

- Pra mim a melhor música deles é aquela sobre a adolescência do vocalista – comentei sobre alguma banda aleatória que estávamos falando.

- Pra eu.

- Pra você o que?

- Mim não conjuga verbo e só é usado em finais de frase.

- E eu com isso?

- Você quer ou não ser escritora? Precisa saber de algo tão simples quanto isso.

- Pois então estou ferrada – admiti – Escrevi ‘mim’ no lugar de ‘eu’ minha vida toda.

- Isso porque está em uma das melhores escolas do país.

- Pra você ver como a educação no país está boa.

Olhamos um para o outro e rimos.

- Por algum motivo essa parece ser a conversa mais estúpida pra se ter em um baile – disse.

- Concordo plenamente minha cara dama – beijou minha mão.

Uma garota ruiva que imediatamente reconheci como Michelle apareceu atrás de Andrew. Ela usava um vestido verde água cheio de babados com um sapato da mesma cor e uma mascara de borboleta verde claro. Seus cabelos estavam perfeitamente arrumados em dois coques no alto e vários fios soltos e encaracolados.

- Jullie? – perguntou um pouco insegura.

- Eu mesma – respondi.

- Graças a Deus eu te encontrei – deu a volta na mesa e se sentou na cadeira vazia ao meu lado – A Jessie está aprontando algo pra você.

- Como assim?

- Como você sabe disso? – perguntou Andrew desconfiado.

- Eu ouvi Thomas falando com ela sobre uma pegadinha com a adversária que só pode ser a Jullie!

- Obrigada pelo aviso Michelle – segurei sua mão – Você sabe o que é?

Senti que ela estava insegura e com medo, ao olhar para entrada descobri o porquê.

Jessie estava glamorosa com seu vestido rosa curtíssimo, e bem apertado nos peitos, diga-se de passagem, seus sapatos de salto alto rosa com glitter e sua mascara rosa com plumas.

- Ela parece uma fada – disse.

- Só parece porque na realidade é um demônio – disse Andrew.

Michelle soltou minha mão e foi atrás dela. Nem precisei olhar para ela pra saber que a garota fazia isso mais por obrigação do que por lealdade.

Atrás dela quem entrou foi Lucca que reconheci pela sua roupa um simples, um terno cinza com uma camisa azul por baixo, Grace com certeza saberia dizer o nome exato daquele azul, mas pra mim é apenas um azul comum um pouco mais claro que os outros.

Ao meu lado senti que a postura de Andrew havia mudado quase no mesmo instante em que Lucca apareceu. Ele não estava mais relaxado como há alguns minutos atrás agora estava ameaçador.

- O que será que ela vai aprontar? – perguntei.

- Não sei e nem quero descobrir – olhou nos meus olhos e segurou minhas mãos – Vamos ficar aqui só mais uma hora e vamos embora entendeu? Não quero correr riscos.

- Uma hora? Mas isso é muito pouco. Eu sou candidata pro cargo de rainha do baile, tenho que ficar até o final.

- Você não quer esse cargo, não tem problema.

Queria gritar com ele que tinha problema sim. A rainha do baile só é anunciada no fim da festa e é ai que meu plano entra em ação.

- Vou falar com Lucca – disse me levantando – Ele deve saber de algo.

Sai correndo antes que Andy pudesse falar algo.

Vi Lucca diante da mesa de bebidas pegando um pouco de ponche, assim que me viu ele sorriu.

- Você está linda! Desculpe por não ter visto sua saída triunfal, tive que buscar Jessie e ela é pior que a Dona Mãe e Grace tirando foto. Quer ponche? – me entregou um copo antes que respondesse.

- Obrigada Lucca, mas temos um problema.

- Já? – perguntou desanimado.

- Sim – suspirei – Michelle disse pra Andrew e eu que a Jessie está aprontando algo pra mim.

- Eu vou averiguar com ela isso.

- Não é só isso – sussurrei – Andrew quer ir embora antes do anuncio de rainha.

- Você não pode deixá-lo fazer isso! Iria acabar com nossos planos!

- Eu sei, eu sei – suspirei – O que você acha que eu devo fazer?

Ele pareceu refletir por um instante e então sorriu.

- Já sei, vou falar com um amigo que esta cuidando da votação pra apressar as coisas assim o resultado pode sair antes, mas você terá que cuidar do Foster.

- Certo Lucca, obrigada – disse e sai com o ponche em mãos.

Voltei pra mesa e encontrei Andrew conversando animadoramente com uma garota mascara de peruca azul. A peruca não era o estranho nela, o que me chamou atenção foi sua roupa que era toda preta.

Assim que me percebeu Andy se despediu dela.

- Quem era? – perguntei.

- Esta com ciúmes, Jullie?

- Ela era a Jullie sua ex? – perguntei lembrando da nossa primeira conversa.

Ele riu.

- Era uma amiga – me abraçou – Eu não quero nem me lembrar daquela Jullie, depois que te conheci passei a achar que ela não é digna de ter o mesmo nome que lago tão perfeito como você.

Corei.

- Clichê demais Andy. Se continuar assim vai me fazer ter diabetes – bufei.

Ele sorriu novamente e fez uma mesura.

- Aceita dançar comigo jovem senhorita?

- Claro meu nobre companheiro – sorri.

Fomos até o meio do salão, lugar perfeito para se ver o palco com o DJ onde mais tarde seria coroada a rainha, e dançamos pelo que pareceram anos, quando nos cansávamos íamos pra mesa com uma pequena quantidade de bolinhos contrabandeados e conversávamos um pouco para em seguida voltar ao centro do salão.

- Testando. Testando – olhei pro palco onde o inspetor com seu cabelo seboso perfeitamente arrumado ajustava o microfone – Tenho dois avisos pra vocês crianças. O primeiro: Os votos para rainha e rei do baile estão terminando de ser contados e em breve teremos os resultados. Segundo: Temos o recado de um aluno para sua amada.

- Recado pra amada?

- Deve ser algum tolo apaixonado – disse Andrew.

Subiram ao palco varias pessoas fantasias, algumas eu reconheci por ter visto nos corredores da escola e outras que eram completos desconhecidos para mim. Havia até mesmo um coelho amarelo gigante no meio deles.

Cada pessoa carregava um coração vermelho e pareciam estar se organizando pra formar algo com eles.

Uma pessoa que deduzo ser uma garota vestida completamente de preto com uma cabeça de panda se aproximou d microfone.

- Peço a atenção de todos vocês – disse – Não estamos aqui pra fazer nenhuma pegadinha ou gracinha. Estamos aqui hoje, atrapalhando a dança de vocês para dar o recado de um garoto apaixonado. Levantem os cartazes.

Todas as pessoas fantasiadas levantaram seus cartazes, a maioria continha uma palavra enquanto alguns tinham apenas uma letra. A frase formada era: Eu quero poder dizer daqui a um ano...

Fiquei sem entender e procurei Andrew pra ver se ele sabia quem estava mandando o recado porem ele havia sumido. Olhei novamente pro palco, agora tinha a continuação da frase: Feliz Aniversario de um ano de namoro.

Pude ouvir varias garotas dizendo ‘oun’ e algumas pessoas perguntando por que isso não acontecia com elas.

- Esse é o recado de um garoto apaixonado para sua paçoquinha – disse a garota vestida de panda enquanto tirava a mascara mostrando seus cabelos azuis.

Rapidamente a reconheci. Ela era Debby a amiga de cabelos coloridos de Andy.

- O que está acontecendo? – murmurei.

Andrew subiu ao palco com um enorme buque de rosas vermelhas nas mãos.

- Oi – ele disse timidamente – Eu acho que você ainda não se tocou porque é a criatura mais lerda desse universo então vou ser bem direto. Jullie Anne Elizabeth Way, aceita namorar comigo e talvez quem sabe um dia colocar um Foster no seu nome gigante?

Fiquei sem palavras com a boca aberta como uma perfeita lesada.

- Claro que sim seu imbecil - gritei e só então percebi que chorava.

Andrew caminhou lentamente até mim no meio de uma espécie de corredor formado por pessoas, parou diante de mim entregou as rosas e se ajoelhou, tirou do bolso uma bela caixinha vermelha em forma de coração e colocou uma aliança no meu dedo.

- Agora você não se livra mais de mim pequena – disse me abraçando.

- Nunca quis me livrar de você Senhor Cabeça de Pudim.

Então nos beijamos da forma mais apaixonada que um casal pode ter pra se beijar. Sem nenhuma provocação, nenhum arranhão na nuca ou uma mão que acidentalmente para onde não deve. Apenas nos beijamos na frente de todos com um perfeito coral dizendo ‘ Oun’ atrás de nós.

Quando nos separamos vi que todo meu batom havia parado nele e ri da sua cara que agora parecia com a do palhaço Ronald McDonald. Eu devia estar em uma situação parecida pois ele também riu.

- Eu te amo – beijou minha testa.

- Eu também te amo.

- Muito bem essa foi uma bela declaração – disse o inspetor que agora havia voltado ao palco – Dentro de instantes anunciaremos a rainha e o rei do baile.

Alguns alunos se aproximaram nos parabenizando pelo compromisso e dizendo eu formamos um belo casal, tenho certeza que estava mais vermelha que meu vestido enquanto agradecia.

Debby de aproximou segurando sua cabeça/mascara de panda embaixo dos braços.

- Você me deve uma Foster – sorriu pra mim – Se ele te magoar é só falar comigo, faço ninjutsu já anos – e piscou.

- Me lembrarei disso – falei sorrindo .

- Antes que eu me esqueça tenho um presente pra vocês – colocou a mão dentro da roupa e de lá tirou uma cartela de camisinhas de sabor – Aqui tem de todos os meus sabores favoritos, espero que vocês façam bom uso.

Fiquei com a minha cara de batata enquanto Andrew pegou as camisinhas e começou a rir que nem louco.

- Não quero nem imaginar o que você vai nos dar no nosso casamento – disse ele brincando.

- Ora, mas é óbvio que será um vibrador azul pra Jullie!

Antes que eu pudesse dar alguma resposta o inspetor havia voltado ao palco e agora anunciava o rei do baile que foi ninguém menos que o Thomas.

- Obrigado – agradeceu enquanto recebeu a coroa.

Eu nem havia visto que Thomas estava lá. Ele usava uma fantasia um tanto idiota de príncipe.

- E a rainha do baile é – um barulho de tambores começou para dar mais suspense – Jullie Anne Elizabeth Way! – anunciou.

Ao meu lado Andy estremeceu, antes que eu pudesse avaliar seu rosto e adivinhar o porquê fui empurrada até o palco onde recebi minha coroa.

- Obrigada – disse timidamente.

- Algum dos dois gostaria de dizer algo?

Mais que rapidamente eu peguei o microfone do pobre inspetor e sorri.

- Eu gostaria de dizer uma coisa – olhei para multidão procurando por Lucca, não o encontrei – Estou muito feliz por ter sido escolhida como rainha do baile de mascaras. Obrigada, acredito que todas as garotas aqui deviam ter sido escolhidas como rainhas por estarem tão lindas essa noite, mas como não temos coroa para todas gostaria de entregar a minha para a garota que concorreu comigo, Jessie Marie Franc Del Monte. Palmas pra ela galera.

Todos educadamente aplaudiram enquanto Jessie subia ao palco e recebia a coroa.

- Obrigada – disse ela sorridente acenando e mandando beijinhos para todos.

- Você sabe por que esta ganhando essa coroa Jessie? – perguntei.

- Porque você é uma trouxa? – ouvi risos vindos de todos os lados.

- Não é porque você é a rainha dos narcisistas que precisam de atenção – todos se calaram – A criatura mais malévola que eu já tive o desprazer de encontrar.

A  expressão no rosto dela era de total incredulidade.

- O que você está fazendo? – perguntou Thomas confuso ao meu lado.

Jessie arrancou o microfone da minha mão, mas já era tarde demais. Meu plano havia sido posto em pratica.

Primeiro uma enorme quantidade de melado caiu sobre ela seguida de uma outra maior ainda de penas de galinhas.

- Finalmente ela está com a fantasia melhor que a descreve – ouvi alguém gritar.

Sorri e sai do palco ouvindo os barulhos em aprovação da minha pequena e bem sucedida brincadeira.

- Antes que me esqueça – gritei – Isso é por ter me afogado, galinha. Ops, desculpem-me galinhas acho que ofendi vocês – sorri maldosamente.

Thomas estava fazendo o possível pra conter o próprio riso enquanto eu saia da melhor maneira possível.

- Você está maluca? – Andrew praticamente gritou.

- Sim – sorri – E quero ir embora.

- Espero que queira mesmo, quando ela se recuperar do susto vai te matar – ele agarrou meu braço e me puxou até o estacionamento.

- Eu só dei á ela o que ela merece.

- Ela é uma idiota você não devia se rebaixar tanto! – olhou para os lados – Vou buscar o carro me espere aqui.

Fiquei sozinha na entrada do salão enquanto ele ia atrás do carro.

Nunca consegui ver se ele realmente encontrou o veiculo, pois assim que o vi passar ao lado de uma caminhonete tudo ficou preto.

E minha consciência me abandonou.